quinta-feira, 12 de maio de 2016
Progresso, democracia e esperanças
Vivemos num mundo no qual as “páginas devem ser viradas”, embora a narrativa ancorada num progresso cumulativo ordene releituras. A leitura é o ideal; a releitura, uma necessidade.
Estamos testemunhando uma dramática releitura do Brasil como país. Não estamos relendo suas páginas como sociedade e cultura como fazemos quando falamos de comidas, música ou quando discutimos bundas ou carnaval.
Estamos acostumados ao mote do “eu já vi esse filme”, indicativo de retorno de dramas reprimidos. Mas o imperativo de mudar é inadiável.
Um amigo gostaria de uma “limpeza geral”. Eu, humildemente, lembro que o drama é sempre maior que os atores. Num sistema que se diz “democrático-liberal” — embora muitos tomem isso como um insulto —, a peça sempre terá dois lados, embora um deles tenha como objetivo englobar temporariamente o outro.
O problema hoje não é substituir os jogadores; a questão é tirar de campo os atores indesejáveis ao ponto da degradação do próprio jogo. Não se pode transformar o campo mais nobre e mais importante para o progresso de um país — a sua administração pública — num pântano. Substituir um capitão de time é algo delicadíssimo. É um ato doloroso, mas ele não significa liquidar o jogo. O ideal democrático continua desde que, como disse com propriedade o senador-relator Antonio Anastasia, os adversários honrem o fato de que pertencem a partidos diferentes, mas balizem a disputa com sua lealdade à democracia.
Convenhamos que não se pode admitir a nomeação de quase dez mil cargos comissionados, somente por critérios partidários, pois é isso que assassina o espirito das instituições. Todos, como enfatizou numa rara lição de liberalismo o citado senador, são membros de um partido e de um time que deseja vencer. Isso é o óbvio. Mas o que não é obvio é descobrir que a vida política não pode ser reduzida somente a interesses e projetos partidários e pessoais.
Caso assim fosse, a desconfiança e a lealdade seriam os maiores obstáculos ao progresso democrático. Realizado com honra, o movimento parlamentar não pode ter como alvo — exceto por projeção construída pela má-fé — somente a vitória de um partido a qualquer preço.
Se um time de futebol é tão desleal a ponto de querer vencer todos os campeonatos e fazendo com que se pergunte, como o Galvão Bueno, o significativo “pode isso, Arnaldo?!” — o futebol acabaria por inanição. Ele deixaria de ser um jogo para ser teatro ou filme reprisado
Por isso, a democracia é um regime alérgico ao radicalismo absoluto, à fé cega e, acima de tudo, à desonestidade e à conivência. Numa palavra, a uma “ética de condescendência”. Com a conhecida moralidade do tudo o que fazemos é certo e tudo o que vocês fazem é golpe. Sem o risco, sem a incerteza e sem o imprevisto, mas com um acordo básico no progresso e na igualdade de todos perante a lei como um valor, deforma-se a democracia.
Se eu posso, com a minha insignificância como colunista desejar algo ao governo Temer, desejo rigor e austeridade. Que ele tenha uma compostura jamais vista no Brasil. Que tenha a vontade de transformar “governantes” (ou donos) do Estado em servidores da sociedade. Sugiro, e respeitosamente demando, a supressão de todas as figuras de privilégio e hierarquia que fazem o ator comer o cargo, e o criminoso não ser punido.
É preciso terminar regalias como casa, criadagem, comida e aspones que fabricam os “donos do poder”. É necessário impedir a nomeação por gosto e favores partidários ou sexuais.
Em suma, há que se adotar uma inédita e resoluta prática igualitária, sem a qual vamos continuar eternamente sendo os mentirosos engravatados de sempre.
Roberto DaMatta
Os golpes do petismo
O impeachment não é um golpe. O impeachment é um contragolpe. O golpe começou em 2002 com a “Revolução Pacífica”, como eles chamavam a tomada do poder. Nunca se consideraram “eleitos”, mas invasores do chamado Estado Burguês.
E começaram os golpes contra a República. Golpe deram esses caras com a eleição do Lula, buraco por onde se infiltraram os velhos comunas desempregados desde 68 para fazer uma revolução por dentro do Estado (uma vulgata ridícula de Gramsci), para libertar o Brasil do “capitalismo neoliberal de direita contra o povo brasileiro”, do qual se consideram os vanguardeiros. E partiram para o desmanche do país, como se o capitalismo fosse um regime político, e não um modo de produção. Dilma está sendo julgada pelas pedaladas fiscais, gravíssimas, mas tecnicamente difíceis de entender para a população. E os petistas se agarraram a essa tecnicalidade complexa para dizer que não as cometeram.
As pedaladas foram, sim, o estopim para a grande crise a que assistimos, mas Dilma está sendo impedida por muitos outros golpes.
Foram golpe as mentiras que tramaram nas eleições de 2014, foram golpe as malandragens com as contas publicas para maquiar despesas e manter preços baixos, foi golpe a entrega do tesouro aos aliados, com permissão (desde Lula) para roubar, foi golpe a nomeação de milhares de vagabundos para cargos públicos aparelhados, foi golpe a destruição da Petrobrás, provocada pela absoluta displicência do governo com nossa maior empresa, foi golpe a estupidez da “nova matriz econômica”, que desfez tudo que estava feito para impor uma absurda agenda bolivariana num país capitalista, foram golpes as obras prometidas e inacabadas ou abandonadas, foi golpe a Dilma autorizar a compra da refinaria de Pasadena, a lata velha de US$ 1,5 bilhão, quando Dilma era presidente do Conselho da Empresa (só isso já justificaria um impeachment), é golpe denunciar às organizações estrangeiras um “golpe”, pedindo sanções contra o próprio país que dirigiu e desmanchou.
