quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Pensamento do Dia

 


Histórias viscerais

Aqueles que morriam em odor de santidade transferiam a fama de seus poderes milagrosos para suas vísceras, falanges, membros e outras partes de seu corpo, e por isso eram desmembrados e distribuídos em santuários e igrejas, um coração dentro de um peitoral de ouro bordado com pedras preciosas, um braço ou uma perna em armadura de prata, um dedo em um dedal de ourives. Aconteceu até com os mais humildes servos de Deus, como São João da Cruz, ou com os mais cultos, como Santa Teresa.

Mas também acontece com santos leigos embalsamados, como Eva Perón; ou com os presidentes todo-poderosos quando reivindicam a eternidade além de sua morte; ou com os imperadores, quando seus corpos, ou suas vísceras, são úteis, mesmo séculos depois, em termos eleitorais. Vamos por partes.

Na manhã de 6 de agosto de 1875, o presidente do Equador Gabriel García Moreno, do lado conservador, que logo iniciaria seu terceiro mandato, voltava a pé ao Palácio Nacional, depois de ter recebido a comunhão na igreja de Santo Domingo, quando foi baleado e morto com facões por um grupo de conspiradores do lado liberal.

No dia seguinte, o cadáver presidiu seu próprio funeral. Vestido com o uniforme de desfile do comandante supremo, o bicorne de penas na cabeça e a faixa no peito, ele apareceu sentado na cadeira presidencial no altar principal da catedral, enquanto os religiosos cantavam o ofício dos mortos e o protocolo foi seguido de funerais de estado ditados por ele mesmo.

Essa foto está lá fora, prova de que o romancista não está mentindo. Feito para esconder a palidez da morte, as sobrancelhas repintadas, os olhos semicerrados e a boca grotescamente aberta, atrás dele está um guarda dos granadeiros, com seus altos bonés de pele de urso, baionetas vazadas e estranhamente vestido com aventais forenses.

Houve tentativas frustradas de canonizar García Granados, um católico devoto. Enterrado na catedral de Quito, os altos e baixos da política levaram a temores de profanação, e o corpo foi movido secretamente de um esconderijo para outro, até terminar na igreja de Santa Catalina de Siena, onde foi descoberto cem anos depois de sua morte, em uma cripta do lado direito do altar-mor.

O coração, que havia sido removido para preservá-lo como relíquia, foi escondido separadamente em uma coluna no claustro do Bom Pastor, junto com a do Arcebispo de Quito, Monsenhor José Ignacio Checa y Barba, que morreu depois de beber o envenenado vinho do cálice no escritório da Sexta-feira Santa de 1877. Importa também o que a realidade dá ao romancista.



E aqui está a outra história. Na igreja da irmandade de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, está o coração de D. Pedro de Alcântara, Rei de Portugal e Imperador do Brasil após a proclamação em 1822 da independência desta imensa colônia americana que era por si só um continente, um caso único na história da América Latina de um monarca reverenciado como herói.

Dom Pedro, exilado do Brasil, morreu em 1834 no Paço Real de Queluz, em Portugal, consumido pela tuberculose. Mas antes disso, ditou sua famosa carta aberta aos brasileiros: “A escravidão é um mal, um atentado contra os direitos e a dignidade da espécie humana, mas suas consequências são menos danosas para quem sofre cativeiro do que para a Nação cujas leis eles permitem. É um câncer que corrói sua moralidade.”

E providenciou para que seu coração ficasse na igreja da Lapa, enquanto seu corpo foi sepultado no Panteão Real da dinastia Bragança, na igreja de São Vicente de Fora. Em 1972, quando se comemorava o 150º aniversário da independência do Brasil, a ditadura militar, evocando sua fama de “rei soldado” e não de inimigo da escravidão, conseguiu que os ossos do imperador fossem transferidos de Portugal, desfilando com grande pompa por todo o o país antes de ser enterrado no mausoléu imperial no Ipiranga, São Paulo, onde proclamou o Brasil livre do jugo de Portugal. Ele estava então travando uma campanha em que era forçado a descer do cavalo em cada etapa, sofrendo de diarréia.

