quarta-feira, 30 de maio de 2018

Brasil desde ontem e hoje


Deus é brasileiro

Vivendo os fatos da semana — esses eventos que, no caso brasileiro, estão sempre em busca de destino ou gaveta histórica que possa agasalhá-los porque, como as meias furadas, eles denunciam a indigência do dono do sapato — não sei se o meu título deve terminar com reticências (promotores de algo mais), com um ponto de exclamação (aprovativo); ou com o de interrogação perguntador e e ambíguo.

Vejam como surge:

Deus é brasileiro...

Deus é brasileiro!

Deus é brasileiro?

Poesia ou reza...
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Fui levado pela vida a uma saudável descrença — um ateísmo brasileiro que acredita “um pouco”. O quanto basta, diz-me alguém, para se ter a imensa fé de um grão de mostarda.

Não presumo mais um além povoado de anjos, mas convivi com eles na forma dos meus filhos e netos — e na presença das pessoas que amo. Posso não crer mais em anjos de procissão ou de carnaval, mas jamais deixei de topar com um anjo da guarda, graças (entre muitas evidências) a um filme de Frank Capra (“A felicidade não se compra”), visto quando eu tinha meus 13 anos.

O anjo guardião da minha infância e adolescência atribuladas pelas mudanças de uma Maceió, uma Niterói, uma Juiz de Fora, uma São João Nepomuceno e uma Copacabana “Princesinha do Mar” (na voz de Dick Farney) parte da “Cidade Maravilhosa” que foi o Rio de Janeiro.

Essas cidades iam e vinham. O resultado tem sido uma vida vivida mais pelo presente do que pelo passado numa só rua, colégio, bairro e, eis o essencial no Brasil, turma.

Tenho uma permanente sensação de estrangeirismo por ser um canhoto de Niterói, singularidades agravadas pelo choque cultural harvardiano nos anos 60, pelas temporadas nos Estados Unidos, sem esquecer os interlúdios parisienses e na Cambridge que os ingleses dizem ser a verdadeira.

Por fim, mas não por último, há a vida motivada pelo permanente aprendizado da antropologia social dos anthtropological blues, ouvidos por meio do requerimento paradoxal de viver não apenas entre os nativos, mas com eles. Por causa da contradição em termos que é o observar-e-participar, verifico, nesse apanhado intrometido do por onde andei (pois meu objetivo apenas era falar da greve dos caminhoneiros e, como todo mundo, falar mal do governo) — devo igualmente incluir os quase dois anos nos quais fui um intrusivo hóspede dos povos tribais gavião e apinayé. Tempos de uma vida paralela, na qual eu fui uma simples e dolorosa consciência individual que tudo anotava.

Em todos esses lugares, vivi os ritos de passagem que os estrangeiros merecem: levei trote e fui apupado porque era sempre o “de fora”. Nos Estados Unidos, passei de “Matta” a “DaMatta”. Um sobrenome mais plausível, caso escolhesse ser médico porque, como me dizia um amado Tio Mário, ninguém iria querer ser socorrido por um “Doutor Mata!”.

Ganhei também, em ritual solene, nomes de prestígio entre os chamados “índios”. Se, como ainda sabem alguns antropólogos, o nome tem muito que ver com a alma e a pessoa, eu (aos 81) ainda não sei bem quem sou!
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Jamais duvidei de que Deus era brasileiro até os anos 60. Tanto, que até duas décadas depois, eu só usei a interrogação diante do autoritarismo fascistoide do regime militar quando fui depor num daqueles tribunais como testemunha de defesa. Ali, como nestes nossos tristes tempos, tenho interrogado: “Meu Deus! — Deus é mesmo brasileiro?”

Nas crises políticas e nas greves rotineiras que se repetiam nos anos 60 e 70, eu ficava entre a inocente assertiva etnocêntrica de que Deus, apesar de tudo, era mesmo brasileiro; mas oscilava um pouco para as reticências indicativas de um Deus um tanto duvidoso de sua nacionalidade.
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Outro dia, recebi do o meu ex-mentor Dick Moneygrand um longo SMS perguntando por que eu havia deixado o paraíso universitário americano. Sendo, porém, um intelectual de boa-fé, Dick, na mesma mensagem, lembrou-se de Trump e foi ao fundo do próprio poço. “Começo a suspeitar que não podemos mais ser o povo eleito moderno — aquele que afirma no seu dinheiro: ‘Confiamos em Deus’.”
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Caros leitores, eu reitero que queria escrever sobre a greve, mas meu inconsciente não deixou. Ademais, todo mundo falou com mais informação e sapiência que eu. No desalento, apelei para o infalível “Deus é brasileiro” convencido de que Deus continua brasileiro, mas foi para Portugal....