E o grande golpe se completou com 11 milhões de desempregados, com a indústria e o comércio quebrados. A lista é longa, muito além das pedaladas.
Ainda bem que esses golpes estão mergulhando na lata de lixo da História, junto com os velhos comunas que não viram cair nem o Muro do Berlim.
E começaram os golpes contra a República. Golpe deram esses caras com a eleição do Lula, buraco por onde se infiltraram os velhos comunas desempregados desde 68 para fazer uma revolução por dentro do Estado (uma vulgata ridícula de Gramsci), para libertar o Brasil do “capitalismo neoliberal de direita contra o povo brasileiro”, do qual se consideram os vanguardeiros. E partiram para o desmanche do país, como se o capitalismo fosse um regime político, e não um modo de produção. Dilma está sendo julgada pelas pedaladas fiscais, gravíssimas, mas tecnicamente difíceis de entender para a população. E os petistas se agarraram a essa tecnicalidade complexa para dizer que não as cometeram.
As pedaladas foram, sim, o estopim para a grande crise a que assistimos, mas Dilma está sendo impedida por muitos outros golpes.
Foram golpe as mentiras que tramaram nas eleições de 2014, foram golpe as malandragens com as contas publicas para maquiar despesas e manter preços baixos, foi golpe a entrega do tesouro aos aliados, com permissão (desde Lula) para roubar, foi golpe a nomeação de milhares de vagabundos para cargos públicos aparelhados, foi golpe a destruição da Petrobrás, provocada pela absoluta displicência do governo com nossa maior empresa, foi golpe a estupidez da “nova matriz econômica”, que desfez tudo que estava feito para impor uma absurda agenda bolivariana num país capitalista, foram golpes as obras prometidas e inacabadas ou abandonadas, foi golpe a Dilma autorizar a compra da refinaria de Pasadena, a lata velha de US$ 1,5 bilhão, quando Dilma era presidente do Conselho da Empresa (só isso já justificaria um impeachment), é golpe denunciar às organizações estrangeiras um “golpe”, pedindo sanções contra o próprio país que dirigiu e desmanchou.
E o grande golpe se completou com 11 milhões de desempregados, com a indústria e o comércio quebrados. A lista é longa, muito além das pedaladas.
Ainda bem que esses golpes estão mergulhando na lata de lixo da História, junto com os velhos comunas que não viram cair nem o Muro do Berlim.
O parto da girafa
O abalo sísmico provocado pelo deputado Waldir Maranhão, presidente interino da Câmara e ilustre desconhecido até anteontem, é emblemático de quanto chão temos pela frente até o Brasil se transformar em um país estável e de instituições fortes. Iniciar a travessia de um Estado patrimonialista, onde a política é uma intermediação de interesses subalternos, para um Estado verdadeiramente republicano será a prova dos nove para o vice-presidente Michel Temer.
As pedras colocadas no caminho são imensas. O país se modernizou e com ele as instituições permanentes do Estado, como o Ministério Público, a Polícia Federal e o Poder Judiciário, cuja integração e eficácia são particularmente visíveis no combate aos crimes de corrupção e financeiro, como demonstram as operações Lava-Jato, Zelotes e Acrônimo.
Mas o mundo da política continua tão ou mais arcaico do que antes. Velhas práticas do clientelismo, do fisiologismo, do compadrio e do patrimonialismo se encrustaram no Estado, com o agravante de terem se associado a um projeto de poder escuso, responsável pelo maior assalto à coisa pública de nossa história.
Michel Temer encontra-se diante de uma encruzilhada. Se trilhar a estrada antiga, começará seu governo de maneira fragilizada, ficará refém de um modelo político esgotado e esclerosado, o tal “presidencialismo de coalizão” à moda petista.
Por aí, será mais do mesmo. Como tragédia anunciada a crise se agravará por melhor que seja sua equipe econômica. O resgate da credibilidade da política econômica passa, necessariamente, pelo acerto no campo da política, propriamente dita. Se ignorar essa lei, o novo governo estará fadado ao fracasso.
Não está dado, porém, que este seja seu destino. Apesar do vai e vem do provável futuro presidente, há sinalizações de que ele pode enveredar por uma trilha mais promissora. São indicativos disso sua disposição de fazer um pronunciamento à nação defendendo a operação Lava-Jato e o anúncio de que comporá um ministério mais enxuto.
É certo que na política Temer está sendo reativo, impulsionado por uma opinião pública cada vez mais exigente. Por instinto de sobrevivência, ou não, isto pouco importa para efeito da análise, o fato é que ele procura entrar em sintonia com uma sociedade onde a indignação, ao contrário de outros momentos, não deu lugar à apatia.
Mas reagir já é alguma coisa em um país onde a presidente deu as costas ao povo e, arrogantemente, ignorou o grito das ruas. Também não deixa de ser positivo que na hora H o Congresso Nacional tenha entendido o recado dado por milhões e milhões de brasileiros.
