domingo, 7 de junho de 2015

Quanto mais pobre o Estado, mais gasta com o Legislativo

Pesquisa calcula custo das Assembleias em até 350 reais para cada cidadão
Os Estados mais pobres do país são os que mais gastam com seus parlamentos. Um levantamento feito pela ONG Transparência Brasilmostra que quanto menor o Produto Interno Bruto (PIB) do local, maior é o gasto com as Assembleias Legislativas. O mesmo vale para as Câmaras Municipais das capitais.

Dessa forma, cada cidadão de Roraima acaba pagando anualmente 352 reais para garantir o funcionamento de sua principal casa de Leis, que tem 24 deputados estaduais. O valor é 15 vezes maior do que em São Paulo, onde há 94 parlamentares e o contribuinte paga, por meio dos impostos, 23 reais anuais.

A explicação para essa disparidade está, conforme especialistas, na estrutura semelhante para Estados completamente distintos. Por exemplo, o salário dos parlamentares é igual em 25 das 27 unidades da federação, independentemente de quão pobre é a região. Algo que não ocorre no mercado formal. O valor é de 25.322 reais, 75% do que recebe um deputado federal, conforme prevê a legislação, que define um teto salarial. Além disso, esses parlamentares também recebem uma série de benefícios que eles mesmos estipulam para si e acabam inflando seus vencimentos. “Parece que há alguma distorção. A pergunta que a gente faz é: por que em Estados e municípios pobres um deputado estadual e um vereador precisam receber uma verba tão grande que é maior do que um representante de um Estado mais rico? Será que é necessário para as atividades parlamentares usar essa verba toda ou será que isso ocorre porque há menos fiscalização e pressão nesses Estados e municípios?”, analisa a diretora-executiva da Transparência Brasil, Natália Paiva.

Faca na garganta

O assassinato de um ciclista de 57 anos à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, supostamente por um jovem de 16 anos, provocou intensa reação das pessoas e dos órgãos de comunicação.

Isso se deve não apenas ao fato de o crime ter ocorrido numa das áreas privilegiadas da zona sul da cidade, mas também porque o jovem o teria matado a facadas com indiscutível ferocidade.


Durante vários dias discutiu-se a questão da maioridade penal. Muitos defendem que seja reduzida, enquanto outros se opõem à diminuição com o argumento de que ela não resolverá o problema cujas causas são sociais.

O argumento dos primeiros é que não tem cabimento acreditar que uma pessoa de 16 ou 17 anos não sabe o que faz: que assalta e mata sem saber que está cometendo crimes.

De fato, é impossível aceitar isso. Mas os que defendem o critério em vigor alegam que os jovens criminosos são levados ao crime pelas condições em que nasceram e foram criados.

Essa é uma opinião a ser considerada, particularmente por que toca na questão fundamental da desigualdade social. Não resta dúvida de que a maioria dos jovens envolvidos na criminalidade é de classe pobre, morador de favelas ou bairros carentes.

O problema é que corrigir a desigualdade social não é coisa fácil, embora ainda assim deva ser buscada com determinação e firmeza. A vasta experiência nesse terreno mostra que melhorar as condições de vida dos mais pobres demanda muito tempo.

Noutras palavras, mesmo que seja essa a causa única da criminalidade, por esse caminho não se resolverá de imediato a situação crítica que a sociedade enfrenta.

O número de assaltos registrados, por exemplo, no Rio de Janeiro, vitimando homens e mulheres de todas as classes, moradores e turistas estrangeiros, cresce a cada dia, tanto em número quanto em violência.
A população, assustada, clama por uma solução urgente do problema. Não dá para esperar até que se elimine a desigualdade social.

Mas e a outra proposta, a que reduz a maioridade penal? Será que basta isso para acabar com a criminalidade dos menores de idade?

É difícil admitir que tal coisa aconteça. Na verdade, essa proposta visa reduzir a impunidade aos jovens considerados menores de idade. De fato, mesmo quando se trata de um caso como esse, do assassinato do ciclista, o máximo de punição que lhe podem impor é trancá-lo por três anos numa casa de recuperação que, ao que tudo indica, não recupera quase ninguém.

Ao que se sabe, o referido jovem praticou seu primeiro delito aos 12 anos e, de lá para cá, assaltou, agrediu pessoas com faca, roubou dezenas de bicicletas e traficou drogas; mas nunca foi efetivamente punido.