PS: Estou consternado pela morte de Alberto Dines, jornalista consciente do seu papel e autor de um livro realmente importante sobre Stefan Zweig, um grande escritor europeu que terminou sua vida no Brasil. Sobre Philip Roth, perdi um mestre da raríssima arte de estranhar sua própria sociedade e um companheiro de reclamações.

Roberto DaMatta

O que penso sobre a greve dos caminhoneiros

Engana-se quem pensa que essa greve traz à população algo que não seja caos. Ela é pelo Diesel e não reduzirá nem o frete.

Essa frase, que postei dia 26/05 nas minhas páginas do Facebook, suscitou inúmeros comentários. A maioria expressando desagrado. Era previsível porque pesquisa feita pelo Instituto Methodus informava, na véspera, que 86% da população apoiava a greve. No entanto, não tenho o hábito de auscultar a opinião pública para decidir o que devo escrever ou falar. Se fosse fazê-lo, não teria escrito ou dito coisa alguma quando poucos, muito poucos, combatíamos as ideias de esquerda e o petismo na segunda metade dos anos 80.

Estou convencido, pela simples aplicação da razão aos fatos, de que é preciso distinguir as motivações. Uma coisa é a greve dos caminhoneiros, com apoio dos transportadores e produtores rurais interessados em reduzir o preço do diesel. Atendida essa reivindicação e isentos do pagamento de pedágio quando vazios, não fica um caminhão no acostamento. Ou alguém acredita que seus condutores continuarão parados até que o país tome jeito, que o Estado encolha, que os impostos diminuam, que a segurança aumente, que as estradas melhorem?

Outra coisa, então, são as pautas nacionais, sobre as quais muito tenho escrito e das quais poucos se têm ocupado. Quanto mais terrível for a situação no dia 7 de outubro, quanto maior o caos, mais receptiva estará a massa de eleitores a quem lhe oferecer, em 7 de outubro, o conhecido prato feito de mentira, populismo, corporativismo, estatismo e, claro, subsídios públicos. Não vislumbro a menor chance de que em tal situação a maioria do eleitorado decida optar por uma política econômica liberal. Ao contrário, ela se inclinará para o lado de quem lhe oferecer doses mais robustas do mesmo veneno através da mão falsamente dadivosa do Estado. Sou contra o plantio do caos.

Comece a falar em privatização e fim do monopólio e veja o que acontece. Quais as demandas da greve da Federação Única dos Petroleiros (FUP) programada para quarta feira? Demissão do presidente da Petrobras, retirada das Forças Armadas das refinarias onde garantem o abastecimento dos caminhões, manutenção dos empregos, “não às privatizações” e ao “desmonte da Petrobras”. Ah! Enquanto a empresa era vampirizada pelo governo petista que a transformou em objeto de escândalo e escárnio mundial, a turma da FUP, agora grevista, posava para fotos ao lado de Lula e Dilma. Agora, faz greve e se une aos caminhoneiros... “para o bem do Brasil”. Deve haver apoiador do caos aplaudindo a greve desses hipócritas porque, afinal, ela ajuda o caos, certo?

A pluralidade de expectativas em relação aos caminhoneiros é uma evidência de que ela está sendo vista como uma espécie de Bombril com usos contraditórios. Ora é uma porta aberta para a “intervenção militar constitucional”, ora uma oportunidade para o "Fora Temer", ora uma chance de criar clima para a volta da esquerda ao poder, ora uma oportunidade de acabar com os males do estatismo e ora uma oportunidade de buscar soluções junto ao Estado, ora servirá para acabar com o monopólio do petróleo e ora servirá para preservar definitivamente o monopólio. Entendam-se, porque eu não entendo.

Ponderação final: se você está convencido que a greve é boa para o país, que o “Fora Temer” petista que vi em caminhões, vindo ontem de Santa Maria, é uma boa pauta, que o agravamento do caos institucional fará o que até agora não foi feito, responda para você mesmo, a quatro meses de eleições gerais, qual o grupo político que colherá maior vantagem dele com vista aos próximos quatro anos de poder no país?

Percival Puggina

Imagem do Dia

Los Cuernos, (Chile)

Temer desligou-se perigosamente da realidade

Michel Temer trabalha com uma verdade paralela. Diz o que lhe convém, mesmo que os fatos o desmintam. Nesta terça-feira, porém, exagerou. Discursando para investidores estrangeiros, o presidente disse: “Atingimos esse que era o nosso objetivo número um: recolocar o Brasil nos trilhos.” A metáfora ferroviária, utilizada num instante em que os caminhoneiros empurraram o governo para o acostamento, desrespeita a inteligência alheia. Temer ainda não notou. Mas foi arrastado para uma situação dramática. Trafega a poucos milímetros do desfiladeiro.

