sexta-feira, 20 de outubro de 2017
A arte de blindar no Planalto Central
Os idos de 64 já vão longe, embora existam algumas semelhanças com o presente. Hoje a situação internacional é favorável à democracia, o Brasil está mais ligado ao mundo. E a tese fundamental é de que sociedade tem a capacidade de resolver por si a grande crise em que está metida.
Essa tese é também a razão da nossa esperança, não há a mínima condição de abandoná-la. No entanto, ela sofreu um golpe no processo que envolveu o Supremo e o Senado, culminando com a suspensão das medidas cautelares aplicadas ao senador Aécio Neves.
Já é grande o número de pessoas que não acreditam em solução democrática para a crise. Quem observar o discutido discurso do general Mourão, que admitiu a possibilidade de intervenção militar, verá que ele coloca como um dos fatores que a justificariam a incapacidade da Justiça de punir a corrupção no mundo político. E a melhor maneira de negar essa perspectiva sombria é, precisamente, demonstrar o contrário: que a Justiça cumprirá o seu papel, restando à sociedade completar a tarefa com mudanças em 2018.
O Supremo ia nesse caminho quando esteve prestes a derrubar o foro privilegiado. Quem assistiu às discussões teve a impressão de que venceria a expectativa da sociedade de que a lei vale para todos. Mas o mesmo Supremo que mostrava tendência a derrubar o foro privilegiado suspendeu a decisão e, em seguida, deu um passo no sentido oposto: ampliou a blindagem dos políticos, submetendo medidas cautelares ao crivo do Parlamento.
Quem ouviu o discurso da ministra Cármen Lúcia num primeiro momento teve a impressão de que sua posição era contrária ao foro privilegiado. Na votação posterior, porém, recuou. Titubeando, mas recuou.
O Supremo decidiu abrir mão de uma prerrogativa. Afastar do mandato ou determinar recolhimento noturno não é o mesmo que prisão. É uma contingência das investigações.
Claro que, ao entregar a decisão ao Senado, as medidas cautelares seriam derrubadas. Entre todos os discursos, o mais cristalino foi o do senador Roberto Rocha. Ele citou um poema que dizia mais ou menos isto: se deixarem levar alguém hoje, amanhã levarão outro e o último estará sozinho quando vierem buscá-lo. É uma ideia interessante no contexto de países totalitários, a prisão é ameaça válida para todos os indivíduos. Mas Rocha não estava falando de um país, e sim do próprio Senado, uma Casa cheia de investigados pela Lava Jato cavando a última trincheira na areia movediça.
Outro passo atrás está a caminho no Supremo: recuar da prisão após sentença em segunda instância. Isso significa a possibilidade ser preso só depois de morto, no caixão!
Não sei como esses recuos serão metabolizados. Certamente, tornam mais difícil o caminho de uma solução democrática. Provocam indiferença enojada em muitas pessoas, em outras apenas reforçam o desejo de uma saída autoritária.
Apesar de tudo, não se pode dizer que todo o Supremo e todo o Senado tenham cavado mais um fosso de decepção. Tanto num como no outro há vozes discordantes.
No Supremo deu empate, resolvido com um hesitante voto de Minerva. No Senado, pouquíssimos entre os que votaram contra Aécio defendem a tese de que o Supremo deveria ter a decisão final, retomar o poder de definir medidas cautelares sem consultar o Congresso.
Isso significa que a maioria, incluído o PT, já considera como uma conquista irreversível o poder de dar a palavra final. Ganharam um escudo e vão usá-lo quando quiserem.
Imagino que o STF tenha tomado a decisão de abrir mão da palavra final na expectativa de evitar uma crise entre instituições, num momento de desemprego, tensões políticas. Mas certas crises têm de ser enfrentadas e vencidas. O Congresso está de costas para a sociedade. Se a Justiça, no caso de Aécio, não se impõe e, no caso de Temer, não consegue permissão para investigá-lo, acaba transmitindo a impressão de que é impossível a lei valer para todos.
O Supremo, penso eu, poderia voltar a dar um passo adiante, retomando a votação do foro privilegiado. O ministro Alexandre de Moraes pediu vista. É estranho que um ministro não tenha ainda posição sobre o tema. Ele tem concedido entrevistas sobre revisar a prisão em segunda instância, o que significa caminhar no sentido inverso.
Moraes transmite a impressão de que está pronto para dar um passo atrás e precisa estudar muito ainda para votar um passo à frente. “Which side are you on?”, pergunta a canção de Dropkick Murphys.
O caminho que reforça o velho sistema político-partidário e fortalece a impunidade acaba sendo um grande obstáculo à democracia, embora se revista de uma retórica democrática, sempre defendendo a Constituição, o direito dos acusados, a liberdade. Mas algumas belas abstrações se revelam, na prática, apenas uma forma de proteger um sistema poderoso e sofisticado de corrupção.
A versão poética do senador Roberto Rocha é mais próxima da realidade. Se deixarem levar um a um, acabam levando todos. É uma variante dramática do verso “se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”. Mas apenas próxima da realidade: alguns votaram com naturalidade contra a blindagem não só de Aécio, mas do conjunto dos parlamentares.
Essas batalhas, contudo, não se resolvem apenas dentro das instituições. Elas dependem da sociedade, ou pelo menos de quem compreende que e a solução autoritária é um trágico passo atrás. Um passo razoável seria acionar mais o que resta de apoio nas instituições e travar um amplo diálogo sobre como evitar o pior. No desespero da autodefesa, o sistema político-partidário não hesita em pôr em risco a própria democracia.
Gostaria de estar dramatizando. Sei que 64 está distante, todavia a conjuntura externa favorável e o nível de informação ampliado na era digital são fatores que não bastam para garantir uma saída democrática. Ela precisa de uma pequena ajuda dos amigos.
Para se defender, o sistema político não hesita em pôr a democracia em risco
Essa tese é também a razão da nossa esperança, não há a mínima condição de abandoná-la. No entanto, ela sofreu um golpe no processo que envolveu o Supremo e o Senado, culminando com a suspensão das medidas cautelares aplicadas ao senador Aécio Neves.
O Supremo ia nesse caminho quando esteve prestes a derrubar o foro privilegiado. Quem assistiu às discussões teve a impressão de que venceria a expectativa da sociedade de que a lei vale para todos. Mas o mesmo Supremo que mostrava tendência a derrubar o foro privilegiado suspendeu a decisão e, em seguida, deu um passo no sentido oposto: ampliou a blindagem dos políticos, submetendo medidas cautelares ao crivo do Parlamento.
