sábado, 6 de dezembro de 2014
OAB fala da escravidão, e do Petrolão, nada
A recente decisão tomada pelo Conselho Federal da OAB me fez
ver como esses devaneios históricos transitam no Brasil. Devagar e sempre.
Demoram mas vão para onde os querem levar. As motivações para que avancem são
muitas e graves: é tudo questão de privilégio, poder e dinheiro.
A notícia me lembrou de um artigo que escrevi em 1999, para
o Correio do Povo. Estávamos, no Rio Grande do Sul, sob o governo petista de
Olívio Dutra, nosso conhecido Exterminador do Futuro. A Secretaria de Educação,
totalmente dedicada à conquista gramsciana da hegemonia, lançara uma cartilha
que tratava obviedades históricas como achados ideológicos do governo popular e
democrático. O texto que escrevi a respeito dessa cartilha tinha por título “Aqui
são outros quinhentos” e, lá pelas tantas, dizia assim:
“Doravante, de acordo com o livrinho vermelho dos
pensamentos da SEC, passa-se a ensinar a grande novidade de que havia índios no
local do desembarque ocorrido em 21 de abril de 1500, atribuindo-se a esse
episódio, portanto, o nome de Invasão. Tal verdade histórica estabelece uma
conveniente referência para homologar as práticas do MST. Nesse livreto é
ensinado ao povo que o país chamado Brasil, constitui, há cinco séculos, um
sinistro e gigantesco usucapião lançado contra os primitivos e legítimos
proprietários.”
E prossegui, ironizando: “Também é denunciado, ali, que os
ancestrais dos negros e mulatos foram trazidos para a América como escravos,
nos infectos porões de navios negreiros. Quem ler a cartilha fica com a
impressão de que antes do governo popular e democrático, a versão dominante é a
de que os negros aportaram ao Brasil como turistas, a bordo de confortáveis
transatlânticos. Só a democracia popular e participativa do governo petista teria
permitido arrancar o véu da mentira e revelar para a História, que os escravos,
inclusive, trabalhavam de graça e eram frequentemente maltratados.”
Passados 15 anos, chega a vez da OAB. Transitando ao largo
de bibliotecas inteiras, toneladas de livros escritos sobre o tema em diversos
idiomas, propõe ela que o governo crie uma Comissão da Verdade sobre a
escravidão. A tarefa, é claro, tem que envolver o governo petista. Qualquer
outro, mandaria a OAB cuidar da própria vida. Mas sabe bem a OAB que se o
governo não participar não aparece dinheiro para a colheita.
Enfim, na perspectiva dos pais da ideia, tudo se passa como
se a vinda dos escravos africanos fosse um mistério insondável, um autêntico
naufrágio da verdade que agora, felizmente, sob um governo que sabe muito bem
criar e se beneficiar de cisões e ressentimentos, será “resgatada” dos mais
profundos abismos da história universal. Parolagem político-ideológica que a
Secretaria de Educação do governo Olívio Dutra iniciou no Rio Grande do Sul há
15 anos e que, agora, poderá render um “fundo de reparação” cuja conta, como
sempre, virá para a sociedade. Como será com a farra do “Petrolão”, a respeito
do qual a OAB nada diz.
Artigo de Percival Puggina transcrito de Tribuna da Internet
O PT perde o monopólio das ruas
Governo usa força contra povo |
Ruth Gomes de Sá, 79 anos, na terça-feira (2),
ao ser retirada das galerias (Imagem: André Dusek)
|
A verdade é que o PT está perdendo o monopólio das ruas e vai usar a sua “banda de música” organizada ou voluntária para tentar destruir a legitimidade de quem ousa manifestar-se fora da cartilha do partido. A máquina de moer reputações já está fazendo picadinho de quem tem a ousadia de cantar por outra partitura.
Privatizar Petrobras, pior opção
Entre as receitas para a crise que nos assola atualmente, a
mais descrita nas entrevistas dos economistas que comandarão postos-chaves no
futuro governo é a concessão de empresas públicas. É a receita da venda do
patrimônio público, sem tirar nem por.
Discordo frontalmente da possibilidade de privatização da
Petrobras, nossa maior empresa pública e motor do desenvolvimento nacional,
desde a sua criação no governo Getúlio Vargas.
Por que discordar? Porque seria medida inócua, pois a
corrupção no Brasil é endêmica. Portanto, sob o controle dos poderosos grupos
privados, a corrupção seria ainda danosa para os brasileiros. Consórcios seriam
formados e algum grupo internacional, associado às empreiteiras, venceria o
leilão com financiamento do BNDES e o lucro iria para fora do país, talvez
Europa ou Estados Unidos.
Privatizar, então, significaria vender aos algozes
corruptores da Petrobras, ou seja, premiá-los por nos terem roubado por tantos
anos, pois só agora, pelo aumento excessivo da tunga, o escândalo da quadrilha
veio felizmente à tona.
O produto da riqueza petrolífera então deixaria de irrigar a
economia já em decadência e passaria a compor a alavanca para países ricos
driblarem a crise de 2008.
Falar em privatização soa como tirar o sofá da sala. Ao
invés de vender nosso maior ativo, por que não se envereda pelo combate firme
contra corruptos e corruptores? Empreiteiras e gestores públicos em sintonia da
roubalheira devem amargar as fétidas prisões brasileiras sem pena nem dó, e
também devolverem o produto do roubo depositado em paraísos fiscais.
É preciso estancar a rapina, substituindo os gestores
aliados das empreiteiras nos negócios ilícitos e seguir em frente. No corpo
técnico e administrativo da Petrobras há profissionais honestos e capazes, que
podem assumir as funções de direção e gerência, e as indicações políticas não
podem continuar, sob pena de eternização das mesmas maracutaias num futuro
próximo.
Empresa pública não combina com indicações partidárias, isso
foi constatado ao longo da história do Brasil. Apenas empregados orgânicos
deveriam ocupar cargos tanto na Petrobras como em todas as empresas públicas,
do mais simples até a Diretoria. Já está na hora de impedir que empregados
honestos amarguem a geladeira, por não concordarem com a corrupção.
O nó da questão será saber quem colocará o guiso no gato. E
só tenho uma certeza, a de que a privatização não é o remédio ideal, talvez
seja o pior deles.
Artigo de Roberto Nascimento transcrito de Tribuna da Internet
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