segunda-feira, 27 de junho de 2016

Paulo Bernardo preso pf dilma vibrando rindo gargalhando soltando foguete escondida atras do sofa tv Gleisi PT medo susto

Não chore pelo PT

Para Hiroo Onoda, a 2ª Guerra Mundial só terminou no dia 9 de março de 1974 quando ele emergiu da selva da ilha Lubang, nas Filipinas, e se rendeu ao seu superior, o major Yoshimi Taniguch, que lhe ordenara 30 anos antes resistir até à morte.

Depôs a espada e o rifle ferrolho Arisaka, em perfeito estado de revista. Vestia um gasto uniforme de soldado. De volta ao Japão, foi recebido como herói.

Onoda alistou-se com 20 anos para servir ao exército imperial japonês em guerra contra os Estados Unidos, a União Soviética, a Inglaterra e demais países aliados. Foi enviado a Lubanga para evitar que a ilha caísse em mãos inimigas.

Como ela caiu, ele e mais três soldados se refugiaram nas montanhas para resistir. Dois morreram. Onoda não acreditava que o Japão fora derrotado.

Talvez fosse o caso de Lula procurar Dilma para informá-la que a guerra contra o impeachment acabou, e que ela, ele e o PT foram derrotados. Ao contrário de Onoda, Dilma não recebeu ordem do seu superior para resistir até à morte.

Resiste por teimosia. Lula está em outra, negociando a salvação da própria pele. O PT estima suas perdas que podem ser maiores do que supõe.

O que menos interessa ao PT é o que Dilma promete caso sobreviva ao julgamento do Senado e retorne ao cargo: um plebiscito para que o brasileiro decida se quer antecipar a eleição presidencial de 2018.

Plebiscito ou referendo nem sempre é a melhor solução. Milhões de ingleses arrependeram-se do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Em seu pior momento desde que foi fundado, o PT está condenado a perder as eleições municipais de outubro próximo. Como poderia ganhar uma eleição presidencial?

De resto, por que o Senado devolverá o poder a Dilma se ela acena com a possibilidade de não governar até o fim do mandato? Não devolverá. O melhor seria que Dilma se rendesse sem provocar mais danos ao país.

Bastam os danos que provocou legando ao presidente interino a herança maldita de mais de 11 milhões de desempregados. Bastam os que o PT também provocou – entre eles, a corrupção que contaminou todo o aparelho do Estado e suas relações com sócios e fornecedores privados.

O que a Lava-Jato já descobriu empurrou o Brasil para o cume dos países mais corruptos. O que começa a ser descoberto poderá catapultar o PT para a galeria dos partidos mais cruéis com o povo.

Que tal um partido capaz de roubar parte do salário de funcionários públicos, pensionistas e aposentados endividados que para manter suas famílias recorriam a empréstimos consignados cujas prestações são descontadas automaticamente em folha de pagamento?


Na semana passada, Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministro do Planejamento do governo Lula, ex-ministro das Comunicações do governo Dilma, foi preso sob a suspeita de ter sido um dos chefes da organização criminosa que arrecadou entre 2009 e 2015 algo como R$ 100 milhões em propina para financiar o PT e enriquecer seus caciques.

De cada um real pago mensalmente por um servidor público como taxa de gerenciamento do seu empréstimo, setenta centavos iam parar nos cofres do PT.

Roubar dinheiro de quem trabalha para ganhá-lo? Um partido, aqui, nunca ousou tanto.

“Chorei por mim e por meus amigos. Tem várias maneiras de ser assaltada”, comentou a servidora pública Ana Gori, de Brasília, endividada há 16 anos.