Quem ouviu o discurso da ministra Cármen Lúcia num primeiro momento teve a impressão de que sua posição era contrária ao foro privilegiado. Na votação posterior, porém, recuou. Titubeando, mas recuou.
O Supremo decidiu abrir mão de uma prerrogativa. Afastar do mandato ou determinar recolhimento noturno não é o mesmo que prisão. É uma contingência das investigações.
Claro que, ao entregar a decisão ao Senado, as medidas cautelares seriam derrubadas. Entre todos os discursos, o mais cristalino foi o do senador Roberto Rocha. Ele citou um poema que dizia mais ou menos isto: se deixarem levar alguém hoje, amanhã levarão outro e o último estará sozinho quando vierem buscá-lo. É uma ideia interessante no contexto de países totalitários, a prisão é ameaça válida para todos os indivíduos. Mas Rocha não estava falando de um país, e sim do próprio Senado, uma Casa cheia de investigados pela Lava Jato cavando a última trincheira na areia movediça.
Outro passo atrás está a caminho no Supremo: recuar da prisão após sentença em segunda instância. Isso significa a possibilidade ser preso só depois de morto, no caixão!
Não sei como esses recuos serão metabolizados. Certamente, tornam mais difícil o caminho de uma solução democrática. Provocam indiferença enojada em muitas pessoas, em outras apenas reforçam o desejo de uma saída autoritária.
Apesar de tudo, não se pode dizer que todo o Supremo e todo o Senado tenham cavado mais um fosso de decepção. Tanto num como no outro há vozes discordantes.
No Supremo deu empate, resolvido com um hesitante voto de Minerva. No Senado, pouquíssimos entre os que votaram contra Aécio defendem a tese de que o Supremo deveria ter a decisão final, retomar o poder de definir medidas cautelares sem consultar o Congresso.
Isso significa que a maioria, incluído o PT, já considera como uma conquista irreversível o poder de dar a palavra final. Ganharam um escudo e vão usá-lo quando quiserem.
Imagino que o STF tenha tomado a decisão de abrir mão da palavra final na expectativa de evitar uma crise entre instituições, num momento de desemprego, tensões políticas. Mas certas crises têm de ser enfrentadas e vencidas. O Congresso está de costas para a sociedade. Se a Justiça, no caso de Aécio, não se impõe e, no caso de Temer, não consegue permissão para investigá-lo, acaba transmitindo a impressão de que é impossível a lei valer para todos.
O Supremo, penso eu, poderia voltar a dar um passo adiante, retomando a votação do foro privilegiado. O ministro Alexandre de Moraes pediu vista. É estranho que um ministro não tenha ainda posição sobre o tema. Ele tem concedido entrevistas sobre revisar a prisão em segunda instância, o que significa caminhar no sentido inverso.
Moraes transmite a impressão de que está pronto para dar um passo atrás e precisa estudar muito ainda para votar um passo à frente. “Which side are you on?”, pergunta a canção de Dropkick Murphys.
O caminho que reforça o velho sistema político-partidário e fortalece a impunidade acaba sendo um grande obstáculo à democracia, embora se revista de uma retórica democrática, sempre defendendo a Constituição, o direito dos acusados, a liberdade. Mas algumas belas abstrações se revelam, na prática, apenas uma forma de proteger um sistema poderoso e sofisticado de corrupção.
A versão poética do senador Roberto Rocha é mais próxima da realidade. Se deixarem levar um a um, acabam levando todos. É uma variante dramática do verso “se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”. Mas apenas próxima da realidade: alguns votaram com naturalidade contra a blindagem não só de Aécio, mas do conjunto dos parlamentares.
Essas batalhas, contudo, não se resolvem apenas dentro das instituições. Elas dependem da sociedade, ou pelo menos de quem compreende que e a solução autoritária é um trágico passo atrás. Um passo razoável seria acionar mais o que resta de apoio nas instituições e travar um amplo diálogo sobre como evitar o pior. No desespero da autodefesa, o sistema político-partidário não hesita em pôr em risco a própria democracia.
Gostaria de estar dramatizando. Sei que 64 está distante, todavia a conjuntura externa favorável e o nível de informação ampliado na era digital são fatores que não bastam para garantir uma saída democrática. Ela precisa de uma pequena ajuda dos amigos.
Para se defender, o sistema político não hesita em pôr a democracia em risco
O artista inconfessável (Epígrafe)
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
João Cabral de Melo Neto
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
João Cabral de Melo Neto
O Orçamento de 2018 e o crime organizado
Para manter-se no cargo de presidente da República, Temer precisa “matar um leão por dia”. Com apenas 3% de aprovação junto aos brasileiros, a sua salvação está nas mãos dos parlamentares. Dos 594 congressistas atuais, 91 figuram como suspeitos na Lava Jato. Também estão citados oito ministros e 12 governadores. Em sendo verdadeiras metade das delações, o crime organizado já está entranhado no Estado.
No momento, a questão crucial para o presidente da República é evitar que a Câmara dos Deputados autorize o Supremo Tribunal Federal a investigar as denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR). Os parlamentares, apesar dos vídeos de Lúcio Funaro, deverão “fazer o serviço” pela segunda vez, ainda que 81% dos brasileiros pensem o contrário. Mas não vai ficar barato.
Na relação promíscua entre Executivo e Legislativo, as demandas dos parlamentares são parte do negócio. Assim, a cronologia de liberação das emendas parlamentares obrigatórias é, no mínimo, curiosa. De janeiro a maio, foram “empenhados” (compromissos assumidos para posteriores pagamentos) só R$ 102,6 milhões. Em junho e julho, meses em que tramitava na Câmara a primeira denúncia, foram liberados R$ 2 bilhões e R$ 2,2 bilhões, respectivamente. Em setembro, com a nova denúncia dando entrada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o montante empenhado chegou a R$ 1 bilhão, o terceiro maior valor mensal do ano. As emendas são obrigatórias, mas a liberação é estratégica. Além das emendas, cargos são oferecidos e pleitos dos mais diversos são atendidos. Não há flechas que resistam à caneta e ao corporativismo.
Desagradar ao Congresso nem pensar. Assim, até agora não foi enviado ao Legislativo o novo projeto de lei atualizado do Orçamento Geral da União para 2018 (PLOA 2018). A proposta original está baseada em parâmetros ultrapassados, a começar pelo déficit de R$ 129 bilhões, quando, todos sabem, o rombo atualmente previsto é de R$ 159 bilhões.