Para Temer, seu governo enfrenta “dificuldades naturais em um processo de desenvolvimento sustentado.” Mas tudo continua bem porque “temos um projeto” reformista. Nenhuma palavra franca e direta sobre o caminhonaço que transtorna o país há nove dias. O orador não pronunciou palavras como “caminhão” ou “pararalisação”. Sobre a encrenca que monopoliza o noticiário, fez apenas referências indiretas e autoelogios. Temer é o negociador mais habilidoso que Temer já conheceu

“Aqueles que rejeitam o diálogo e tentam parar o Brasil, nós exercemos autoridade para preservar a ordem e os direitos da população”, disse Temer, para espanto de um país que, semi-paralisado, enxerga o vácuo na cadeira presidencial. “Antes disso, o diálogo é fundamental para o exercício do que a constituição determina. Ou seja, a democracia plena no nosso país.”

Temer teve a oportunidade de dialogar com os caminhoneiros e o baronato do setor de transporte de cargas. Desde outubro de 2017, negligenciou três avisos que chegaram ao Planalto por escrito. Deu-se, então, o bloqueio sem precedentes de estradas, num movimento que sequestrou a paz dos brasileiros. Zonzo, Temer pagou o resgate com um pacote 100% feito de déficit público.

Embora esteja imprensado contra a parede, o presidente acha que é protagonista de um processo de negociação. Com a credibilidade rente ao piso, ele se considera um portento. Para Temer, o único problema existente no país é a cegueira alheia: “Alguns confundem —quero dizer isso em letras garrafais— a vocação para o diálogo com eventual leniência política ou fraqueza política. Na verdade, é o contrário. O diálogo é a essência da boa política e da democracia, é, aliás, a sua fortaleza.”

O problema de políticos habituados a operar com a meia-verdade é que, nos momentos mais críticos, eles privilegiam sempre a metade que é mentirosa. Quando não sabe o que dizer, Temer recorre à empulhação. O truque perdeu a serventia. O inquilino do Planalto deveria firmar consigo mesmo um pacto básico: o de não dizer asneiras. O silêncio não resolve o problema. Mas evita que a plateia fique chocada com a constatação de que o presidente da República desligou-se perigosamente da realidade.

Realidade x Perspectiva

Infelizmente, parece que o Brasil se transformou no país onde a perspectiva é pior do que a realidade. Por incrível que pareça.

Nossa triste realidade todos conhecemos bem, agora agravada pelo inaceitável caos provocado pela greve dos caminhoneiros, impasse pessimamente administrado pelo governo: corrupção generalizada, 14 milhões de desempregados, boa parte deles desistindo de buscar trabalho, mercadoria cada vez mais escassa, continuo empobrecimento da população já atingindo em cheio a classe media, que não consegue mais custear os estudos de seus filhos nas escolas privadas nem pagar o condomínio, infraestrutura sucateada, saúde em frangalhos, insegurança total, violência campeando, educação de baixo nível, economia rateando, dólar batendo recorde, bolsa caindo, etc., etc.

E dizem que nossa democracia está forte porque as instituições estão funcionando bem…


Cada vez menos brasileiros acreditam nisso. Basta ver as pesquisas de opinião, que revelam claramente que o povo está farto de tanta roubalheira, desmando, descaso com a coisa pública, falta de vergonha e respeito e que quer mudança, venha ela de onde vier.

Vejamos o lastimável estado atual das nossas instituições:

O executivo em estado terminal, fraco, sem apoio das “bases” para promover reformas, envergonhado e paralisado, vítima de denúncias, umas atrás das outras, envolvendo o Chefe da Nação, sua família, amigos e ministros mais próximos.

O legislativo seguindo fielmente a sua cartilha de legislar em causa própria, como fizeram agora demagogicamente seus integrantes aprovando de afogadilho projetos para aplacar a fúria dos donos das estradas, além de outras barbaridades como a criação do execrável fundo eleitoral. Nossos parlamentares não demonstram a menor intenção de olhar para os lados e ver que mais de 200 milhões de brasileiros esperavam que os representantes do povo cuidassem do povo, e não só deles. Agora, então, com Copa do Mundo e eleições, nem pensar.

O judiciário, cuja representação máxima é o Supremo Tribunal Federal, perdendo vertiginosamente seu prestígio e se transformando na maior fonte de insegurança jurídica.

Falando em STF, nunca entendi porque os personagens que o compõem se transformaram em imperadores, em ditadores (além de “celebridades e “pop stars”), fazendo o que bem entendem monocraticamente sem nenhum controle da sociedade. O ministro soltador geral da República acaba de consumar mais algumas de suas peripécias liberando mais um bando de criminosos, inclusive o Paulo Preto, o coitadinho que não merecia ficar preso mesmo tendo contas bancárias na Suíça de mais de mais de 34 milhões de dólares e de ser acusado de desviar milhões de reais das obras do Roboanel para beneficiar seus patrões tucanos entre eles o “ínclito” senador Jose Serra. Esta solerte manobra do prelado em causa aliviou a barra do tucanato, que estava morrendo de medo que o operador mor do seu propinoduto abrisse a boca a atirasse muita “sujeira” no ventilador.