Se tiver disposição de ir adiante, Temer poderá se beneficiar de outro fator. A suspensão do deputado Eduardo Cunha e o desfecho do affaire Waldir Maranhão diminuíram o poder de barganha do baixo clero, que deve passar por um momento de desarticulação.
Há, portanto, condições para o futuro presidente por limites à voracidade da constelação partidária, de não ceder ao balcão de negócios, de não ficar prisioneiro da chantagem do toma-lá-dá-cá a cada votação de interesse do Executivo.
Sejamos claros: o balcão só prosperou nestes treze anos porque havia alguém do outro lado disposto a comprar as facilidades que os deputados se dispunham a vender. Os governos lulopetistas suprimiram a política e adotaram uma relação meramente mercantilista com os parlamentares, afrontando, assim, a autonomia do próprio Congresso Nacional.
O que se exige de Temer é a mudança desse padrão. É a adoção de outro valor.
É ilusório crer que faremos um parto indolor, na direção de um país de instituições sólidas, de um Legislativo que se dê o respeito e por isto mesmo seja respeitado, de um Executivo que não faça da cooptação sua forma de construir maioria no Parlamento.
Será um parto longo e extremamente dolorido, algo mais próximo ao parto da girafa, que leva 15 meses para acontecer, mas o filhote, quando nasce, já sai andando.
As pedras colocadas no caminho são imensas. O país se modernizou e com ele as instituições permanentes do Estado, como o Ministério Público, a Polícia Federal e o Poder Judiciário, cuja integração e eficácia são particularmente visíveis no combate aos crimes de corrupção e financeiro, como demonstram as operações Lava-Jato, Zelotes e Acrônimo.
Mas o mundo da política continua tão ou mais arcaico do que antes. Velhas práticas do clientelismo, do fisiologismo, do compadrio e do patrimonialismo se encrustaram no Estado, com o agravante de terem se associado a um projeto de poder escuso, responsável pelo maior assalto à coisa pública de nossa história.
Michel Temer encontra-se diante de uma encruzilhada. Se trilhar a estrada antiga, começará seu governo de maneira fragilizada, ficará refém de um modelo político esgotado e esclerosado, o tal “presidencialismo de coalizão” à moda petista.
Por aí, será mais do mesmo. Como tragédia anunciada a crise se agravará por melhor que seja sua equipe econômica. O resgate da credibilidade da política econômica passa, necessariamente, pelo acerto no campo da política, propriamente dita. Se ignorar essa lei, o novo governo estará fadado ao fracasso.
Não está dado, porém, que este seja seu destino. Apesar do vai e vem do provável futuro presidente, há sinalizações de que ele pode enveredar por uma trilha mais promissora. São indicativos disso sua disposição de fazer um pronunciamento à nação defendendo a operação Lava-Jato e o anúncio de que comporá um ministério mais enxuto.
É certo que na política Temer está sendo reativo, impulsionado por uma opinião pública cada vez mais exigente. Por instinto de sobrevivência, ou não, isto pouco importa para efeito da análise, o fato é que ele procura entrar em sintonia com uma sociedade onde a indignação, ao contrário de outros momentos, não deu lugar à apatia.
Mas reagir já é alguma coisa em um país onde a presidente deu as costas ao povo e, arrogantemente, ignorou o grito das ruas. Também não deixa de ser positivo que na hora H o Congresso Nacional tenha entendido o recado dado por milhões e milhões de brasileiros.
Se tiver disposição de ir adiante, Temer poderá se beneficiar de outro fator. A suspensão do deputado Eduardo Cunha e o desfecho do affaire Waldir Maranhão diminuíram o poder de barganha do baixo clero, que deve passar por um momento de desarticulação.
Há, portanto, condições para o futuro presidente por limites à voracidade da constelação partidária, de não ceder ao balcão de negócios, de não ficar prisioneiro da chantagem do toma-lá-dá-cá a cada votação de interesse do Executivo.
Sejamos claros: o balcão só prosperou nestes treze anos porque havia alguém do outro lado disposto a comprar as facilidades que os deputados se dispunham a vender. Os governos lulopetistas suprimiram a política e adotaram uma relação meramente mercantilista com os parlamentares, afrontando, assim, a autonomia do próprio Congresso Nacional.
O que se exige de Temer é a mudança desse padrão. É a adoção de outro valor.
É ilusório crer que faremos um parto indolor, na direção de um país de instituições sólidas, de um Legislativo que se dê o respeito e por isto mesmo seja respeitado, de um Executivo que não faça da cooptação sua forma de construir maioria no Parlamento.
Será um parto longo e extremamente dolorido, algo mais próximo ao parto da girafa, que leva 15 meses para acontecer, mas o filhote, quando nasce, já sai andando.
Fim de um desgoverno
Quando se prepara para receber do Senado Federal a notícia de que a partir de amanhã já não mais será a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tem razões de sobra para refletir sobre as causas que a levaram e a seu governo a tão melancólico desfecho.
Considerando seu passado, Dilma não admitirá sua própria responsabilidade no episódio. Ficará repetindo, como mantra, é golpe, é golpe, não aceitando o fato de que violou a Constituição em matéria punível com o impeachment.