No Brasil de 2016, o PT não tem futuro: só um passado que leva à cadeia

O Diretório Nacional do PT vai se reunir nos dias 18 e 19 de julho. Sobre a mesa, estará uma proposta: o partido assume a responsabilidade por desvios praticados pelos ex-altos dirigentes que estão presos. O que estes ganhariam com isso? Ainda é incerto. As condenações, por ora, são de primeira instância. Nas etapas seguintes, pode-se tentar um abrandamento da pena. Uma coisa é certa: João Vaccari Neto, José Dirceu e André Vargas acham que o PT não pode continuar repetindo o mesmo discurso. A ser assim, eles vão apodrecer na cadeia, condenados, respectivamente, a 24 anos, 23 anos e 14 ano. Por enquanto. Ainda há processos que não foram concluídos, inquéritos que serão abertos, denúncias que vão ser oferecidas… A coisa vai longe.

É claro que o fantasma é a delação premiada, que qualquer um deles pode fazer a qualquer tempo, segundo define a lei. Ainda que não haja exatamente uma ameaça, a possibilidade existe. E, à diferença do que se diz por aí, não é José Dirceu o mais indignado, mas justamente Vaccari. Ele tem sobre si mesmo uma avaliação que coincide com a da cúpula do PT: fez o que fez em benefício do partido, nunca para obter vantagens pessoais. Dirceu e Vargas são vistos com certa suspeição. Os Altos Companheiros acham que eles misturaram as coisas e também atuaram em seu próprio benefício.

Vocês sabem como é a ética companheira, né? Assaltar o povo brasileiro em benefício pessoal é coisa de ladrões; fazê-lo em nome da causa compõe a têmpera dos heróis…

Delúbio Soares, o tesoureiro flagrado no mensalão, matou todas as bolas no peito e nunca apontou o dedo para ninguém. Eram outros tempos. Não se sabia ao certo que encaminhamento a coisa teria no Supremo — hoje, já está claro que a corte máxima do país manda, sim, figurão para a cadeia. Mais: não houve delações premiadas naquele caso. O procedimento assumiu a atual configuração com a Lei 12.850, de 2013. Aliás, vejam a ironia, Dilma já atacou a lei que ela própria sancionou.

Por que isso é importante? É evidente que há o efeito psicológico, não é? Bandidos confessos, como é o caso de Sérgio Machado, que admitem desvios de mais de R$ 100 milhões, terão uma velhice tranquila. O cara vai ficar três anos em prisão domiciliar, numa mansão, cercado de conforto. E o mesmo vai se dar com outros que decidiram colaborar. Dirceu e Vaccari correm o risco de morrer na cadeia. Em nome do quê?

Essa é outra pergunta importante. Em 2005 e nos anos seguintes, o PT ainda parecia um partido com futuro — e tinha mesmo, como demonstra a história. E hoje? Vaccari, Vargas e Dirceu vão posar de mártires de uma causa que já não existe mais nem na crença do militante mais fanático? O petismo, para amplos setores da sociedade brasileira, e por justas razões, virou sinônimo de banditismo. Vale a pena amargar uma velhice solitária e desmoralizada por isso?

O PT está dividido a respeito da possibilidade de assumir a responsabilidade. Há gente como Rui Falcão, por exemplo, que vive o que a psicanálise poderia definir como fase de negação. Não admite falar em culpa porque, ora vejam, ele não consegue saber onde está o crime — sinal de que achava normal toda a safadeza que veio a público. Outros ponderam que um homem como Vaccari não pode ficar na mão — e é, diga-se, o que sua família também acha.

Lula e seus entorno também não querem nem ouvir falar nas culpas do partido. Acham que é o caminho mais curto para que ele próprio vá parar na cadeia. Afinal, se a estrutura partidária admitir os crimes, admite-se também o que para muita gente já é óbvio hoje: não havia como Lula não saber. O problema é que assumir as falcatruas abrirá caminho para novas investigações.

Quem sou eu para dar conselho a petistas, não é? Uma coisa é certa: ou Vaccari, Dirceu e Vargas fecham acordos de delação premiada ou vão mofar na cadeia. O Brasil de 2016 não é mais o de 2005, aquele no qual o PT conseguiu recuperar a sua reputação e se eleger para a Presidência da República mais três vezes.

No Brasil de 2016, o PT não tem mais futuro. Tem apenas um passado que leva à cadeia.

