quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Matar é limpo


Chantagem explícita


 Al Capone vendia proteção aos comerciantes de Chicago. Se não pagassem, mandava seus capangas incendiar e até jogar bombas nos estabelecimentos.

Exceção das explosões, qual a diferença entre a ação do rei dos bandidos americanos e a ameaça feita pela presidente Dilma aos líderes dos partidos da base oficial, na noite de segunda-feira? Ela comunicou que só liberaria 444,7 milhões para as emendas individuais ao orçamento, de deputados e senadores, caso eles aprovassem o projeto alterando as metas fiscais para o ano em curso. Condicionou a entrega de recursos para obras nos municípios à votação do projeto alterando a Lei de Diretrizes Orçamentárias, permitindo ao governo descumprir a meta fiscal deste ano e transformar deficit em superavit.

O nome dessa operação é chantagem. Importa menos se parte das emendas individuais cheira mal, tendo em vista ligações espúrias entre seus autores e empreiteiros de obras superfaturadas. De qualquer forma, serão escolas, postos de saúde, pontes, estradas vicinais e uma infinidade de outras iniciativas destinadas a beneficiar municípios e regiões do interior.

A gente pergunta como tamanha barganha pode acontecer senão à luz do dia, pelo menos já de noite, sob os holofotes da sala de reuniões da presidente Dilma com seus líderes. Pior é que os fotógrafos registraram todo mundo rindo, como numa festa de Natal antecipada. Houve um adendo, quando a anfitriã acrescentou que seria aprovar o projeto de mudança na LDO ou o governo cortar verbas para obras em estados e municípios.

Como tamanha indecência pode acontecer? Primeiro por não ser novidade, muito menos prerrogativa da administração do PT. Ainda que sem a desfaçatez de um ato público, faz tempo que essas coisas se repetem, calcadas na Oração de São Francisco: é dando que se recebe. Do Brasil Colônia à Monarquia e à República, das ditaduras à democracia, a regra tem sido a mesma.

DE HERODES AOS TEMPOS ATUAIS
Herodes cuidou das criancinhas, chacinando milhares. Agora chegou a vez dos velhinhos. O governo anuncia que por conta do aumento da idade média dos brasileiros, será reduzido em 0.65% o cálculo das aposentadorias. Quer dizer, os velhinhos receberão menos porque viverão mais.
Artigo de Carlos Chagas transcrito de Tribuna da Internet

Confirmado o que se desconfiava


Passei seis meses na carceragem de Curitiba, até que, por ter uma alma mais pura, resolvi fazer a delação de tudo o que acontecia na Petrobras. E não só lá: isso acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos e nas hidrelétricas.
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras 

Dilma manda às favas todos os escrúpulos




Quer saber o que é diálogo no entendimento da presidente Dilma Rousseff?

Em resumo, é o seguinte: eu mando e você obedece. Se obedecer será gratificado. Do contrário, prepare-se para sofrer represália.

Fui claro?

Ninguém foi mais claro do que a própria Dilma.

Na semana passada, os partidos aliados do governo fizeram corpo mole e faltou quórum para que o Congresso votasse o decreto assinado por Dilma que muda a meta fiscal de 2014.

Com esse objetivo, está marcada para esta noite uma nova sessão do Congresso.

O que fez Dilma para “convencer” senadores e deputados a aprovarem o decreto?

Editou outro decreto que condiciona uma nova liberação de R$ 444,7 milhões para pagamento das emendas individuas dos parlamentares ao Orçamento da União à aprovação do decreto que muda a meta fiscal deste ano.

É dando que se recebe, segundo São Francisco de Assis.

Os R$ 444,7 milhões garantem uma fatia de R$ 748 mil para cada um dos 513 deputados e 81 senadores – dinheiro a ser empregado em obras nos redutos eleitorais deles.

Se a meta fiscal não for mudada, adeus o dinheiro das emendas. É o que está dito no novo decreto assinado por Dilma.

Para que os parlamentares não sejam amanhã acusados de trocar o voto por dinheiro, Dilma se reuniu ontem à noite com 23 líderes de partidos (isso mesmo, 23 líderes de partidos) e pediu o empenho deles pela aprovação da nova meta fiscal.

Era a desculpa que queriam os líderes para justificar o voto dos seus liderados. Como recusar um pedido da presidente? E logo agora quando a caneta dela está cheia de tinta para assinar promoções e distribuir cargos?

Verdadeiramente espantosa a sem cerimônia com que Dilma 2, a pragmática, está se impondo à Dilma 1 - a ex-faxineira ética.

Sem cerimônia e sem vergonha.

Entre vaias e segredos


Metade da diretoria da Petrobras sob comando de José Gabrielli é alvo de investigações por corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, nos EUA, na Holanda e na Suíça

Ele se surpreendeu ao voltar de uma viagem a Portugal, dias atrás. Primeiro, com ocasionais zombarias dentro do avião, audíveis o suficiente para incomodá-lo durante toda a travessia do Atlântico. Na chegada, sob um coro de vaias a bordo, o baiano José Sérgio Gabrielli de Azevedo, 65 anos, achou melhor desembarcar e procurar outro voo rumo a Salvador.

