domingo, 9 de agosto de 2015

Os pais estão pedindo

O monstrengo de Lula e Dilma

No meio do furacão que estremece o Congresso, os palácios e gabinetes em Brasília, o governo Dilma tirou da cartola a reforma administrativa para tentar aplacar a tempestade e ganhar sobrevida. Perdido, com a base partidária de apoio se esfacelando, ora o governo fala em reduzir o número de ministérios, ora fala em recorrer ao desgastado toma lá dá cá de cargos e verbas, a esta altura inútil, desacreditado, sem nenhum efeito prático. Se até o PMDB, eterno campeão do fisiologismo, propõe reduzir o ministério pela metade e abrir mão de cargos, desde que o PT faça o mesmo, sobra unicamente ao governo e ao PT o ônus de carregar o fardo político do monstrengo modelado por Lula e Dilma ao criarem 18 ministérios novos – além dos 21 que herdaram de FHC –, com a única finalidade de distribuir cargos, verbas e poder para partidos políticos. Como se o Brasil fosse um brinquedo cobiçado, que precisa ser multiplicado para satisfazer parceiros e, pior, sabendo terem eles intenções suspeitas.



A gestão Dilma cometeu muitos erros e os jogou no colo dos brasileiros, que hoje pagam com desemprego, empobrecimento, economia em frangalhos e ameaçada de piorar ainda mais. Mas foi o ex-presidente Lula quem concebeu a genial ideia de prolongar o reinado do PT no poder, formando a maior base aliada de partidos políticos da história. Para isso, engordou o Estado com 39 ministérios, a maioria desnecessária, gerando gastos que poderiam ser economizados e espetando a conta para 200 milhões de idiotas pagarem. Coube a Dilma dar continuidade à ideia e o último deles, o Ministério da Micro e Pequena Empresa, foi criado como presente ao PSD, partido do ex-prefeito de São Paulo e hoje ministro das Cidades, Gilberto Kassab.

O monstrengo foi certamente um dos maiores erros dos governos petistas, pelo poder de espalhar estragos por toda a gestão pública e impregnar no Estado gordura, desperdício de dinheiro, ineficiência e corrupção. Se, em vez de alimentar o monstrengo por 12 anos, Lula e Dilma fizessem uma verdadeira reforma administrativa em 2003, delimitando o governo no espaço capaz de atender aos interesses do País, não teriam passado esses 12 anos tendo de comprar votos de parlamentares a cada proposta do Executivo enviada ao Congresso. Não se trata de intransigência de nunca ceder aos políticos. Afinal, um governo de coalizão implica dividir o poder entre os partidos que o apoiam, desde que esta divisão seja feita com critérios éticos, na concepção de um Estado eficiente, que sirva às demandas da população e não aos interesses financeiros dos partidos, que resultam em corrupção, degradação moral e descrédito político do Executivo e do Legislativo. Exatamente a situação que prosperou nos últimos 12 anos e hoje vive seu ápice com rejeição popular e panelaços.

Em 2003 Lula e o PT detinham credibilidade política, arrancada das urnas e de uma história de lutas. Era o momento certo para fazer uma reforma administrativa capaz de ser festejada por longo tempo pelos brasileiros, que neles depositavam esperanças. Fizeram o oposto: com o discurso falso, que não convence ninguém mais, de que os neoliberais é que defendem o Estado mínimo e que ele precisa ser ampliado e fortalecido, incharam o governo com mais 18 ministérios. Para quê? Para loteá-lo e colocá-lo a serviço da classe política. E foram modelando o monstrengo, na contramão do mundo: os EUA têm 15 ministérios; a Alemanha, 14; a Itália, 18 ;e a Argentina, 13.

Agora Dilma fala em reduzir ministérios e encomendou projeto ao Ministério do Planejamento. Mas, em vez de usar critérios de eficiência em gestão, descamba para interesses políticos menores, pois os ligados aos movimentos sociais e ocupados pelo PT serão preservados. Por que Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos precisam estar estruturados em ministérios?

O momento da reforma, infelizmente, passou. O governo e o PT perderam credibilidade e não será reduzindo ministérios sem critérios técnicos que vão reconquistar a confiança e o respeito da população.