Contudo, antes de enviar o novo projeto, Temer terá que encaminhar as propostas que afetam receitas e despesas, as quais foram anunciadas com pompa, mas ainda não foram submetidas ao Congresso. Dentre as medidas, a que posterga os aumentos salariais dos servidores em 2018, a que cancela o reajuste de comissionados, a que altera a estrutura de cargos e salários da administração pública federal reduzindo os vencimentos iniciais, a que eleva a contribuição previdenciária do funcionalismo, a que limita o pagamento de auxílio moradia e ajuda de custo, e, ainda, a que extingue 60 mil cargos vagos no Executivo. Enfim, para os políticos, só abacaxi. Antes dessas propostas chegarem ao Congresso, Temer não poderá enviar o novo PLOA, pois o Orçamento deve refletir a legislação vigente ou, no mínimo,propostas que estejam em tramitação.
Em véspera de ano eleitoral, com 78,3% dos brasileiros não confiando nos políticos (pesquisa da FGV/DAPP), Temer sabe que não é fácil pedir que os seus aliados o defendam da denúncia da PGR, que comprem uma briga com os servidores públicos ao aprovar esse pacote de corte de gastos e, ainda, que votem a reforma da Previdência.
Com o impasse, o Orçamento de 2018 só deverá ser encaminhado ao Congresso após a votação da denúncia, o que acontecerá em fim de outubro ou no início de novembro. A reforma da Previdência, se aprovada, será apenas uma meia-sola, que não irá resolver o problema das contas públicas.
Enquanto isso, é grande a preocupação em relação à proposta fajuta que provisoriamente está no Congresso. Não há, por exemplo, qualquer centavo para os investimentos (obras e equipamentos) do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes, órgão responsável pelas rodovias brasileiras. O programa Educação de Qualidade para Todos, sofre redução de R$ 6,9 bilhões do PLOA 2017 para o de 2018. O mesmo acontece com programas da Ciência e Tecnologia, Agricultura, Cultura, Justiça, Meio Ambiente etc.
Com a previsão de aumento de impostos e a autorização para o aumento do rombo, as despesas devem ser ampliadas em, pelo menos, R$ 30 bilhões. Mas em que áreas o montante será alocado? Quando saberemos?
Para salvar a própria pele, Temer não enfrenta as feras. Ao invés de matar um leão por dia, optou por agradar-lhes, às dezenas, todos os dias. Enquanto isso, o Orçamento de 2018 e o pacote de controle de gastos ficam nas gavetas do Palácio do Planalto. Em um país onde investigados por corrupção governam, legislam e indicam ministros para o STF, o Orçamento também está subordinado ao crime organizado.
No momento, a questão crucial para o presidente da República é evitar que a Câmara dos Deputados autorize o Supremo Tribunal Federal a investigar as denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR). Os parlamentares, apesar dos vídeos de Lúcio Funaro, deverão “fazer o serviço” pela segunda vez, ainda que 81% dos brasileiros pensem o contrário. Mas não vai ficar barato.
Na relação promíscua entre Executivo e Legislativo, as demandas dos parlamentares são parte do negócio. Assim, a cronologia de liberação das emendas parlamentares obrigatórias é, no mínimo, curiosa. De janeiro a maio, foram “empenhados” (compromissos assumidos para posteriores pagamentos) só R$ 102,6 milhões. Em junho e julho, meses em que tramitava na Câmara a primeira denúncia, foram liberados R$ 2 bilhões e R$ 2,2 bilhões, respectivamente. Em setembro, com a nova denúncia dando entrada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o montante empenhado chegou a R$ 1 bilhão, o terceiro maior valor mensal do ano. As emendas são obrigatórias, mas a liberação é estratégica. Além das emendas, cargos são oferecidos e pleitos dos mais diversos são atendidos. Não há flechas que resistam à caneta e ao corporativismo.
Desagradar ao Congresso nem pensar. Assim, até agora não foi enviado ao Legislativo o novo projeto de lei atualizado do Orçamento Geral da União para 2018 (PLOA 2018). A proposta original está baseada em parâmetros ultrapassados, a começar pelo déficit de R$ 129 bilhões, quando, todos sabem, o rombo atualmente previsto é de R$ 159 bilhões.
Contudo, antes de enviar o novo projeto, Temer terá que encaminhar as propostas que afetam receitas e despesas, as quais foram anunciadas com pompa, mas ainda não foram submetidas ao Congresso. Dentre as medidas, a que posterga os aumentos salariais dos servidores em 2018, a que cancela o reajuste de comissionados, a que altera a estrutura de cargos e salários da administração pública federal reduzindo os vencimentos iniciais, a que eleva a contribuição previdenciária do funcionalismo, a que limita o pagamento de auxílio moradia e ajuda de custo, e, ainda, a que extingue 60 mil cargos vagos no Executivo. Enfim, para os políticos, só abacaxi. Antes dessas propostas chegarem ao Congresso, Temer não poderá enviar o novo PLOA, pois o Orçamento deve refletir a legislação vigente ou, no mínimo,propostas que estejam em tramitação.
Com o impasse, o Orçamento de 2018 só deverá ser encaminhado ao Congresso após a votação da denúncia, o que acontecerá em fim de outubro ou no início de novembro. A reforma da Previdência, se aprovada, será apenas uma meia-sola, que não irá resolver o problema das contas públicas.
Enquanto isso, é grande a preocupação em relação à proposta fajuta que provisoriamente está no Congresso. Não há, por exemplo, qualquer centavo para os investimentos (obras e equipamentos) do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes, órgão responsável pelas rodovias brasileiras. O programa Educação de Qualidade para Todos, sofre redução de R$ 6,9 bilhões do PLOA 2017 para o de 2018. O mesmo acontece com programas da Ciência e Tecnologia, Agricultura, Cultura, Justiça, Meio Ambiente etc.
Com a previsão de aumento de impostos e a autorização para o aumento do rombo, as despesas devem ser ampliadas em, pelo menos, R$ 30 bilhões. Mas em que áreas o montante será alocado? Quando saberemos?
Para salvar a própria pele, Temer não enfrenta as feras. Ao invés de matar um leão por dia, optou por agradar-lhes, às dezenas, todos os dias. Enquanto isso, o Orçamento de 2018 e o pacote de controle de gastos ficam nas gavetas do Palácio do Planalto. Em um país onde investigados por corrupção governam, legislam e indicam ministros para o STF, o Orçamento também está subordinado ao crime organizado.