Se a ditadura conseguiu apoderar-se dos ossos do “rei soldado”, agora o presidente Jair Bolsonaro, que não esconde em absoluto a saudade do regime militar, conseguiu que a Câmara Municipal do Porto lhe emprestasse o coração de Dom Pedro por ocasião das comemorações do segundo centenário da independência.

Bolsonaro, que busca a reeleição, proclama que se sente imortal, que só Deus o tira do poder e ameaça com golpe se perder. As eleições presidenciais, nas quais ele tem desvantagem nas pesquisas contra Lula da Silva, são em 2 de outubro, e a celebração da independência, em 7 de setembro.

O coração será transportado em avião da Força Aérea Brasileira, e certamente Bolsonaro o receberá no aeroporto para aproveitá-lo eleitoralmente, e exibir triunfantemente a urna em comícios.

Grande oportunidade para um homem tão visceral.

Miséria de campanha


[Este é um] País rico e próspero que precisa ser liberto para sair dessas amarras de mentira e de mendigagem. Nossa terra é uma terra próspera, produtiva, abençoada – e nós não aceitamos mais esse espírito de miséria no nosso Brasil
Michele Bolsonaro

Berlusconi, Bolsonaro

O filósofo italiano Norberto Bobbio costumava dizer que a Itália é um laboratório político. Ele sabia o que estava dizendo. Nascido em 1909 e falecido em 2004, Bobbio viu e comentou os grandes acontecimentos do século 20, aí incluídos o regime fascista de Mussolini e os governos de Silvio Berlusconi na Itália.

Bobbio escreveu que o fascismo “morreu e não há celebração que possa fazê-lo reviver” (a “queda do fascismo”), mas o “laboratório político” italiano ainda lhe reservava surpresas. Em 1994, o megaempresário Silvio Berlusconi torna-se primeiro-ministro da Itália.

Em seus artigos na imprensa, Bobbio era um crítico contumaz do polêmico político. Ele deplorava o fato de que Berlusconi, proprietário de “três grandes máquinas de formação do consenso (emissoras de televisão) tivesse constituído um partido pessoal próprio” e, “com o apoio desse sustento incomum”, se tornado primeiro-ministro (Contra os novos despotismos: escritos sobre o berlusconismo).

Num artigo escrito durante a campanha que antecedeu as eleições de 1994, Bobbio já via em Berlusconi um “fenômeno sem precedentes” e se perguntava: “Já aconteceu algo parecido na Itália ou em qualquer outro país”? Bobbio insinua que não. Mas o “laboratório” italiano não traça fronteiras, e a análise de Bobbio sobre Berlusconi tem pontos que nos transportam, sem escalas, ao Brasil de hoje.


O filósofo italiano reprovava, por exemplo, as anacrônicas declarações de Berlusconi de que sua tarefa era “proteger os valores cristãos ameaçados pelos comunistas ateus”, ou que o principal objetivo de seu partido era não “deixar o país cair nas mãos dos comunistas”. Essa obsessão pelo finado comunismo lembra alguém?

Bobbio reprovava, também, o hábito do ex-primeiro-ministro de “se fazer de vítima de complôs, de conspirações, de traições, ingênuo alvo de inimigos malvados e de pérfidos aliados”. Além disso, “insulta os juízes e tenta deslegitimá-los de todos os modos”.

Bobbio criticava Berlusconi, ainda, pela forma como se dirigia à população. De um lado, já se autodenominou “ungido pelo Senhor”; de outro, ao ser cobrado pelo não cumprimento de suas promessas eleitorais, afirmava que “não o deixaram trabalhar”. Esse horror à responsabilidade lembra alguém?