Suely Caldas

Dilma e a legitimidade pela mentira


Então, no novo perfil da mídia brasileira, a coisa fica assim. Alguns, diante desse erro descomunal que foram os governos petistas, vão além das aparências e abandonam o barco porque percebem as causas. Entre muitas, saliento estas, bem evidentes: o poder como objetivo ao qual tudo se sacrifica; a justificação dos fins pelos meios; o cultivo da insegurança pública como instrumento da luta de classes; o fracasso humano e social do assistencialismo vitalício como política de Estado; a impossibilidade técnica de se produzir desenvolvimento econômico e social sem economia de mercado; a apropriação indébita dos poderes de Estado, da administração pública e da política externa por um partido político, seja qual for.

Outros, no entanto, continuam convencidos de que fora dos fracassos estrondosos da esquerda não há salvação para a humanidade. Apoiaram e votaram sempre no PT e se empenharam em preservar-lhe a imagem muito mais do que os líderes do partido. Aliás, enquanto estes trocavam os pés pelas mãos e enfiavam os quatro nos mais pantanosos negócios, eles cuidavam de espalhar o ônus moral de tais condutas sobre uma linha de tempo que, se a gente deixar, acabará remontando à criação do Reino de Portugal no século 12.
Se há algo que abala os formadores de opinião é constatar que quanto mais escrevem e falam, menos opinião formam. Então, com a credibilidade da presidente caindo para um dígito, ainda por cima quebrado, já não se encontram mais, na mídia, prosélitos com disposição de exaltar as virtudes do petismo reinante. Para os obstinados, porém, o passado ainda pode ser requentado. Tal é a aposta, por exemplo, do sempre oculto Foro de São Paulo (que antes diziam não existir e, agora, afirmam estar morrendo...).

Não havendo condições propícias ao proselitismo puro e simples, resta à mídia esquerdista e seus agentes dois meios de ação. No primeiro, obedecem à regra segundo a qual o contra-ataque é uma forma de defesa na qual dificilmente se passa vexame, porque sempre haverá o que atacar. Então, atacam quem ataca para defender quem não mais se atrevem a defender. No segundo, aí sim, agarram-se no Estado de Direito para proclamar a intangibilidade do mandato da presidente. A esse coro ela mesma aderiu em suas últimas manifestações: "Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu", afirmou a presidente, falando em Roraima no dia 7 deste mês.

Dilma está, neste caso, defendendo a legitimidade da mentira como instrumento de ação política e eleitoral. Com efeito, ela foi eleita em 2014 mentindo à nação sobre a realidade nacional e atribuindo a seu adversário os flagelos que ela trazia a tiracolo para enfrentar a macabra situação que seu governo produzira. Nada que não tenhamos visto e não estejamos vendo. Assim, a presidente e os formadores de opinião que a acompanham, ao falarem em "legitimidade" no cenário atual, consagram a soberania do Pinóquio e promovem o linchamento do Grilo Falante.

Alguém

Por favor, apareça, senhora ou senhor esse Alguém - nós aguardamos ansiosos! Esse alguém tão falado essa semana precisa aparecer, antes que não sobre ninguém para contar essa História. Achei bem engraçado esse apelo do vice-presidente. Caramba, ele é o vice-presidente! Se ele que é ele está por aí chamando alguém, melhor gritarmos Socorro! Help! SOS!
Não posso dar os nomes desses alguéns. Vamos deixar indefinidos. Mas, essa semana, ao ouvir o clamor de Michel Temer, não pude deixar de lembrar uma velha história de imprensa que ouvi há tempos de alguém que sabe das coisas. Um grande jornal, aqueles problemas administrativos de sempre que acabam desolando a redação e, em uma reunião, o dono, o próprio, clama: "Alguém tem de fazer alguma coisa!" 

"Empregados fantasmas se apresentem! " - Respondo, quando me pedem coisas que, puxa, faz você!

Nunca esqueci, já brincava com a expressão "Alguém precisa fazer alguma coisa" (tem de falar em tom imperial) vendo aquelas situações meio absurdas onde os próprios culpados por ela fazem cara de santo jogando a culpa emalguém que não teria feito o que eles próprios já deviam ter feito e há muito tempo. Malandragenzinhas e espertezas.

No nosso dia a dia de jornalistas escutamos apelos, recebemos mensagens que invariavelmente nos contam coisas, novidades, notícias sigilosas, "exclusivas", "furos", muitas informações inclusive que nós mesmos tínhamos acabado de publicar - uma espécie de telefone sem fio, que é como anda esse mundo onde ninguém presta mais atenção em nada. Tanto faz como tanto fez.