Brasil tem 35 partidos, mas sem compromisso algum com eleitorado

Reportagem de Pedro Venceslau, Daniel Brumati e Ricardo Galhardo, O Estado de São Paulo, edição de domingo, destaca com nitidez o quadro partidário brasileiro: há partidos demais, são 35 ao todo, nenhum deles com qualquer compromisso junto ao eleitorado e também sem qualquer conteúdo ideológico capaz de diferenciá-los entre si. São partidos demais para atividades políticas de menos. O último a ser criado, revela a reportagem, foi o partido da Mulher Brasileira, setembro de 2015. Pela legislação, basta uma legenda possuir um deputado federal para ter acesso à divisão do fundo partidário e o direito de acesso a distribuição de tempo nas emissoras de televisão.

Comparando-se este quadro com o número de partidos existentes em outros países, verifica-se o absurdo de tão elevada pluralidade de siglas. Na quase totalidade elas representam os personagens de suas próprias direções, seus interesses, suas reivindicações junto ao poder. São fechadas em si mesmo, embora se apresentem nas telas da televisão como abertas a qualquer eleitor ou eleitora. Chegam ao ponto de negociar os espaços que possuem na TV.

Os menores partidos oferecem a candidatos das maiores legendas coligações que incluem a oferta de três inserções diárias de 30 segundos cada uma no universo da comunicação.


Por aí se vê e se presume o que está dentro da embalagem da oferta. Mas não é somente esta a questão. É que não defendem interesses da população em geral, não se mostram dispostos a acolher reivindicações populares legítimas. Têm perfil nada reformista. Se o tivessem, estariam lutando permanentemente contra, por exemplo, a desvalorização dos salários, sintetizada no seu reajuste abaixo dos níveis inflacionários.

Por falar nisso, qual a palavra que qualquer partido tenha proferido em relação a não reposição da inflação de 10,6%, registrada pelo IBGE em 2015, nos vencimentos dos que trabalham? Se estivessem ao lado do povo, como deveriam estar, já que o voto é a fonte de sua existência, teriam se manifestado maciçamente contra a corrupção que inundou o país nos últimos doze anos.
O silêncio diante desses temas é uma confissão de culpa, pelo menos por omissão. E a omissão tem efeito destruidor, porque sem a voz das ruas representada no sistema político nenhuma reforma consegue decolar. Há contradições marcantes. Uma delas a doação pela empreiteira Queiroz Galvão à deputada Jandira Feghali do PC do B.

Das duas, uma: ou Jandira Feghali não representa na realidade a ideia comunista ou a Queiroz Galvão sequer leva a sério as posições atribuídas à extrema esquerda. Uma terceira perspectiva, entretanto, deve ser acrescentada: a evaporação da ideia central do comunismo político, ou seja o fim do projeto de que seria possível uma ditadura do proletariado.

O proletariado se pudesse chegar ao poder deixaria de ser proletário, como aconteceu com o ex-presidente Lula e com uma grande corrente que existia nos quadros do PT. Lula e as correntes petistas, uma vez no poder tornaram-se capitalistas. E pior: passaram a representar o capitalismo absolutamente conservador. A ideia da reforma foi para o espaço. Mas esta é outra questão.

O essencial é a desnecessidade de um número tão grande de siglas participando da divisão anual do fundo partidário hoje em torno de 800 milhões de reais por ano.

O uso do fundo partidário tem dado margem a investigações seguidas do Tribunal de Contas. Porém o mais importante é a prestação de contas do que fazem os partidos aos eleitores e eleitoras do Brasil. Feita uma radiografia do quadro, em matéria de representatividade o resultado será pouco maior que zero.

Recesso de ideias

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Esse é um dos dramas que vive o presidente interino Michel Temer diante da permanente escolha a que se acha obrigado para decidir sobre caminhos a tomar e, assim, impulsionar o crescimento, retomar o emprego, equilibrar o balanço fiscal e tornar a produção nacional competitiva na disputa dos mercados interno e externo pela exportação de nossas commodities e dos nossos manufaturados. Obviamente, tudo sem ressuscitar a inflação.

