domingo, 9 de agosto de 2015

O monstrengo de Lula e Dilma

No meio do furacão que estremece o Congresso, os palácios e gabinetes em Brasília, o governo Dilma tirou da cartola a reforma administrativa para tentar aplacar a tempestade e ganhar sobrevida. Perdido, com a base partidária de apoio se esfacelando, ora o governo fala em reduzir o número de ministérios, ora fala em recorrer ao desgastado toma lá dá cá de cargos e verbas, a esta altura inútil, desacreditado, sem nenhum efeito prático. Se até o PMDB, eterno campeão do fisiologismo, propõe reduzir o ministério pela metade e abrir mão de cargos, desde que o PT faça o mesmo, sobra unicamente ao governo e ao PT o ônus de carregar o fardo político do monstrengo modelado por Lula e Dilma ao criarem 18 ministérios novos – além dos 21 que herdaram de FHC –, com a única finalidade de distribuir cargos, verbas e poder para partidos políticos. Como se o Brasil fosse um brinquedo cobiçado, que precisa ser multiplicado para satisfazer parceiros e, pior, sabendo terem eles intenções suspeitas.



A gestão Dilma cometeu muitos erros e os jogou no colo dos brasileiros, que hoje pagam com desemprego, empobrecimento, economia em frangalhos e ameaçada de piorar ainda mais. Mas foi o ex-presidente Lula quem concebeu a genial ideia de prolongar o reinado do PT no poder, formando a maior base aliada de partidos políticos da história. Para isso, engordou o Estado com 39 ministérios, a maioria desnecessária, gerando gastos que poderiam ser economizados e espetando a conta para 200 milhões de idiotas pagarem. Coube a Dilma dar continuidade à ideia e o último deles, o Ministério da Micro e Pequena Empresa, foi criado como presente ao PSD, partido do ex-prefeito de São Paulo e hoje ministro das Cidades, Gilberto Kassab.

O monstrengo foi certamente um dos maiores erros dos governos petistas, pelo poder de espalhar estragos por toda a gestão pública e impregnar no Estado gordura, desperdício de dinheiro, ineficiência e corrupção. Se, em vez de alimentar o monstrengo por 12 anos, Lula e Dilma fizessem uma verdadeira reforma administrativa em 2003, delimitando o governo no espaço capaz de atender aos interesses do País, não teriam passado esses 12 anos tendo de comprar votos de parlamentares a cada proposta do Executivo enviada ao Congresso. Não se trata de intransigência de nunca ceder aos políticos. Afinal, um governo de coalizão implica dividir o poder entre os partidos que o apoiam, desde que esta divisão seja feita com critérios éticos, na concepção de um Estado eficiente, que sirva às demandas da população e não aos interesses financeiros dos partidos, que resultam em corrupção, degradação moral e descrédito político do Executivo e do Legislativo. Exatamente a situação que prosperou nos últimos 12 anos e hoje vive seu ápice com rejeição popular e panelaços.

Em 2003 Lula e o PT detinham credibilidade política, arrancada das urnas e de uma história de lutas. Era o momento certo para fazer uma reforma administrativa capaz de ser festejada por longo tempo pelos brasileiros, que neles depositavam esperanças. Fizeram o oposto: com o discurso falso, que não convence ninguém mais, de que os neoliberais é que defendem o Estado mínimo e que ele precisa ser ampliado e fortalecido, incharam o governo com mais 18 ministérios. Para quê? Para loteá-lo e colocá-lo a serviço da classe política. E foram modelando o monstrengo, na contramão do mundo: os EUA têm 15 ministérios; a Alemanha, 14; a Itália, 18 ;e a Argentina, 13.

Agora Dilma fala em reduzir ministérios e encomendou projeto ao Ministério do Planejamento. Mas, em vez de usar critérios de eficiência em gestão, descamba para interesses políticos menores, pois os ligados aos movimentos sociais e ocupados pelo PT serão preservados. Por que Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos precisam estar estruturados em ministérios?

O momento da reforma, infelizmente, passou. O governo e o PT perderam credibilidade e não será reduzindo ministérios sem critérios técnicos que vão reconquistar a confiança e o respeito da população.

Suely Caldas

Nenhum comentário:

Postar um comentário