Vivem reclamando em nossas orelhas como é que a imprensa não faz nada, não diz nada, não publica nada.Alguém tem de fazer alguma coisa e só vocês podem - e escutamos uma quase crítica. Acham mesmo que temos a força do He-man: Pelos poderes de Grayskull!


Mais ou menos o mesmo do que dizerem vai lá, se joga do precipício.

Viram o programa do PT? Vivem reclamando que a grande imprensa distorce, patatipatatá, mas quando precisam o que é que usam na tevê? Os jornais. Nessa hora não servimos para embrulhar peixe.

Quem é Alguém? Quem pode ser alguém aí, tão especial, mas que ainda é diáfano? Esse ser que não se apresenta logo no portão de embarque? Parece aquele povo que ainda não saiu do armário e que diz que vai se encontrar com uma pessoa, vai sair com uma pessoa. Falou isso, pode crer. Pode dar a ela de presente de arco-íris, uma coisa mais delicada, a compilação de Orange is the new black - coisas assim.

Todo mundo quer ser alguém. Talvez por isso mesmo a oposição esteja tão acirrada, haja tanta rejeição ao atual comando. Muitos estavam quase sendo alguém, até ajudados pelas benesses sociais indiscutíveis, e agora caíram do cavalo, ou tropeçando no que ele deixa no caminho. Vide os financiamentos dos estudantes, as mães cheias de filhos vendo a bolsa da família se esmilinguir, e um monte de promessas virarem desencantos. Investimos contra porque há alguém culpado por chegarmos a esse ponto.

Será que tem alguém olhando pela gente? Pensamos assim quando lembramos de quem já nos deixou e acreditamos que esse alguém está lá no céu nos ajudando. Parece que pensar assim nos torna mais fortes. Alguém lá em cima gosta de mim.

Estamos no terreno duro do chão. Não podemos mais fingir de ver alguém que não aparece, porque ninguém cai do céu. E quem aparece quer jogar no nosso colo a bomba para aparecer depois cantando como o Roberto Carlos, esse cara sou eu.

Fingem que não ouvem as panelas, que não somos alguém, fingem que não veem alguém nas ruas.
Ninguém merece. Sabem com quem estão falando?

Marli Gonçalves
Na rua dia 16, porque certamente encontrarei alguém que sabe que, juntos, podemos sim fazer muito. Inclusive achar alguém que aceite essa batata quente.

Missa negra para salvar o moribundo apressou a extrema-unção

O dia e a hora da encenação, o elenco bisonho, o roteiro mambembe, o mestre-de-cerimônias repulsivo, a arrogância dos parteiros da obra – tinha tudo para dar errado o programa partidário de 10 minutos exibido pelo PT na noite desta quinta-feira. E deu. Mas o que se viu superou as previsões mais catastróficas do mais radical antipetista.

As agressões ao Brasil indignado começaram com a entrada em cena de José de Abreu. Cicerone do passeio pelo lixão do PT, o rei de lixão de novela puxou o desfile de ameaças e insinuações belicosas. “O caminho do pessimismo nos leva a lugares bem sombrios e o alçapão mais perigoso é o que nos lança no conflito, com final sempre trágico para todos”.


Um porta-voz do bloco da barba abriu o cortejo de figurantes escalados para recitar cretinices sobre coisas que ignoram. “Durante seis anos, os governos do PT conseguiram retardar a chegada da crise econômica no (sic) Brasil”, mentiu. “Hoje o país vive problemas passageiros em (sic) economia”, mentiu a representante da elite branca. “E tem gente tentando se aproveitar disso para criar uma crise política”, mentiu o terceiro destaque do grupo de jovens robotizados.

O espetáculo do cinismo encomendado por Lula e dirigido por João Santana estava quase na metade quando irrompeu o bordão ilustrado por imagens de políticos oposicionistas: “Não se deixe enganar por aqueles que só pensam em si mesmos”. E então chegou a vez da trinca de protagonistas. Cada vez mais parecido com um agente funerário que furta o relógio do defunto, Rui Falcão invadiu a tela para repetir a tapeação do momento.

“Tem gente dizendo que só existe crise no Brasil, mas as manchetes provam que há crise em toda a parte”, mentiu o presidente do PT, amparado por dois recortes de jornal. O primeiro noticiava um soluço na bolsa de valores da China, cujo PIB vai crescer além de 6% neste ano. O segundo tratava do agravamento da crise da Grécia, uma espécie de Brasil da Europa.