E a perspectiva?

Olhando o quadro pré-eleitoral atual, dá para ter alguma esperança de que venhamos a eleger um verdadeiro estadista para o comando do Executivo? Como nos ensinou Benjamin Disraeli, primeiro ministro britânico do século 19, “estadista é o que pensa nas próximas gerações, político é o que pensa nas próximas eleições”. Entre os candidatos melhor posicionados, incluindo Lula, que ainda pode ser beneficiado por mais uma escandalosa manobra do STF que o torne elegível (convém não esquecer que dos 11 ministros do Supremo 7 foram nomeados pelo PT), é possível identificar o estadista que tanta falta está nos fazendo?

E o Congresso? As velhas raposas, inclusive as dezenas de postulantes que estão sendo investigados pela Lava Jato, alguns já transformados em réus, podem muito bem se reeleger e manter o foro privilegiado, já que da nossa grana que surripiaram (cerca de 3 bilhões de reais, entre fundo partidário e eleitoral) a maior parte vai ficar com elas mesmas, graças às manobras dos donos dos partidos políticos aos quais pertencem. Tenho a impressão de que a sonhada renovação que almejávamos irá pro brejo. Aqueles que pensavam que o parlamento seria purificado e que ficaria livre dos Renan Calheiros e Romeros Jucás desta vida já estão tirando o cavalinho da chuva e assumindo que este não passa de mais um sonho de uma noite de verão. Afinal, com um eleitorado de mais de 140 milhões que é obrigado a votar, grande parte dele pobre ou beirando a pobreza e analfabeta funcional, dá para esperar grandes revoluções cívicas? Não é querer demais que assim seja? Lembremo-nos de Ulisses Guimarães: “se vocês estão descontentes com o atual Congresso, esperem para ver o próximo”. Sua ameaça está em vias de se consumar mais uma vez.

E o poder judiciário? Quando haverá a renovação do “pretório excelso”, cujos integrantes, graças à Lei da Bengala, só se aposentam compulsoriamente aos 75 anos de idade? A idade média atual deles é 60 anos, os mais jovens sendo Alexandre de Moraes, nascido em 1968 e Dias Tofolli, que tem 50 anos e, que, portanto, poderá ficar por lá mais 25. Como a sociedade não consegue emplacar nenhum impeachment de ministros do STF, apesar de várias tentativas frustradas (ler artigo de Modesto Carvalhosa na Veja de 2 de maio), renovação da Suprema Corte fica para as calendas gregas…

Por essas e muitas outras, tudo indica que para o Brasil pior do que a realidade só a perspectiva.

Lamentavelmente.

OCDE: Brasil paga benefícios a família 'que não são pobres'

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu para 2% sua previsão de crescimento do PIB brasileiro neste ano, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira. Mas além da estimativa sobre a economia do país, a entidade também destacou um problema crescente detectado no pagamento de benefícios sociais, como as aposentadorias.

"Uma grande e crescente parte dos benefícios sociais no Brasil é paga a famílias que não são pobres", afirma o estudo, para o qual o sistema previdenciário atual é favorável a pessoas com renda mais alta. Segundo a entidade, o país deveria investir mais em programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e limitar aumentos daqueles que "na maioria da vezes" beneficiam a classe média.

Em suas projeções anteriores para a economia brasileira, divulgadas em fevereiro em um relatório específico sobre o país, a organização previa que o PIB cresceria 2,2% em 2018.

A estimativa da OCDE para o Brasil neste ano é menor do que a projeção do mercado: na última pesquisa Focus do Banco Central, divulgada após o início da greve dos caminhoneiros, a expectativa de expansão do PIB brasileiro, também reduzida, passou a ser de 2,37%.

Já o presidente Michel Temer disse que o Brasil deve fechar o ano com crescimento de 2% a 2,5%, "se Deus quiser".

A OCDE, no entanto, melhorou seus números em relação à economia brasileira no próximo ano.

O PIB do país deverá crescer 2,8% em 2019, segundo o estudo "Perspectivas Econômicas da OCDE". O documento, com previsões para a economia mundial, é publicado semestralmente.

Em fevereiro, no relatório específico sobre o Brasil, que não é membro da OCDE, a organização havia projetado expansão de 2,4% da economia em 2019. A estimativa era levemente superior à do estudo semestral anterior, de novembro, que previa avanço do PIB de 2,3% no próximo ano.

"A recuperação está se reforçando e o crescimento irá atingir 2,8% em 2019. Um sólido aumento do investimento reflete a melhoria na confiança graças às recentes reformas", diz a organização.

O estudo também afirma que "calibrar" os gastos públicos assegura forte potencial para tornar o crescimento econômico mais inclusivo e reduzir a corrupção.