Segundo a imprensa, ele já tinha 15 anotações criminais em sua ficha antes do crime, mas seu tempo em casas de recuperação de menores não passou de três meses.

E a gente se pergunta: qual é o critério para determinar a internação e a reeducação de jovens criminosos? O que se vê, frequentemente, nessas casas, são rebeliões dos internados, que as depredam e incendeiam. E fica por isso mesmo.

Até onde posso entender, os cidadãos não estão querendo se vingar do jovem homicida e sim, como é natural, manter-se a salvo de seus roubos e de suas facadas -das dele e de outros jovens homicidas- e também viver sem temor.

Já há pessoas que, dependendo de onde moram, não saem à rua à noite; outro vendeu o carro, por ter sido assaltado num engarrafamento de trânsito em pleno dia. Muita gente diz que vai fazer o mesmo, embora ainda não tenha sofrido tamanho susto. Prefere se antecipar.

Acredito que a maioria das pessoas, senão todas, gostaria que a sociedade fosse justa, mesmo porque o sentimento de justiça é uma qualidade natural do ser humano; os que não a têm é por ignorância ou rancor. Mas são poucos.

Uma coisa, porém, não se pode ignorar: a necessidade que todos temos de estar em paz e, sobretudo, de não viver em pânico, como já está acontecendo nesta cidade dita maravilhosa.

O ideal seria uma solução rápida e definitiva. Só que essa solução não existe. A alternativa, portanto, é encontrar um meio de impedir, dentro do possível, a ação dos criminosos, tenham a idade que tiverem.

O ciclo das vacas magras


A conta não fecha. Os repasses do Fundo de Participação dos Estados (FPE) aos entes federativos, este ano, exibem um rombo em relação aos anos anteriores. No Rio Grande do Norte, por exemplo, a queda do repasse, entre janeiro e maio último, foi de R$ 92 milhões.

Para Estados com curtos orçamentos e grandes carências, cofres vazios sinalizam calamidade, ainda mais com a falta de água que aflige o semi-árido nordestino, incluindo o norte de Minas Gerais. Na devastada paisagem, caminhões-pipa são aguardados por pessoas aflitas, que, em extensas filas, esperam a vez de encher seus potes e baldes com volumes racionados. 
 
O clamor regional se espalha, mas não consegue sensibilizar os ouvidos do Planalto, atentos que estão à calibragem da economia. Governadores expressam suas angústias na Esplanada dos Ministérios, voltando ao habitat com as mãos abanando.

Onde arranjar recursos, se os cortes de verbas nos Ministérios inviabilizam qualquer tipo de ajuda? Falta água, falta pasto e tem faltado também comida porque o dinheiro do Bolsa Família começa a ser corroído pela inflação.

Os cortes nos orçamentos dos Ministérios paralisam obras. A transposição do São Francisco, prometida para 2014, caminha a passos de tartaruga, com grandes pedaços ainda nem licitados.


Programas governamentais definham. O assistencialismo se resume a migalhas distribuídas a esmo.


As identidades dos governos se derretem sob grandes demandas nas áreas da saúde, educação, transportes e violência. Selos de marketing perdem sentido.

Velhos e novos atores vagueiam a procura de soluções criativas.

Quadros funcionais mostram-se desmotivados. Por todos os lados, enxergam-se escombros – obras paralisadas, empreendimentos inconclusos, equipamentos quebrados, desarrumação. A radiografia, vale dizer, cobre não apenas o Nordeste, mas outras regiões. O país vive o pleno ciclo das vacas magras.


elvis

Os impactos sobre os governantes serão fortes. As massas costumam colocar a bagagem de problemas sobre o colo dos donos do poder. Como não dispõem de coelhos na cartola, os mandatários mudam rotinas, tornando menos frequentes suas visitas às regiões devastadas, evitando respostas negativas às crescentes demandas das comunidades. Afastam-se do povo, perdem motivação e alguns chegam a cultivar o tédio.

Em menos de seis meses, alguns governos já parecem velhos, administrando massas falidas, consumindo quase todo o orçamento estadual com a folha dos servidores e fazendo pressão sobre os aliados nas Casas Congressuais para arrumar com o Executivo alguns trocados. 

O que se pode fazer para animação das equipes e aperfeiçoamento das estruturas em ciclos de crise, como o que estamos vivendo?