E não é só Bobbio que, analisando Berlusconi, nos remete a Jair Bolsonaro. Seu compatriota Umberto Eco (1932-2016), num artigo de 2003 (ano em que Berlusconi também foi primeiro-ministro) destacava: “A figura de Berlusconi se presta à sátira, seus adversários às vezes se consolam pensando que ele passou das medidas, e têm certeza (...) que ele corre em direção à própria ruína”. Mas Eco acreditava que Berlusconi estava “colocando em ação, justamente com os gestos mais incompreensíveis, uma estratégia complexa, sagaz e sutil”.

Entre as técnicas de Berlusconi, Eco cita “promessas que, boas, ruins ou neutras, (...) se apresentem aos olhos dos críticos como uma provocação. E deve produzir uma provocação por dia, tanto melhor se inconcebível e inaceitável”. A provocação deve ser tal que “a oposição seja obrigada a aceitá-la e a reagir com energia”. Isso porque “conseguir produzir todos os dias uma reação indignada das oposições (...) permite a Berlusconi mostrar ao próprio eleitorado que ele é vítima de uma perseguição”.

Ainda sobre provocações, a estratégia de Berlusconi seria “lançar a provocação, desmenti-la no dia seguinte (...) e lançar imediatamente uma outra”. Haveria dois objetivos essenciais nessa estratégia, diz Eco. Primeiro, trata-se de um balão de ensaio que, se não suscitar reação enérgica da opinião pública, “significa que até mesmo o mais ultrajante dos caminhos poderia ser, com a devida calma, percorrido”.

O segundo objetivo é o que Eco chamava de efeito bomba. No exemplo dele, “se eu fosse um homem de poder enredado em muitos e obscuros negócios, e ficasse sabendo que dentro de dois dias estouraria nos jornais uma revelação que esclareceria meus malefícios (...), mandaria colocar uma bomba (...) numa praça na saída da missa”. Desse modo, “por pelo menos 15 dias as primeiras páginas dos jornais (...) só teriam espaço para o atentado”. Desviar o foco das atenções é, também, uma especialidade do nosso presidente.

Eco traz sugestões para contrapor-se a essa estratégia, mas elas não cabem neste espaço. Aqui, o objetivo é reportar semelhanças no comportamento dos dois políticos (geralmente identificados ao populismo) e notar que Berlusconi, depois de tantos anos, ainda exerce influência na política italiana.

É incerto se o mesmo ocorrerá com Bolsonaro. O que parece certo é que sua mentalidade seguirá presente na sociedade brasileira (basta notar quão frequentes se tornaram, de uns anos para cá, avaliações elogiosas da infame ditadura militar). Ou seja: se a Itália, como dizia Bobbio, é um laboratório político, o Brasil é o de Frankenstein.

Deserto de ideias

Ao escolher o “local exato” onde há quatro anos levou uma facada para dar início à sua campanha pela reeleição, o presidente Jair Bolsonaro mostrou que pretende fazer da emoção o ponto forte da campanha que começa nesta terça-feira.

Ele e seus mais fundamentalistas aliados pretendem recorrer a imagens como a travessia do deserto e a luta do bem contra o mal para comover corações desavisados. Um olhar mais atento, porém, indicará que o principal deserto dessa campanha eleitoral promete ser o deserto de ideias.

Até o momento, Bolsonaro e seus principais opositores – com a possível exceção de Ciro Gomes, que há um ano lançou um livro sobre seu plano nacional de desenvolvimento – esquivam-se de apresentar ideias claras sobre como pretendem conduzir um país duramente afetado pela pandemia e por graves dificuldades econômicas e sociais.


O governo tem agido sob a única orientação de sua bússola eleitoral. O Auxílio Brasil, que já nasceu com prazo de validade, soa como sofisticada reedição da antiga compra de votos. E, quando o país parou para ouvir o manifesto pela democracia na Faculdade de Direito de São Paulo, o presidente citou a redução do preço da gasolina como o principal fato do dia.