Um dos personagens mais influentes da era Lula, Gabrielli trocou o circuito acadêmico dos economistas em 2003 pela cadeira de diretor financeiro da Petrobras. Embarcado na presidência em 2005, ali ficou por sete anos. Tornou-se o mais longevo entre os 34 que comandaram a estatal nas últimas seis décadas.

Saiu há dois anos e nove meses, com a fantasia da candidatura ao governo da Bahia pelo PT. O sonho se perdeu na poeira da confusão crescente nas últimas 132 semanas sobre a sua gestão na Petrobras: num breve passeio pela sede da empresa, na Avenida Chile, no Centro do Rio, percebe-se como a maior estatal brasileira virou um conglomerado de advocacia e contabilidade, que também produz petróleo e derivados.

Metade da diretoria comandada por Gabrielli, até fevereiro de 2012, é alvo de investigações por corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, nos EUA, na Holanda e na Suíça. Dos seis ex-diretores, dois estão presos. Balanços estão em revisão, e auditores ainda relutam em subscrever a contabilidade de novos ativos, entre eles os da refinaria Abreu e Lima (US$ 20 bilhões), do Comperj (US$ 15 bilhões), de plataformas e sondas (US$ 17 bilhões). Os gastos nessas três áreas equivalem à soma do Produto Interno Bruto do Uruguai, do Paraguai e da Bolívia.
Leia mais o artigo de José Casado 

Agora é lei


A falta de escrúpulos do governo Dilma protagonizou esta semana um ato comparável ao fechamento do Congresso pelos militares. Se um utilizou um ato de força, os petistas apelaram para a "lei" e oficializaram a compra dos parlamentares através das verbas partidárias, concretizando em lei a prática condenada do mensalão. Todo o Congresso assim se torna um Poder títere, movimentado a dinheiro das emendas parlamentares e não mais ao respeito ao voto do eleitor.

Para o governo, a compra vai sair mais barata e muito mais segura do que a artimanha dos mensaleiros de Lula. Cada político, em Brasília, vai sair pela bagatela de R$ 748mil.

Vote comigo ou não terá dinheiro, chantageia a presidente em decreto, com a supremacia dos ditadores. O gesto é um ato arbitrário que condiciona os políticos eleitos aos desmandos governamentais em troca de dinheiro.
Fica claro o aparelhamento descarado e hipócrita do Legislativo, que poderá ter reflexos ainda maiores quando esse poderio da caneta e do dinheiro condicionar as Câmaras estaduais e municipais.

Pode haver quem veja algo comum, mas é incomum um Poder ser comprado pelo outro em uma democracia. A compra e venda só determina que a democracia propalada pelo PT não é nada mais do que uma ditadura partidária com sérios e perigosos efeitos para o país, sua governabilidade e seu desenvolvimento, ainda mais quando desce ladeira abaixo nas contas.

Se oficializa e se estabelece o preço de um deputado ou de um senador, para legalizar um crime administrativo, Dilma esclarece com o decreto que a eleição no Brasil é apenas uma questão de dinheiro e poder. O voto, que se dane, tanto do eleitor quanto do político foi jogado na lata do lixo. É mera formalidade na democracia do PT.

O fim num imenso bocejo


Arrisca-se a morrer de um ataque de bocejos quem permanecer, no PT, confiando nas promessas da presidente Dilma. Como aconteceu na reunião do Diretório Nacional do partido, em Fortaleza, no final da semana que passou, a primeira-companheira inundou a plateia com chavões de mudanças sociais cada vez mais ousadas. Parecia sobrinha do Lenin, tanto ao referir-se aos últimos quatro anos quanto aos próximos. Em vez de arrancar aplausos generalizados, porém, inaugurou um festival de imensos bocejos.

Porque os petistas conformaram-se com as notícias de que Joaquim Levy seria ministro da Fazenda, Katia Abreu, da Agricultura, Armando Monteiro, do Desenvolvimento, e Henrique Alves, da Previdência, além da certeza de que PR, PP, PSD, PDT e PTB não ficariam fora do ministério.

Todo esse conjunto, além de outras nomeações previstas, indica de forma inexorável o recuo definitivo do governo até as trincheiras da extrema direita. Tudo ao contrário da pregação de campanha da então candidata e, até mesmo, de suas atuais definições retóricas. Numa palavra, embromação. Na verdade, o segundo mandato prenuncia submissão aos postulados neoliberais e aos seus agentes. Mais uma vitória dos mesmos de sempre, anunciando aumento de impostos sobre a classe média, jamais dos potentados. Além de predomínio do agronegócio diante das pequenas propriedades, dos benefícios aos usineiros e do predomínio cada vez maior da previdência privada sobre a previdência pública. A conclusão é de que o PT, coitado, acabou no Irajá. Termina num imenso bocejo…