sábado, 27 de agosto de 2016
Por que não sempre?
O sucesso das Olimpiadas, o espetáculo dos melhores do mundo desempenhando-se no melhor da vida, é sempre garantido. O produto é irresistível. Embalado no mais feérico dos cenários urbanos da Terra então não tinha erro. Mesmo que nada mais funcionasse funcionaria. Mas não foi só a paisagem. Com tudo o mais constante – os mesmos homens públicos, a mesma quantidade de dinheiro, até menos, as mesmas instituições – desta vez tudo funcionou, e muito bem.
O que foi que fez a diferença?
Ouso afirmar que foi a qualidade da cobrança.
Quando trata do desastre nacional para o público doméstico a imprensa brasileira incorpora não só a linguagem como também as premissas postas pelas partes interessadas no lado “sistêmico” da nossa desgraça. Ao aceitar como irredutíveis e “normais” todos os privilégios de que se apropriou a casta dos políticos e dos funcionários do Estado pesando aqueles 46% do PIB que nos esmagam (36% de impostos + 10% de déficit), tudo que resta aos jornalistas para discutir com os “especialistas” e “cientistas políticos” que aceitam esse mesmo limite é a momentosa questão de “como resolver o problema do Brasil” excluída a alternativa de resolver o problema do Brasil que é precisamente o peso desses privilégios e a metástese da corrupção que necessariamente decorre da aceitação pacífica deles como um meio de vida legítimo sempre ao alcance da mão de todo “concurseiro” ou simples puxa-saco que se dispuser a se bandear do oceano dos explorados para a nau dos exploradores.
As Tentações de Cristo foram menores…
O que aconteceu com a Olimpiada foi um estranho jogo dialético. Sob os ecos da intervenção do “xerife” americano que lancetou o furunculo da Fifa, da Lava-Jato que pela primeira vez abalou a incolumidade da cleptocracia brasileira e da culpa por ter aplaudido o logro do lulismo, a imprensa estrangeira comprou o mau humor da nacional para com a realização dos jogos no meio da nossa maior crise economica e de identidade. E o fez com tanto empenho e azedume que acabou por ferir-nos os brios a ponto daquela “azaração” toda transformar-se na mais recorrente pauta pré-olímpica da imprensa nacional.
Ao passar a cobrir a cobertura da imprensa estrangeira, porém, a nacional inadvertidamente importou junto a superação dos limites que ela própria se impõe ao tratar do drama do Brasil e – das condições da infraestrutura de saneamento, de segurança e de transporte publico para baixo – foi sendo empurrada para um escaneamento fino do Rio de Janeiro que, hipnotizada pelas pernadas e pedaladas dos contendores da luta pelo controle do “Sistema”, ha muito tempo ela se desacostumou de fazer.
Por aqui não se vai nunca à origem última de todas as nossas mazelas porque os jornalistas, especialmente os que convivem em circuito fechado demais com a “côrte” em Brasília, estão tão próximos dela que deixaram de enxerga-la como a aberração que é. O olhar estrangeiro escandalizado com aquilo que concretamente o povo carioca recebe para usar em pleno 3º Milênio resultou em que o Rio de Janeiro fosse revisado de cabo a rabo e cobradas como nunca antes as suas autoridades por tudo que se esconde por baixo dos efeitos visíveis da apropriação do serviço público pela corporação dos seus supostos “servidores”: o Rio como um todo teria de funcionar para que a Olimpíada funcionasse.
E fez-se então a luz, como sói fazer-se sempre que a imprensa faz o seu papel de atrair todos os olhares para onde os problemas realmente estão: da prefeitura carioca à Presidência da Republica não restou a nenhum dos que passaram a ser cobrados sem meias palavras, nas menores minucias, com a mais desenfreada urgência senão responder com ações enérgicas a tempo e à hora, sob pena de opróbio planetário e perda para sempre da condição de prosseguir na carreira política.
É um santo remédio, e sem substituto conhecido, esse tipo de pressão!
Passado o momento mágico, porém, aquele ímpeto já começa a arrefecer e os debates estéreis sobre como tornar a nossa democracia “efetiva” sem tocar na teta dos impostos dos sindicatos, dos partidos políticos e dos “movimentos sociais” que a falsifica; como “acabar com a impunidade” sem revogar a desigualdade perante a lei que a Constituição consagra; como melhorar a qualidade da educação e do serviço público mantida a indemissibilidade geral e o atrelamento da progressão do salário à chantagem e não ao desempenho, voltam a dominar as telinhas nos intervalos da tragicomédia do impeachment.
É perder um tempo que já não temos. Não ha como consertar o Brasil sem ir à raiz da nossa doença; sem conectar aos representados o fio terra da nossa democracia “representativa”; sem substituir o comércio de privilégios por ferramentas transparentes de educação para a democracia e desinfecção continuada do ambiente do poder como o recall num contexto de voto distrital. Não ha solução mágica, mas esta nos põe de volta numa trajetória ascendente e permite reconstruir, na velocidade que se mostrar possível, esse nosso país em frangalhos.
A Olimpíada provou que, de cima do trilhão e meio de reais que se arrecada por ano em impostos, não nos falta dinheiro nem nos falta “know how” para fazer melhor que os melhores do mundo. Falta, sim, a reverência aos brasileiros que nossos políticos dão aos estrangeiros e, sobretudo, para obriga-los a ela, o foco no essencial e o empenho na cobrança que a imprensa mostrou ao cobrir o Brasil para os estrangeiros mas não mostra quando cobre o Brasil para os brasileiros.
Não é para se ufanar o fato desse Rio de Janeiro da Olimpíada e desse Brasil que funciona só durarem o tempo de uma festa, dessa transitoriedade ser assumida pelos autores do feito e – pior que tudo! – dessa excepcionalidade ser pacificamente aceita pela imprensa que devia falar pelos eleitores. Ser vira-lata, senhoras e senhores, é ter medo de parecer vira-lata … e ficar só nisso.
O que foi que fez a diferença?
Ouso afirmar que foi a qualidade da cobrança.
Quando trata do desastre nacional para o público doméstico a imprensa brasileira incorpora não só a linguagem como também as premissas postas pelas partes interessadas no lado “sistêmico” da nossa desgraça. Ao aceitar como irredutíveis e “normais” todos os privilégios de que se apropriou a casta dos políticos e dos funcionários do Estado pesando aqueles 46% do PIB que nos esmagam (36% de impostos + 10% de déficit), tudo que resta aos jornalistas para discutir com os “especialistas” e “cientistas políticos” que aceitam esse mesmo limite é a momentosa questão de “como resolver o problema do Brasil” excluída a alternativa de resolver o problema do Brasil que é precisamente o peso desses privilégios e a metástese da corrupção que necessariamente decorre da aceitação pacífica deles como um meio de vida legítimo sempre ao alcance da mão de todo “concurseiro” ou simples puxa-saco que se dispuser a se bandear do oceano dos explorados para a nau dos exploradores.
As Tentações de Cristo foram menores…
O que aconteceu com a Olimpiada foi um estranho jogo dialético. Sob os ecos da intervenção do “xerife” americano que lancetou o furunculo da Fifa, da Lava-Jato que pela primeira vez abalou a incolumidade da cleptocracia brasileira e da culpa por ter aplaudido o logro do lulismo, a imprensa estrangeira comprou o mau humor da nacional para com a realização dos jogos no meio da nossa maior crise economica e de identidade. E o fez com tanto empenho e azedume que acabou por ferir-nos os brios a ponto daquela “azaração” toda transformar-se na mais recorrente pauta pré-olímpica da imprensa nacional.
Ao passar a cobrir a cobertura da imprensa estrangeira, porém, a nacional inadvertidamente importou junto a superação dos limites que ela própria se impõe ao tratar do drama do Brasil e – das condições da infraestrutura de saneamento, de segurança e de transporte publico para baixo – foi sendo empurrada para um escaneamento fino do Rio de Janeiro que, hipnotizada pelas pernadas e pedaladas dos contendores da luta pelo controle do “Sistema”, ha muito tempo ela se desacostumou de fazer.
E fez-se então a luz, como sói fazer-se sempre que a imprensa faz o seu papel de atrair todos os olhares para onde os problemas realmente estão: da prefeitura carioca à Presidência da Republica não restou a nenhum dos que passaram a ser cobrados sem meias palavras, nas menores minucias, com a mais desenfreada urgência senão responder com ações enérgicas a tempo e à hora, sob pena de opróbio planetário e perda para sempre da condição de prosseguir na carreira política.
É um santo remédio, e sem substituto conhecido, esse tipo de pressão!
Passado o momento mágico, porém, aquele ímpeto já começa a arrefecer e os debates estéreis sobre como tornar a nossa democracia “efetiva” sem tocar na teta dos impostos dos sindicatos, dos partidos políticos e dos “movimentos sociais” que a falsifica; como “acabar com a impunidade” sem revogar a desigualdade perante a lei que a Constituição consagra; como melhorar a qualidade da educação e do serviço público mantida a indemissibilidade geral e o atrelamento da progressão do salário à chantagem e não ao desempenho, voltam a dominar as telinhas nos intervalos da tragicomédia do impeachment.
A Olimpíada provou que, de cima do trilhão e meio de reais que se arrecada por ano em impostos, não nos falta dinheiro nem nos falta “know how” para fazer melhor que os melhores do mundo. Falta, sim, a reverência aos brasileiros que nossos políticos dão aos estrangeiros e, sobretudo, para obriga-los a ela, o foco no essencial e o empenho na cobrança que a imprensa mostrou ao cobrir o Brasil para os estrangeiros mas não mostra quando cobre o Brasil para os brasileiros.
Não é para se ufanar o fato desse Rio de Janeiro da Olimpíada e desse Brasil que funciona só durarem o tempo de uma festa, dessa transitoriedade ser assumida pelos autores do feito e – pior que tudo! – dessa excepcionalidade ser pacificamente aceita pela imprensa que devia falar pelos eleitores. Ser vira-lata, senhoras e senhores, é ter medo de parecer vira-lata … e ficar só nisso.
Dilma, o filme (conteúdo adulto)
Você achou que já tivesse visto tudo sobre esse fenômeno(a) da política brasileira, mas tem mais. Vem aí Dilma Rousseff, o filme. O projeto é simples e genial: enfiar no julgamento do impeachment todos os delinquentes petistas que roubaram o Brasil sem perder a ternura, e filmá-los gritando, chorando e esperneando. Não tem erro. Nada comove mais os brasileiros do que o sofrimento de um picareta do bem.
Felizmente, o país tem militantes da cultura que não fogem à missão de defender a quadrilha contra o golpe. É bonito ver a invasão do Senado pelos cineastas da revolução, enquanto Lula é indiciado pela polícia por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Democracia é isso, cada um escolhe a sua narrativa.
Dilma, o filme, não é em si uma novidade. Isso tudo já era um filme, e continuará sendo. Se não fosse, esse bando de notáveis que finge defender uma mulher de um golpe, para dar aquela retocada no verniz de esquerda, estaria exilado de vergonha no pré-sal. Sim, porque só num filme muito bem feito o espectador pode ver uma gangue de parasitas autoritários, ideologicamente filiados aos Maduros da vida, fazendo papel de heróis da resistência democrática.
Essa importante contribuição do cinema brasileiro para a formação do caráter nacional terá cenas fortes. A própria Dilma já deu a pista, comparando-se a Getúlio Vargas e João Goulart: ela explicou que só não a obrigaram a se matar, como fizeram com o companheiro Getúlio, porque hoje vivemos numa democracia. Ou seja: você vai entrar no cinema para assistir à história de uma lenda viva, sabendo que ela poderia ser uma lenda morta. Isso emociona.
Mas cuidado para não se engasgar com a pipoca: essa mesma democracia que salvou a vida de Dilma, a lenda, provavelmente tinha ido à esquina comprar cigarro quando se deu o golpe de estado. Porque ou você tem democracia, ou você tem golpe. Mas não tem problema: se ficar confuso na tela, é só dar uma legendada na lenda.
E aí se dá a maravilha: você que é um vaidoso, egoísta, sem saco para entender os problemas complexos do seu país e a fim apenas de dar aquela lustrada na imagem, ganha uma narrativa épica novinha em folha “contra a direita”. Getúlio, Jango e Dilma. Talvez valesse incluir a frase imortal do companheiro Delúbio no momento em que estourou o mensalão: “É uma conspiração da direita contra o governo popular”. O tempo mostrou que ele tinha razão, porque só uma conspiração muito eficiente seria capaz de levar tantos heróis progressistas para a cadeia por ladroagem.
Graças aos cineastas da revolução, a dicotomia entre esquerda e direita não será condenada à morte num front colegial no Facebook. Seria uma crueldade deixar Jair Bolsonaro e Jandira Feghali a sós com a criançada digital. Dilma, o filme, virá mostrar que você precisa decidir urgentemente se é contra ou a favor da Guerra do Vietnã. Não se omita.
A denúncia cinematográfica contra o golpe dos homens brancos, velhos, feios, recatados e do lar contra a vanguarda política representada por Dilma Rousseff é uma grande sacada. O vexame petista ameaçava a vida boa dos gigolôs da bondade. A falência do proselitismo coitado ameaçava criar uma multidão de párias ideológicos. Aí surgiu a ideia genial, que promete salvar todos os canastrões politicamente corretos fazendo, simplesmente, o mesmo de sempre: chorar.
As Olimpíadas confirmaram, com toda a eloquência das suas caras e bocas, que a verdadeira medalha de ouro no Brasil é a manha.
