domingo, 8 de março de 2015

Efeito Brasil?

Corrupção atinge indígenas bolivianos

 Fondo Indígena
Morales intervém em uma instituição e prende dois ex-executivos por má administração
Um escândalo no Fundo Indígena da Bolívia desestabiliza o discurso oficial sobre a probidade dos indígenas, considerados certa vez pelo presidente Evo Morales como a “reserva moral da humanidade”. O Governo teve de intervir nessa instituição, que recebe uma importante quantidade de dinheiro proveniente das exportações de gás do país para realizar projetos produtivos nas comunidades “originárias”. Seus dois ex-executivos foram presos. A Controladoria do Estado moveu uma ação contra eles dois e contra vários dirigentes camponeses e indígenas envolvidos na má administração de um montante que pode chegar a 277 milhões de bolivianos (mais de 120 milhões de reais).

O presidente Morales requereu a investigação do Fundo Indígena depois de receber várias denúncias sobre a existência de uma trama para financiar projetos que acabavam não sendo realizados (“projetos fantasma”). Até agora foram detectados 153 projetos desse tipo e há suspeita de mais 100.

Um caso ilustrativo é o do financiamento para plantar um hectare de alho para cada uma das famílias de um grupo de 500 que vivem em Puerto Acosta, povoado situado a 194 quilômetros de La Paz. Segundo a denúncia que processam as autoridades, três diretoras da Federação de Mulheres Camponesas Bartolina Sisa –organização fundadora do partido do Governo, o Movimento ao Socialismo (MAS)– enganaram as famílias e conseguiram que as mesmas assinassem testemunhos de que receberam o benefício completo em troca de meio quilo de alho para cada uma. As diretoras, por seu lado, obtiveram 1,2 milhão de bolivianos do Fundo Indígena.
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Tiririca


Tiririca ser o deputado mais votado parece indicar que a política conseguiu piorar, mas pode ser o cocô que faltava para a limpeza da fossa, a reforma política.

Não é democrático discriminar qualquer profissão, inclusive os palhaços – mas, com voto distrital, um palhaço só conseguiria candidatura, e só se elegeria, se fizesse muito mais que apenas palhaçadas, como o Tiririca, que diz não saber o que um deputado faz.

Na Inglaterra – que não tem horário eleitoral gratuito – os candidatos tem de ganhar voto em incontáveis reuniões com eleitores de seu distrito. Para faltar a uma sessão no Parlamento, um deputado trabalhista tem de pedir autorização a seu líder, que só consente se outro deputado de outro partido também faltar.

Aqui, os deputados faltam quando e quanto querem, e cada um emprega mais assessores que o primeiro-ministro da Inglaterra.

A palavra “candidatos” vem da Roma Antiga, quando os que queriam ser senadores saíam às ruas vestidos de branco (a cor “cândida”, da pureza e da inocência…). Assim simbolizavam que não tinham manchas no caráter e na vida, eram imaculados. A lei da ficha limpa é a versão atual disso.

O cerco está apertando tanto, com tantas exigências de transparência e fiscalização pelo eleitorado consciente (ainda minoria no entanto), que é bem capaz que logo-logo (daqui a umas décadas) os candidatos passem a ser na maioria honestos.

Gente é a única espécie, neste planeta, cujo destino é melhorar. Eleições já foram bem piores.

Lembro do dia dos baldes. Jânio Quadros foi candidato a deputado pelo Paraná em 1958, e eu, com nove anos, vi a rua ficar coberta por grossa camada de santinhos dele, despejados de baldes por caminhonetas. Bitucas de cigarro provocaram vários incêndios, que os moradores apagavam com baldes de água.

Postes, muros, ruas, paredes, estradas, tudo era emporcalhado por pichações e cartazes até começo da década passada! Um dia, meu filho Jerônimo, menino, perguntou:

- Pai, se eles querem governar, por que fazem tanta bagunça?

No tempo das células eleitorais de papel, lembro de um escrutinador eleitoral vangloriar-se de “arranjar” até centenas de votos para seus candidatos, apenas “votando” nas células em branco com uma canetinha curta que escondia na mão. Nós éramos do velho PMDB resistente à ditadura, e falei que aquilo era errado, ele disse que não:

- Contra a ditadura, vale tudo.

Retruquei que, assim, trocaríamos a ditadura por uma republiqueta. Depois, acabada a ditadura, ele continuava com sua canetinha, a “arranjar” votos para candidatos que lhe molhavam a mão esperta… Mas a urna eletrônica acabou com isso.