Além de gregos e brasileiros, só estão aflitos com crises os russos e os venezuelanos. O resto do mundo está muito melhor que o paraíso tropical castigado pela alta da inflação, pela ampliação do desemprego e pela paralisia nos investimentos, fora o resto. Nada disso foi mencionado no programa, que também contornou cuidadosamente a corrupção de dimensões amazônicas, a segunda prisão de José Dirceu ou a destruição da Petrobras.

“Eu sei que a crise já chegou na nossa casa”, fingiu condoer-se Lula já na primeira linha do palavrório. (Não na dele: o chefão de tudo não sabe o que é problema financeiro desde que virou gigolô de empreiteira). Mas tudo vai melhorar, prometeu o mágico de picadeiro que não para de pensar “naqueles que mais precisam”. (O tempo que sobra é consumido na proteção a parentes e amigos multimilionários, como o filhote Lulinha ou os quadrilheiros do Petrolão).

A Ópera dos Malandros foi encerrada por Dilma Rousseff: “Quem pensa que nos falta (sic) ideias está muito enganado”, gabou-se a recordista de impopularidade sem apresentar uma única ideia. Ao som da lira do delírio, os idiotas no poder despediram-se dos espectadores zombando dos 71% de brasileiros exaustos de ladroagem e incompetência. Em vez de pedir desculpas ao país que presta, o exército brancaleônico preferiu chamar para a briga a imensidão de descontentes.

O maior panelaço da história do Brasil foi o ensaio geral para o resposta dos afrontados, que virá em 16 de agosto. A missa negra celebrada para salvar o governo moribundo apressou a extrema-unção. A data do enterro será determinada pelo povo nas ruas.
Augusto Nunes 

Brasil, primeiro a economia

A crise política e econômica brasileira piorou nas últimas semanas. A nova detenção de José Dirceu, homem forte do primeiro Governo Lula – em prisão domiciliar por sua participação no caso Mensalão (o suborno de deputados pelo PT em troca de seus votos), e implicado agora no escândalo de corrupção da Petrobras –, foi seguida por uma pesquisa que coloca a presidenta, Dilma Rousseff, como a líder mais impopular da história da democracia – sua gestão é desaprovada por 71% – e de uma derrota do Executivo no Congresso para a qual contribuíram com seus votos os próprios deputados do partido no poder: foi aprovado um aumento salarial para os altos funcionários que vai na direção oposta à política de austeridade que Rousseff tenta aplicar.

Os três fatos confirmam o descrédito do PT e o isolamento da presidenta em um momento crucial para que o Brasil corrija o rumo e volte a crescer. Mas também aponta dois fatores que podem ser decisivos para sair do atual marasmo. Primeiro, é preciso destacar que nas listas da Operação Lava Jato há nomes de todo o arco parlamentar, e é que a relação muito confortável entre empresários e políticos quando se trata de adjudicação de contratos foi um segredo conhecido no setor público desde os tempos do Império. O fato de que a Justiça esteja conseguindo revelar essa rede, não só prendendo os supostos corruptos, mas também os supostos corruptores, dá um bom sinal do funcionamento de uma instituição na qual o povo brasileiro nunca confiou.

Em segundo lugar, com uma presidência atacada e paralisada, a busca de consenso político no Congresso ganha uma importância crucial. A prioridade do Parlamento deveria ser tomar as medidas necessárias para que a recessão não se prolongue por mais tempo. As outras agendas de suas senhorias poderiam, sim, esperar.

Dilma pede socorro... do povo enganado


Dilma insiste que no Brasil se fala dilmês. Seus improvisos são motivo de chacota e costumam embaralhar alhos com bugalhos. Não foi diferente em Boa Vista, em outra entrega de casas em "petit comité" como diria Ibrahim Sued. Para evitar manifestações dos insatisfeitos, a agenda positiva só inclui eventos reservados a petistas contratados a sanduba de mortadela e cachê de R$ 50.

E é nesse tipo de evento que extrapola. Quase aos berros, com a característica prepotência, vociferou: "Ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu".

Dilma, o voto o povo respeita, mas não o voto dado de coração para a mentira, o engodo. O voto que conquistou foi fazendo o diabo, inclusive com acordo com o demo e acertos de gente enrascada com as propinas.

Quem não respeitou o voto foi a própria Dilma.