De acordo com a OCDE, uma parte crescente do 15% do PIB gasto com benefícios sociais no Brasil é paga a famílias que não são de baixa renda.

No sistema de aposentadoria, a diferença entre benefícios e contribuições é desequilibrada e vantajosa para pessoas com renda mais alta, afirma a organização.

"Limitar aumentos futuros de benefícios sociais que na maioria das vezes beneficiam a classe média poderia financiar mais transferências de renda para os pobres, crianças e jovens, com um impacto mais forte na redução das desigualdades."

A OCDE afirma que o Bolsa Família "é um exemplo de sucesso" de programas de transferência de renda e ressalta que ele representa apenas 0,5% do PIB.

"Gastar mais com esse programa, aumentando os limites para ter direito e os níveis do benefício reduziria a pobreza e a desigualdade", diz o estudo.

O "crescimento inclusivo", com melhor acesso à educação, emprego, saúde e moradia, é um dos temas da reunião ministerial da OCDE que começa nesta quarta-feira e coincide com o lançamento do estudo da organização.

"Reforçar o foco nos gastos sociais para aqueles que mais precisam e redimensionar ineficazes isenções de impostos e subsídios para setores específicos da economia pode tornar os gastos públicos mais eficientes e mais inclusivos e frear oportunidades de corrupção", diz a OCDE sobre o Brasil.

No estudo, a organização se refere a gastos fiscais e subsídios para empresas do setor privado que criaram um terreno fértil para a corrupção, "sem nenhum benefício aparente para o bem-estar ou a produtividade".

Gente fora do mapa


O Maquiavel do iê-iê-iê

Num show em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, a orquestra executou os primeiros acordes de uma canção de muito sucesso desde os anos 1980, e o autor, Roberto Carlos, o rei do iê-iê- iê, permitiu-se uma introdução engajada. “Às vezes”, disse ele, “os fins justificam os meios. Meu carinho e meu respeito por todos os caminhoneiros que estão fazendo todo esse movimento. As causas que eles estão reivindicando com certeza não são causas só deles. São nossas causas. Meu abraço e meu carinho para esses nossos heróis caminhoneiros de todas as estradas. Para a gente realizar este show, por exemplo, temos o trabalho de caminhoneiros valentes. Caras que enfrentam coisas incríveis”. Em seguida, entoou os primeiros versos de uma canção de amor romântico descabelado, que tem tanto que ver com a saga “heroica” de seus personagens quanto a Marselhesa com a máquina de degolar do dr. Joseph-Ignace Guillotin.

O apoio de Roberto Carlos Braga, que era o alvo favorito dos engajados contra a ditadura militar por ser considerado o papa do estrelato “alienado” no Brasil, é algo a ser comemorado pelos “grevistas” das estradas como um feito realmente extraordinário. Até recentemente ele foi tão alheio a temas políticos que muitos atribuíam sua neutralidade suíça ao fato de se considerar realmente “rei” e, portanto, acima de meras querelas republicanas. Na verdade, imune a guerras que não dão lucro, como, por exemplo, pelos direitos humanos, ele sempre foi muito atento a causas que afetam seu patrimônio particular. Foi ao Senado com um grupo de estrelas defender a interferência estatal na atuação do Escritório Central de Arrecadação de Direitos (Ecad), na certa por sentir ameaçado seu naco no bolo autoral. Aderiu também à cruzada de famosos das artes para censurar biógrafos no mesmo Congresso Nacional, convencido de que incertos historiadores abelhudos não deviam ganhar rios de dinheiro à sua custa.

No ano passado, o prenome composto pelo qual ele zela muito, a ponto de processar para impedir o corretor imobiliário Roberto Cavalli de vender terrenos na praia do Conde, no litoral sul da Paraíba, usando as próprias iniciais, RC, foi citado falsamente em sites petistas. Segundo estes, ele teria dito no programa de Jô Soares que seria inaceitável o que está acontecendo com Lula e que o lugar do ex-dirigente sindical seria a Presidência da República. O portal boato.org desmascarou a fake news. Afinal, Jô não tinha mais um programa para chamar de seu e, ao contrário do que os apoiadores do petista disseminaram, o que se encontrou dele sobre a Lava Jato, cujas investigações já levaram Lula à cadeia após condenação em duas instâncias, foi chamar o juiz federal Sergio Moro de “maravilhoso”.

Agora o PT e a direita pitbull, que quer dois em um – Bolsonaro eleito presidente e intervenção militar – encontraram, enfim, uma declaração indiscutível em que novamente o criador da Jovem Guarda apoiou uma luta na qual a esquerda larápia e a direita truculenta se empenham com fervor. De verdade, o autor de Se Você Pensa meteu os pés pelas mãos. Sua homenagem aos heróis das redes sociais e novos veículos do “fora Temer” começa com o famoso lema comuno-fascista, que o georgiano Stalin viveu para confirmar no poder: “Os fins justificam os meios” – falsamente atribuído a Nicoló Maquiavel, conselheiro político, cujas pérolas da Realpolitik são populares há seis séculos.