Essa é uma parte de sua rotina diária, nos sete dias da semana. Outros momentos ele gasta tentando construir apoio na Câmara e no Senado, sem se esquecer de que o TSE se mantém aberto, em plantão de 24 horas, de todos os dias, dando boas-vindas às tão desejadas provas que suportarão (ou não) a cassação da chapa Dilma/Temer, eleita em 2014. Nada invejável, mesmo sabendo-se que Michel Temer, como vice, acordou todos os dias dos últimos anos com a esperança de se sentar na cadeira de Dilma, definitivamente.


Esperou, operou para tal, mas nunca imaginou que o aguardava esse cipoal de dificuldades que se tornou o governo da República. Temer, como vice-presidente e dono do PMDB, reforçou todos os dias a importância do seu partido na aprovação das medidas que interessaram o governo Dilma; acostumou sua base ao jogo do dá-lá-toma-cá, que seu partido pratica como nenhum outro; liderou à distância as opções do PMDB; desprezou o restante dos demais partidos sempre que a equação se fechava somente com os votos do PT e do próprio PMDB. Mas agora, na cadeira e com a caneta, a história se revelou bem outra.

O PT não o apoia, o PMDB se mostra dividido em acampamentos com bandeiras pró-Renan, Jucá, Requião, Sarney (pasmem) e até Eduardo Cunha (ainda solto); aquele grupo, que se habituou chamar de oposição, segue hibernado, sem nada produzir, nada propor, nada oferecer. Está na muda, por estratégia, especialmente no momento em que vêm se destampando na imprensa delações que atingem no peito nomes identificados como fortes líderes dessa facção. Ninguém sobra. A cena política transformou-se em uma grande arca de Noé: se tem bicho na proa, tem também no convés.

Literalmente, seguimos à deriva, assistindo o esforço que se faz para verter a atenção da sociedade para as revelações de delatores donos de segredos e detalhes que poucos conheciam. Uma semana se gastou para saber o que pensava Tia Eron sobre se Eduardo Cunha é ou não dono de uma mixaria depositada na Suíça para custear compras de sua esposa. São temas importantes, mas diversionistas, e os problemas nacionais seguem pressionando.

Não dormem os juros cobrados pelos bancos, a criminalidade que se amplia por falta de políticas de segurança dos governos, da mesma forma que seguem precários os serviços de saúde, a educação, a oferta de habitação. A cassação de Cunha, Tia Eron chegou e resolveu. Diante da inércia em que vivemos, quem se habilita a indicar caminhos?

Lula, o retorno

Nos subterrâneos do PT, onde são debatidos planos de sobrevivência para a manutenção do poder, ganha corpo a sugestão já lançada pela presidente afastada Dilma Rousseff. A cada denúncia saída das investigações da Operação Lava Jato envolvendo ex-ministros e figuras de destaque no partido, os companheiros concluem pela impossibilidade da volta de Madame pela falta de senadores em número suficiente, no prazo fatal de 180 dias. Assim, levaram Dilma a soltar o balão de ensaio da realização imediata de novas eleições presidenciais, com ela e Temer proibidos de concorrer.

Qual o objetivo? Apesar de se encontrar em má situação, prestes a cair no alçapão chamado Sérgio Moro, o candidato do PT continua sendo o Lula. Acima e além de outras alternativas, aliás, inexistentes, ele ainda dispõe de condições para sensibilizar boa parte dos contingentes que um dia o saudaram como o melhor presidente que o país já teve. Mesmo desgastado e arcabuzado pelos adversários, sem poder explicar suas incursões em torno da caverna do Ali Babá, se impulsionado por uma campanha milionária, o ex-presidente se posicionará como solução viável.


É bom não esquecer que seu nome aparece blindado diante das acusações de haver enriquecido entre apartamento tríplex, sítio luxuoso, contas bancárias mirabolantes e negócios realizados por empreiteiras, governos estrangeiros e obras financiadas por estatais comprometidas com a corrupção.