Por sua vez, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva pede aos agentes econômicos um voto de confiança que leve em conta o que fez em suas duas gestões. Não apresenta detalhes de suas propostas econômicas e indica apenas que pretende priorizar o combate à fome e ao desemprego.

A situação social, de fato, é tão grave que merece a mais alta prioridade. Além disso, as críticas feitas por Bolsonaro ao sistema eleitoral levantam dúvidas igualmente urgentes sobre a aceitação, pelo presidente, de resultados desfavoráveis nas urnas. Vivemos, portanto, sob duas urgências que drenam, até aqui, as atenções dos principais atores políticos.

Enquanto isso, porém, o mundo se move. Os riscos reais da mudança climática e os efeitos devastadores sobre a economia de eventos como a pandemia e a invasão da Ucrânia levaram diversos governos – principalmente na América do Norte e na Europa – a recalcular as suas rotas para os próximos anos.

As ameaças são palpáveis. A recessão e a inflação voltaram a ser ameaças em todo o mundo. A produção e a distribuição de alimentos têm sido afetadas por fatores como a falta de fertilizantes e o bloqueio à exportação de grãos produzidos pela Ucrânia. O verão inclemente no Hemisfério Norte acende alertas sobre os efeitos do aquecimento global.

Além disso, as manobras militares da China em resposta à visita a Taiwan da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, indicam o risco da dependência de quase todo o mundo do fornecimento de semicondutores produzidos na ilha que é chamada de “província rebelde” pelas autoridades de Pequim.

Algumas respostas a esses tantos desafios foram apresentadas nos últimos dias em Washington. O Congresso Nacional dos Estados Unidos aprovou dois projetos destinados a reduzir os danos provocados pela atual coleção de crises.

O primeiro deles traz de volta à realidade norte-americana uma política industrial. O presidente Joe Biden sancionou há uma semana o projeto de lei que garante subsídios de US$ 52 bilhões para a indústria de semicondutores, inaugurando o que o jornal Washington Post chamou de “um dos maiores programas de desenvolvimento” já adotados pelo governo americano.

A nova lei deverá permitir a construção de pelo menos seis fábricas de chips nos Estados Unidos, para garantir a oferta desses componentes tão importantes à indústria que passaram a ser vistos como essenciais à segurança nacional.

A mesma lei autoriza apoio federal calculado na casa de dezenas de bilhões de dólares à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias, capazes – segundo a proposta do governo – de levar a grandes inovações em áreas como computação quântica e inteligência artificial.

O segundo projeto aprovado estimula a chamada transição energética, como forma de, ao mesmo tempo, reduzir os efeitos da mudança climática e gerar novos empregos. A “Lei de Redução da Inflação” vai permitir o maior investimento em ações climáticas da história dos Estados Unidos.

Serão US$ 370 bilhões ao longo da próxima década para estimular a produção de energias renováveis e reduzir as emissões de gases do efeito estufa. A nova lei permitirá redução em 40% das emissões desses gases até 2030, quando comparadas a 2005. Antes da lei a previsão era de redução de 30%.

Entre as medidas previstas está a abertura de um “banco verde”, com recursos de US$ 27 bilhões, para financiar a implantação de tecnologias limpas como painéis solares residenciais e novas fábricas de carros elétricos.

A nova lei ainda tornará mais competitiva a produção, nos Estados Unidos, de hidrogênio verde, um combustível produzido a partir de energias como a solar e a eólica, que poderá, no futuro, movimentar carros, aviões e indústrias. Ao estabelecer créditos tributários para a nova indústria, a medida permitirá ao país produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo.

Após analisar esses números, caberia a pergunta: o que tudo isso tem a ver com a campanha eleitoral que começa nesta semana? A resposta está na falta de foco dos principais integrantes do meio político brasileiro. Uma falta de visão estratégica e de percepção das transformações que estão ocorrendo no mundo.

É verdade que as eleições de outubro ocorrerão em um ambiente quase distópico, no qual algumas das principais preocupações são a própria realização das eleições e o reconhecimento de seus resultados.

