quinta-feira, 3 de outubro de 2019
Normalidade à brasileira
Eu parecia supor que o Brasil vivia uma situação de “normalidade democrática”. Terminava dizendo achar completamente “anormal” qualquer pessoa que havia gostado daquele discurso.
Curiosa visão de pluralismo político contida nesta ideia: quem discorda de mim não é apenas alguém que pensa e defende valores diferentes dos meus. É simplesmente anormal.
O que poderia ser apenas mais uma besteira, típica da internet, me pareceu um sintoma do Brasil atual. Na outra semana, escrevi algo sobre as relações entre Executivo e Congresso e fui repreendido, por um velho amigo, dizendo que o simples fato de fazer analise política, no Brasil de hoje, sem “denunciar e tomar posição”, era uma “rendição à barbárie”. Seria o mesmo que analisar o quadro partidário na Alemanha à época da ascensão do Führer, nos anos 1930.
É isso. Fácil, fácil, escorregamos para a mesmíssima intolerância que imaginamos combater. Nos tornamos uma peça do tribalismo vazio que marca nossas democracias. As guerras culturais dão o tom, o nível de participação dos cidadãos explodiu e com ele a organização de interesses e visões de mundo, no que antes chamávamos de “sociedade civil”.
O fato é que vivemos um dualismo. No mundo da retórica e das redes sociais, reina a fantasia sobre a crise brasileira. A própria palavra “crise”, de tão abusada, perdeu o sentido.
Há um pouco de tudo neste mundo curioso. Na recente decisão do STF disciplinando as alegações finais, em processos com réus delatores, li gente bacana dizendo que nossa Suprema Corte havia transformado o Brasil numa “ditadura dos delinquentes de todo tipo”.
De um teórico governista, li a provocação tola: “Ainda não será mesmo a hora de falar em um cabo e um soldado?”. Do lado que perdeu a eleição, o conteúdo é farto. Os teóricos do “risco democrático” cada vez mais torcem para que esqueçam suas previsões de que o nosso hino seria trocado pela Giovinezzi fascista e camisas negras desfilariam, ao cair da tarde, pela orla de Copacabana.
No mundo real da política, o cenário é outro. Vivemos um quadro típico da normalidade à brasileira.
Vimos se formar uma maioria reformista, no Congresso Nacional, que desde a PEC do teto, em 2016, obteve vitórias sistemáticas que chegaram a 353 e 345 votos, na Câmara, nas recentes votações da reforma da Previdência e MP da Liberdade Econômica. Este é, por certo, nosso principal ativo político.
Mas há zonas de sombras à frente. Não avançamos nada no plano da reforma das instituições políticas.
Ainda em junho, o TSE entregou a Rodrigo Maia um projeto de reforma que previa a introdução do voto distrital já para as eleições de 2020.
Coordenado pelo ministro Luís Roberto Barroso, o projeto era inteligente e factível, mas ninguém deu bola. Estávamos todos preocupados com a “barbárie” do último tuíte não sei de quem, enquanto o Congresso aprovava um afrouxamento geral dos controles sobre o uso do dinheiro público nas eleições.
Acho curioso quando escuto falar no “projeto bolsonarista” para o país. Imagina-se que frases soltas, ditas aqui e ali, possam funcionar como uma ideia de país. Confesso não ver nada disso.
Este é um governo de baixo consenso em relação a sua própria agenda econômica de liberalização, e isso fica claro com as indefinições quanto à reforma tributária, a inexistência de um projeto minimamente consistente de reforma do Estado, a falta de apetite político para aprovar pautas que o próprio governo apresentou, como a autonomia do Banco Central, e à lenta desidratação a que foi submetida a reforma da Previdência.
Talvez a cara verdadeira do Brasil de hoje seja mesmo esta: a de um país que depende de um leilão do pré-sal para fechar as contas, não irá investir virtualmente nada, ano que vem, e fala em fazer uma reforma tributária sem reduzir um centavo sequer da carga tributária de 35% do PIB.
O que falta é exatamente um “projeto nacional” ao governo. A última vez que ensaiamos algo parecido com isso foi à época do programa de estabilização econômica e reforma do Estado, nos anos 1990.
Projeto por certo inconcluso. Imaginar que as orações da ministra Damares, os tuítes da turma palaciana e as palestras metafísicas de nosso chanceler-filósofo expressem um “projeto de país” não passa de uma fantasia divertida. Estamos muito longe disso, neste país em que a normalidade beira ao tédio.Fernando Schüler
Palavras que ofendem
O racismo é, de fato, uma praga. A consciência de que é preciso combatê-la está hoje por toda parte. Exagero por exagero, é melhor exagerar o contrário. A boa convivência de raças e etnias, com a aceitação da diferença. Parece uma coisa simples e no entanto joga os homens uns contra os outros, na guerra declarada, ou na encoberta discriminação. Ainda agora renascente na França com Le Pen. E por aí afora.