Um bom tira-teima talvez seja capaz de mostrar Neymar armando a expressão de bebê chorão ainda com sua bola derradeira balançando a rede da Alemanha. É impressionante a velocidade da transformação do gênio em bobo, em nome da brasilidade. Bernardinho não chorou. Mas esse é um chato que só pensa em trabalhar, construir, melhorar, e alimenta sua alma disso. Muito estranho. Capaz até de não se emocionar com o filme da Dilma.
Só no país da manha poderia brotar a coragem de se jogar na tela um bando de criminosos com sotaque de vítimas, em nome de um filão retórico. O truque é continuar chorando, porque aqui quem não chora, não mama — e quem chora mama o seu e o do vizinho, como comprova a literatura pornô da Lava-Jato.
A impressionante trilogia Getúlio-Jango-Dilma logo estará num cinema perto de você, e também numa sala de aula e num palanque eleitoral (que no caso são a mesma coisa). Os genéricos do PT já estão nas ruas para continuar transformando manha em votos. Chorando e mamando.
Guilherme Fiuza
Felizmente, o país tem militantes da cultura que não fogem à missão de defender a quadrilha contra o golpe. É bonito ver a invasão do Senado pelos cineastas da revolução, enquanto Lula é indiciado pela polícia por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Democracia é isso, cada um escolhe a sua narrativa.
Dilma, o filme, não é em si uma novidade. Isso tudo já era um filme, e continuará sendo. Se não fosse, esse bando de notáveis que finge defender uma mulher de um golpe, para dar aquela retocada no verniz de esquerda, estaria exilado de vergonha no pré-sal. Sim, porque só num filme muito bem feito o espectador pode ver uma gangue de parasitas autoritários, ideologicamente filiados aos Maduros da vida, fazendo papel de heróis da resistência democrática.
Essa importante contribuição do cinema brasileiro para a formação do caráter nacional terá cenas fortes. A própria Dilma já deu a pista, comparando-se a Getúlio Vargas e João Goulart: ela explicou que só não a obrigaram a se matar, como fizeram com o companheiro Getúlio, porque hoje vivemos numa democracia. Ou seja: você vai entrar no cinema para assistir à história de uma lenda viva, sabendo que ela poderia ser uma lenda morta. Isso emociona.
Mas cuidado para não se engasgar com a pipoca: essa mesma democracia que salvou a vida de Dilma, a lenda, provavelmente tinha ido à esquina comprar cigarro quando se deu o golpe de estado. Porque ou você tem democracia, ou você tem golpe. Mas não tem problema: se ficar confuso na tela, é só dar uma legendada na lenda.
E aí se dá a maravilha: você que é um vaidoso, egoísta, sem saco para entender os problemas complexos do seu país e a fim apenas de dar aquela lustrada na imagem, ganha uma narrativa épica novinha em folha “contra a direita”. Getúlio, Jango e Dilma. Talvez valesse incluir a frase imortal do companheiro Delúbio no momento em que estourou o mensalão: “É uma conspiração da direita contra o governo popular”. O tempo mostrou que ele tinha razão, porque só uma conspiração muito eficiente seria capaz de levar tantos heróis progressistas para a cadeia por ladroagem.
Graças aos cineastas da revolução, a dicotomia entre esquerda e direita não será condenada à morte num front colegial no Facebook. Seria uma crueldade deixar Jair Bolsonaro e Jandira Feghali a sós com a criançada digital. Dilma, o filme, virá mostrar que você precisa decidir urgentemente se é contra ou a favor da Guerra do Vietnã. Não se omita.
A denúncia cinematográfica contra o golpe dos homens brancos, velhos, feios, recatados e do lar contra a vanguarda política representada por Dilma Rousseff é uma grande sacada. O vexame petista ameaçava a vida boa dos gigolôs da bondade. A falência do proselitismo coitado ameaçava criar uma multidão de párias ideológicos. Aí surgiu a ideia genial, que promete salvar todos os canastrões politicamente corretos fazendo, simplesmente, o mesmo de sempre: chorar.
As Olimpíadas confirmaram, com toda a eloquência das suas caras e bocas, que a verdadeira medalha de ouro no Brasil é a manha.
Um bom tira-teima talvez seja capaz de mostrar Neymar armando a expressão de bebê chorão ainda com sua bola derradeira balançando a rede da Alemanha. É impressionante a velocidade da transformação do gênio em bobo, em nome da brasilidade. Bernardinho não chorou. Mas esse é um chato que só pensa em trabalhar, construir, melhorar, e alimenta sua alma disso. Muito estranho. Capaz até de não se emocionar com o filme da Dilma.
Só no país da manha poderia brotar a coragem de se jogar na tela um bando de criminosos com sotaque de vítimas, em nome de um filão retórico. O truque é continuar chorando, porque aqui quem não chora, não mama — e quem chora mama o seu e o do vizinho, como comprova a literatura pornô da Lava-Jato.
A impressionante trilogia Getúlio-Jango-Dilma logo estará num cinema perto de você, e também numa sala de aula e num palanque eleitoral (que no caso são a mesma coisa). Os genéricos do PT já estão nas ruas para continuar transformando manha em votos. Chorando e mamando.
Guilherme Fiuza
PT abandona o vermelho e esconde a estrela
Bons tempos para o PT aqueles onde o partido, movido a orgulho e empáfia, exibia sem medo o vermelho como sua cor oficial e plantava estrelas por toda parte – até mesmo nos jardins do Palácio da Alvorada tão logo Lula passou a ocupá-lo por oito anos a partir de janeiro de 2003.
A estrela vermelha decorou até roupa de banho da primeira dama, dona Marisa, que hoje prefere fazer as unhas no seu apartamento de São Bernardo do Campo, em São Paulo, para não correr o risco de ser destratada por aí. Pela mesma razão, Lula só discursa para plateias amigas e só viaja em jatinhos alugados por correligionários.
Há candidatos do PT a prefeito nas próximas eleições que trocaram o vermelho pelo azul, empenhados em disfarçar sua filiação partidária. E há outros que, além de abandonarem o vermelho, diminuíram o tamanho da estrela do PT no seu material de propaganda.
Sob o anódino slogan “É mais São Paulo. É diferente”, Fernando Haddad, o prefeito de São Paulo, candidato à reeleição, reduziu a um tamanho insignificante a estrela do PT, escondendo-a dentro do número 13 em seus cartazes de campanha. Foi obrigado pela direção do partido a refazer os cartazes e a dar mais espaço à estrela.
Há candidatos do PT a prefeito nas próximas eleições que trocaram o vermelho pelo azul, empenhados em disfarçar sua filiação partidária. E há outros que, além de abandonarem o vermelho, diminuíram o tamanho da estrela do PT no seu material de propaganda.
Sob o anódino slogan “É mais São Paulo. É diferente”, Fernando Haddad, o prefeito de São Paulo, candidato à reeleição, reduziu a um tamanho insignificante a estrela do PT, escondendo-a dentro do número 13 em seus cartazes de campanha. Foi obrigado pela direção do partido a refazer os cartazes e a dar mais espaço à estrela.