Logo em seguida, Sua Majestade da guitarra elétrica decretou édito imperial conforme o qual as causas dos caminhoneiros são “as nossas”. De quem mesmo, cara-pálida? O decreto real merece um reparo que deve ser estendido aos noticiários nos meios de comunicação. A obstrução de pontos nas estradas de todo o País tem sido chamado de “greve”, definida no Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa como “cessação voluntária e coletiva do trabalho, decidida por assalariados para obtenção de benefícios materiais e/ou sociais, direitos trabalhistas, etc., ou ainda para se garantirem as conquistas adquiridas que, porventura, estejam ameaçadas de supressão”. Nos pontos de obstrução nas estradas (quebra da liberdade de ir e vir), reúnem-se, segundo os próprios participantes dos bloqueios, motoristas autônomos. Ou seja, que não trabalham para ninguém e, portanto, não fazem greves. A duração do movimento e sua pauta de reivindicações autorizam quem acredita que eles contem com apoio e infra-estrutura de transportadoras de cargas. Se for verdade, já é o caso de apontar a segunda ilegalidade, ou seja o locaute, aportuguesamento da expressão inglesa lock out, paralisação de patrões, proibida por lei..

O desgoverno federal tornou-se o principal responsável pelo caos gerado pelo desabastecimento de derivados de petróleo, que paralisou fábricas, aeroportos e transportes que não consomem diesel e centrais e mercados de frutas, verduras, carnes e hortaliças, por se ter mostrado incapaz de entender e reprimir à altura o terceiro crime cometido pelos soit-disants manifestantes: a chantagem. Na prática, uma espécie de sequestro em que os produtores, comerciantes e consumidores de outros derivados de petróleo e alimentos, incluindo o sr. Braga, somos vítimas, e não beneficiários eventuais das exigências de suas pautas.

Estes são os caminhoneiros autônomos, as transportadoras, as grandes empresas proprietárias de frotas que consomem preferencialmente diesel, cujo preço passou a ser subsidiado com a subtração de 46 centavos por litro. Os sacrifícios a que Temer se referiu em sua fala do trono no domingo serão não do governo, como disse, mas do contribuinte, que arcará com o pagamento do resgate no valor de R$ 13,5 bilhões, divididos em prestações nos sete meses que ainda restam ao desgoverno Temer.

A benemerência do constitucionalista de Tietê com o chapéu dos outros brasileiros, entre os quais 24 milhões de desempregados e desiludidos, atenderá às transportadoras, como ele fez questão de acentuar, retirando-as das listas das empresas que não terão desoneradas suas folhas de pagamento. Criará uma figura estranha à pretensa ideologia liberal da atual gestão, qual seja, a reserva de mercado dos fretes da Companhia de Abastecimento (Conab). E revolucionará a relação entre capital e trabalho com o estabelecimento de um tabelamento mínimo do frete, uma jabuticaba inacreditável em que o doutor Michel superará seus dois mestres nesse gênero de malabarismos: o colega José Sarney e a ex-titular do cargo Dilma Vana Rousseff, ambos já batidos pelo discípulo no quesito impopularidade extrema.

Em favor de RC, o Único, pode-se dizer que suas vantagens pecuniárias, com o aumento da circulação da canção O Caminhoneiro, não podem ser comparadas nem com esses benefícios citados nem com os outros, de natureza política. O ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba e consegue fazer-se ouvir do lado de fora da cadeia sempre que é visitado por algum companheiro, criticou a maneira como o desgoverno Temer tem conduzido a “greve” dos caminhoneiros contra o aumento no preço dos combustíveis e que paralisou o país ao longo da semana. Segundo o líder da oposição na Câmara, José Guimarães (PT-CE), Lula lhe disse: “A que ponto chegamos, o preço da gasolina, uma greve deste porte, cadê o governo, o governo não faz nada?”. Não é mesmo emocionante?

De Lula, contudo, não se podia esperar nada diferente. O mesmo não se pode dizer de Eunício Oliveira, presidente do Senado e correligionário do presidente, que se manifestou contra a política de preços da Petrobrás, à qual atribuiu a crise. Também pudera: o cidadão é candidato à reeleição e seu MDB é um dos 24 partidos que, sob a liderança do presidenciável Ciro Gomes, do PDT, quer reeleger o governador petista do Ceará.