Mas no afã antirracista, acontecem coisas curiosas e até engraçadas. Seja nos Estados Unidos, onde o racismo é explícito, seja em qualquer outro país, a começar pelo Brasil. Em Washington, hoje com uma população de maioria negra, querem mudar o nome dos campeões de futebol americano, os Redskins. A iniciativa parte dos que advogam a causa dos índios. Para eles, chamar de "peles-vermelhas" jogadores de futebol é puro deboche.
Se a moda pega, daqui a pouco se levanta uma voz contra chamar de rubro-negro a um torcedor do Flamengo. A palavra composta pode ofender ao mesmo tempo índios e negros. Por esse caminho, não demora e a China se queixa ao protocolo do Itamaraty. E protesta contra o nome da febre amarela. Sem falar no perigo amarelo, que é japonês. Com argumentos assim, o vocabulário vai sofrer um expurgo de todo tamanho. Muitas palavras vão ser cassadas.
Já houve a denúncia de judiar. Como judiação e judiaria, o verbo traz um ressaibo antissemita. E o antissemitismo lembra o que há de pior neste mundo. Mas não é só o judeu que está escondido na raiz etimológica de certas palavras. Volto ao chinês e lembro chinesice. Chinoiserie em francês. Aliás, francesia ou francesismo pode ser objeto de protesto da França. Como “sair à francesa".
Ninguém escapa. Palavras e expressões em todas as línguas escondem silenciosos rancores. A eterna hostilidade ao gringo, ao que é diferente. O calor senegalesco pelo menos aqui no Rio não é culpa do Senegal. Nem é só para inglês ver. Os ingleses, por terem sido donos do mundo, não escapam do enfoque pejorativo. Nem Deus. O feminismo ainda agora protesta contra o gênero masculino de Deus. Parece humor negro. Se é que esta expressão já não entrou na lista negra, como racista. Lista negra? Ih, piorou!
Otto Lara Resende (Folha SP, 16/5/1992)
Investimento verde
Queda de renda e muita desconfiança com relação ao nosso futuro mantêm um horizonte de prosperidade vicejante como pura miragem. A perspectiva é de crescimento tímido, mesmo quando concluída a reforma da Previdência.
O governo adotou medidas para tentar acelerar a retomada, como a liberação de saques do FGTS e o incentivo à Semana do Brasil. Mas o caminho seguro para crescer é o investimento. E nessa rota do desenvolvimento há uma estação de parada obrigatória: a efetivação das reformas estruturantes, como a tributária, reforma de RH dos governos e privatizações, entre outros.
Somente pela refundação de leis e marcos regulatórios nacionais nos tornaremos um país viável a investimentos de relevância e na medida de nossas necessidades e oportunidades. Esse é o meio para impulsionar projetos e obras que criem oportunidades, restabeleçam a confiança na economia e ponham o Brasil, novamente, no rumo do desenvolvimento.
É urgente consertar as contas públicas na União, nos Estados e municípios. É preciso criar um ambiente de negócios sustentado por segurança jurídica, transparência e contemporaneidade com o mundo integrado que hoje experimentamos.
Mas não dá para ficarmos parados enquanto o País tenta atualizar-se. Em face da baixíssima capacidade de investimento público, este é o momento de setores maduros, que trabalham alinhados ao conceito de bioeconomia, fazerem aportes significativos na produção de riqueza no País, sinalizando que o futuro é inovação, sustentabilidade, competitividade e produtividade.
A indústria de árvores cultivadas para fins industriais, um setor nacional competitivo e integrado às cadeias globais, tem investimentos de R$ 32 bilhões previstos até 2023, com geração de 36 mil empregos nas obras e 11 mil vagas fixas na operação dos empreendimentos. Esse é um setor que, mesmo no período entre 2014 e 2017, quando a crise atingiu seu ápice e diversos segmentos apresentaram retração, investiu mais de R$ 20 bilhões no Brasil.
A Klabin, com investimentos na cidade de Ortigueira (PR) de R$ 9,1 bilhões, deve criar 9 mil empregos no período de expansão da fábrica. A Berneck iniciou as obras da nova unidade da empresa, que produzirá MDF e serrados, em Lages (SC), com mais R$ 850 milhões investidos. Em Mato Grosso do Sul, a Eldorado planeja uma usina de energia renovável, movida a biomassa, com investimento de R$ 350 milhões, que deve empregar 1.500 pessoas nas obras. Em Três Barras (SC), a WestRock está desembolsando mais R$ 1,2 bilhão, com 2.700 vagas temporárias.