Maus tempos para o PT são esses onde o partido envergonhado tenta se disfarçar para conseguir eleger seus candidatos. Ou para não perder de muito.
A moda pode pegar
Foi um triste espetáculo, a transformação do Senado num hospício. Melhor, porém, que tenha sido na segunda sessão do capítulo final da batalha do impeachment, não no final. Mesmo assim, não há certeza. Pelo menos, quando Dilma Rousseff for depor, segunda-feira, o grupo das galinhas cacarejantes e do galinho maluco não encontrará pretexto para tumultuar os trabalhos. Para Gleisi, Vanessa, Fátima e Lindbergh, entre outros, o objetivo será transformar Madame em vítima, ainda que Caiado, Renan, Magno e seus pimpolhos estejam preparados para inverter a equação.
O desempenho dos senadores na manhã de ontem, porém, foi uma fraude. Demonstrou que, se algum deus da baderna viesse a suprimir o Congresso de nossas instituições, o país inteiro aplaudiria. Com as exceções de sempre, o Senado suplantou a Câmara na encenação de uma das maiores pantomimas já verificada entre nós.
Será cobrada dos que maiores vexames ofereceram no funcionamento do Legislativo a punição da perda do mandato por qualquer Conselho de Ética. Não merecem representar o eleitorado e a federação.
Salvo inusitados, a tragédia aproxima-se do final. Dilma deve ser punida por permitir a ação da quadrilha que evoluiu a favor e contra ela.
Há quem imagine a possibilidade de Michel Temer não conseguir cumprir o anseio nacional de recuperação econômica, política e social. Tem gente preparada para apresentar em poucos dias seu pedido de afastamento. A moda pode pegar.
O desempenho dos senadores na manhã de ontem, porém, foi uma fraude. Demonstrou que, se algum deus da baderna viesse a suprimir o Congresso de nossas instituições, o país inteiro aplaudiria. Com as exceções de sempre, o Senado suplantou a Câmara na encenação de uma das maiores pantomimas já verificada entre nós.
Será cobrada dos que maiores vexames ofereceram no funcionamento do Legislativo a punição da perda do mandato por qualquer Conselho de Ética. Não merecem representar o eleitorado e a federação.
Salvo inusitados, a tragédia aproxima-se do final. Dilma deve ser punida por permitir a ação da quadrilha que evoluiu a favor e contra ela.
Há quem imagine a possibilidade de Michel Temer não conseguir cumprir o anseio nacional de recuperação econômica, política e social. Tem gente preparada para apresentar em poucos dias seu pedido de afastamento. A moda pode pegar.
***
O ministro Ricardo Lewandowski obrigou-se a usar o Poder de Polícia na direção dos trabalhos, mas ficou na promessa. Bem que poderia ter determinado à Polícia Legislativa que conduzisse uns tantos senadores às celas certamente encontradas nos porões do palácio transformado em estabelecimento imoral.Escada e alavanca deveriam estar na raiz da educação
O atleta olímpico recebe a medalha para si, mas leva a bandeira de seu país. O reconhecimento a seu esforço e talento permite-lhe futuros benefícios pessoais, mas, na vitória, é também uma reverência a todos os seus compatriotas. O pódio é uma escada ao sucesso pessoal do medalhista e também uma alavanca ao prestígio de seu país.
O ensino superior deveria seguir regras parecidas: ser escada social para os jovens e alavanca para o progresso. Graças ao curso, o aluno formado receberá prestígio e remuneração por toda a vida e, com seu conhecimento, ajudará a formar uma sociedade desenvolvida e justa. A universidade deve ser gratuita para aqueles que tiverem talento para a profissão e escolherem um curso que sirva ao progresso econômico e social.
O aspirante na academia militar estuda gratuitamente porque aprende a defender a nação; o aluno da carreira diplomática estuda para estreitar nossas relações internacionais; da mesma forma, o jovem que deseja ser professor do ensino médio estuda para formar cidadãos e construir o Brasil. São cursos e carreiras de interesse nacional e, por isso, devem ser financiados pelos governos.
O critério para a gratuidade ou o pagamento deve ser o interesse nacional, não a renda pessoal ou familiar do estudante. Não há razão para uma família rica ter de pagar os estudos de um filho se ele quer ser cientista, para ajudar a conhecer o mundo e até encontrar o mistério da cura para doenças; ou se quer ser médico para atender a saúde pública; ser filósofo, historiador, matemático ou artista, para enriquecer o mundo culturalmente.
Da mesma forma, quando há limites de recursos públicos, a sociedade não precisa pagar cursos que servem apenas como escada social, sem a característica de ser alavanca do progresso. Mesmo que a carreira seja apenas do interesse privado, o Estado não tem o direito de impedir uma pessoa de seguir o curso para o qual tem vocação, mas não deve ter obrigação de financiar esse curso com recursos públicos que devem atender outras prioridades, como a educação de base.
O atleta que não carrega a bandeira de seu país deve ter direito de se preparar, mas não há razão para exigir investimento público em seu treinamento. Para atender o gosto apenas do atleta que não carrega a bandeira ou do aluno que não tem compromisso com o desenvolvimento e o bem-estar da nação, o país e seu povo não precisam pagar. Para ser gratuito, o curso universitário deve ser ao mesmo tempo escada pessoal e alavanca social ao progresso socioeconômico.
O governo deve bancar o estudo de todas as crianças porque cada uma delas representa em si um potencial; também deve dar-lhe, na escola, a chance de ser um atleta. A partir de certo momento deve concentrar os recursos nos mais talentosos e nos cursos que levem o país e seu povo a um futuro eficiente e justo e carregue nossa bandeira.
O ensino superior deveria seguir regras parecidas: ser escada social para os jovens e alavanca para o progresso. Graças ao curso, o aluno formado receberá prestígio e remuneração por toda a vida e, com seu conhecimento, ajudará a formar uma sociedade desenvolvida e justa. A universidade deve ser gratuita para aqueles que tiverem talento para a profissão e escolherem um curso que sirva ao progresso econômico e social.
O aspirante na academia militar estuda gratuitamente porque aprende a defender a nação; o aluno da carreira diplomática estuda para estreitar nossas relações internacionais; da mesma forma, o jovem que deseja ser professor do ensino médio estuda para formar cidadãos e construir o Brasil. São cursos e carreiras de interesse nacional e, por isso, devem ser financiados pelos governos.
Da mesma forma, quando há limites de recursos públicos, a sociedade não precisa pagar cursos que servem apenas como escada social, sem a característica de ser alavanca do progresso. Mesmo que a carreira seja apenas do interesse privado, o Estado não tem o direito de impedir uma pessoa de seguir o curso para o qual tem vocação, mas não deve ter obrigação de financiar esse curso com recursos públicos que devem atender outras prioridades, como a educação de base.