Escapar da responsabilidade lhe parece natural, pois foi o que fez quando lhe perguntaram sobre o funcionamento do maior esquema de corrupção do mundo, na Petrobras, nos anos em ela foi presidente do conselho de administração da empresa: Euzinha? Nada vi, nada soube, de nada desconfiei, nada supus, de nada nada.
O pior é que pode mesmo não ser apenas uma de encenação. Pode ser que Dilma acredite mesmo na baboseira que vem repetindo nos comícios que organiza no Palácio do Planalto, de que ela é apenas uma pobre vítima de golpistas desalmados. A
Ora, como pode isso acontecer com ela, que apregoava à exaustão na campanha eleitoral de 2010 que “a gente nunca pode apostar nas virtudes dos homens, porque todos os homens e mulheres são falhos. Precisamos apostar na virtude das instituições”.
Mas esse pensamento, que tomou de empréstimo a Márcio Thomaz Bastos, não lhe ensinou a história toda. A virtude, própria ou alheia, é apenas metade do que necessita o ou a governante para ter sucesso. A outra metade, como já instruía Maquiavel a Lourenço de Médici, poucos anos depois da descoberta do Brasil, chama-se sorte, fortuna.
Luiz Inácio Lula da Silva, que antecedeu Dilma na Presidência, administrou o País com um relativo déficit de virtude, mas com um extraordinário superávit de sorte.
Tendo recebido o país com as contas econômicas relativamente bem arrumadas, foi sábio (virtude) o suficiente para nelas não mexer. Com isso pode usufruir de toda a sorte (fortuna) representada pelo aumento brutal dos preços das commodities exportadas pelo Brasil, graças ao ímpeto importador chinês.
Com dinheiro sobrando, com o país crescendo, Lula pode bancar os programas sociais de sua agenda e apresentar-se ao mundo como um grande líder. Como se dizia à época, o lado bom de Lula não era novo, e o lado novo não era bom. Mas o fato é que foi bafejado pela sorte.
Como Dilma, só que com referência ao ‘mensalão’, cujas tratativas ocorriam na sala ao lado de seu gabinete, Lula também de nada soube, viu ou percebeu. Mas o que fazer, se a falta de virtude em seu governo era mais do que compensada pela fortuna?
No caso de Dilma, a situação foi diferente. Por razões que talvez conte quando produzir um relato biográfico, Lula a escolheu - quando muitos associavam sua imagem à de um poste em termos de flexibilidade política - como candidata a sucedê-lo.
Sua fama como gestora, na verdade, parecia mais decorrer do temor que espalhava à sua volta, fruto de incontrolada grosseria pessoal, do que de uma efetiva qualificação pessoal e profissional.
Lula terá um dia de explicar a razão de ter indicado uma pessoa com essas falhas tão patentes para assumir a complexa responsabilidade de administrar um país como o Brasil. Para completar, faltou a Dilma a sorte que sobrara nos governo de Lula da Silva.
A herança deixada por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foi apresentada pela máquina de propaganda do governo como um sucesso. Na verdade, parecia um pêssego, mas era pequi: bonito por fora, mas com profusão de espinhos por dentro.
Um desses espinhos deixados de presente por Lula para sua sucessora foi um pacote de “empenhos”(compromissos de pagamento) de mais de 10 bilhões de reais. Foi esse o começo do fim.
Pedro Luiz Rodrigues
Considerando seu passado, Dilma não admitirá sua própria responsabilidade no episódio. Ficará repetindo, como mantra, é golpe, é golpe, não aceitando o fato de que violou a Constituição em matéria punível com o impeachment.
Escapar da responsabilidade lhe parece natural, pois foi o que fez quando lhe perguntaram sobre o funcionamento do maior esquema de corrupção do mundo, na Petrobras, nos anos em ela foi presidente do conselho de administração da empresa: Euzinha? Nada vi, nada soube, de nada desconfiei, nada supus, de nada nada.
O pior é que pode mesmo não ser apenas uma de encenação. Pode ser que Dilma acredite mesmo na baboseira que vem repetindo nos comícios que organiza no Palácio do Planalto, de que ela é apenas uma pobre vítima de golpistas desalmados. A
Ora, como pode isso acontecer com ela, que apregoava à exaustão na campanha eleitoral de 2010 que “a gente nunca pode apostar nas virtudes dos homens, porque todos os homens e mulheres são falhos. Precisamos apostar na virtude das instituições”.
Mas esse pensamento, que tomou de empréstimo a Márcio Thomaz Bastos, não lhe ensinou a história toda. A virtude, própria ou alheia, é apenas metade do que necessita o ou a governante para ter sucesso. A outra metade, como já instruía Maquiavel a Lourenço de Médici, poucos anos depois da descoberta do Brasil, chama-se sorte, fortuna.
Luiz Inácio Lula da Silva, que antecedeu Dilma na Presidência, administrou o País com um relativo déficit de virtude, mas com um extraordinário superávit de sorte.
Tendo recebido o país com as contas econômicas relativamente bem arrumadas, foi sábio (virtude) o suficiente para nelas não mexer. Com isso pode usufruir de toda a sorte (fortuna) representada pelo aumento brutal dos preços das commodities exportadas pelo Brasil, graças ao ímpeto importador chinês.
Com dinheiro sobrando, com o país crescendo, Lula pode bancar os programas sociais de sua agenda e apresentar-se ao mundo como um grande líder. Como se dizia à época, o lado bom de Lula não era novo, e o lado novo não era bom. Mas o fato é que foi bafejado pela sorte.
