segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brasil tem 35 partidos, mas sem compromisso algum com eleitorado

Reportagem de Pedro Venceslau, Daniel Brumati e Ricardo Galhardo, O Estado de São Paulo, edição de domingo, destaca com nitidez o quadro partidário brasileiro: há partidos demais, são 35 ao todo, nenhum deles com qualquer compromisso junto ao eleitorado e também sem qualquer conteúdo ideológico capaz de diferenciá-los entre si. São partidos demais para atividades políticas de menos. O último a ser criado, revela a reportagem, foi o partido da Mulher Brasileira, setembro de 2015. Pela legislação, basta uma legenda possuir um deputado federal para ter acesso à divisão do fundo partidário e o direito de acesso a distribuição de tempo nas emissoras de televisão.

Comparando-se este quadro com o número de partidos existentes em outros países, verifica-se o absurdo de tão elevada pluralidade de siglas. Na quase totalidade elas representam os personagens de suas próprias direções, seus interesses, suas reivindicações junto ao poder. São fechadas em si mesmo, embora se apresentem nas telas da televisão como abertas a qualquer eleitor ou eleitora. Chegam ao ponto de negociar os espaços que possuem na TV.

Os menores partidos oferecem a candidatos das maiores legendas coligações que incluem a oferta de três inserções diárias de 30 segundos cada uma no universo da comunicação.


Por aí se vê e se presume o que está dentro da embalagem da oferta. Mas não é somente esta a questão. É que não defendem interesses da população em geral, não se mostram dispostos a acolher reivindicações populares legítimas. Têm perfil nada reformista. Se o tivessem, estariam lutando permanentemente contra, por exemplo, a desvalorização dos salários, sintetizada no seu reajuste abaixo dos níveis inflacionários.

Por falar nisso, qual a palavra que qualquer partido tenha proferido em relação a não reposição da inflação de 10,6%, registrada pelo IBGE em 2015, nos vencimentos dos que trabalham? Se estivessem ao lado do povo, como deveriam estar, já que o voto é a fonte de sua existência, teriam se manifestado maciçamente contra a corrupção que inundou o país nos últimos doze anos.
O silêncio diante desses temas é uma confissão de culpa, pelo menos por omissão. E a omissão tem efeito destruidor, porque sem a voz das ruas representada no sistema político nenhuma reforma consegue decolar. Há contradições marcantes. Uma delas a doação pela empreiteira Queiroz Galvão à deputada Jandira Feghali do PC do B.

Das duas, uma: ou Jandira Feghali não representa na realidade a ideia comunista ou a Queiroz Galvão sequer leva a sério as posições atribuídas à extrema esquerda. Uma terceira perspectiva, entretanto, deve ser acrescentada: a evaporação da ideia central do comunismo político, ou seja o fim do projeto de que seria possível uma ditadura do proletariado.

O proletariado se pudesse chegar ao poder deixaria de ser proletário, como aconteceu com o ex-presidente Lula e com uma grande corrente que existia nos quadros do PT. Lula e as correntes petistas, uma vez no poder tornaram-se capitalistas. E pior: passaram a representar o capitalismo absolutamente conservador. A ideia da reforma foi para o espaço. Mas esta é outra questão.

O essencial é a desnecessidade de um número tão grande de siglas participando da divisão anual do fundo partidário hoje em torno de 800 milhões de reais por ano.

O uso do fundo partidário tem dado margem a investigações seguidas do Tribunal de Contas. Porém o mais importante é a prestação de contas do que fazem os partidos aos eleitores e eleitoras do Brasil. Feita uma radiografia do quadro, em matéria de representatividade o resultado será pouco maior que zero.

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