Vejamos. Se grandes empreendimentos não são viáveis, as administrações poderiam se voltar ao mundo das pequenas coisas, particularmente na frente dos métodos usados nos órgãos e estruturas. A reengenharia operacional é fruto de um intenso debate interno a ser promovido por equipes, sob a coordenação de consultores/coordenadores. O investimento na análise de processos operacionais, de fluxos e cronogramas de ações, da racionalidade de sistemas pode redundar em grandes benefícios.

O primeiro ano de governo é propício a este empreendimento. Trata-se de uma tarefa que não exigirá grande soma de recursos, eis que deverá contar, sobretudo, com o engajamento e participação dos quadros.

Fazer do limão uma limonada – é o refrão popular para explicar a situação. Ou seja, eliminar a tendência de acomodação, desmotivação, lerdeza, desinteresse, muito comuns em ciclos de crise.

Como é sabido, depois de algum tempo, a tendência dos governos é a de entrar num estado de letargia. Trata-se de uma doença ainda pouco diagnosticada, mas cada vez mais generalizada. Afeta, sobretudo, governantes do Poder Executivo - presidente da República, governadores e prefeitos -, podendo, ainda, pegar gerentes e chefetes da tecnoburocracia. Tem um nome: podernite, que, como todas as ites, é uma inflamação, só que, ao invés de tomar o corpo, invade a alma. Podemos designá-la como a “doença do poder’”. Exibe graus variados de metástase.

Nos Estados desenvolvidos, de culturas políticas evoluídas, a doença não se espalha muito porque as críticas da mídia e dos grupos formadores de opinião funcionam como antivírus. Nos Estados menos aculturados, dominados por estruturas paternalistas e sistemas feudais, a doença geralmente chega a graus avançados.

Se alguém quiser associá-la ao egotismo, a importância que uma pessoa atribui a si mesmo, está correto, pois os conceitos são próximos. Uma inflexão voltada para animação dos times evitará essa mazela, afastando os governos da fronteira do marasmo.

Lula, o líder!


Toda vez que brindo, peço saúde ao Lula e à Dilma. As pessoas ao meu redor sempre se negam a brindar ou reagem dizendo: “Você está de brincadeira!”. No imaginário popular, vale aquela máxima: aos maus a morte e aos bons a vida eterna. Porém, na minha visão, todos devemos viver bastante, especialmente os líderes, para que sejam julgados pela história, pois caso morram cedo podem tornar-se mitos, mesmo não tendo contribuído para a melhoria do país.

Como educador, sei que temos líderes positivos e negativos. Os positivos são aqueles que aproveitam as oportunidades para avançar, pensam no coletivo, respeitam as pessoas e, por essas características, sempre são agentes de grandes mudanças. Quando assumem funções importantes, como a regência de um país, têm espírito público, pensam na história e levam em consideração este julgamento, pois a história será impiedosa.

Por outro lado, temos os líderes negativos, que com as mesmas habilidades, são egocêntricos, perniciosos e, em geral, lideram uma quadrilha. São líderes para os quais os fins justificam os meios. Nesta categoria está “nosso líder” Luiz Inácio Lula da Silva, um sujeito que perdeu a dupla oportunidade de se tornar um mito.

A primeira seria perceber que seria julgado pela história e enfrentar sua natureza, pois com sua grande inteligência, em muitos momentos teve esse insight. Mas nosso líder não aproveitou, deixou se levar pela ganância, certeza de impunidade e crédito na sua capacidade de mentir e enganar, que o fez chegar até ali.

Nosso líder perdeu a oportunidade de ser julgado como um grande estadista. Mesmo eu – que nunca votei nele – torci para que lutasse contra sua natureza e, como um estadista, fizesse as mudanças que precisávamos, como a reforma política, fiscal e trabalhista. Com essas reformas, hoje teríamos um país melhor, mais justo e democrático. Independentemente de ser julgado, condenado e até preso para pagar seus crimes, vivendo bastante ele terá de enfrentar a história.

Pior que a roubalheira, foi a incompetência na gestão da maior carga tributária do mundo e na gestão das empresas públicas brasileiras – como a Petrobras, que em apenas 10 anos transformou-se de uma empresa moderna, competitiva e dinâmica em uma sucata velha, aparelhada com uma dívida maior que sua capacidade.

Apesar dessas grandes perdas, podemos trabalhar e pagar. Mas, pior do que isso, foi perdermos a moral, o mérito. Paramos de acreditar que a luta compensa e o crime não, relativizamos a corrupção, a violência, criamos e cultivamos a síndrome do coitadinho, onde o vagabundo, o folgado, o ladrão, o que não se esforça tem mais direito do que aquele que trabalha e mantém suas contas em dia.