Os catadores do lixo ideológico
O Brasil está em perigo. A polêmica sobre o peladão do MAM vai bem, dando oportunidade a toda essa gente sofrida que batalha de sol a sol por um slogan progressista, mas surgiu o alerta: há sinais de que estão começando a desconfiar do debate – ou, mais precisamente, dos debatedores. Isso é grave.
O sobressalto deixou todo o pelotão da narrativa em alerta. Para o caso de acontecer o pior – isto é, a maioria distraída descobrir que a polêmica só serve aos polemistas de plantão – já há alternativas em estudo. Criar um evangelho trans pode ser uma boa. Descobrir algum brucutu que defenda a virgindade antes do casamento seria melhor ainda. Já pensaram? Toda a MPB de mãos dadas contra o celibato das solteiras? Viva a revolução!
Como se sabe, o maior eleitor de Bolsonaro é Jean Wyllys, e o maior eleitor de Jean Wyllys, coincidentemente, é Bolsonaro. Foram feitos um para o outro, e serão felizes para sempre em sua guerra particular cenográfica. Assim vão se formando as parcerias mais profícuas da vida moderna. Para cada Crivella há um Caetano, num sistema perfeito de retroalimentação demagógica que nos deixa boquiabertos com a exuberância e a simetria da criação. Um bocejo retórico de um multiplica imediatamente o rebanho do outro, tornando-os assim seres unidos para a eternidade pela gratidão mútua. Aleluia.
Há diversos outros casais perfeitos na natureza, como o militante do PSOL e o policial boçal, que rezam diariamente a Nossa Senhora das Causas Idiotas pela oportunidade de se encontrarem na rua. Esse amor lacrimogêneo rende audiências incríveis e faz bem a todo mundo que não tem mais o que fazer.
Por uma coincidência antropofágica, a rapaziada da vanguarda de museu é toda de viúvas petistas. Normal. Não pense que é fácil você chegar ao paraíso fantasiado de algoz da burguesia e te tirarem de lá porque seu guru esfolou o povo. Claro que tudo isso foi um golpe da elite invejosa, mas dói. Como defender ladrão não é propriamente um ato revolucionário (embora muitos ainda insistam que seja), você passa a precisar urgentemente de um esquete novo, algo que te permita chegar em casa e se orgulhar de ter chocado a burguesia, abraçado a seu ursinho de pelúcia.
No princípio era o Fome Zero para chocar a elite branca. Após mais de década de rapinagem soterrando o slogan esperto, surge o plano genial: ficar pelado para chocar a elite branca. É claro que a essa altura, no ano da graça de 2017, com tudo o que a TV já mostrou, tudo o que a internet já escancarou, tudo o que já foi exposto inteiro e do avesso para crianças, velhos, meninos, meninas, burgueses, favelados, crentes e ateus, ficar pelado não choca mais ninguém. Droga. Desde a Xuxa e o rebolado na boquinha da garrafa a erotização infantil já está aí, comendo solta, e até já foi temperada, e até a criançada já teve de aprender a escolher e filtrar o grau de sensualidade com que quer conviver. Absolutamente nada de novo no front. Então vamos convidar crianças para ir ao museu tocar num homem nu e ver o que acontece. Deu certo.
A vanguarda do anteontem ia ficar brincando sozinha de chocar ninguém, mas foi salva. A imagem circulou com aquele poder das redes antissociais de transformar o nada em tudo, tipo “menos a Luíza que está no Canadá”, e num instante estava montada a ficção científica sobre arte moderna e pedofilia, ou vice-versa, só importando ver quem grita mais e quem prevalece sobre quem – num universo onde só o que prevalece é o cultivo e a multiplicação dos mesmos e cegos rebanhos. Jair e Jean, amor eterno.
Junte-se tal fenômeno antifenomenal com a tal polêmica de laboratório em torno da “criança viada” e tem-se a ressurreição dos revolucionários lutando contra a censura! Na proa da nave fantasma, a turma daquele movimento obscuro que batalhou pela censura prévia a biografias não autorizadas por razões pecuniárias, que ninguém é de ferro. São os catadores de lixo ideológico: meu reino por um general fardado que me permita tirar do armário a fantasia de oprimido rebelde.
Todo poder advém do queixume e em seu nome deve ser exercido, enquanto os otários não sacarem a malandragem. Cazuza avisou: somos um museu de grandes novidades. Entre e veja, de graça, que o Brasil hipócrita está nu.
O sobressalto deixou todo o pelotão da narrativa em alerta. Para o caso de acontecer o pior – isto é, a maioria distraída descobrir que a polêmica só serve aos polemistas de plantão – já há alternativas em estudo. Criar um evangelho trans pode ser uma boa. Descobrir algum brucutu que defenda a virgindade antes do casamento seria melhor ainda. Já pensaram? Toda a MPB de mãos dadas contra o celibato das solteiras? Viva a revolução!
Como se sabe, o maior eleitor de Bolsonaro é Jean Wyllys, e o maior eleitor de Jean Wyllys, coincidentemente, é Bolsonaro. Foram feitos um para o outro, e serão felizes para sempre em sua guerra particular cenográfica. Assim vão se formando as parcerias mais profícuas da vida moderna. Para cada Crivella há um Caetano, num sistema perfeito de retroalimentação demagógica que nos deixa boquiabertos com a exuberância e a simetria da criação. Um bocejo retórico de um multiplica imediatamente o rebanho do outro, tornando-os assim seres unidos para a eternidade pela gratidão mútua. Aleluia.
Há diversos outros casais perfeitos na natureza, como o militante do PSOL e o policial boçal, que rezam diariamente a Nossa Senhora das Causas Idiotas pela oportunidade de se encontrarem na rua. Esse amor lacrimogêneo rende audiências incríveis e faz bem a todo mundo que não tem mais o que fazer.
Por uma coincidência antropofágica, a rapaziada da vanguarda de museu é toda de viúvas petistas. Normal. Não pense que é fácil você chegar ao paraíso fantasiado de algoz da burguesia e te tirarem de lá porque seu guru esfolou o povo. Claro que tudo isso foi um golpe da elite invejosa, mas dói. Como defender ladrão não é propriamente um ato revolucionário (embora muitos ainda insistam que seja), você passa a precisar urgentemente de um esquete novo, algo que te permita chegar em casa e se orgulhar de ter chocado a burguesia, abraçado a seu ursinho de pelúcia.