O atleta que não carrega a bandeira de seu país deve ter direito de se preparar, mas não há razão para exigir investimento público em seu treinamento. Para atender o gosto apenas do atleta que não carrega a bandeira ou do aluno que não tem compromisso com o desenvolvimento e o bem-estar da nação, o país e seu povo não precisam pagar. Para ser gratuito, o curso universitário deve ser ao mesmo tempo escada pessoal e alavanca social ao progresso socioeconômico.
O governo deve bancar o estudo de todas as crianças porque cada uma delas representa em si um potencial; também deve dar-lhe, na escola, a chance de ser um atleta. A partir de certo momento deve concentrar os recursos nos mais talentosos e nos cursos que levem o país e seu povo a um futuro eficiente e justo e carregue nossa bandeira.
Dilma sai, a crise fica
A coreografia adotada pelo PT nestas sessões conclusivas do impeachment - de anarquizar o processo, em busca de desqualificá-lo - indica que o partido já está ciente do resultado adverso e joga os primeiros lances do pós-impeachment, que o devolverá ao único terreno em que de fato é eficaz: a oposição predatória.
Há, pois, método na bagunça da tropa de choque, integrada pelos inacreditáveis Lindbergh Faria, Vanessa Grazziotin e Gleise Hoffmann. E não se trata apenas de encenar para o filme que está sendo rodado – “O Impeachment” -, em busca de impor a “narrativa” do golpe. É mais: é o temor e a incerteza do futuro.
De um lado, o partido derrete eleitoralmente, como o demonstram as pesquisas iniciais das eleições de outubro próximo; de outro, vê a Lava Jato aproximando-se cada vez mais de seu líder maior, Lula. Aí residem as efetivas preocupações.
Dilma já não cheira, nem fede. O partido sabe que não há futuro para ela e não afasta a hipótese de que venha a renunciar no instante final, como o fez Fernando Collor, em 1992, ao constatar que o jogo já estava jogado.
Collor não teve êxito: a renúncia não invalidou sua cassação, nem os efeitos políticos dela decorrentes, fazendo-o amargar oito anos de inelegibilidade. Com relação a Dilma, isso é secundário: sua inelegibilidade é definitiva. Collor, político de carreira, voltou. Dilma, que jamais foi do ramo, não tem volta. O PT, que nunca morreu de amores por ela, já dela não depende, nem cuida.
O que o preocupa é outra coisa: não contava com o indiciamento de Lula, em meio ao julgamento de Dilma, o que dá substância aos rumores de que sua prisão aguarda apenas a confirmação do impeachment, que formaliza o banimento do poder.
A saída de que cogita, consumada a prisão, é a de tentar levar para as ruas a barulheira que neste momento promove no plenário do Senado. Chances de êxito? A conferir. A militância organizada ainda dispõe de recursos, liberados por Dilma antes de sair. Resta saber se ainda tem povo. Os sinais não são animadores.
Outro temor é de que Dilma, desprovida do mandato, e devolvida à condição de cidadã comum, começará outro calvário: a responsabilização penal pela parte que lhe cabe na lambança da Lava Jato, que a colocará diante do juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
A Michel Temer não interessa essa parte. A revelação de irregularidades na campanha eleitoral de Dilma – tanto a de 2010 quanto a de 2014 – reserva-lhe sorte equivalente.
Ainda que seus aliados insistam na tese de que ele fez campanha em separado, com contabilidade própria, sem qualquer vínculo financeiro com a titular, a jurisprudência, já aplicada a numerosos prefeitos e governadores, é a de condenar toda a chapa, não importa se apenas um dos candidatos delinquiu.
Por aí, Temer corre riscos. Tem a seu favor, no entanto, o anseio do mercado e da população por alguma estabilidade política, após meses de incertezas, que impedem a economia de se reerguer. Há também a expectativa de que, uma vez efetivado, mude o tom e passe a se dirigir à nação com mais firmeza e frequência, dando-lhe ciência da dimensão do trágico legado que lhe coube – e ao país.
Essa estratégia chega um pouco enfraquecida pela recente capitulação ao lobby corporativo, que resultou na concessão de aumentos a 14 categorias de servidores públicos e aos ministros do STF, num montante de R$ 58 bilhões, que terão de ser cobertos com aumentos de impostos e a recriação da CPMF.
Não é um bom começo. Como se não bastasse, o fator implacável de instabilidade política – a Lava Jato – prossegue. E as principais delações, da Odebrecht e da OAS, ainda não se conhecem por inteiro – e o pouco que vazou assusta.
Em resumo, Dilma sai, mas a crise continua.
Há, pois, método na bagunça da tropa de choque, integrada pelos inacreditáveis Lindbergh Faria, Vanessa Grazziotin e Gleise Hoffmann. E não se trata apenas de encenar para o filme que está sendo rodado – “O Impeachment” -, em busca de impor a “narrativa” do golpe. É mais: é o temor e a incerteza do futuro.
De um lado, o partido derrete eleitoralmente, como o demonstram as pesquisas iniciais das eleições de outubro próximo; de outro, vê a Lava Jato aproximando-se cada vez mais de seu líder maior, Lula. Aí residem as efetivas preocupações.
Collor não teve êxito: a renúncia não invalidou sua cassação, nem os efeitos políticos dela decorrentes, fazendo-o amargar oito anos de inelegibilidade. Com relação a Dilma, isso é secundário: sua inelegibilidade é definitiva. Collor, político de carreira, voltou. Dilma, que jamais foi do ramo, não tem volta. O PT, que nunca morreu de amores por ela, já dela não depende, nem cuida.
O que o preocupa é outra coisa: não contava com o indiciamento de Lula, em meio ao julgamento de Dilma, o que dá substância aos rumores de que sua prisão aguarda apenas a confirmação do impeachment, que formaliza o banimento do poder.
A saída de que cogita, consumada a prisão, é a de tentar levar para as ruas a barulheira que neste momento promove no plenário do Senado. Chances de êxito? A conferir. A militância organizada ainda dispõe de recursos, liberados por Dilma antes de sair. Resta saber se ainda tem povo. Os sinais não são animadores.
Outro temor é de que Dilma, desprovida do mandato, e devolvida à condição de cidadã comum, começará outro calvário: a responsabilização penal pela parte que lhe cabe na lambança da Lava Jato, que a colocará diante do juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
A Michel Temer não interessa essa parte. A revelação de irregularidades na campanha eleitoral de Dilma – tanto a de 2010 quanto a de 2014 – reserva-lhe sorte equivalente.
Ainda que seus aliados insistam na tese de que ele fez campanha em separado, com contabilidade própria, sem qualquer vínculo financeiro com a titular, a jurisprudência, já aplicada a numerosos prefeitos e governadores, é a de condenar toda a chapa, não importa se apenas um dos candidatos delinquiu.
Por aí, Temer corre riscos. Tem a seu favor, no entanto, o anseio do mercado e da população por alguma estabilidade política, após meses de incertezas, que impedem a economia de se reerguer. Há também a expectativa de que, uma vez efetivado, mude o tom e passe a se dirigir à nação com mais firmeza e frequência, dando-lhe ciência da dimensão do trágico legado que lhe coube – e ao país.