Uma vez lançada sua candidatura, admitida cada dia com mais intensidade, até por ele mesmo, a ninguém será dado iludir-se: poderá vencer. Ainda mais diante do leque de frágeis e desgastadas opções.

Para impedir esse pesadelo, só se Michel Temer barrar a hipótese de novas e imediatas eleições, coisa, aliás, de que seu governo vem tratando com carinho.

Aprovada emenda constitucional no sentido de novas e imediatas eleições, é bom que se preparem os adversários do Lula. Nos idos de 1950 verificou-se situação paralela: Getúlio Vargas preparou seu retorno em milimétrica operação que o reconduziu ao poder. A crise deu no que deu, revelando um país em frangalhos, mas o resultado eleitoral não deixou dúvidas. Há mais semelhanças, hoje, apesar das contradições: as elites próximas da derrota, as massas agitadas.

Queremos homens completos ou meros cidadãos?

A educação atual e as atuais conveniências sociais premiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença de banimento. Três quartas partes do Homem são proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os homens são criados para serem cidadãos e nada mais, tornam-se, primeiro, em homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis.
A insistência nas qualidades socialmente valiosas da personalidade, com exclusão de todas as outras, derrota finalmente os seus próprios fins. O atual desassossego, descontentamento e incerteza de propósitos testemunham a veracidade disto. Tentamos fazer homens bons cidadãos de estados industriais altamente organizados: só conseguimos produzir uma colheita de especialistas, cujo descontentamento em não serem autorizados a ser homens completos faz deles cidadãos extremamente maus. Há toda a razão para supor que o mundo se tornará ainda mais completamente tecnicizado, ainda mais complicadamente arregimentado do que é presentemente; que graus cada vez mais elevados de especialização serão requeridos dos homens e mulheres individuais. O problema de reconciliar as reivindicações do homem e do cidadão tornar-se-á cada vez mais agudo. A solução desse problema será uma das principais tarefas da educação futura. Se irá ter êxito, e até mesmo se o êxito é possível, somente o evento poderá decidir.
Aldous Huxley

Conjunção carnal das letrinhas

No dia 15, agendei-me para ir ao centro de Porto Alegre tratar de um assunto na Secretaria Municipal da Fazenda. O táxi não conseguiu chegar nem perto. A região central e seu entorno estavam bloqueados em indescritível engarrafamento. Segui a pé. Diante da secretaria, uma tenda e um carro de som tocavam pagode. Pequeno grupo de funcionários ocupava a via e uma grande faixa afirmava com admirável senso de humor: "Essa crise não é nossa!". Meninos, eu vi!

A poucos metros, defronte à agência do Banco do Brasil, o distinto público era informado de que o governo Temer, quando propõe que os fundos de pensão (esses que as gestões petistas quebraram) tenham administração profissional e conselheiros independentes, não partidários, está pretendendo privatizar e age contra o interesse de seus participantes.


Na Assembleia Legislativa, um grupo de supostos estudantes retirava-se do prédio que invadira dois dias antes. No Centro Administrativo do Estado, professores mantinham-se no edifício que haviam invadido na segunda-feira anterior. Estado afora, mais de uma centena de escolas continuavam tomadas por pequenos grupos de professores e estudantes, como parte de uma ação orquestrada. Tudo coincidência? Fruto indigesto do acaso? Claro que não. Trata-se de uma conjunção carnal. O descontentamento com o impeachment uniu-se ao oportunismo ideológico dos demais partidos revolucionários.

Examinemos por partes esse roteiro, começando pela piada emplacada diante da prefeitura. "Essa crise não é nossa!". Em que país vizinho vivem aqueles manifestantes? A qual cidade estrangeira, próxima a Porto Alegre, servem tais funcionários? Onze milhões e meio de desempregados, inflação reduzindo o poder de compra de toda a população, empresas fechando as portas, economia encolhendo para além do mais negativo registro histórico, receita fiscal em queda, e eles se consideram cidadãos de uma bolha onde, por vontade do "coletivo", a crise não está autorizada a entrar. Disse-me um dos guardiões da porta do prédio a quem expus meus direitos de ser atendido e de livre movimentação na cidade: "Se não fizermos isso, politicamente não se consegue nada". Politicamente — palavrinha mágica. "Conheço bem as letrinhas dessa política", respondi.