Não para por aí. A Bracell aplica R$ 7,5 bilhões no interior de São Paulo, em Lençóis Paulista, que deve gerar 7,5 mil vagas no período de implantação. Já a Duratex, com investimentos de R$ 3,5 bilhões em Araguari (MG), abrirá mais 6,5 mil vagas. Nestes dois casos, as empresas trabalharão com celulose solúvel, produto inovador, que é capaz de produzir lenços umedecidos e tecidos finos para confecções.
Mais dois investimentos foram anunciados no Nordeste, um projeto da WestRock e outro da Klabin, mostrando a amplitude de regiões que essas iniciativas cobrem. São duas novas fábricas de embalagens de papel, importantes protagonistas da bioeconomia. Esse setor, aliás, é crucial para a entrega de produtos renováveis, biodegradáveis, e contribui para as metas do Brasil no Acordo de Paris e os objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU. É importante mencionar também a conclusão da fusão Suzano- Fibria no início de 2019, uma empresa que nasceu como a maior produtora de celulose de fibra curta do mundo.
Mas não adiantará investirmos altos valores se não cuidarmos do futuro. É necessário rever a maneira de fazer negócios, pensar em alternativas a materiais de origem fóssil.
Nesse sentido, os serviços ambientais realizados pela floresta em pé têm muito valor, até para girar a economia. As florestas são responsáveis por remover e estocar carbono, produzir o oxigênio que respiramos, conservam solo e água. Servem de hábitat para a biodiversidade. Tudo isso contribui para um regime de chuvas e clima mais estáveis, evita pragas e doenças, entre outros aspectos que impactam as atividades de uso da terra. O Brasil é uma potência ambiental.
A COP-25, que será realizada em Santiago, no Chile, em dezembro, é a oportunidade para que governo, setor privado, ONGs e academia se unam para que o Brasil assuma o protagonismo ambiental e auxilie o mundo na mitigação das mudanças climáticas. Não é à toa que o tema deixou de ser pauta de uma área e passou a ser assunto estratégico. Clima é economia na veia, é oportunidade para o Brasil e para os brasileiros.
Precisamos garantir que o artigo 6 do Acordo de Paris, que regulamenta internacionalmente o mercado de carbono, seja finalizado em Santiago. O mercado de carbono, com uma política clara e bem definida, pode incentivar o setor produtivo, principalmente os pequenos empreendedores, a atuar como indutor da economia de baixo carbono.
Se quisermos concluir a travessia rumo à retomada do crescimento econômico, é preciso acelerar os investimentos de porte e sustentáveis. O governo, com baixa capacidade de investimento, deve evoluir com a aprovação de reformas estruturantes, que melhorem o ambiente de negócios. Assim se abre espaço para o avanço dos recursos da iniciativa privada. Mas é preciso investir com consciência e atuar com responsabilidade, cuidando do meio ambiente e trabalhando para que o Brasil modernize sua governança, garantindo às futuras gerações condições para a construção de uma nova nação.
Que porra é essa, Bolsonaro?
O que Deus, pobre senhor de barbas brancas, encarapitado em sua nuvem de algodão doce, um bom sujeito tantas vezes evocado como uma síntese da pureza de propósitos de seu governo, o que ele vai achar dessa porra toda de ter um presidente da república, trepado num banquinho em frente ao palácio, distribuindo o palavrão a torto e a direito, sem filtro, nas orelhas da velhinhas, das crianças e dessas novas senhoras enroladas no véu verde e amarelo da anunciada purificação nacional?
Que porra é essa, Bolsonaro, de apenas alguns meses depois de substituir um presidente que governava na base de mesóclises, um delírio igualmente estapafúrdio diante da realidade brasileira, usar como palavra de ordem um vitupério de cinco letras que ninguém diz em rede nacional antes das 23 horas? Não faz muito tempo, um menino que dissesse isso em casa, num canto escondido dela, era levado pela orelha até o banheiro e ali o pai severo lhe limparia a boca com água e sabão.
O Brasil já teve vários tipos de grosseria federal proferidas da mesma cadeira. Já teve presidente que preferia o cheiro dos cavalos ao do povo, outro se orgulhava daquilo roxo, todos nivelados pela lamentável baixaria da falta de educação. Não é um país de muita sorte, mas o palavreado procurava se esconder dentro de um certo decoro parlamentar tropicalista. Encher a boca e usar "porra" para expressar uma ideia de governar o meio ambiente é um acontecimento inédito na república. O Brasil virou um palavrão.