Essa estratégia chega um pouco enfraquecida pela recente capitulação ao lobby corporativo, que resultou na concessão de aumentos a 14 categorias de servidores públicos e aos ministros do STF, num montante de R$ 58 bilhões, que terão de ser cobertos com aumentos de impostos e a recriação da CPMF.
Não é um bom começo. Como se não bastasse, o fator implacável de instabilidade política – a Lava Jato – prossegue. E as principais delações, da Odebrecht e da OAS, ainda não se conhecem por inteiro – e o pouco que vazou assusta.
Em resumo, Dilma sai, mas a crise continua.
O conjunto da obra e o juízo final de Dilma Rousseff
O PT nasceu com aspirações à santidade. Tão metido a santo que nunca hesitou em atirar a primeira pedra. Não porque necessariamente houvesse pecado, mas porque havia pedras.
Não há impositiva relação de causa e efeito entre crime de responsabilidade e impeachment. Não poderia haver este sem aquele, mas poderia haver aquele sem este. No caso atual, é o desastroso conjunto de pecados que determina, ante o crime de responsabilidade cometido, a condenação num juízo político. A propósito, aprendi no catecismo que o pecado pode acontecer por pensamentos, palavras, atos e omissões. Informo a quem considere piegas esta informação, que a vida, com enxurrada de exemplos, me ensinou o quanto ela é correta. É através desses meios que cometemos todas as nossas faltas. E para o ser humano, não as reconhecer, em qualquer das quatro formas, é o mais danoso de todos os erros.
Enquanto assisto a primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff, percebo, em sua defesa, a continuidade dos mesmos pecados. A mensagem que recentemente (16/08) leu à Nação e ao Senado registra pela primeira vez a palavra "erro", ainda que numa frase com sujeito oculto. Erro de autoria não identificada. Tornou-se evidente, ali, a contradição entre a Dilma do dia 15 de agosto, mergulhada "num pote até aqui de mágoas", tomada pela ira e arrogância, e a Dilma que acordou no dia seguinte humilde, propondo diálogo e união em torno da pauta que lhe convinha. Qual a Dilma real? Se algum dia existiu, evaporou-se entre Lula e João Santana. Personagens tão divergentes quanto os que ela encarna só podem ocorrer numa encenação. Um deles é falso. Ou todos o são. Na política isso é pecado mortal.
A situação se agrava quando assistimos o comportamento da defesa da presidente afastada no Senado Federal. Primeiro, rasga e joga no lixo a carta do dia 16 de agosto (no que vai bem porque o inaproveitável programa ali proposto prorroga por dois anos o sanatório institucional em que temos vivido). Em seguida, reitera o velho e conhecido sintoma da psicopatologia petista. Entenda-se: o PT é um partido que nasceu em sacristias e conventos, com aspirações de santidade. Tão metido a santo que nunca hesitou em atirar a primeira pedra. Não porque necessariamente houvesse pecado, mas porque havia pedras.
Quis ser, e por bom tempo muitos o viram assim, um guia de peregrinos, objeto de veneração. Ainda sem pieguices, torna-se oportuno outro ensino de catequese: ou nossa vida se modela segundo aquilo em que cremos ou nossa crença se conforma ao modo como vivemos. Então, o petismo não reconhece os males que causou ao país. Só tem dedos para o peito alheio. Não tem unzinho sequer para as próprias culpas. Com três tesoureiros presos, o partido se considera um santo incompreendido e, para evitar martírio, extingue a função. Na história universal é o primeiro partido político com muita grana e sem tesoureiro.
Voltemos, porém, à primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff. Lá estão seus senadores usando todas as manhas possíveis para retardar o andamento dos trabalhos. Depois de seu governo haver feito tudo que fez, depois de ter caído na mais profunda desgraça, seus senadores estão servindo à nação mais e mais do mesmo. Não ruborizam pelos malefícios causados ou pela quadrilha instalada no coração do governo. Declaram-se ofendidos, isto sim, porque alguém os acusa de retardar o andamento das sessões e de todo o julgamento. E a nação a tudo vê. Temos aqui um dos muitos motivos da desgraça moral em que afundou o partido que governou o Brasil durante 13 anos consecutivos. É o pecado mortal de se achar sem pecados, de negar o que fez e faz, mesmo quando todos assistem aquilo que é feito. Eis a definitiva essência do conjunto da obra.
Percival Puggina
Enquanto assisto a primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff, percebo, em sua defesa, a continuidade dos mesmos pecados. A mensagem que recentemente (16/08) leu à Nação e ao Senado registra pela primeira vez a palavra "erro", ainda que numa frase com sujeito oculto. Erro de autoria não identificada. Tornou-se evidente, ali, a contradição entre a Dilma do dia 15 de agosto, mergulhada "num pote até aqui de mágoas", tomada pela ira e arrogância, e a Dilma que acordou no dia seguinte humilde, propondo diálogo e união em torno da pauta que lhe convinha. Qual a Dilma real? Se algum dia existiu, evaporou-se entre Lula e João Santana. Personagens tão divergentes quanto os que ela encarna só podem ocorrer numa encenação. Um deles é falso. Ou todos o são. Na política isso é pecado mortal.
A situação se agrava quando assistimos o comportamento da defesa da presidente afastada no Senado Federal. Primeiro, rasga e joga no lixo a carta do dia 16 de agosto (no que vai bem porque o inaproveitável programa ali proposto prorroga por dois anos o sanatório institucional em que temos vivido). Em seguida, reitera o velho e conhecido sintoma da psicopatologia petista. Entenda-se: o PT é um partido que nasceu em sacristias e conventos, com aspirações de santidade. Tão metido a santo que nunca hesitou em atirar a primeira pedra. Não porque necessariamente houvesse pecado, mas porque havia pedras.
Quis ser, e por bom tempo muitos o viram assim, um guia de peregrinos, objeto de veneração. Ainda sem pieguices, torna-se oportuno outro ensino de catequese: ou nossa vida se modela segundo aquilo em que cremos ou nossa crença se conforma ao modo como vivemos. Então, o petismo não reconhece os males que causou ao país. Só tem dedos para o peito alheio. Não tem unzinho sequer para as próprias culpas. Com três tesoureiros presos, o partido se considera um santo incompreendido e, para evitar martírio, extingue a função. Na história universal é o primeiro partido político com muita grana e sem tesoureiro.
Voltemos, porém, à primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff. Lá estão seus senadores usando todas as manhas possíveis para retardar o andamento dos trabalhos. Depois de seu governo haver feito tudo que fez, depois de ter caído na mais profunda desgraça, seus senadores estão servindo à nação mais e mais do mesmo. Não ruborizam pelos malefícios causados ou pela quadrilha instalada no coração do governo. Declaram-se ofendidos, isto sim, porque alguém os acusa de retardar o andamento das sessões e de todo o julgamento. E a nação a tudo vê. Temos aqui um dos muitos motivos da desgraça moral em que afundou o partido que governou o Brasil durante 13 anos consecutivos. É o pecado mortal de se achar sem pecados, de negar o que fez e faz, mesmo quando todos assistem aquilo que é feito. Eis a definitiva essência do conjunto da obra.