Como Dilma, só que com referência ao ‘mensalão’, cujas tratativas ocorriam na sala ao lado de seu gabinete, Lula também de nada soube, viu ou percebeu. Mas o que fazer, se a falta de virtude em seu governo era mais do que compensada pela fortuna?
No caso de Dilma, a situação foi diferente. Por razões que talvez conte quando produzir um relato biográfico, Lula a escolheu - quando muitos associavam sua imagem à de um poste em termos de flexibilidade política - como candidata a sucedê-lo.
Sua fama como gestora, na verdade, parecia mais decorrer do temor que espalhava à sua volta, fruto de incontrolada grosseria pessoal, do que de uma efetiva qualificação pessoal e profissional.
Lula terá um dia de explicar a razão de ter indicado uma pessoa com essas falhas tão patentes para assumir a complexa responsabilidade de administrar um país como o Brasil. Para completar, faltou a Dilma a sorte que sobrara nos governo de Lula da Silva.
A herança deixada por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foi apresentada pela máquina de propaganda do governo como um sucesso. Na verdade, parecia um pêssego, mas era pequi: bonito por fora, mas com profusão de espinhos por dentro.
Um desses espinhos deixados de presente por Lula para sua sucessora foi um pacote de “empenhos”(compromissos de pagamento) de mais de 10 bilhões de reais. Foi esse o começo do fim.
Pedro Luiz Rodrigues
Itinerário da insensatez
O sentimento que por muitas semanas dominou o governo Dilma foi de revolta. Agora mudou: é de desespero, porque a partir de hoje não há mais governo Dilma. Assumiu o governo Temer.
Como imaginar de outra forma os recursos impetrados por Madame na Corte Interamericana de Direitos Humanos e na Organização dos Estados Americanos? Pura insensatez levar para foros que por sinal nada representam diante de nossa soberania, imaginando que qualquer decisão alienígena poderá afetar nossas instituições? A briga teria que ser desenvolvida no âmbito do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Apelar para bandos de desocupados só pode mesmo ser desespero.
Até uma parte do PT pensa assim. Nem nos referimos às causas que conduziram o governo a sofrer o impeachment já caracterizado e à espera do golpe de graça nos próximos 180 dias. Não há como eximir Dilma da responsabilidade maior. Em vez de governar, enrolou-se na própria incompetência. Desde o primeiro mandato ela espalhou arrogância, cercando-se mal e atuando pior ainda. Agora, acaba de colher as consequências. O país transformou-se num aglomerado de frustrações. Do empresariado aos trabalhadores, das corporações à classe média, dos políticos à inteligência nacional – a nação rejeitou o grupo encastelado no poder. Claro que as organizações sindicais protestaram, mas vão durar pouco as manifestações de protesto. Quando esgotado o combustível oriundo dos cofres públicos, perceberão a inutilidade de apoiar os artífices do caos. Não deixarão de reivindicar direitos e necessidades, ainda mais diante do retrocesso social que deverá marcar o governo Temer. Só que sem a farsa de seus falsos representantes. Possivelmente o inconformismo vai aumentar, a agitação se multiplicará, mas jamais respaldando o fracasso de Dilma e seu grupo. Talvez aflorem movimentos mais sinceros e por isso mais violentos, à medida em que o novo governo desenvolva iniciativas elitistas e contrárias aos interesses das massas. Nada, porém, saudosista e lamentando o que acaba de passar.
Como imaginar de outra forma os recursos impetrados por Madame na Corte Interamericana de Direitos Humanos e na Organização dos Estados Americanos? Pura insensatez levar para foros que por sinal nada representam diante de nossa soberania, imaginando que qualquer decisão alienígena poderá afetar nossas instituições? A briga teria que ser desenvolvida no âmbito do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Apelar para bandos de desocupados só pode mesmo ser desespero.
Brasil tornou-se pós-freudiano e pré-falimentar
Atenção! Durante a madrugada, enquanto você dormia, suas coordenadas mudaram. Situe-se. Convém acionar o GPS. Não tem? Então, você precisa de ajuda. Vamos lá.
Você está no Brasil, América do Sul, Terra, fundos. O país migrou da barbárie petista para a decadência peemedebista sem um estágio intermediário de algo para chamar de bons tempos.
O PT amanheceu na oposição, mas continua morando no Alvorada. O PMDB ainda habita o Jaburu, mas passou a controlar as chaves do Planalto. E o PSDB trocou o trono de líder da oposição por duas cadeiras de ministro.
O país agora é pós-freudiano. Mas continua pré-falimentar. Dispõe de dois presidentes. Mas não tem nenhum. Dilma é presidente afastada. E Temer é presidente em exercício. Mas o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é do Lula.
O ministério sofreu uma reforma. No entanto, com raras exceções, não houve propriamente uma mudança de ministros. Trocaram-se os cúmplices. Os nomes são outros, mas os PPs, os PRs e os inquéritos da Lava Jato são os mesmos.
Fixadas essas novas coordenadas, situe-se como indivíduo. Pegue o seu RG. Confira a foto. Verifique se a assinatura confere. Pegue também o CPF. Recite o número. Repita três vezes, para ter certeza de que você continua sendo você mesmo e não um impostor.