O berro no Norte do país foi o grito de desespero de uma presidente sem força política e governabilidade no chão. Presidente que em seis meses do novo governo não governa, não mostra liderança necessária, é apenas como sempre foi um poste no Planalto.

Dilma não tem hoje cacife para pedir respeito com o país rolando ribanceira abaixo por seus destrambelhamentos. Ainda assim sua arrogância pede que a população se dedique à estabilidade institucional, política, econômica e social do país. É pedir uma dedicação que a própria presidente nunca teve.

Dilma, legítima e insustentável

Dilma Rousseff está coberta de razão quanto à legitimidade de seu mandato. É absolutamente legítimo. Assim como, goste-se ou não, são legítimos os mandatos dos parlamentares, incluindo os do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A presidente parece ou prefere não entender que o cerne da crise não é legitimidade, mas credibilidade. Ou melhor, a falta dela.

Charge O Tempo 08/08

Por obedecer aos ritos da legalidade, também são legítimos os movimentos daqueles que discutem vias constitucionais de impedimento da presidente ou que, diante da possibilidade de que a vitória nas urnas tenha sido fruto de campanha financiada com dinheiro sujo, questionam a validade do resultado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ações legítimas, mas de crédito duvidoso, já que contaminadas pelo beneficio direto que proporcionariam aos seus autores. No caso, o PSDB.

Vocábulos sonoramente semelhantes, legitimidade e credibilidade em muito se diferem, embora devessem ser complementares. Normalmente, alguém legitimamente eleito tem créditos suficientes para fazer até o inimaginável. Fernando Collor de Mello conseguiu confiscar o dinheiro dos brasileiros com apoio do Congresso Nacional.

Itamar Franco - que legitimamente assumiu a Presidência depois da renúncia-impeachment de Collor - e Fernando Henrique Cardoso gozaram de credibilidade e, consequentemente, razoáveis condições de governabilidade.

Lula, o maior líder popular da história recente, soube como ninguém acumular créditos. Poderia usufruir deles agora não tivesse cedido à tentação de dominar tudo e todos por métodos que mais tarde se descobririam criminosos.

Ao inaugurar o presidencialismo de coalizão sustentado pelo toma-lá-dá-cá de cargos e dinheiro vivo, Lula manteve-se popular, mas corroeu sua credibilidade.

Dilma seguiu na mesma trilha no primeiro mandato. Conseguiu não só ficar em pé, mas se reeleger, ainda que à custa de mentiras e, sabe-se lá, recursos de campanha surrupiados da Petrobras e de outras empresas públicas, conforme delações já feitas no curso da operação Lava-Jato.

O Mensalão e a Lava-Jato - operações de indiscutível legitimidade, mas tidas pelo PT como golpistas – criaram imensas dificuldades ao presidencialismo de coalizão. Com verbas minguadas, a fantástica maioria congressual forjada pela garantia de mesada começou a se desintegrar. Primeiro, lentamente, agora, em velocidade estonteante.

Já no início do seu legítimo segundo mandato, Dilma teve de lançar mão de seus derradeiros créditos. Viu-se forçada a fazer um ajuste fiscal com o qual não concordava e nomear um ministro da Fazenda que não queria. Traiu, uma a uma, as premissas que a elegeram.

Rejeitada pela maioria esmagadora do país – 71% reprovam o seu governo, segundo o Datafolha -, a presidente não reúne condições de arregimentar tropas para vencer as crises econômica, política e moral que afundam o país.

A legitimidade de Dilma hoje lembra a dos contos de réis ou dos cruzeiros e cruzados velhos e novos. Notas legítimas que perderam o valor de face e tiveram de ser substituídas.

UATAFAC?


Quer dizer que isso aí é isso aí mesmo? A canalhada quer a volta de ninefingers pelo atalho de um ministério picareta? Quer o nojento-chefe escondido num carguinho qualquer que lhe garanta a blindagem de um foro privilegiado? Isso aqui só pode ser o Brasil mesmo. O país da impunidade rampeira. O país dos inimputáveis. O país dos elogios rasgados a tudo o que é essa pilantragem nojenta que nos empurram dia sim e dia também por aqui.