Percival Puggina
Quem tem moral no Senado?
Quem tem moral no Senado para julgar Dilma?, eis a questão. A interrogação vem a propósito de um arroubo da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) no primeiro dia do julgamento do processo de impeachment. Antes de responder à pseudocuriosidade da senadora, vale a pena atrasar o relógio até 1992. Imaginou-se que o impeachment de Fernando Collor e a posse de Itamar Franco —o Michel Temer da época— entrariam para a história como marcos moralizadores da política nacional.
A desfaçatez com que PC Farias —precursor de Delúbio e Vaccari— comercializava sua influência no governo e dividia propinas com o presidente e seu grupo político pareciam ótimas oportunidades para o país tomar jeito. Mas deu tudo errado. Um escândalo produziu outro, e outro, e mais outro… Até desaguar no mar de lama do mensalão. Que escorreu para o oceano do petrolão. Que se misturou à ruína econômica no caldeirão em que arde o mandato de Dilma. Decorridos 24 anos, o país se depara com o segundo processo de impeachment de sua história e com a pergunta de Gleisi Hoffmann: Quem tem moral…?
Considerando-se que foi com o beneplácito de Lula que o PT se converteu numa máquina coletora de dinheiro, que o mensalão e o petrolão têm sua origem na gestão dele, que foi sob o seu patrocínio que petistas e aliados nomearam os petrogatunos, que Dilma foi eleita e reeleita em cima de uma caixa registradora tóxica, considerando-se tudo isso, mais o fato de o PT governar o país há 13 anos escorado em sarneys, renans, collors, malufs, cunhas e assemelhados, chega-se à seguinte conclusão: o objetivo de Gleisi Hoffmann ao questionar a moral dos colegas é desobrigar a política de fazer sentido.
Durante o governo Sarney, Lula chamava-o de “ladrão”. Golpeado por Collor abaixo da linha da cintura na campanha presidencial de 1989, Lula pegou em lanças pelo impeachment. Nessa época, o tratamento mais cortês que Collor mereceu de Lula e de todo o petismo foi o de “corrupto''. Que dizer dos insultos que o PT e seu morubixaba trocaram com Maluf? De repente, os ex-moralistas associaram-se a todos os imorais num mesmo empreendimento governamental. E anunciaram à nação: “Somos todos aliados! Somos uns a cara esculpida e escarrada dos outros.”
Antes de borrifar perguntas na atmosfera seca do plenário do Senado, Gleisi Hoffmann precisaria fornecer respostas: depois que fizeram tanto esforço para se tornar iguais, como podem supor que ainda é possível distinguir uns dos outros? Não eram todos aliados até ontem? Não foi sob o poder petista que Cunha, Collor, Renan, Sarney, Jucá, Barbalho e tantos outros plantaram bananeira dentro dos cofres da Petrobras e do setor elétrico?
Dilma, Lula e o PT chegaram à condição atual por seus próprios deméritos. Por três mandatos, abasteceram a coligação governista de propinas. O mensalão mal havia secado e já existia o petrolão. Deflagrada sob Dilma, a Lava Jato emparedou corruptos e corruptores. Pela primeira vez, a oligarquia foi para o xadrez. A corrupção passou a dar cadeia. Interrompido o provimento regular de dinheiro sujo, aliados foram se convertendo em traidores.
Até bem pouco, Dilma enxergava o Senado como sua última trincheira. Renan Calheiros era o heroi da resistência. Hoje, madame não consegue juntar 28 votos para salvar o mandato. O petismo é picado pelas serpentes que o poder petista financiou. Num ambiente assim, tão conspurcado, a companheira Gleisi renderia homenagens à lógica se evitasse questionar a moral alheia.
Gleisi faria um bem a si mesma se pelo menos adiasse suas reprimendas para depois do encerramento do processo em que seu marido, Paulo Bernardo, é acusado de tomar parte de um esquema que assaltou aposentados e servidores pendurados no empréstimo consignado. A senadora terá muito mais moral depois que ficar comprovado que seu marido não participou de tamanha imoralidade.
A desfaçatez com que PC Farias —precursor de Delúbio e Vaccari— comercializava sua influência no governo e dividia propinas com o presidente e seu grupo político pareciam ótimas oportunidades para o país tomar jeito. Mas deu tudo errado. Um escândalo produziu outro, e outro, e mais outro… Até desaguar no mar de lama do mensalão. Que escorreu para o oceano do petrolão. Que se misturou à ruína econômica no caldeirão em que arde o mandato de Dilma. Decorridos 24 anos, o país se depara com o segundo processo de impeachment de sua história e com a pergunta de Gleisi Hoffmann: Quem tem moral…?
Durante o governo Sarney, Lula chamava-o de “ladrão”. Golpeado por Collor abaixo da linha da cintura na campanha presidencial de 1989, Lula pegou em lanças pelo impeachment. Nessa época, o tratamento mais cortês que Collor mereceu de Lula e de todo o petismo foi o de “corrupto''. Que dizer dos insultos que o PT e seu morubixaba trocaram com Maluf? De repente, os ex-moralistas associaram-se a todos os imorais num mesmo empreendimento governamental. E anunciaram à nação: “Somos todos aliados! Somos uns a cara esculpida e escarrada dos outros.”
Antes de borrifar perguntas na atmosfera seca do plenário do Senado, Gleisi Hoffmann precisaria fornecer respostas: depois que fizeram tanto esforço para se tornar iguais, como podem supor que ainda é possível distinguir uns dos outros? Não eram todos aliados até ontem? Não foi sob o poder petista que Cunha, Collor, Renan, Sarney, Jucá, Barbalho e tantos outros plantaram bananeira dentro dos cofres da Petrobras e do setor elétrico?
Dilma, Lula e o PT chegaram à condição atual por seus próprios deméritos. Por três mandatos, abasteceram a coligação governista de propinas. O mensalão mal havia secado e já existia o petrolão. Deflagrada sob Dilma, a Lava Jato emparedou corruptos e corruptores. Pela primeira vez, a oligarquia foi para o xadrez. A corrupção passou a dar cadeia. Interrompido o provimento regular de dinheiro sujo, aliados foram se convertendo em traidores.
Até bem pouco, Dilma enxergava o Senado como sua última trincheira. Renan Calheiros era o heroi da resistência. Hoje, madame não consegue juntar 28 votos para salvar o mandato. O petismo é picado pelas serpentes que o poder petista financiou. Num ambiente assim, tão conspurcado, a companheira Gleisi renderia homenagens à lógica se evitasse questionar a moral alheia.