Você está no Brasil, América do Sul, Terra, fundos. O país migrou da barbárie petista para a decadência peemedebista sem um estágio intermediário de algo para chamar de bons tempos.
O país agora é pós-freudiano. Mas continua pré-falimentar. Dispõe de dois presidentes. Mas não tem nenhum. Dilma é presidente afastada. E Temer é presidente em exercício. Mas o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é do Lula.
O ministério sofreu uma reforma. No entanto, com raras exceções, não houve propriamente uma mudança de ministros. Trocaram-se os cúmplices. Os nomes são outros, mas os PPs, os PRs e os inquéritos da Lava Jato são os mesmos.
Fixadas essas novas coordenadas, situe-se como indivíduo. Pegue o seu RG. Confira a foto. Verifique se a assinatura confere. Pegue também o CPF. Recite o número. Repita três vezes, para ter certeza de que você continua sendo você mesmo e não um impostor.
Pneus queimados e os 'miguelitos' da presidente
Esta terça-feira que antecede a votação do relatório da Comissão Especial do impeachment no Senado amanheceu com pneus ardendo em rodovias do país. Os jagunços do comandante João Pedro (quebra-quebra) Stédile vinham sendo, de viva voz, convocados como milícias do decadente governo. Com pneus velhos e foices mais luzidias do que baionetas de desfile, manifestam-se amuados com a decisão constitucional e soberana da Câmara dos Deputados e com a disposição do Senado Federal de afastar a presidente do atabalhoado exercício de suas funções. É bom, mesmo, que a Câmara Alta faça isso logo porque Sua Excelência dedicou os últimos dias à impatriótica tarefa de jogar "miguelitos" no caminho de seu substituto.
O que leva as forças de Stédile a bloquear estradas queimando pneus também move a quase-ex-presidente Dilma a despejar pacotes de medidas cujo efeito é ampliar as dificuldades fiscais que Temer terá de enfrentar no exercício do seu período de substituição. É o mesmo motivo, aliás, pelo qual o governo está caindo, pelo qual o país foi levado a uma crise descomunal e pelo qual o partido governante afunda em descrédito. O PT é animado por aquele egoísmo que só aceita sistema ou ordem em que tudo gravite em torno de si mesmo. Sob tal perspectiva, o país e seu povo pertencem à sua órbita e nela se deslocam. É assim que operam as mentes totalitárias.
Eis aí, também, o motivo pelo qual o partido se recusa a admitir que seu governo levou o país ao caos. Os dados à sua frente nada o informam a esse respeito. Ao contrário, para o PT tudo estava muito bem com o sistema gravitando em perfeita ordem. Caos, para o partido que ainda governa o país enquanto escrevo, é o que se instala quando se embaralham as forças em seu universo particular. E se isso ocorre, fogo nos pneus. "Miguelitos" na estrada do Temer. Histeria masculina e feminina nos plenários. "Manhas e artimanhas", para tumultuar a vida institucional. Manhas e artimanhas foram as palavras usadas pela presidente quando se referiu à patacoada promovida pelo presidente interino da Câmara dos Deputados no ato através do qual usurpou o papel de seu colega Tiririca. Manhas e artimanhas como aquela em que se degradou o ministro José Eduardo Cardozo ao organizar a farsa e arrastar os senadores da base para sua pantomima jurídica.
Estamos longe do fim. Por muito tempo ainda os veremos jogando pesado contra o interesse nacional, contra o bem do país e sua credibilidade. Por muito tempo ainda os veremos empenhados em causar o maior dano possível à sociedade brasileira, que conduziram a inédito nível de desemprego, perda do poder de compra, insegurança, criminalidade e desorientação. Afinal, como esperar algo mais republicano de um grupo político cuja militância queima pneus nas estradas e a quase-ex-presidente joga "miguelitos" no caminho do país?
Percival Puggina
O que leva as forças de Stédile a bloquear estradas queimando pneus também move a quase-ex-presidente Dilma a despejar pacotes de medidas cujo efeito é ampliar as dificuldades fiscais que Temer terá de enfrentar no exercício do seu período de substituição. É o mesmo motivo, aliás, pelo qual o governo está caindo, pelo qual o país foi levado a uma crise descomunal e pelo qual o partido governante afunda em descrédito. O PT é animado por aquele egoísmo que só aceita sistema ou ordem em que tudo gravite em torno de si mesmo. Sob tal perspectiva, o país e seu povo pertencem à sua órbita e nela se deslocam. É assim que operam as mentes totalitárias.
Estamos longe do fim. Por muito tempo ainda os veremos jogando pesado contra o interesse nacional, contra o bem do país e sua credibilidade. Por muito tempo ainda os veremos empenhados em causar o maior dano possível à sociedade brasileira, que conduziram a inédito nível de desemprego, perda do poder de compra, insegurança, criminalidade e desorientação. Afinal, como esperar algo mais republicano de um grupo político cuja militância queima pneus nas estradas e a quase-ex-presidente joga "miguelitos" no caminho do país?
Percival Puggina
Enfim, um governo
Quando escrevo este artigo, o Senado Federal caminha para afastar Dilma Rousseff do poder. É o fim de uma crônica da morte anunciada. O governo Dilma estava a fadado a morrer. Hoje ou depois. Das pedaladas de antes ou pela obstrução da justiça de agora. Não tinha escapatória.