Diante do Banco do Brasil, as mesmas letrinhas armavam o velho truque de atribuir aos outros os próprios erros. O governo petista e as administrações sindicalistas e partidárias servis, entre outros abusos, usaram recursos dos fundos de pensão para os fracassados delírios do pré-sal e das empresas campeãs. Em alguns casos, essa conta vai para todos. Mas para as letrinhas em conjunção carnal, quem pretende meter a mão nos fundos é o novo governo. Então tá.

Malgrado as portas fechadas e aferrolhadas, não havia como esconder ao conhecimento público o caráter político e ideológico da invasão das escolas. Ainda que tratadas eufemisticamente pela mídia como "ocupações", o que ocorreu em todo o Estado foram invasões. Pequeno grupo de alunos e um número ainda muito menor de professores agiram a serviço da causa num indisfarçado treinamento de militância. Qual causa? A causa das letrinhas, ora essa: envenenar as mentes juvenis com a ideologia do atraso econômico e social, desconstituir os poderes, corromper os conceitos de democracia e liberdade, atacar a autoridade dos pais, romper com a ordem. "A escola é nossa!", proclamavam os invasores, mão canhota erguida, punho cerrado. É? Ganharam-na de quem? Quem acha que esses alunos e professores apenas brincam de "cidadania", saiba que não é brincadeira e que o objetivo disso, lá adiante, é revolução.

Se um partido político orienta e dá suporte para que professores motivem alunos a invadir escolas, infringindo a lei e frustrando o direito de acesso dos demais às atividades escolares, esse partido e seus agentes no episódio devem ser investigados e responsabilizados. É notória, neste caso, a atuação de estudantes profissionais e de docentes a serviço das letrinhas em conjunção. Pautas de reivindicação são meras plataformas para o que consideram sua tarefa política e partidária. Como cidadão, rejeito que o dinheiro dos impostos que pago sirva para remunerar tais ativistas e suas atividades.

Preparem-se para a onda dos chatos

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Lula é líder, tem carisma, é o grande símbolo do petismo. Não será atingido sem escândalo, sem provocar a ira de seus seguidores, por mais justo que se comprove o motivo de qualquer ação legal que se lhe mova. Não devemos esperar dias livres de protestos e de declarações de gente séria sobre a hipocrisia de condenar governistas que ordenham empresas estatais em seu benefício e do partido, enquanto todos nós já violamos a lei jogando papel de bala e guimba de cigarros na calçada. Serão chatíssimos
Carlos Brickmann/

Com desemprego a pino, CUT discute plebiscito

O formidável no Brasil é que, no fim, tudo se incorpora ao espetáculo. Dilma Rousseff diz que deseja voltar ao Planalto para conspirar contra o próprio mandato. Ela avisa que, derrotado o impeachment, vai propor ao Congresso um plebiscito sobre a antecipação das eleições presidenciais. E não se viu uma alteração no roteiro do processo que corre no Senado ou no semblante dos senadores pró-Dilma na comissão do impeachment. O show continuou.

Súbito, o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, que torcia o nariz para a proposta, esclarece que mudou de opinião depois de trocar um dedo de prosa com Lula. Não acredita na viabilidade do plebiscito eleitoral. Mas tentará convencer a CUT a abraçar a causa. “A presidenta não pode ficar engessada'', diz ele. “A CUT não vai defender o plebiscito no site. Mas, se essa é única esperança a que podemos nos apegar, vamos nela.''

Supremo paradoxo: há no Brasil uma legião de quase 12 milhões de desempregados. E a maior central sindical do país desperdiça o seu tempo num debate sobre a antecipação da sucessão presidencial, uma ideia de materialização tão improvável quanto o retorno do governo empregocida de Dilma. E não se ouve nenhuma vaia. O show continua.