O oportunismo populista deve ser considerado estranho na voz de Roberto. O mesmo se pode dizer do vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima, que rasgou os discursos liberais de seu partido, o PSDB, ao pedir a cabeça de Pedro Parente pelo crime de estar trabalhando corretamente para evitar a falência da Petrobrás, empreendida pela dupla Lula-Dilma. Ou da governadora do Paraná, Cida Borghetti, mulher do ex-ministro da Saúde de Temer, Ricardo Barros, ao declarar que no seu Estado não permitirá que tropas desmanchem os piquetes dos recalcitrantes praticantes dos crimes continuados de obstrução à mobilidade, garantida pela Constituição, locaute, sequestro e chantagem.

De Tancredo@pol para Todo Mundo

Meus patrícios,

Quem viveu o meu tempo deve lembrar. Em 1981, o último dos generais presidentes perdeu a credibilidade com o atentado do Riocentro e a saúde com um enfarte. Um ano depois, ele perdeu o controle da economia, com a quebra do país. Em 1984, o general João Baptista Figueiredo perdeu o controle da rua com a campanha das Diretas. Seu sistema nervoso explodiu, e ele tentou criar crises institucionais, disse coisas que não faziam nexo e acabou indo embora do palácio por uma porta lateral, pedindo para ser esquecido. Teve tanto êxito nisso, que essas reminiscências parecem conversa de defunto.

Eu governava Minas, percebi que a campanha das Diretas naufragaria, e disso resultaria minha eleição, pelo sistema indireto criado para perpetuar o poder dos interesses que apoiavam a ditadura. Passei todo o tempo da campanha com o pé no freio. Nunca usei informações nem dei passos que agravariam a crise. Tirei as bandeiras vermelhas dos comícios. Acabei com o regime sem gritar “abaixo a ditadura”.


Digo isso porque a situação de Michel Temer ficou parecida com a de Figueiredo. Seus gestos e sua calma beduína não se assemelham aos do general cavalariano, mas seu palácio lembra o dele em 1984, o de Vargas em 1954, o de João Goulart em 1964 e o de Costa e Silva em 1968. Tudo o que podia dar errado, errado dava. E se nada de errado podia acontecer, o presidente e seus conselheiros criaram novas encrencas.

Temer teve aquela conversa desastrosa com Joesley Batista. Quando começou o movimento dos caminhoneiros e das transportadoras, foi para uma cerimônia banal no Rio. Lá atrás, Gregório Fortunato, chefe dos capangas de Getúlio, mandou matar Carlos Lacerda. Dezenove dias depois, matou-se Vargas. Em março de 1964, contra minha opinião, Jango foi à reunião com os sargentos no Automóvel Club, e seis dias depois estava asilado no Uruguai. Em julho de 1968, Costa e Silva repeliu o estado de sítio, que duraria, no máximo, quatro meses. Em dezembro, baixou o AI-5, que durou dez anos. Como não falo mal de senhoras, passo longe de Dilma Rousseff.

Nessa estranha crise dos caminhoneiros, os colaboradores de Temer deram entrevistas desconexas e inúteis. Nem ceder ele soube. Como diria o divertido jornalista Nertan Macedo, com quem almocei outro dia, o governo foi para a televisão com a imponência de senadores romanos e a inteligência de Mike Tyson.

Quem não gosta de Temer tem todos os motivos para se regozijar, mas não deve se esquecer de que o futuro está no próximo passo, e só nele. Em outubro será escolhido um novo presidente. Muita gente dirá que as escolhas disponíveis são pobres. Nada posso fazer, mas novamente peço-lhes que olhem para trás. Em janeiro de 1964 o Brasil tinha dois candidatos: Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek. No clima polarizado daqueles dias, uma parte da militância e da elite política não aceitava a ideia de empossar o algoz de Vargas ou o mineiro que chamava de corrupto. Três meses depois começou uma noite que durou 21 anos.

Durante a treva, o mais entusiasmado dos lacerdistas admitia que teria sido preferível uma vitória de JK. O mesmo se deu com o outro lado. Aliás, em 1967 os dois juntaram-se, mas já era tarde.

Saúdo meus compatriotas e despeço-me.

Tancredo Neves.

Elio Gaspari

A seleção que despreza sua gente

Neste atípico domingo, a seleção brasileira encerrou a primeira etapa de preparação para a Copa do Mundo e embarcou rumo a Londres, onde prosseguirá com os treinamentos antes de chegar à Rússia. Enquanto o país vive um colapso de serviços em consequência da greve dos caminhoneiros, jogadores, comissão técnica e dirigentes circulavam de helicóptero entre Teresópolis e Rio de Janeiro. Seguiram para o Galeão sob forte escolta policial e tiveram cada passo no aeroporto transmitido como um estrondoso acontecimento em rede nacional. Despedida digna de uma seleção que despreza sua gente. O processo de elitização dos estádios e a frieza dos cartolas ampliaram o abismo que separa os craques dos meros mortais.