O que esperar de Michel Temer? Primeiro, devemos ajustar as nossas expectativas. Não podemos esperar aquilo que o governo não pode entregar. Também não podemos deixar de considerar o sistema político que temos.
Considerando que o impeachment será confirmado definitivamente, teremos dois e pouco de um governo de transição. Não é muito tempo. Mas é suficiente para restabelecer a confiança na economia.
Outro fator é o regime político do país. Vivemos um presidencialismo de coalizão que se sustenta na boa relação do presidente com o Congresso. Se o relacionamento for equilibrado e respeitoso, muito pode ser feito.
Assim, nossas expectativas devem ser ajustadas para o nível básico da realidade. O governo Michel Temer poderá ser excepcional se nossas expectativas forem realistas e ele souber usar os recursos que tem.
Temer sabe que o Brasil tem dois desafios imediatos. Recuperar a credibilidade fiscal do país e destravar os investimentos. De certa maneira, são desafios factíveis de serem alcançados se forem bem trabalhados e existir um bom relacionamento com a base política.
Em tese, qualquer agenda pode ser encaminhada desde que seja bem preparada. Mesmo a reforma previdenciária pode avançar se a proposta for bem explicada para a cidadania; que atinja inicialmente os funcionários públicos e que existam regras claras de transição.
A aprovação de um limite constitucional para os gastos públicos e da renovação da DRU - Desvinculação das Receitas da União também podem ser alcançadas. Desde que o relacionamento político seja sólido.
A base do sucesso do governo Temer está em observar as razões do fracasso do governo Dilma. Uma das razões mais óbvias foi o distanciamento que o governo manteve de sua base. Na hora que precisou dos deputados, se aproximou de forma oportunista. Não funcionou.
Dilma avançou e recuou em muitas de suas iniciativas. Passou falta de clareza e ausência de rumos. Sua comunicação foi caótica. Quando não era patética. Sua liderança nunca se afirmou apesar do repertório de grosserias. Tudo o que não se espera do novo presidente.
Em mantendo clareza de propósitos, uma boa e sincera comunicação social e um diálogo permanente com a base política, Temer poderá consolidar sua presidência e fazer uma boa gestão. É uma expectativa realista.
Murillo de Aragão
O que esperar de Michel Temer? Primeiro, devemos ajustar as nossas expectativas. Não podemos esperar aquilo que o governo não pode entregar. Também não podemos deixar de considerar o sistema político que temos.
Considerando que o impeachment será confirmado definitivamente, teremos dois e pouco de um governo de transição. Não é muito tempo. Mas é suficiente para restabelecer a confiança na economia.
Assim, nossas expectativas devem ser ajustadas para o nível básico da realidade. O governo Michel Temer poderá ser excepcional se nossas expectativas forem realistas e ele souber usar os recursos que tem.
Temer sabe que o Brasil tem dois desafios imediatos. Recuperar a credibilidade fiscal do país e destravar os investimentos. De certa maneira, são desafios factíveis de serem alcançados se forem bem trabalhados e existir um bom relacionamento com a base política.
Em tese, qualquer agenda pode ser encaminhada desde que seja bem preparada. Mesmo a reforma previdenciária pode avançar se a proposta for bem explicada para a cidadania; que atinja inicialmente os funcionários públicos e que existam regras claras de transição.
A aprovação de um limite constitucional para os gastos públicos e da renovação da DRU - Desvinculação das Receitas da União também podem ser alcançadas. Desde que o relacionamento político seja sólido.
A base do sucesso do governo Temer está em observar as razões do fracasso do governo Dilma. Uma das razões mais óbvias foi o distanciamento que o governo manteve de sua base. Na hora que precisou dos deputados, se aproximou de forma oportunista. Não funcionou.
Dilma avançou e recuou em muitas de suas iniciativas. Passou falta de clareza e ausência de rumos. Sua comunicação foi caótica. Quando não era patética. Sua liderança nunca se afirmou apesar do repertório de grosserias. Tudo o que não se espera do novo presidente.
Em mantendo clareza de propósitos, uma boa e sincera comunicação social e um diálogo permanente com a base política, Temer poderá consolidar sua presidência e fazer uma boa gestão. É uma expectativa realista.
Murillo de Aragão
Livro científico que dói na cidadania
Há anos, desde que o li, se tiver de indicar um livro para alguém, não tenho dúvida de que é “O Futuro Roubado”, de Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myers (L&PM Editores, 1997), que elenca e analisa estudos científicos sobre agentes químicos sintéticos que alteram os sistemas hormonais e que ecologistas e ecólogos, 30 anos antes de sua publicação, apontavam como deletérios ao meio ambiente e à saúde animal e à humana.
O pioneirismo, a paciência, a sagacidade e o mérito de Rachel Carson como cientista são inegáveis. Ela sistematizou “toda a literatura científica disponível à época, numa brilhante obra literária de denúncia e divulgação científica”, ao mesmo tempo em que divulgou e reavivou a Teoria da Evolução de Darwin/Wallace “numa América conservadora e religiosa”.
Para Alexandre Sallum, “de maneira demolidora, Rachel Carson explicou e denunciou o perigo dos pesticidas, apesar do título poético, uma referência ao silêncio dos pássaros mortos pela contaminação dos agrotóxicos... No primeiro capítulo, ‘Uma fábula para o amanhã’, a autora descreve, liricamente, um lugar onde as árvores não davam folhas, os animais morriam, os rios contaminados não tinham peixes e, principalmente, os pássaros que cantavam na primavera haviam sumido” (“A Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, 2012).