Gleisi faria um bem a si mesma se pelo menos adiasse suas reprimendas para depois do encerramento do processo em que seu marido, Paulo Bernardo, é acusado de tomar parte de um esquema que assaltou aposentados e servidores pendurados no empréstimo consignado. A senadora terá muito mais moral depois que ficar comprovado que seu marido não participou de tamanha imoralidade.
É preciso dar força a Temer por ser a única alterativa do país
Conhecida como “Ilha da Fantasia”, Brasília faz jus à fama. É o paraíso dos boatos, do vazamento de informações e da plantação de notícias. Às vésperas da confirmação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, a capital da República já vive a expectativa do dia seguinte. A crise política, econômica e social é devastadora e o tal plebiscito para Dilma convocar eleições não consegue ser aceito nem mesmo pelo PT. Não há opção no momento e a alternativa que resta aos cidadãos de boa vontade é dar força ao governo Temer e contribuir para tirar o país desse atoleiro, uma missão nada fácil.
Deve-se reconhecer também que Henrique Meirelles, embora represente o sistema financeiro, é o nome mais indicado para conduzir a economia em meio a esse vendaval, e justamente por isso o próprio Lula da Silva tentou repetidas vezes lhe entregar essa tarefa, mas a então presidente Dilma jamais aceitou.
Assim como Temer é muito melhor do que Dilma, sem dúvida Meirelles se mostra incomparavelmente superior a Antonio Palocci, Guido Mantega, Joaquim Levy e Nelson Barbosa, seus antecessores.
Temer não é nenhum grande líder popular, mas deve-se reconhecer que está indo bem nesse governo provisório, na medida do possível, com uma base parlamentar inconsistente e que começa a sofrer boicote por parte do PSDB e do DEM, já preocupados com a eleição presidencial de 2018.
Deve-se reconhecer também que Henrique Meirelles, embora represente o sistema financeiro, é o nome mais indicado para conduzir a economia em meio a esse vendaval, e justamente por isso o próprio Lula da Silva tentou repetidas vezes lhe entregar essa tarefa, mas a então presidente Dilma jamais aceitou.
Assim como Temer é muito melhor do que Dilma, sem dúvida Meirelles se mostra incomparavelmente superior a Antonio Palocci, Guido Mantega, Joaquim Levy e Nelson Barbosa, seus antecessores.
Lembro de um bom amigo, o juiz Francisco Horta. Ele era presidente do Fluminense, criou um lema sensacional para levantar o moral do time e deu certo – “Vencer ou vencer”. É só o que resta aos brasileiros, nesta fase tenebrosa, para possibilitar o país possa sair da UTI econômica e respirar sem aparelhos, digamos assim.
Por enquanto, não há alternativa. O Brasil tem de dar força ao governo. Mas tudo tem limites. A opinião pública precisa estar atenta e atuante para evitar exageros nas reformas da Previdência Social e das leis trabalhistas. Afinal, os trabalhadores não são culpados pela derrocada econômica. Muito pelo contrário, são as principais vítimas e não podem continuar a ser penalizados.
O poder público – Executivo, Legislativo e Judiciário – é que deveria dar o exemplo, mas as autoridades não se mostram interessadas pelo bem comum; sempre demonstram maior preocupação com os interesses próprios.
Por enquanto, não há alternativa. O Brasil tem de dar força ao governo. Mas tudo tem limites. A opinião pública precisa estar atenta e atuante para evitar exageros nas reformas da Previdência Social e das leis trabalhistas. Afinal, os trabalhadores não são culpados pela derrocada econômica. Muito pelo contrário, são as principais vítimas e não podem continuar a ser penalizados.
O poder público – Executivo, Legislativo e Judiciário – é que deveria dar o exemplo, mas as autoridades não se mostram interessadas pelo bem comum; sempre demonstram maior preocupação com os interesses próprios.
O fato – concreto e indiscutível – é que o Brasil vive hoje também uma crise de lideranças, sem a menor expectativa de que até 2018 surja algum político confiável, realmente voltado para melhorar a qualidade de vida do povo, reduzir as desigualdades e ampliar a justiça social.
Basta dizer que o maior líder brasileiro se chama Lula da Silva, apesar de todos os crimes cometidos e da degradação moral de sustentar com recursos públicos a própria amante, dando a ela um emprego altamente remunerado como chefe de Gabinete da Presidência da República, com direito a cartão corporativo e a viagens internacionais ao lado do generoso e romântico chefe do governo.
Mesmo com esse currículo grotesco e com as demonstrações de enriquecimento ilícito dele e da família, Lula continua a liderar as pesquisas de opinião para as eleições presidenciais de 2018. É por isso que se torna absolutamente necessário que os cidadãos de boa vontade demonstrem apoio ao impeachment de Dilma Rousseff, porque Michel Temer é a única alternativa de que o país dispõe, na fase nebulosa que vivemos, para evitar a volta de Lula.
Basta dizer que o maior líder brasileiro se chama Lula da Silva, apesar de todos os crimes cometidos e da degradação moral de sustentar com recursos públicos a própria amante, dando a ela um emprego altamente remunerado como chefe de Gabinete da Presidência da República, com direito a cartão corporativo e a viagens internacionais ao lado do generoso e romântico chefe do governo.
Mesmo com esse currículo grotesco e com as demonstrações de enriquecimento ilícito dele e da família, Lula continua a liderar as pesquisas de opinião para as eleições presidenciais de 2018. É por isso que se torna absolutamente necessário que os cidadãos de boa vontade demonstrem apoio ao impeachment de Dilma Rousseff, porque Michel Temer é a única alternativa de que o país dispõe, na fase nebulosa que vivemos, para evitar a volta de Lula.
E se...?
Mesmo que se conte pelos dedos o número de votos a favor do impeachment, o extraordinário pode acontecer. Nenhum país está livre da consciência ou inconsciência, em nome da nação, de um tribunal político. Daí não estar-se livre de que na votação da próxima semana o mais tenebroso zumbi da República possa retornar da tumba do Alvorada. Como suportará o Brasil de mais esse inusitado acontecimento?A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam neleApparício Torelly, Barão de Itararé
Todo um ministério, trabalhando há três meses, estará no olho da rua desestabilizando ainda mais a economia brasileira e rebaixando a nota na agência de risco. Para piorar, ainda estará o país à disposição dos humores de quem fez o diabo para manter o poder. E mais fará, com a carta branca política, para se impor o mais bolivarianamente possível.
O cenário impensável não se questiona, nem sequer aponta na mídia para não provocar pânico. A sombra maligna com faixa presidencial e todo o poder que emana dos ressuscitados seria um terror a assustar até o exterior. Mas projetar tal situação nos dá ideia do prejuízo imposto ao país pelo petismo. Não que ficaremos melhor sob a proteção peemedebista de Michel Temer e companhia, mas que livramo-nos de estarmos ainda na pior sob holofotes coloridos.
E Viva a Farofa
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