Não é para menos que o brasileiro — qualquer brasileiro — esteja a ponto de explodir. Não é saudável termos no poder gente com essa índole cortejando uns aos outros numa festinha indecente; siameses na rapinagem do Estado elefante que nos gatuna o futuro do país. Lembro muito bem das lições que tive de minha advogada — uma das melhores do país, mas que nunca defendeu bandidos — sobre a tal “consciência jurídica” que se forma num processo. Os caras querem fugir, dissimular, mentir, provocar, negociar com as autoridades, de modo a continuarem inimputáveis, reincidentes, criminosos e servidores públicos.

É um escárnio. Em que lugar decente deste planeta um programa de partido como o de ontem teria voz e vez, escoiceando a plebe rude? O Goebells em compota — mais conhecido como Santanão — bem que tentou dourar o supositório antes de expô-lo ao mundo. Não colou. Ocupado com minhas panelas, não vi, não li, nem entendi do que se tratava aquela tramóia. Vendo depois, tudo fica claro.

O PT quer provocar o país. Quer assustar o cidadão. Quer dissimular. Esconde a roubalheira endêmica com a peneirona da ideologia rombuda e os eufemismos de quem é mestre na prestidigitação. Que eu saiba, toda a história da humanidade está recheada de calhordas que, mais cedo ou mais tarde, revelaram sua reaL natureza. O que vai por aqui é a tentativa mais torpe e pusilânime de enganar a plebe rude mais uma vez.

Não há um cretino agora, daqueles pagos pela mortadela oficial com o nosso dinheiro público, que venha defender o legado desses bandidos. Estão todos assustados com o banho de imersão que pode matar.

Depois da Lava-Jato


O Brasil começou a ficar mais limpo depois que juízes, procuradores e policiais federais conseguiram prender políticos poderosos e empresários ricos. Espera-se que este trabalho continue desvendando tudo de todos, e que a Justiça faça sua parte, sem cair outra vez nos truques que terminam zerando o trabalho de pessoas como o juiz Moro, o procurador Janot e todos aqueles que os ajudam.

A operação Lava-Jato fará o Brasil mais limpo, mas não bastará para construir o país que desejamos, porque nossos problemas vão além da corrupção no comportamento dos políticos e empresários: eles são criados, sobretudo, pela corrupção nas prioridades das políticas que definem como os recursos públicos são usados e para onde levam nosso país.

Além da corrupção que a Lava-Jato está tornando visível, temos uma imensa rede de corrupção invisível: o analfabetismo e a baixa qualidade da educação, que rouba o futuro das crianças e do Brasil; o sistema precário de saúde, que rouba a vida e impõe sofrimento a milhões de pessoas; o ineficiente sistema de transporte público, que impede a mobilidade eficiente e rouba pedaços da vida de milhões de trabalhadores em seus deslocamentos diários; a violência urbana que faz com que nossas ruas matem e assustem mais do que as ruas de países em guerra; um sistema de gestão pública que rouba o valor da moeda, e impede o bom funcionamento e crescimento de nossa economia.

Podemos receber um país limpo da corrupção dos políticos e, mesmo assim, não construirmos o Brasil sem corrupção nas prioridades. Não basta colocar os corruptos na cadeia, é preciso também colocar na vida pública pessoas decentes, no comportamento e nas prioridades, capazes de fazer leis que impeçam a corrupção e que não apenas limpem, mas higienizem eticamente o país e para isso façam uma revolução educacional no Brasil. Terminada a Lava-Jato, será preciso que os políticos comecem a consertar as brechas pelas quais o futuro do Brasil é roubado todos os dias. Para alcançar esse objetivo, teremos de fazer um concerto das forças nacionais para dar sustentação a um novo projeto nacional.

A corrupção desvendada pela Lava-Jato é um serviço ao país que nos deixa em dívida histórica com aqueles que a estão fazendo, mas o trabalho de construir o Brasil que precisamos, queremos e podemos não é uma tarefa dos juízes, procuradores e policiais; é responsabilidade dos políticos. Neste momento, porém, não parecemos estar à altura deste desafio, seja por falta de preocupação com o país, seja por omissão ou incompetência para liderar o Brasil em uma nova direção.

Por isso, a verdadeira e completa Lava-Jato deve ser feita pelos eleitores nas futuras eleições. Por que os juízes, procuradores e policiais podem colocar políticos na cadeia, mas são os eleitores que podem colocá-los nas cadeiras de parlamentares.
Cristovam Buarque

Presidente está abatida e deveria abreviar o seu e o nosso sofrimento

Nesta sexta, militantes petistas foram “abraçar” o Instituto Lula, que teria sido alvo de um “atentado”. Apenas 400 militantes apareceram por lá, embora a convocação tenha sido feita com antecedência e a anunciada presença de Lula. Nem os companheiros levaram o troço muito a sério. Até a eles ocorre que, se alguém quer mesmo praticar um atentado político, não joga uma bomba caseira como aquela. Se joga e se o faz naquelas condições, talvez esteja tentando simular um atentado, entendem? Com que propósito? A lógica responde. Mas sigamos.

