Há, pois, método na bagunça da tropa de choque, integrada pelos inacreditáveis Lindbergh Faria, Vanessa Grazziotin e Gleise Hoffmann. E não se trata apenas de encenar para o filme que está sendo rodado – “O Impeachment” -, em busca de impor a “narrativa” do golpe. É mais: é o temor e a incerteza do futuro.
De um lado, o partido derrete eleitoralmente, como o demonstram as pesquisas iniciais das eleições de outubro próximo; de outro, vê a Lava Jato aproximando-se cada vez mais de seu líder maior, Lula. Aí residem as efetivas preocupações.
Collor não teve êxito: a renúncia não invalidou sua cassação, nem os efeitos políticos dela decorrentes, fazendo-o amargar oito anos de inelegibilidade. Com relação a Dilma, isso é secundário: sua inelegibilidade é definitiva. Collor, político de carreira, voltou. Dilma, que jamais foi do ramo, não tem volta. O PT, que nunca morreu de amores por ela, já dela não depende, nem cuida.
O que o preocupa é outra coisa: não contava com o indiciamento de Lula, em meio ao julgamento de Dilma, o que dá substância aos rumores de que sua prisão aguarda apenas a confirmação do impeachment, que formaliza o banimento do poder.
A saída de que cogita, consumada a prisão, é a de tentar levar para as ruas a barulheira que neste momento promove no plenário do Senado. Chances de êxito? A conferir. A militância organizada ainda dispõe de recursos, liberados por Dilma antes de sair. Resta saber se ainda tem povo. Os sinais não são animadores.
Outro temor é de que Dilma, desprovida do mandato, e devolvida à condição de cidadã comum, começará outro calvário: a responsabilização penal pela parte que lhe cabe na lambança da Lava Jato, que a colocará diante do juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
A Michel Temer não interessa essa parte. A revelação de irregularidades na campanha eleitoral de Dilma – tanto a de 2010 quanto a de 2014 – reserva-lhe sorte equivalente.
Ainda que seus aliados insistam na tese de que ele fez campanha em separado, com contabilidade própria, sem qualquer vínculo financeiro com a titular, a jurisprudência, já aplicada a numerosos prefeitos e governadores, é a de condenar toda a chapa, não importa se apenas um dos candidatos delinquiu.
Por aí, Temer corre riscos. Tem a seu favor, no entanto, o anseio do mercado e da população por alguma estabilidade política, após meses de incertezas, que impedem a economia de se reerguer. Há também a expectativa de que, uma vez efetivado, mude o tom e passe a se dirigir à nação com mais firmeza e frequência, dando-lhe ciência da dimensão do trágico legado que lhe coube – e ao país.
Essa estratégia chega um pouco enfraquecida pela recente capitulação ao lobby corporativo, que resultou na concessão de aumentos a 14 categorias de servidores públicos e aos ministros do STF, num montante de R$ 58 bilhões, que terão de ser cobertos com aumentos de impostos e a recriação da CPMF.
Não é um bom começo. Como se não bastasse, o fator implacável de instabilidade política – a Lava Jato – prossegue. E as principais delações, da Odebrecht e da OAS, ainda não se conhecem por inteiro – e o pouco que vazou assusta.
Em resumo, Dilma sai, mas a crise continua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário