No caso brasileiro, os diagnósticos terminais não se comprovaram, mas o histórico é ruim. Este aponta para mutações constantes, transplantes e amputações, que se fazem necessários em momentos de crise aguda. A título de exemplo, temos o “transplante” do federalismo americano na Proclamação da República e a “amputação” do multipartidarismo em 1966.
Não se pode deixar de observar que a atual crise inspira cuidados, mas apresenta diagnóstico oposto entre os próprios cientistas políticos. Alguns falam em golpe, outros falam em pleno funcionamento das instituições. Há, no entanto, diagnósticos que permeiam as “especialidades” e procuram uma visão mais “holística”.
O dinheiro ilícito para o financiamento dos partidos e das campanhas — amplamente divulgado pelos áudios e delações — mostra um sistema carcomido, tal qual um quadro de infecção generalizada. Mesmo a provável “amputação” do PT através do impeachment, como já mencionei em outros artigos, não é suficiente para sanar um organismo já contaminado pelo parasitismo de 30 anos do PMDB, que foi sócio majoritário de todos os governos pós-1990.
Diante desse histórico, seria demasiadamente ingênuo acreditar que a reforma política possa ser o “tratamento” capaz de purificar o organismo e mudar seu metabolismo de tal forma que este adquira imunidade completa contra a corrupção. Resta saber qual será a fórmula pela qual nosso sistema absorverá tantos descalabros e produzirá respostas compatíveis com um paciente que convive com uma doença incurável, mas que pode ser mantida sob controle.
Gustavo Müller
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