O país vivendo em transe, e eis que Lula e seus seguidores se apegam à lógica do “bunker” — também do “bunker” mental. Seria só patético se três ministros não houvessem passado por lá para beijar a mão do Poderoso Chefão do Partido — e três ministros, note-se, que são da cota pessoal de Dilma Rousseff: Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e Jaques Wagner (Defesa). Os 403 de Lula se juntaram no dia seguinte a um panelaço que varreu o país em protesto contra o programa do PT no horário político.

O país numa crise gigantesca, e o PT volta a se comportar como grupelho.

Não está melhor, por óbvio, a presidente Dilma Rousseff. Ao participar de um evento do “Minha Casa Minha Vida” em Boa Vista, Roraima, visivelmente abatida, com sinais explícitos de que anda tendo péssimas noites de sono, vociferou em favor da legitimidade do seu governo e anunciou o imperativo das urnas, como se as mesmas leis que a elegeram também não previssem o roteiro da deposição.

E, para não variar, Dilma voltou a apelar a seu passado de membro de grupos que ela chamaria “guerrilheiros”, mas que, sabe-se, eram mesmo terroristas. A atuação lhe rendeu prisão e tortura, num tempo que foi inaugurado com a Constituição sendo rasgada e que foi mantido com arremedos e remendos de legalidade ditatorial.

Em que aquela experiência, por mais traumática e dolorosa que tenha sido, pode instruir a Dilma de agora? A resposta, infelizmente pra ela, é esta: NADA DE POSITIVO PODE TRAZER. Ela não é mais, que se saiba, a militante que queria dar um golpe comunista no país; da mesma sorte, não está sendo perseguida por gente torta em razão de suas ideias tortas. Ao contrário: a presidente da República é chamada a dar uma resposta à legalidade democrática.

Chega a ser desagradável ter de lembrar a Dilma que o fato de um terrorista ou guerrilheiro ter resistido às piores condições do cárcere não o torna inimputável nem o prepara, de modo especial, para enfrentar os rigores das leis democráticas. DILMA NÃO TEM MAIS RESPOSTA NENHUMA A DAR À DITADURA. ELA TEM DE PRESTAR CONTAS É À DEMOCRACIA.

Não obstante, a presidente se apega de um modo que me parece monomaníaco àquele passado, que ela vê, certamente com autocomplacência, como se ele fosse a evidência de sua têmpera de ferro, pronta a enfrentar as maiores adversidades. Ademais, é evidente que ela tenta estabelecer um paralelo entre a tortura que sofreu e as exigências legais às quais têm de responder. Mais ainda: os 71% que acham seu governo ruim ou péssimo e os 66% que querem seu impeachment não são seus torturadores. São apenas brasileiros inconformados expressando a sua contrariedade, muitos deles, dados os números, certamente sufragaram o nome de Dilma há menos de 10 meses.

Sim, é visível que a presidente está sofrendo — o padecimento está estampado em seu rosto de modo inédito. Mas o Brasil não tem o que fazer com o seu sofrimento; ele de nada nos serve. Muito pelo contrário: só empresta uma dramaticidade que mais nos afasta do que nos aproxima de uma resposta. Lula pode voltar lá para o seu cafofo autorreferente e se juntar a seus fanáticos. Dilma não pode. As reminiscências da “guerrilheira” só a farão encontrar os inimigos e os amigos errados.

A crise é, sim, gigantesca. Só não caiam na conversa de que alguma grave ameaça política paira sobre o país — a menos que os vermelhos estejam pensando em fazer coisas feias. Qualquer que seja o desdobramento — impeachment, cassação da chapa ou renúncia —, há uma legalidade sólida que o abriga. Vamos ser claros? A única alternativa que desafia a lei é a permanência de Dilma.

Pense bem, presidente! Mas pense com os olhos em 2015 e no futuro. A ex-presidiária só atrapalha. Não convém confundir a Constituição com o DOI-Codi.

Reinaldo Azevedo