No princípio era o Fome Zero para chocar a elite branca. Após mais de década de rapinagem soterrando o slogan esperto, surge o plano genial: ficar pelado para chocar a elite branca. É claro que a essa altura, no ano da graça de 2017, com tudo o que a TV já mostrou, tudo o que a internet já escancarou, tudo o que já foi exposto inteiro e do avesso para crianças, velhos, meninos, meninas, burgueses, favelados, crentes e ateus, ficar pelado não choca mais ninguém. Droga. Desde a Xuxa e o rebolado na boquinha da garrafa a erotização infantil já está aí, comendo solta, e até já foi temperada, e até a criançada já teve de aprender a escolher e filtrar o grau de sensualidade com que quer conviver. Absolutamente nada de novo no front. Então vamos convidar crianças para ir ao museu tocar num homem nu e ver o que acontece. Deu certo.
A vanguarda do anteontem ia ficar brincando sozinha de chocar ninguém, mas foi salva. A imagem circulou com aquele poder das redes antissociais de transformar o nada em tudo, tipo “menos a Luíza que está no Canadá”, e num instante estava montada a ficção científica sobre arte moderna e pedofilia, ou vice-versa, só importando ver quem grita mais e quem prevalece sobre quem – num universo onde só o que prevalece é o cultivo e a multiplicação dos mesmos e cegos rebanhos. Jair e Jean, amor eterno.
Junte-se tal fenômeno antifenomenal com a tal polêmica de laboratório em torno da “criança viada” e tem-se a ressurreição dos revolucionários lutando contra a censura! Na proa da nave fantasma, a turma daquele movimento obscuro que batalhou pela censura prévia a biografias não autorizadas por razões pecuniárias, que ninguém é de ferro. São os catadores de lixo ideológico: meu reino por um general fardado que me permita tirar do armário a fantasia de oprimido rebelde.
Todo poder advém do queixume e em seu nome deve ser exercido, enquanto os otários não sacarem a malandragem. Cazuza avisou: somos um museu de grandes novidades. Entre e veja, de graça, que o Brasil hipócrita está nu.
Agora foi forte, foi demais
Em uma semana três pancadas fortes: o relatório sobre as denúncias contra o dispensável Presidente da Republica na Câmara Federal, a confusa conclusão do Supremo Tribunal Federal sobre o senador corrupto, e a votação no Senado, sobre o mesmo senador.
Creio que, os três fatos, foram as gotas d’água que faltavam para que a desilusão e a revolta do povo se manifestassem, no silencio que prenuncia tempestade, frente a hipocrisia e a mentira que imperam no ambiente político.
Agora fica fácil diagnosticar o que está acontecendo e a se prever o futuro, com o rompimento definitivo do pacto politico que unia a nação. Aquele pacto não escrito, mais forte que os vínculos constitucionais e legais, permitindo que homens e mulheres se unam para, com consentimentos mútuos forjados pela histórica convivência de um mesmo povo, se construa uma sociedade com a capacidade de permanentemente se auto aperfeiçoar na busca de liberdade, justiça, segurança, desenvolvimento e paz.
Três coisas podem acontecer: nada; uma revolução popular generalizada; ou uma intervenção militar.
O nada acontecer refletiria o cansaço e a desilusão da população com o desenrolar dos acontecimentos, sem que possa distinguir lideranças e propostas politicas claras para a superação da grave situação em que vivemos, já há alguns anos. Seria uma cínica opção pelo “deixa estar para ver como é que fica...”.
Também é possível imaginar que o povo, exausto com o deboche explícito dos políticos dirigentes da nação e com a incompetência gerencial do Estado brasileiro, vá para as ruas e incontrolavelmente, com ódio, comece a quebrar e a impedir que a sociedade funcione, como expressão do seu protesto. Depois voltarão para suas casas mais desiludidos e tudo continuará na mesma, só com o Brasil um pouco mais destroçado.
Por último, o que me recusava a acreditar, mas que começo a considerar como o mais provável que aconteça: as Forças Armadas, em ação muito rápida e determinada, apoiadas por expressiva parcela do povo, ponham toda a canalha e os corruptos conhecidos a correr, convocando eleições diretas, em alguns meses, sob a direção do Supremo Tribunal Federal, para a recomposição democrática dos poderes da Republica, o legislativo e o executivo.
Chegamos ao fim das soluções politicas negociadas - triste arremedo de gestos democráticos - pelo simples motivo que a maioria absoluta dos atuais políticos é idiota, medíocre, corrupta, em conluio sistêmico com a maioria do também corrupto empresariado nacional. Esta corja jamais votará leis e aprovará ações que impeçam a manutenção dos seus poderes ou prejudiquem suas negociatas.
Patriotismo, responsabilidade histórica, coragem, competência, honestidade e dignidade é o que precisamos com urgência.
Eurico Borba
Creio que, os três fatos, foram as gotas d’água que faltavam para que a desilusão e a revolta do povo se manifestassem, no silencio que prenuncia tempestade, frente a hipocrisia e a mentira que imperam no ambiente político.
Três coisas podem acontecer: nada; uma revolução popular generalizada; ou uma intervenção militar.
O nada acontecer refletiria o cansaço e a desilusão da população com o desenrolar dos acontecimentos, sem que possa distinguir lideranças e propostas politicas claras para a superação da grave situação em que vivemos, já há alguns anos. Seria uma cínica opção pelo “deixa estar para ver como é que fica...”.
Também é possível imaginar que o povo, exausto com o deboche explícito dos políticos dirigentes da nação e com a incompetência gerencial do Estado brasileiro, vá para as ruas e incontrolavelmente, com ódio, comece a quebrar e a impedir que a sociedade funcione, como expressão do seu protesto. Depois voltarão para suas casas mais desiludidos e tudo continuará na mesma, só com o Brasil um pouco mais destroçado.
Por último, o que me recusava a acreditar, mas que começo a considerar como o mais provável que aconteça: as Forças Armadas, em ação muito rápida e determinada, apoiadas por expressiva parcela do povo, ponham toda a canalha e os corruptos conhecidos a correr, convocando eleições diretas, em alguns meses, sob a direção do Supremo Tribunal Federal, para a recomposição democrática dos poderes da Republica, o legislativo e o executivo.