Mas por que brindo também à presidente Dilma? Se ela não é líder, é o poste escolhido para manter o poder dos mesmos, e ela também teve a oportunidade de perceber e lutar contra sua natureza de poste. Será julgada pela história como um bom poste. Por essas e outras, um brinde pela saúde de Lula e Dilma!

Transatlântico Brasil afundando lentamente

“O que vai acontecer é o que ocorre no Brasil desde a Constituição de 1988: aumentos de impostos. Posso garantir que haverá alta não só neste ano, mas também no próximo, no próximo e no próximo.”
“Desde o semestre passado, entramos com força num período de baixo crescimento, que não chegará ao fim em 2016, nem em 2017 e talvez nem mesmo em 2018,”
“O cenário virtuoso seria o aumento da produtividade, com reformas e inflação baixa. Mas como não existe nem debate, nem liderança, nem espírito patriótico para fazer esse tipo de reforma, só resta fazer remendos. Enquanto isso a economia vai sendo sucateada, como um transatlântico, afundando lentamente.”
Luis Stuhlberger, o gestor de investimentos mais respeitado do Brasil

A corrupção mata

Na dantesca selva, até que enfim, um raio fulgurou na Fifa. Destampou a fossa e colocou à vista as lúgubres figuras que a povoam.


Mais que uma moralização do mundo do futebol infestado de cartolas velhacos, a atitude, que partiu dos Estados Unidos, parece uma declaração de guerra à corrupção pelo mundo afora, contraria o jeito de arrancar propinas que se generalizou no mundo e perdeu o controle no continente latino-americano. Neste quadrante, a corrupção devasta as economias nacionais e as deixa em frangalhos.

Se a guerra era apenas contra os cartéis do tráfico na América Latina, agora os EUA pretendem enfrentar as quadrilhas organizadas da corrupção. Pegaram pesado contra a Petrobras pelos rombos aos fundos que nela investiram, e não poderia ficar de fora a Fifa, que rapa, da paixão do mais difundido esporte no planeta, bilhões a cada ano.

Surgiu como uma atividade econômica ilícita relevante, uma máfia transnacional.

Na primeira leva de prisões, todos os sete conduzidos ao cárcere pertencem a países das Américas Central e do Sul. Destaque para o brasileiro José Maria Marin, que esteve à frente da CBF e da realização da Copa do Mundo de 2014.

Os Estados Unidos não se conformam, ao que tudo indica, com a exclusão de sediar as últimas Copas “leiloadas pela Fifa”. Apesar de o país oferecer condições operacionais e financeiras melhores que qualquer outro competidor, de garantir rendas e público.

A decisão de brindar o minúsculo Catar e até de mudar o calendário para abrigar a Copa do Mundo no deserto das Arábias, onde o petróleo jorra abundante, teria sido tomada em bastidores de figuras que saem de suas tocas apenas para garfar vantagens pessoais e ilícitas.

Figuras sem expressão, sem história no futebol, mas com voto que decide o destino de bilhões de dólares movimentados pelos torneios internacionais de futebol. Pessoas que, ocupando os vértices da Fifa, de regra, amealham fortunas pessoais que chamam a atenção pelo luxo e pela fartura.

Para ser escolhido sede de Copa do Mundo, o problema está exatamente em ganhar o leilão informal, a disputa de foice entre essas personagens cuja bússola se volta para o lado mais rentável aos bolsos deles.

Na Fifa os 209 votos, um por país, independentemente do peso e da tradição, se concentram numericamente na América Central e no pulverizado Caribe, com 38 membros, e na América do Sul, dez membros, mais 52 no continente africano, que, por afinidades étnicas e culturais com o outro lado do Atlântico, se movimenta pela mesma maré.

Os cem votos, redondos, desse blocão que se regula no mesmo diapasão têm poder absoluto e suplantaram os mais tradicionais e mais representativos países da modalidade.

O voto das Ilhas Cayman vale como o da Inglaterra. Bem por isso, na cúpula da Fifa, a maioria dos membros, como a lista de prisões decretadas pela Justiça dos EUA demonstra, chega a ser ocupada por eles. Coincidentemente, são países que ocupam os vértices do ranking dos mais corruptos e violentos do planeta.


A corrupção tira de quem precisa e privilegia bandidos. Destrói uma nação, é um crime que subverte os valores naturais em favor dos criminosos.