O primoroso prefácio da edição brasileira de “O Futuro Roubado” é do agrônomo e ambientalista José A. Lutzenberger (1926-2002), no qual declara: “O que precisamos questionar é a tecnologia dos agrotóxicos em si”. A edição norte-americana foi prefaciada pelo Nobel da Paz 2007 e ex-vice-presidente (de Bill Clinton, 1993-2001), Al Gore, que afirma: “Estudos com animais e seres humanos relacionam os agentes químicos a inúmeros problemas, como infertilidade e deformações genitais; cânceres desencadeados por hormônios, como o câncer de mama e o de próstata; desordens neurológicas em crianças, como hiperatividade e déficit de atenção; e problemas de desenvolvimento e reprodução em animais silvestres...
“Os organoclorados e outros produtos estão causando uma profunda alteração na base da sobrevivência dos seres vivos do planeta. Causam disfunções hormonais, levando à masculinização das fêmeas e à feminilização dos machos. Na espécie humana, já há uma queda em 50% da fertilidade pela progressiva destruição dos espermatozoides”.
“O Futuro Roubado” é um livro-síntese da literatura científica até 1996. É um livro-guia: depois que o li, sempre que avalio estar sendo ludibriada, na vida privada ou na pública, sou instada a reagir, pois o referido livro aparece flutuando em minha mente como um alerta para que eu não me cale! E nos roubam muito, quase tudo, até o parto, como relato em “O parto roubado é um conceito político de resistência”.
O título “O Futuro Roubado” hoje é mais que um livro. É também um conceito político de resistência aplicável a conjunturas políticas que retiram, usurpam, entravam direitos e roubam a cidadania, tornando perenes as assimetrias econômicas, as exclusões e as vulnerabilidades sociais e políticas.
Por sua magnitude em dados científicos irrefutáveis, é reconhecido como uma continuação de “A Primavera Silenciosa”, da bióloga marinha Rachel Carson (1907-1964), publicado em setembro de 1962 – hoje um clássico da área da consciência ambiental planetária. A autora é uma celebridade mundial que, para o jornal inglês “The Guardian”, ocupa “o primeiro lugar entre as cem pessoas que mais contribuíram para a defesa do meio ambiente em todos os tempos”.
O pioneirismo, a paciência, a sagacidade e o mérito de Rachel Carson como cientista são inegáveis. Ela sistematizou “toda a literatura científica disponível à época, numa brilhante obra literária de denúncia e divulgação científica”, ao mesmo tempo em que divulgou e reavivou a Teoria da Evolução de Darwin/Wallace “numa América conservadora e religiosa”.
Para Alexandre Sallum, “de maneira demolidora, Rachel Carson explicou e denunciou o perigo dos pesticidas, apesar do título poético, uma referência ao silêncio dos pássaros mortos pela contaminação dos agrotóxicos... No primeiro capítulo, ‘Uma fábula para o amanhã’, a autora descreve, liricamente, um lugar onde as árvores não davam folhas, os animais morriam, os rios contaminados não tinham peixes e, principalmente, os pássaros que cantavam na primavera haviam sumido” (“A Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, 2012).
O primoroso prefácio da edição brasileira de “O Futuro Roubado” é do agrônomo e ambientalista José A. Lutzenberger (1926-2002), no qual declara: “O que precisamos questionar é a tecnologia dos agrotóxicos em si”. A edição norte-americana foi prefaciada pelo Nobel da Paz 2007 e ex-vice-presidente (de Bill Clinton, 1993-2001), Al Gore, que afirma: “Estudos com animais e seres humanos relacionam os agentes químicos a inúmeros problemas, como infertilidade e deformações genitais; cânceres desencadeados por hormônios, como o câncer de mama e o de próstata; desordens neurológicas em crianças, como hiperatividade e déficit de atenção; e problemas de desenvolvimento e reprodução em animais silvestres...
“Os organoclorados e outros produtos estão causando uma profunda alteração na base da sobrevivência dos seres vivos do planeta. Causam disfunções hormonais, levando à masculinização das fêmeas e à feminilização dos machos. Na espécie humana, já há uma queda em 50% da fertilidade pela progressiva destruição dos espermatozoides”.
“O Futuro Roubado” é um livro-síntese da literatura científica até 1996. É um livro-guia: depois que o li, sempre que avalio estar sendo ludibriada, na vida privada ou na pública, sou instada a reagir, pois o referido livro aparece flutuando em minha mente como um alerta para que eu não me cale! E nos roubam muito, quase tudo, até o parto, como relato em “O parto roubado é um conceito político de resistência”.
O título “O Futuro Roubado” hoje é mais que um livro. É também um conceito político de resistência aplicável a conjunturas políticas que retiram, usurpam, entravam direitos e roubam a cidadania, tornando perenes as assimetrias econômicas, as exclusões e as vulnerabilidades sociais e políticas.
Epitáfio para a era PT
Com muita frequência, as pessoas tentam ignorar que cometeram faltas, mas, como um estilhaço de obus que se movimenta dentro de um corpo, seu fardo provoca dores lancinantes e, às vezes, as mataIevguêni Ievtuchenko
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