Até pouco mais de um século, mulheres não podiam votar, e houve um tempo em que só ricos podiam votar!

Embora ainda vivamos num tempo em que os ingênuos e desocupados cultuam ditaduras de esquerda, a democracia parece ser o caminho para melhorar, desde que melhorem as eleições e a política.

Tiririca não é o pior que podia acontecer. Pior é desacreditar e desistir de acreditar e melhorar porque muitos ingênuos se deixam enganar por um palhaço. Ou como diria o caboclo:

- Não é porque o padre é ruim que vou deixar de ter fé!

Deus deixou de ser brasileiro?

Fazia muitos anos, segundo os especialistas, que o Brasil não passava por uma conjuntura tão negativa
Desde sexta-feira à noite parece que os astros confabularam contra o “país maravilha”, e que Deus deixou de ser brasileiro, já que, além da crise econômica que assola a nação onde tudo aumenta — recessão, inflação, taxas de juros mais altas do mundo, déficit fiscal e comercial, divórcio entre Governo e Congresso —, adiciona-se agora, oficialmente, o terremoto do Petrolão.

O relator do maior escândalo de corrupção política e corporativa na história do país, o juiz do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, autorizou a investigação de 49 políticos de seis partidos, do Governo e da oposição, supostamente envolvidos no escândalo da Petrobras. Entre eles, nomes de peso do mundo político, até então estrelas do Congresso, de governos federais e estaduais.

Há muitos anos, segundo especialistas, que o Brasil não passava por uma série tão extensa de fatos negativos. Isso pode colocar em risco o atual equilíbrio político, e não deixará de ter um forte impacto nas ruas.

A situação política brasileira está tão tensa que, segundo o jornal Folha de S. Paulo, há rumores de que a presidenta Dilma Rousseff, cada vez mais fragilizada e pressionada no Congresso, estaria avaliando a possibilidade de tentar um pacto político que incluiria até o maior partido de oposição, o PSDB, eterno adversário do PT, legenda de Dilma, e que também parece envolvido no escândalo da Petrobras, na figura de um de seus senadores de peso, Antonio Anastasia, ex-governador do importante Estado de Minas Gerais.

Tudo isso, com certeza, para que o Governo tente sair do ringue no qual se encontra contra as cordas, num beco do qual por enquanto não se enxerga uma saída, enquanto a sociedade anuncia uma manifestação nacional para o dia 15 de março, para exigir a saída de Dilma.

Antes, no dia 13, para complicar ainda mais a situação política já tão emaranhada, os sindicatos que apoiam o Governo pretendem levar seus ativistas às ruas contra as medidas de austeridade fiscal e redução de direitos trabalhistas que o Governo prepara para colocar em ordem suas despesas sobrecarregadas.

Ainda é cedo para poder medir o impacto que essa lista de 49 políticos de seis partidos que deverão ser investigados pelo escândalo do Petrolão terá sobre uma opinião pública já esmagada e irritada com a crise econômica, e perplexa diante de uma crise política de tal magnitude.

Na própria sexta-feira à noite, nos noticiários e nas redes sociais, a revelação dos nomes dos políticos envolvidos obteve os maiores índices de audiência.

Talvez a única notícia positiva em meio ao desastre político seja esse interesse da opinião pública brasileira, tantas vezes acusada de excessiva passividade diante dos escândalos de corrupção.

Essa reação positiva dos cidadãos comuns e a demonstração dada pela Procuradoria-Geral e pelo Supremo, de que os poderes do Estado mantêm sua independência e autonomia, poderiam resultar numa luz no fim do túnel e numa esperança de que as coisas precisam mudar.

De que forma, ninguém é capaz de imaginar por enquanto. Sem dúvida, o país terá que passar por uma séria transformação, capaz de superar o terremoto político e econômico que o oprime, se não quiser continuar escorregando em direção ao abismo que se abriu diante de seus pés.

A última esperança é que os cidadãos de bem, os que ainda não sujaram as mãos e continuam apostando apesar de tudo nos valores da democracia, especialmente os jovens, aos quais o futuro pertence por direito e biologia, não pareçam dispostos a permitir que Deus deixe de ser brasileiro.

Dia Internacional da Mulher

Dia da mulher abraco beijo por nao estar na lista de janot

A implicação do PT

14Todo exercício da liberdade que implica ofender o outro, ameaçar a vida das pessoas (até de todo um ecossistema) e violar o que é tido como sagrado não deve ter lugar numa sociedade que se quer minimamente humana
Leonardo Boff

E se a lista criar novos delatores?