Chegamos ao fim das soluções politicas negociadas - triste arremedo de gestos democráticos - pelo simples motivo que a maioria absoluta dos atuais políticos é idiota, medíocre, corrupta, em conluio sistêmico com a maioria do também corrupto empresariado nacional. Esta corja jamais votará leis e aprovará ações que impeçam a manutenção dos seus poderes ou prejudiquem suas negociatas.
Patriotismo, responsabilidade histórica, coragem, competência, honestidade e dignidade é o que precisamos com urgência.
Eurico Borba
Fecha-se o cerco à Lava Jato
Se dependesse do senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB e um dos mais poderosos nomes do governo Temer, “a sangria” provocada pela Lava Jato no meio político e empresarial já teria sido estancada há muito tempo. Desde, pelo menos, o início de 2015 quando conversou por telefone com Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que gravou seu desabafo.
Embora com atraso, está em curso a mais nova tentativa de estancar a sangria. E até aqui, pelo menos, ela avança com sucesso. O cerco à Lava Jato está se fechando com a colaboração do governo, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Se não for revertido, a mais bem-sucedida operação de combate à corrupção da história do Brasil irá simplesmente para o brejo.
Depois de ter sepultado a primeira denúncia de corrupção contra o presidente Michel Temer, o governo está pronto para sepultar a segunda. Pagou caro pelo enterro da primeira, distribuindo cargos, verbas e outras sinecuras com partidos e deputados acostumados a tirar vantagem de tudo. Pagará mais caro pelo enterro da segunda. Adeus reforma da Previdência Social!
O Senado livrou um dos seus filhos mais ilustres, Aécio Neves (PSDB-MG), da punição que lhe foi imposta pela Primeira Turma do STF. Devolveu-lhe o mandato suspenso. E a livre circulação à noite. Aécio foi salvo pelo voto nada constrangido de algumas dezenas de senadores às voltas com um monte de processos. Suspeitos de crimes uniram-se para se proteger. Natural.
O STF protagonizou a patacoada de abdicar de uma de suas funções a pretexto de evitar a eclosão de uma nova crise. Não mais será dele a última palavra quando se tratar da punição de um parlamentar, mas sim do parlamento – Câmara dos Deputados, Senado, assembleias legislativas e câmaras de vereadores. Políticos, unidos, jamais serão vencidos!
Em breve, o STF desfechará mais um duro golpe na Lava Jato, ao recuar da decisão de que condenado em segunda instância da Justiça poderá ser preso de imediato. Caberá à terceira instância autorizar ou não a prisão. Não é nada, não é nada, mas é por isso que o privilégio de só ser julgado pelo STF dificilmente será revisto. Processos ali costumam prescrever. As condenações são escassas.
Se necessário, o Congresso votará novas leis para que algo parecido com a Lava Jato não se repita jamais. Não sentirá o mínimo pingo de vergonha por proceder assim. É o Brasil velho que esperneia, estrebucha e resiste ainda cheio de energia ao nascimento do novo.
Embora com atraso, está em curso a mais nova tentativa de estancar a sangria. E até aqui, pelo menos, ela avança com sucesso. O cerco à Lava Jato está se fechando com a colaboração do governo, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Se não for revertido, a mais bem-sucedida operação de combate à corrupção da história do Brasil irá simplesmente para o brejo.
Depois de ter sepultado a primeira denúncia de corrupção contra o presidente Michel Temer, o governo está pronto para sepultar a segunda. Pagou caro pelo enterro da primeira, distribuindo cargos, verbas e outras sinecuras com partidos e deputados acostumados a tirar vantagem de tudo. Pagará mais caro pelo enterro da segunda. Adeus reforma da Previdência Social!
O STF protagonizou a patacoada de abdicar de uma de suas funções a pretexto de evitar a eclosão de uma nova crise. Não mais será dele a última palavra quando se tratar da punição de um parlamentar, mas sim do parlamento – Câmara dos Deputados, Senado, assembleias legislativas e câmaras de vereadores. Políticos, unidos, jamais serão vencidos!
Em breve, o STF desfechará mais um duro golpe na Lava Jato, ao recuar da decisão de que condenado em segunda instância da Justiça poderá ser preso de imediato. Caberá à terceira instância autorizar ou não a prisão. Não é nada, não é nada, mas é por isso que o privilégio de só ser julgado pelo STF dificilmente será revisto. Processos ali costumam prescrever. As condenações são escassas.
Se necessário, o Congresso votará novas leis para que algo parecido com a Lava Jato não se repita jamais. Não sentirá o mínimo pingo de vergonha por proceder assim. É o Brasil velho que esperneia, estrebucha e resiste ainda cheio de energia ao nascimento do novo.
O Brasil piora a passos largos
No excelente filme “Getúlio”, de 2014, no qual Tony Ramos dá um show de interpretação, há uma cena que muito me impressionou.
Um dia ou dois antes de se matar, o presidente, entre acabrunhado e irônico, diz a um de seus assessores: "Em todos os meus anos à frente do Brasil, nunca ninguém me procurou para pedir algo para o país. Os pedidos foram sempre em proveito próprio..."
Que sentimentos machucariam o Dr. Getúlio se ele estivesse ainda entre nós e constatasse que nada mudou, além da sede da capital?
Ninguém se preocupa com o Brasil, mas quase todos se preocupam consigo mesmo.
O atual presidente, Michel Temer, anda tão preocupado em se manter no Poder, que virou useiro e vezeiro em assinar portarias para revogá-las em seguida: assina para agradar gregos e revoga para agradar troianos. Tudo depende das reações que suas portarias provocam na Esplanada dos Ministérios.
O Brasil? Ah! o Brasil que se cuide...
Agora mesmo ele assinou uma portaria que foi criticada aqui e no exterior, uma portaria que nos põe como exemplo de país que “abranda a definição do que seja trabalho escravo”, nas palavras de Fernando Henrique Cardoso.
Já o ministro Gilmar Mendes - ah! o ministro Gilmar Mendes!- fez questão de dizer que apesar de ter um trabalho exaustivo, o seu não é um trabalho escravo. Ele trabalha por prazer!
Ele achou melhor esclarecer a situação, pois o fiscal das garagens nas quais guarda seu carro, de tanto ver o carro do ministro ali estacionado, poderia pensar que ele estava, nos dois tribunais (STF e TSE), na condição de trabalhador escravo!
Não é nada disso! Calma, fiscais! O ministro não disse, mas digo eu: trabalha muito, viaja muito por prazer, tem boas férias que devem lhe dar muito prazer e recebe, creio eu, um bom salário também com prazer.