O porra do Bolsonaro não é uma peça de teatro de denúncia, um Bacurau do cinema, um rap do Emicida ou um conto do João Antonio, esses momentos em que pela representação artística é justificável se valer de todas as palavras para que a realidade, geralmente a dos desvalidos de escolas, dos premidos pela infelicidade social, se faça entendível. O porra, em pleno palácio, foge a qualquer expectativa de bons princípios de civilidade e norte ao país. Está fora da ordem nacional. Para não deixar qualquer dúvida, é usado no discurso para adjetivar a árvore - e, como se sabe, o nome do país tem origem numa delas. É a porra do Brasil.
Vulgaridade da loucura
Hoje evita-se usar a palavra louco. Que disparate. Os poucos psiquiatras por quem tenho respeito falam sempre da loucura das pessoas. Usam as palavras curtas, simples, autênticas. Não digo […] desordem de personalidade […]
Digo doida, é isso que digo. Doida tem o som certo, é uma palavra vulgar, uma palavra que nos diz como a loucura pode vir bater-nos à porta como uma camioneta de entrega de encomendas. As coisas horríveis também são vulgaresJulian Barnes, "O Papagaio de Flaubert"
O pior ministro
Não por acaso, este é o pior ministro do governo Bolsonaro (Abraham) e o pior ministro da Educação dos últimos 40 anos (Weintraub).
A última do Weintraub tem sempre uma boa plateia, é diversão certa, para quem gosta do gênero. Mais folclórico que Ricardo Vélez, o preposto de Olavo de Carvalho na área de Educação, que o antecedeu e sucumbiu aos primeiros acordes do controle ideológico que pretendeu fazer da vida inteligente daquele mundo por ele governado. O atual ministro discursa e atua de forma mais contundente que o primeiro preposto olavista na Educação.
Weintraub não tem a metade da vivência de Velez nessa área, mas é mais duro, mais grosso, mais errático, mais vazio que ele. Ambos sofreram a falta de substância do governo, não foram por ele supridos pois entendido está que deveriam suprir Jair Bolsonaro.
Se alguém souber o que pretende Abraham Weintraub, deve contar para o presidente de forma que use a informação a seu favor. Jair Bolsonaro passa ao largo da Educação. Área do debate e do diálogo, a Educação, hoje, dá pena. Só tem perdas.
Quais os governos que o atual mais admira, cita e copia? Os militares. Pois a Educação encontrou campo fértil nas administrações de Esther de Figueiredo Ferraz, uma educadora respeitada, de Eduardo Portella, acadêmico e escritor, intelectual reconhecido, e Rubem Ludwig, um general educado, acostumado com as relações civilizadas, que levou para a Secretaria Executiva e para ajudá-lo em alguns escalões militares também traquejados nas atividades civis, como o coronel Sérgio Pasqualli.
Até os conflitos, inerentes a esta área, tinham nível. Certa vez, depois de ter a UNE (união nacional dos estudantes) gritando na porta do prédio do MEC, em greve já há alguns dias, o ministro Ludwig reagiu: “É a Carolina, o tempo passou na janela e só a UNE não viu”, disse resgatando o verso da música de Chico Buarque. O presidente da UNE, Aldo Rebelo, que depois seria deputado, presidente da Câmara, ministro de Ciência e Tecnologia, Esportes, Coordenação Política, Defesa, devolveu no mesmo tom, com verso de Noel Rosa: “Quem é você, general, que não sabe o que diz? Meu Deus do céu, que palpite infeliz”!.
Da briga poética do regime militar este governo nada preservou. Hoje o ministro dos estudantes é tosco, agressivo, não diz a que veio e deixa sua personalidade se sobrepor, sem cabimento, a qualquer conteúdo da sua gestão.
Senadores passam a sujo a reforma da Previdência
O Senado concluiu, finalmente, o primeiro turno da votação da reforma da Previdência. Antes mesmo da realização do segundo turno, já é possível afirmar o seguinte: os senadores demonstraram no debate sobre a reforma que não estão à altura da realidade do país. Esperava-se que passassem a limpo a proposta aprovada na Câmara. Mas um pedaço do Senado decidiu passar a sujo a emenda constitucional previdenciária. Não melhoraram o texto. E ainda conseguiram piorar o que já não era ideal.