Mauro Pimentel (AFP)
Na Granja Comary, a equipe de Tite fez apenas um treino aberto ao público. A confusão logo se estabeleceu, já que o centro de treinamentos em Teresópolis não possui estrutura para abrigar tantos torcedores. Muitos, incluindo crianças com camisas amarelas, foram barrados do lado de fora mesmo depois de passar horas na fila à espera de uma senha de acesso ao local. Sim, é preciso pegar senha para acompanhar um treino protocolar da seleção. Um treino. Quem conseguiu entrar, se acotovelava por uma selfie ou um autógrafo durante os minutos em que jogadores se dispuseram a atender os fãs. Amontoadas em uma grade que controlava a entrada para as arquibancadas improvisadas, algumas pessoas demonstraram a revolta contra o tratamento de gado dispensado pela CBF com gritos de “uh, uh é 7 a 1”, em alusão ao maior vexame da história do futebol brasileiro.

Resumo da ópera: teve tentativa de invasão, frustração e muita desorganização. Na Copa de 2014, a Granja Comary já havia reproduzido um retrato fiel da desigualdade social no Brasil. Boa parte dos treinos era aberta a torcedores, porém, somente àqueles que moram no condomínio fechado vizinho ao complexo e a seus convidados VIPs. Condôminos resolveram lucrar em cima do privilégio e passaram a cobrar por convites. Ter o nome na lista custava entre 50 e 100 reais. Os treinos “abertos” serviram só para reforçar benesses dos ricos e tornar a seleção ainda mais inacessível aos pobres.

A Copa “padrão FIFA” tinha ingressos proibitivos para quem depende de salário mínimo padrão Brasil. Houve casos de abastados que torraram até 5.000 reais pelo direito de assistir à humilhante eliminação diante da Alemanha na semifinal. O encarecimento virou regra pós-Copa. Estádios se converteram em espaços elitizados e os clubes, na esteira das novas arenas, inflacionaram a arquibancada, chancelados pela política de preços da CBF. Os jogos do Brasil em casa pelas Eliminatórias foram um acinte ao bom senso num cenário de crise econômica. Em Porto Alegre, contra o Equador, as entradas custaram, em média, 214 reais. Mais de 20.000 lugares na Arena do Grêmio ficaram vazios. Contra o Paraguai, na Arena Corinthians, que confirmou a classificação antecipada para o Mundial, o preço dos ingressos variou entre 100 e 1.000 reais. Também em São Paulo, a partida contra o Chile, realizada do Allianz Parque, alcançou renda superior a 15 milhões de reais, um recorde nacional. O bilhete mais barato, desconsiderando a meia-entrada, saía por 250 reais.

Quantos brasileiros podem se dar ao luxo de pagar 250 reais para ver um jogo de futebol? Talvez seja pouco para aquele 1% da população que concentra uma enorme fatia das riquezas, mas representa quase 1/3 do rendimento mensal de mais da metade dos trabalhadores do país. A CBF, que fatura caminhões de dólares por ano, não teve sensibilidade para compreender que um treino aberto em Teresópolis é muito pouco para um time que diz representar mais de 200 milhões de torcedores. Depois do fracasso na última Copa, a confederação sequer moveu esforços para reaproximar a seleção de seu povo. Preferiu seguir caminho inverso ao afastá-la de quem não tem dinheiro sobrando.

Um quadro ainda mais grave se levarmos em conta que, dos 23 jogadores convocados para a Copa, apenas três (Cássio, Fágner e Geromel) atuam no Brasil. Nos acostumamos a ver a seleção e nossos talentos pela TV. Interesses de patrocinadores e acordos comerciais sempre falam mais alto. Os dois únicos amistosos antes da Copa, contra Áustria e Croácia, serão promovidos no exterior por intermédio da Pitch International, empresa investigada pela Justiça americana no escândalo de corrupção da FIFA. Ao contrário dos torcedores comuns, representantes e convidados de patrocinadores da CBF tiveram livre acesso às atividades da seleção na Granja Comary.

A comissão técnica chegou a cogitar um jogo de despedida no Brasil, mas a cúpula da confederação não encontrou brecha na agenda para viabilizar o desejo de Tite. Aquele clima de oba-oba inflado em 2014, de fato, é totalmente dispensável. Mas o torcedor brasileiro, carente de ídolos e violentado pela elitização de sua própria seleção, merecia, no mínimo, uma despedida com ingressos a preços populares e estádio cheio – de preferência, o Maracanã, pelo simbolismo. Ou, pelo menos, um treino de verdade, portões abertos, como fez a Argentina ao receber 30.000 torcedores no estádio do Huracán antes de enfrentar o Haiti na mítica Bombonera. Dirigentes que mandam em nosso futebol parecem habitar outro planeta, incapazes de reconhecer o valor de quem se dispõe a enfrentar fila e pegar senha sonhando resgatar, em frações de um minuto, o vínculo perdido com estrelas tão distantes.