Mas tem mais: o que sentiria o Dr. Getúlio ao ver que o único movimento pró-Brasil, a célebre Lava-Jato, corre o risco de desmilinguir, salvando a pele de figuras que hoje nem dormiam mais, de tanto medo, e que podem vir a respirar aliviadas com a ‘ardilosa armação’ contra o combate à corrupção?
Será que a ninguém ocorre que se houvesse uma Lava-Jato em 1954, o Brasil teria escapado de ver seu ditador sair da vida para entrar na História? Seu destino seria outro?
Este é ou não é um país único no mundo? Aqui ninguém é culpado. Todos são vítimas de perseguição. A ditadura é do povo, ao contrário das ditaduras onde o povo é oprimido, nós, pobres metidos a besta, oprimimos nossos dirigentes. Quem os salvará?
Retrocedemos a passos largos. O último prego no caixão veio ontem, na Comissão de Cultura e de Segurança Pública na Câmara dos Deputados. O Estado de Alagoas, que já nos deu Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda e Nise da Silveira, entre outros, agora nos presenteou com uma flor: o deputado Givaldo Carimbão. Por se achar filho de Maria, Mãe de Deus, achou que tinha o direito de agredir violentamente a mãe do ministro da Cultura, já falecida.
Será pedir muito aos alagoanos que nunca mais nos enviem figuras como o Carimbão?
Um dia ou dois antes de se matar, o presidente, entre acabrunhado e irônico, diz a um de seus assessores: "Em todos os meus anos à frente do Brasil, nunca ninguém me procurou para pedir algo para o país. Os pedidos foram sempre em proveito próprio..."
Que sentimentos machucariam o Dr. Getúlio se ele estivesse ainda entre nós e constatasse que nada mudou, além da sede da capital?
Ninguém se preocupa com o Brasil, mas quase todos se preocupam consigo mesmo.
O atual presidente, Michel Temer, anda tão preocupado em se manter no Poder, que virou useiro e vezeiro em assinar portarias para revogá-las em seguida: assina para agradar gregos e revoga para agradar troianos. Tudo depende das reações que suas portarias provocam na Esplanada dos Ministérios.
O Brasil? Ah! o Brasil que se cuide...
Agora mesmo ele assinou uma portaria que foi criticada aqui e no exterior, uma portaria que nos põe como exemplo de país que “abranda a definição do que seja trabalho escravo”, nas palavras de Fernando Henrique Cardoso.
Já o ministro Gilmar Mendes - ah! o ministro Gilmar Mendes!- fez questão de dizer que apesar de ter um trabalho exaustivo, o seu não é um trabalho escravo. Ele trabalha por prazer!
Ele achou melhor esclarecer a situação, pois o fiscal das garagens nas quais guarda seu carro, de tanto ver o carro do ministro ali estacionado, poderia pensar que ele estava, nos dois tribunais (STF e TSE), na condição de trabalhador escravo!
Não é nada disso! Calma, fiscais! O ministro não disse, mas digo eu: trabalha muito, viaja muito por prazer, tem boas férias que devem lhe dar muito prazer e recebe, creio eu, um bom salário também com prazer.
Mas tem mais: o que sentiria o Dr. Getúlio ao ver que o único movimento pró-Brasil, a célebre Lava-Jato, corre o risco de desmilinguir, salvando a pele de figuras que hoje nem dormiam mais, de tanto medo, e que podem vir a respirar aliviadas com a ‘ardilosa armação’ contra o combate à corrupção?
Será que a ninguém ocorre que se houvesse uma Lava-Jato em 1954, o Brasil teria escapado de ver seu ditador sair da vida para entrar na História? Seu destino seria outro?
Este é ou não é um país único no mundo? Aqui ninguém é culpado. Todos são vítimas de perseguição. A ditadura é do povo, ao contrário das ditaduras onde o povo é oprimido, nós, pobres metidos a besta, oprimimos nossos dirigentes. Quem os salvará?
Retrocedemos a passos largos. O último prego no caixão veio ontem, na Comissão de Cultura e de Segurança Pública na Câmara dos Deputados. O Estado de Alagoas, que já nos deu Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda e Nise da Silveira, entre outros, agora nos presenteou com uma flor: o deputado Givaldo Carimbão. Por se achar filho de Maria, Mãe de Deus, achou que tinha o direito de agredir violentamente a mãe do ministro da Cultura, já falecida.
Será pedir muito aos alagoanos que nunca mais nos enviem figuras como o Carimbão?
Só se surpreende com quem quer
O fato de 19 dos 44 senadores que votaram a favor de Aécio Neves estarem na mira da Lava Jato é tão revelador quanto dez serem integrantes do PMDB. E, dos 26 que votaram contra, seis também são alvo da operação da Polícia Federal – que, acredite, está sim mudando o Brasil. Entre eles, Lindbergh Farias. O “Lindinho” das listas de propina novamente mandou a coerência às favas, uma vez que o PT chegou a emitir nota em defesa de Aécio, por certo preocupado em livrar o pescoço da companheirada logo ali adiante. Mas querer coerência desta turma já é demais.
O Congresso Nacional há muito deixou de espantar os brasileiros decentes. Pode-se acusar os parlamentares de muitas coisas, menos de nos surpreender. O Congresso que alivia os comparsas é formado, em grande parte, por gente à espera de uma vaga na fila para embarcar no camburão. Só se surpreende quem quer.
Em uma democracia — e ainda estamos em uma, apesar dos esforços em contrário de integrantes dos três poderes —, a única maneira de se promover uma limpa é por meio das eleições. Se todos que hoje se revelam tão indignados nas redes sociais exercerem de forma adequada seu poder de voto, algo haverá de mudar. Porque nenhuma operação policial, nenhum esforço judiciário será capaz de alterar a realidade se o eleitor não deixar de lado a idolatria de vivas almas muito vivas e fizer o que é certo. É simples, embora não seja.
Falso poder sem pudor
Um poder que pode, mas que só pode se o outro concordar com ele, é um poder de faz de conta
Democracia em queda
No outono deste ano, o Brasil já era o 38.º entre 38 dos maiores países do mundo cuja população tinha menos entusiasmo pela democracia representativa. Só 8% dos brasileiros diziam à época que um governo formado por representantes eleitos era “muito bom”. Isso foi antes da delação da JBS e seus grampos escandalosos, antes de a Câmara rejeitar a denúncia que permitiria investigar Temer e antes de o Senado safar Aécio.