Estava entendido que os senadores trabalhariam para manter a economia obtida na Câmara: R$ 933 bilhões em uma década. E tentariam reintroduzir na reforma os servidores de estados e municípios. Fariam isso numa emenda à parte, que seguiria para a apreciação dos deputados, sem prejuízo da promulgação de todo o resto. Pois bem. Os senadores lipoaspiraram a economia, reduzindo-a para cerca de R$ 800 bilhões em dez anos. Foram para o beleléu, por ora, R$ 133 bilhões.
A emenda paralela, que deveria seguir para a Câmara com um tópico único —a questão de estados e municípios— virou um caldeirão em que se misturam encrencas que os deputados já haviam tratado. E não há na Câmara a mais remota disposição de voltar a esses temas. Ou seja: corre-se o risco de perder a oportunidade de desarmar a bomba dos servidores estaduais e municipais, que vai explodir dentro dos cofres do Tesouro Nacional.
Como se tudo isso fosse pouco, os senadores passam a reforma previdenciária a sujo num ambiente de chantagem explícita. Cobram definições sobre a partilha de dividendos de petróleo com governadores e prefeitos, o que é republicano. Exigem otras cositas más.
Na parte em que é republicana, a exigência dos senadores é burra, pois entregar dinheiro de petróleo a estados e municípios sem resolver o passivo previdenciário é como entregar com uma mão e retirar com a outra. Na parte em que é espúria, a chantagem inclui nas exigências compensação pela futura aprovação da indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada brasileira em Washington. O despudor revela deixa que certos senadores ainda perambulam pelos corredores do Congresso com um código de barras na gravata.
Aliado ao garimpo, Bolsonaro prepara embate com a Igreja
"É o minério, estúpido!"
Numa cena incomum, o presidente foi até a porta do palácio e subiu numa cadeira para discursar. Do pedestal improvisado, expôs o que pensa sobre a floresta. “O interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore. É no minério!”, afirmou.
Ontem o bispo de Marajó, dom Evaristo Spengler, fez um apelo contra a exploração do subsolo amazônico. “Queremos pedir um não a projeto de mineração em territórios indígenas, não ao garimpo legal e ilegal na Amazônia, não à regularização de novos garimpos”, disse. Ele é um dos organizadores do sínodo que discutirá as ameaças à floresta a partir deste domingo.
No minicomício de ontem, Bolsonaro encaixou uma nova provocação ao cacique Raoni, que já foi recebido com honras no Vaticano. “É outro que vive tomando champanhe em outros países por aí...”, desdenhou.
Jair Bolsonaro disse que não dará entrevistas enquanto os jornais “não fizerem uma matéria real sobre o que aconteceu na ONU”. A imprensa noticiou que o presidente fez um discurso agressivo, exaltou a ditadura militar, atacou um cacique de 89 anos e mentiu sobre as queimadas na Amazônia. Na visão dele, uma “matéria real” trocaria o registro desses fatos por elogios.
A ameaça de boicote à imprensa não é nova. Bolsonaro já havia prometido silenciar outras vezes, mas nunca conseguiu segurar a língua. Ontem ele fez um esforço extra para cumprir a promessa. Ignorou os jornalistas e não discursou em solenidade oficial. Só falou em público uma vez, em minicomício para garimpeiros.
Numa cena incomum, o presidente foi até a porta do palácio e subiu numa cadeira para discursar. Do pedestal improvisado, expôs o que pensa sobre a floresta. “O interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore. É no minério!”, afirmou.
Bolsonaro não disfarça. Desde a campanha, ele critica as leis ambientais e promete incentivar a criação de novas Serras Peladas. Em seu lobby pela mineração, o presidente já comprou briga com índios, ambientalistas, servidores do Ibama e líderes europeus. Agora prepara o terreno para um embate com a Igreja Católica.
Ontem o bispo de Marajó, dom Evaristo Spengler, fez um apelo contra a exploração do subsolo amazônico. “Queremos pedir um não a projeto de mineração em territórios indígenas, não ao garimpo legal e ilegal na Amazônia, não à regularização de novos garimpos”, disse. Ele é um dos organizadores do sínodo que discutirá as ameaças à floresta a partir deste domingo.
Às vésperas do encontro, a tropa bolsonarista já trata a Igreja como inimiga. O presidente avisou que não vai a Roma para a canonização da irmã Dulce. No sábado, o guru Olavo de Carvalho disparou ofensas ao Papa Francisco. “Para mim, esse Bergoglio já deu no saco. Ele não é Papa nem no sentido figurado do termo”, atacou.
No minicomício de ontem, Bolsonaro encaixou uma nova provocação ao cacique Raoni, que já foi recebido com honras no Vaticano. “É outro que vive tomando champanhe em outros países por aí...”, desdenhou.
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