Gera falta de remédios, de assistência social, de educação, de serviços públicos, de aposentadorias mais generosas. Suga silenciosamente e mata mais que as drogas.

Portanto, é justa essa decisão de entrar nessa luta sem fronteiras contra a corrupção, que já fugiu do controle e ameaça assombrosamente a humanidade.

Vittorio Medioli

Exploração de trabalhador tem nome

Quem olha a megaempresa que abate mais de 2 milhões de bovinos ao dia, não imagina que há pouco mais de 15 anos ela não era considerada um grande player no mercado global. Hoje, com 200.000 funcionários em 350 unidades pelo mundo, a JBS, da holding J&F, cresceu a partir de 2003, quando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou a conceder empréstimos pesados e até se tornar seu sócio.

O boom da empresa, nascida em 1953 no Estado de Goiás, ocorreu nos anos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista foi um dos principais beneficiados pelas milionárias doações eleitorais da JBS. Essa ligação, aliás, é constantemente rejeitada pelos responsáveis pelo grupo. Em entrevista à revista “Exame”, Joesley Batista, um dos controladores da J&F, diz que não depende da caridade do Governo. Na ocasião, em 2012, ele comentava a compra de uma das principais construtoras que prestava serviços para a União, a Delta.

Parte dos recursos que entravam na JBS acabaram sendo usados para adquirir pequenos concorrentes e grandes também. Joesley costuma dizer que gostavam de comprar empresas maiores que eles. “Nós éramos de um tamanho 100 e comprávamos um negócio de tamanho 200 e, assim, dobrávamos nosso potencial”, afirmou em uma palestra para empresários. Compraram por exemplo a Swift, a Tasman Group, a Smithfield Beef, a Five Rivers e a Seara.

Hoje, além de produção de carnes (bovina, suína, ovina e de aves), o grupo, controlado pela mesma família que o fundou, possui fábricas de celulose, biodiesel, um banco e uma emissora de televisão, o Canal Rural
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À espera da palavra que salva ou da sentença que mata


Dois meses atrás o procurador-geral da República enviou ao Supremo Tribunal Federal pedido de abertura de inquérito contra 42 parlamentares no exercício de seus mandatos, supostos de envolvimento no escândalo da Petrobras, entre eles o presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros. De acordo com a decisão do ministro Teori Zavascki, eles serão objeto de investigações e denunciados, tornando-se réus. Ou absolvidos de participação na lambança. No primeiro caso seriam abertos processos contra eles. Se condenados pela mais alta corte nacional de justiça, perderão os mandatos e os direitos políticos.

O diabo é que até agora ignora-se o desenvolvimento dos inquéritos. Não se sabe se algum dos envolvidos já foi ouvido. Muito menos sabe-se do inteiro teor de supostas acusações.

O ritmo do Poder Judiciário é diferente, por exemplo, do ritmo da política. De quando em quando alguém desestabiliza a lentidão, como o então presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, no caso do mensalão. Só que o ex-ministro pediu para sair e já está fora. Seu sucessor não dá sinais de suas decisões, se é que estão sendo tomadas. O resultado é que mesmo com a Polícia Federal e o Ministério Público aprofundando as investigações e todos os dias revelando mais detalhes da lambança na maior empresa pública brasileira, os parlamentares envolvidos sentem-se blindados.

Convenhamos, o Supremo deve explicações à opinião pública, ao contrário do que alguns juristas sustentam. Com a designação do décimo primeiro ministro, onze meses depois da aposentadoria de Joaquim Barbosa, desaparecem os pretextos de que iniciar o julgamento seria um risco, dada a hipótese de um empate de cinco a cinco.

Não há pressões sobre os Meritíssimos, mas apenas ansiedade para que se pronunciem. Está proibida a transmissão televisiva das sessões de julgamento, que ao contrário do caso do mensalão, não ficarão a cargo do plenário, mas de uma das turmas da corte.

Em suma, o país espera a palavra que salva ou a sentença que condena. Mas esperar não é poder, conforme a letra do cancioneiro popular…

Velho Chico: Jeito (PT-Lula) de governar e o rio que definha

Foram marcantes os gritos, cantorias, manifestações e movimentos - silenciosos ou barulhentos e à margem das influências nefastas de custosas campanhas eleitorais - promovidos quarta-feira, 03/06, Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco: milagre da natureza apelidado de Velho Chico, que definha a olhos vistos.