A pesquisa sobre o apoio à democracia no mundo foi comandada pelo “fact tank” norte-americano Pew Research Center. No Brasil, as entrevistas foram feitas pelo Ibope, que aplicou o mesmo questionário e metodologia empregados nos outros 37 países. A divulgação mundial foi esta semana e, por comparação, a democracia brasileira saiu mal na foto. Bem desaprumada.
Nos EUA, mesmo sob Trump, 48% consideram a democracia representativa como uma forma de governo “muito boa”. Na Alemanha, 46%. Na Índia, 44%. Na Argentina, 32%. No Brasil, 8%. Não é que a maioria dos brasileiros desaprove a democracia representativa: outros 51% acham-na “um tanto boa”. Na soma, as avaliações positivas chegam a uma maioria absoluta de 59%.
Mesmo assim, o Brasil fica apenas em 33.º lugar nesse ranking. Empata, na margem de erro, com México, Chile e Peru, e só fica à frente mesmo de Colômbia e Tunísia. Em comparação à média mundial (78% de avaliações positivas), os brasileiros ficaram 19 pontos abaixo no apoio a um governo por representantes eleitos, e praticamente se equipararam à média latino-americana (58%).
Isso significa que o Brasil prefere governos autoritários? Não. A taxa de avaliações positivas ao governo de um caudilho ou a uma ditadura militar são inferiores às do governo democrático.
Uma parcela bem menor de brasileiros, 27%, avaliou como positivo um governo conduzido por um líder forte sem a influência do Congresso ou dos tribunais. O resultado coloca o Brasil praticamente na média mundial (26%) do caudilhismo.
A hipótese de um governo comandado pelos militares, porém, tem apoio mais alto do que na média dos outros países pesquisados: 31% dos brasileiros consideram essa uma forma de governo “um tanto boa”, e 7%, “muito boa”, num total de 38% de opiniões positivas, contra 55% de opiniões negativas. Os 38% simpáticos ao governo militar estão 14 pontos acima da média global e colocam o Brasil em 12.º lugar no ranking do militarismo.
É um resultado a se prestar muita atenção a um ano de uma eleição presidencial que tem um militar reformado e defensor da ditadura em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
O estudo do Pew Research dá pistas de por que o apoio a governos autoritários está crescendo no Brasil. O principal deles é a rápida deterioração da opinião dos brasileiros sobre como a democracia está funcionando no País. Nada menos do que 66%, ou dois em cada três brasileiros, dizem que estão muito (10%) ou um tanto insatisfeitos (56%). E esse é um fenômeno recente.
No outono de 2013, antes das manifestações de junho, apenas 28% dos brasileiros se diziam pouco ou muito insatisfeitos com a maneira como a democracia estava funcionando no País. É sinal de que não se trata de uma reprovação ao sistema democrático em si, mas a como ele vem sendo manipulado pela classe política.
Diante desse diagnóstico, episódios como a submissão do Supremo Tribunal Federal à vontade política dos senadores tendem a aprofundar a crise de representatividade que faz a população questionar o funcionamento da democracia no Brasil. Aquilo que hoje parece uma vitória para os políticos em geral é, de fato, um tiro no pé de uma classe que depende do voto para existir.
A pesquisa sobre o apoio à democracia no mundo foi comandada pelo “fact tank” norte-americano Pew Research Center. No Brasil, as entrevistas foram feitas pelo Ibope, que aplicou o mesmo questionário e metodologia empregados nos outros 37 países. A divulgação mundial foi esta semana e, por comparação, a democracia brasileira saiu mal na foto. Bem desaprumada.
Nos EUA, mesmo sob Trump, 48% consideram a democracia representativa como uma forma de governo “muito boa”. Na Alemanha, 46%. Na Índia, 44%. Na Argentina, 32%. No Brasil, 8%. Não é que a maioria dos brasileiros desaprove a democracia representativa: outros 51% acham-na “um tanto boa”. Na soma, as avaliações positivas chegam a uma maioria absoluta de 59%.
Mesmo assim, o Brasil fica apenas em 33.º lugar nesse ranking. Empata, na margem de erro, com México, Chile e Peru, e só fica à frente mesmo de Colômbia e Tunísia. Em comparação à média mundial (78% de avaliações positivas), os brasileiros ficaram 19 pontos abaixo no apoio a um governo por representantes eleitos, e praticamente se equipararam à média latino-americana (58%).
Isso significa que o Brasil prefere governos autoritários? Não. A taxa de avaliações positivas ao governo de um caudilho ou a uma ditadura militar são inferiores às do governo democrático.
Uma parcela bem menor de brasileiros, 27%, avaliou como positivo um governo conduzido por um líder forte sem a influência do Congresso ou dos tribunais. O resultado coloca o Brasil praticamente na média mundial (26%) do caudilhismo.
A hipótese de um governo comandado pelos militares, porém, tem apoio mais alto do que na média dos outros países pesquisados: 31% dos brasileiros consideram essa uma forma de governo “um tanto boa”, e 7%, “muito boa”, num total de 38% de opiniões positivas, contra 55% de opiniões negativas. Os 38% simpáticos ao governo militar estão 14 pontos acima da média global e colocam o Brasil em 12.º lugar no ranking do militarismo.
É um resultado a se prestar muita atenção a um ano de uma eleição presidencial que tem um militar reformado e defensor da ditadura em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
O estudo do Pew Research dá pistas de por que o apoio a governos autoritários está crescendo no Brasil. O principal deles é a rápida deterioração da opinião dos brasileiros sobre como a democracia está funcionando no País. Nada menos do que 66%, ou dois em cada três brasileiros, dizem que estão muito (10%) ou um tanto insatisfeitos (56%). E esse é um fenômeno recente.
No outono de 2013, antes das manifestações de junho, apenas 28% dos brasileiros se diziam pouco ou muito insatisfeitos com a maneira como a democracia estava funcionando no País. É sinal de que não se trata de uma reprovação ao sistema democrático em si, mas a como ele vem sendo manipulado pela classe política.
Diante desse diagnóstico, episódios como a submissão do Supremo Tribunal Federal à vontade política dos senadores tendem a aprofundar a crise de representatividade que faz a população questionar o funcionamento da democracia no Brasil. Aquilo que hoje parece uma vitória para os políticos em geral é, de fato, um tiro no pé de uma classe que depende do voto para existir.
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