A decepção na cidade fluminense que esperava prosperar com o petróleo

A cidade de Itaboraí, no Estado do Rio de Janeiro, viveu anos de animação e expectativa, esperando uma prosperidade que ainda não chegou.

Em 2008, quando começou a construção do Complexo Petroquímico da Petrobras (Comperj), a perspectiva era de que se criassem milhares de empregos ligados ao setor em Itaboraí, o que atraiu investimentos e trabalhadores de todo o país.

Mas uma queda no preço internacional do petróleo, os altos custos da estrutura e os escândalos de corrupção investigados pela operação Lava Jato fizeram esse sonho ruir: parte das obras do Comperj foi suspensa, e parte dos trabalhadores do local enfrentou ondas de demissões.

O Comperj - formado por duas refinarias, uma planta petroquímica e uma de gás natural - deveria ter ficado pronto em 2011, segundo a Agência Brasil.

O espaço teria capacidade de refinar 165 mil barris de petróleo por dia. O objetivo seria atender ao crescimento da demanda de derivados no Brasil, como óleo diesel, nafta petroquímica, querosene de aviação, coque e GLP (gás de cozinha).

Mas atualmente a única obra com previsão para ser concluída (em 2017) é a planta de beneficiamento de gás.

Empresas envolvidas na construção das refinarias foram investigadas na Operação Lava Jato, que apura pagamentos de propina e políticos. A investigação levou à prisão donos de construtoras e ex-dirigentes da Petrobras - como o então diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto da Costa.

No último mês de março, ainda na gestão anterior da empresa - Pedro Parente, novo presidente da estatal, assumiu o cargo em maio -, a Petrobras informou que o Comperj só deve entrar em funcionamento no ano de 2023.

Sistema carcomido

Constituem erro analítico os diagnósticos taxativamente apocalípticos. Um médico pode diagnosticar um paciente como terminal e, por alguma particularidade metabólica, o organismo deste paciente vir a apresentar uma capacidade de regeneração não prevista, mas própria do instinto de sobrevivência. O mesmo ocorre com diagnósticos políticos e econômicos. Todavia o “histórico do paciente” é sempre uma variável a ser considerada.

No caso brasileiro, os diagnósticos terminais não se comprovaram, mas o histórico é ruim. Este aponta para mutações constantes, transplantes e amputações, que se fazem necessários em momentos de crise aguda. A título de exemplo, temos o “transplante” do federalismo americano na Proclamação da República e a “amputação” do multipartidarismo em 1966.

Não se pode deixar de observar que a atual crise inspira cuidados, mas apresenta diagnóstico oposto entre os próprios cientistas políticos. Alguns falam em golpe, outros falam em pleno funcionamento das instituições. Há, no entanto, diagnósticos que permeiam as “especialidades” e procuram uma visão mais “holística”.



Estes diagnósticos partem do princípio de que estamos diante de uma falência do sistema de representação política, tendo em vista que o financiamento ilícito abrange todos os partidos, gerando tanto a atrofia da relação entre Executivo e Legislativo, por meio da implosão da engrenagem do presidencialismo de coalizão, quanto a necessidade de um poder moderador e o protagonismo dos atores sem mandato, mais especificamente da Polícia Federal e do Ministério Público.

O dinheiro ilícito para o financiamento dos partidos e das campanhas — amplamente divulgado pelos áudios e delações — mostra um sistema carcomido, tal qual um quadro de infecção generalizada. Mesmo a provável “amputação” do PT através do impeachment, como já mencionei em outros artigos, não é suficiente para sanar um organismo já contaminado pelo parasitismo de 30 anos do PMDB, que foi sócio majoritário de todos os governos pós-1990.

Diante desse histórico, seria demasiadamente ingênuo acreditar que a reforma política possa ser o “tratamento” capaz de purificar o organismo e mudar seu metabolismo de tal forma que este adquira imunidade completa contra a corrupção. Resta saber qual será a fórmula pela qual nosso sistema absorverá tantos descalabros e produzirá respostas compatíveis com um paciente que convive com uma doença incurável, mas que pode ser mantida sob controle.

Gustavo Müller