Fato emblemático e de inquestionável interesse público (apesar da pouca atenção e da baixa repercussão nas chamadas grandes mídias regional e nacional). Principalmente ao retratar, prática e simbolicamente, a última década da vida política, social e administrativa do Nordeste e do País. Digamos assim, para sintetizar: do jeito Lula/PT de governar em tempos faraônicos de maré montante. Dilma (o apêndice de uma era) também, evidentemente, na etapa atual de penúria financeira e de mediocridade administrativa de um governo que, a exemplo do rio, também estiola a céu aberto. Sem projetos, sem rumo, sem força e quase já sem fôlego.

"O tempo passa, o tempo voa", dizia a modinha da caderneta de poupança de um então poderoso banco privado nacional, ao gargantear sua força e solidez, apoiada no engodo da propaganda sem lastro, praticamente nenhum, de verdade.

Morreram banco e poupança. Restou a memória da cantiga marqueteira, como a batucar na cabeça: é preciso lembrar, "porque o esquecimento é o caminho mais curto para repetir tudo outra vez”. Recordemos, então, pelo menos em defesa do que ainda resta e pode ser salvo no leito e às margens do cada vez mais combalido, maltratado e atraiçoado São Francisco, o rio da minha aldeia.


Na verdade, para usar expressão bem ao gosto do gaúcho Leonel Brizola – um dos mais ácidos e saudosos críticos do ex-presidente Lula e de suas mirabolantes invenções na política e na administração pública – a ideia da transposição das águas do São Francisco "vem de longe". Para ser exato, remonta a 1847, no tempo do Império, quando quem mandava no Brasil era Dom Pedro II. Passou depois pela cabeça de outros mandatários (Getúlio Vargas, João Baptista de Figueredo, Itamar Franco, FHC). Mas todos eles refugaram a aventura, com inúmeros e notórios ingredientes para fracassar.

A começar pelo conflito sem tamanho do poderoso jogo de interesses (políticos, econômicos, sociais e governamentais) envolvidos na questão. Em especial quanto a preservação ambiental e a utilização das águas desviadas do leito natural do rio.

Em 2004/05, porém, período das vacas gordas do primeiro mandato do governo petista(e de pesquisas de aprovação popular que só faziam crescer), dinheiro de órgãos públicos de financiamento e de estatais "dando sopa" para bancar todo tipo de megalomania aventureira, Lula decidiu bancar, de fato, a transposição.

Para encurtar esta história, que é longa e tem passagens impróprias para menores: no começo da execução do projeto, as obras foram orçadas em R$ 4,8 bilhões (2007). Atualmente pulou para R$ 8, 2 bilhões. Reajustes contratuais, em geral destinados a atender aos apetites insaciáveis de grandes empreiteiras, aumentaram em 30% o custo inicial, entre 2007 e 2012. Mas contribuiu decisivamente, no Nordeste, para o marketing eleitoral na conquista do segundo mandato de Lula e nas votações avassaladoras de Dilma no primeiro mandato e na reeleição recente.

Esta semana, em vigorosa série de reportagens publicada a partir de 31/5, sobre a degradada situação do Velho Chico, o diário mineiro revela com coragem e precisão um quadro inquietante: "seca, assoreamento, poluição e descaso, entre Minas, Bahia e Pernambuco," diz trecho da reportagem na sua apresentação.

Impossível, também, antes do ponto final, não lembrar das duas greves de fome do bispo, da diocese baiana da Barra, D. Luiz Flávio Cappio, em Cabrobó, marco zero do canteiro de obras da transposição. A segunda delas, com a presença e apoio decidido e generoso da atriz Letícia Sabatella. Mais corajosa e forte denúncia nacional sobre a perversa encenação política, social e governamental que então se desenhava.

"Este projeto de transposição, em vez de democratizar a água, visa a segurança hídrica desta água do Rio São Francisco nos açudes e perenizar os rios para os projetos agroindustriais. Por isso, nós somos contrários ao projeto", dizia então o religioso. Anos depois, ao participar em Berna (Suiça) de um encontro mundial de defesa da água, em entevista ao Suicinfo.com, o religioso foi mais enfático ao demonstrar sua indignação:

"'O grande objetivo dos grandes projetos governamentais, tipo transposição do Rio São Francisco, é um objetivo corrupto, de angariar fundos para as eleições deste ano. Se o projeto vai adiante ou não, não é importante para o governo brasileiro porque o objetivo já foi alcançado: obter fundos para as eleições de 2010". E depois? Responda quem souber.