Também é verdade que o Brasil enfrenta uma duríssima crise econômica e social que exige respostas rápidas. E que o país está a anos luz das possibilidades orçamentárias dos Estados Unidos.

Estímulos de dezenas de bilhões de dólares a uma nova política industrial e a ações de redução da mudança climática estão, de fato, longe da realidade de um país que ainda convive com as pequenezas do orçamento secreto.

Nada disso impede, porém, que as novas lideranças brasileiras se dediquem à construção, dentro das possibilidades nacionais, de um novo modelo econômico, social e ambiental. Um novo tipo de desenvolvimento, mais próximo das necessidades deste início de século. Inspirado em ideias que irriguem o nosso atual deserto.

Recomeça a campanha de 2018, segundo tempo

Começou! Foi oficialmente dada a largada para a corrida presidencial nesta terça-feira. Dizem que se trata da eleição mais importante desde a redemocratização. Minha única certeza é a de que estamos vendo o segundo tempo da campanha de 2018, daquela tão estranha e confusa disputa pelo Planalto que resultou na vitória de Jair Messias Bolsonaro. Havia um candidato preso, outro esfaqueado e um terceiro que todos chamaram de "poste".

Lembro-me daquele dia 15 de agosto de 2018, quando milhares de pessoas acompanharam o registro oficial da candidatura de Lula. O petista liderava as pesquisas com cerca de 40% das intenções de voto. Mas estava preso em Curitiba. Lembro-me de Fernando Haddad, o vice, passando pela multidão e entrando pelo portão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília. Todo mundo dizia que Haddad assumiria a chapa se o TSE rejeitasse a candidatura de Lula. E realmente, Haddad acabou assumindo "no lugar de Lula". Mas era tarde demais para superar Bolsonaro. Considero um erro histórico o PT não ter lançado Haddad à Presidência mais cedo.


Hoje, quatro anos depois, Lula lidera as pesquisas outra vez. Para o petista, seria um sucesso enorme vencer nas urnas. E o Brasil veria algo inédito nas últimas décadas: depois de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff se reelegerem, Bolsonaro seria o primeiro presidente depois da redemocratização incapaz de aproveitar a caneta presidencial para garantir um segundo mandato.

Acontece que, como o governo Bolsonaro acaba de começar a pagar novos benefícios sociais – que incluem o Auxilio Brasil no valor de R$ 600, vale-gás e ajuda financeira para caminhoneiros e taxistas –, ainda é cedo para ver os efeitos disso. Mas me parece óbvio que a grande vantagem de Lula, de entre 12 e 20 pontos percentuais, dependendo da pesquisa, deve cair nas próximas semanas devido aos pagamentos feitos a milhões de famílias de baixa renda. Também deve beneficiar Bolsonaro a melhora de indicadores econômicos como prévia do PIB e desemprego, em meio a uma redução da inflação e – muito importante – do preço da gasolina.

Nesta terça, Bolsonaro lançará sua campanha oficial à reeleição (a não oficial já está em curso desde que ele assumiu a Presidência, em janeiro de 2019) em Juiz de Fora, no mesmo local onde foi esfaqueado em setembro de 2018. Faz parte da aposta "mística" do mito: no local onde Deus o salvou da morte, se dará inicio ao segundo milagre: o de vencer Lula. É o começo da tal "guerra do bem contra o mal" anunciada pelo presidente.

As bases para essa encenação já foram estabelecidas com os discursos religiosos da primeira-dama Michelle Bolsonaro nas últimas semanas. Ela ressuscitou uma antiga fala de Bolsonaro: ele não seria o mais capacitado para ser presidente, mas Deus capacita os escolhidos. Quer dizer, Jair Messias foi a escolha de Deus para liderar a nação brasileira, mesmo não sendo a melhor opção para tal tarefa.

As falas fraquinhas do presidente contrastam com os discursos poderosos de sua esposa. Por que Deus não escolheu logo de cara Michelle como presidente, só Ele deve saber.