I love Petrobas (Foto: Arquivo Google)
A lista fala mais pelo o que não diz. Aponta quem recebeu propina e esquece-se de quem mandou pagá-las

Pronto. A tão esperada lista dos políticos envolvidos na roubalheira da Petrobras veio a público na noite de sexta-feira. Com algumas estranhezas, como a fartura de 32 integrantes do PP, a relação, de imediato, pouco mexeu na acelerada pulsação do Congresso. Mas a taquicardia por lá, e também no Planalto, continuará fora de controle. Até porque com mais gente na mira abrem-se fartas possibilidades de traições e novas trincheiras para se percorrer a trilha da dinheirama.

Como em qualquer caso de polícia, os caminhos do dinheiro unem os criminosos aos beneficiários do crime – os que mandam executar e nunca sujam as próprias mãos.

Os rastros costumam valer mais do que o número de gente metida na encrenca. Percorrê-los tem sido a obsessão dos investigadores da Operação Lava Jato. E passam a ser agora tarefa primeira das investigações e diligências autorizadas pelo ministro Teori Zavascki, do STF.

A lista fala mais pelo o que não diz. Aponta quem recebeu propina e esquece-se de quem mandou pagá-las.

Debate embaralhado

Defender a Petrobras é querer restaurar sua credibilidade e reerguê-la o mais rápido possível, não é negar a corrupção
Pelo menos sobre uma coisa há consenso: o país vive um momento conturbado e preocupante. No campo econômico, político e social. Um mínimo de sensatez e civismo aconselha que se procurem pontos consensuais em busca de saídas. Para isso, há que partir de análises honestas e tentar trazer argumentos lógicos ao debate.

No entanto, o que se vê, em grande parte, é o embaralhamento de afirmações rasteiras ou falsas, slogans, superficialismo, xingamentos, distorções de fatos, visando a apresentar mentiras como se fossem verdades e a evitar a discussão franca dos reais problemas.

Não faz qualquer sentido, por exemplo, pedir o impeachment de uma presidente legitimamente eleita, sem que ela seja alvo de qualquer investigação policial ou indiciamento. Nem atacar o ex-ministro da Economia por levar a esposa para tratamento médico num hospital particular, em vez de procurar o SUS. Nem criticar a presidente por ter escolhido um ministro que se compromete a fazer um ajuste fiscal (e se ela mentiu na campanha a esse respeito, que se critique a mentira, não o ajuste). Nem achar que dá para fazer ajuste sem cortes. Nem afirmar que o rebaixamento do grau de investimento da Petrobras, pela Moody’s, se deve a um desconhecimento da situação por parte da agência, e não à falta de um balanço auditado e às sucessivas descobertas de um esquema de corrupção sistêmica — fatos inegáveis, que precisam ser admitidos e não dependem de que se atribua sua causa a aparelhamento, projeto partidário de poder e intromissão política em decisões que deviam ser técnicas ou que, por outro lado, se acredite realmente que só ocorreram por artes do capeta ou de FH.

´É ainda puro embaralhamento comparar delação premiada a extorsão ou tortura. Ou confundir o sigilo exigido por esse instrumento legal e a divulgação de depoimentos dados à polícia, chamando estes de vazamento seletivo.

Também não faz qualquer sentido achar que quem quer ver punida a corrupção na Petrobras está atacando a pobre estatal que precisa ser defendida contra o imperialismo ianque. Defender a Petrobras é querer restaurar sua credibilidade e reerguê-la o mais rapidamente possível, não é negar a corrupção que vinha ocorrendo nela e botar a culpa nos outros, insultando a inteligência alheia. Não dá para imaginar que a oposição conseguiu, em 12 anos de governo petista, infiltrar gente nos quadros da empresa especialmente para criar o crime perfeito: fazer contratos superfaturados com empreiteiras e acertar que o dinheiro a mais, além de calar a boca de uns e outros, seria depois lavado para ser doado legalmente a partidos políticos, sobretudo da base aliada. Tudo “de acordo com a lei".

Também é absurdo querer impingir que a solução para evitar que isso se repita não deve passar pela Justiça e pelas punições previstas em lei, mas virá por um novo sistema de votação em lista partidária, em que o eleitor só escolhe o partido, mas elege quem os dirigentes escolheram. Mais uma manobra diversionista para embaralhar o debate. Aproveita-se que a opinião pública quer ver o fim desse descalabro de campanhas milionárias bancadas pelo poder econômico (até a CNBB já se manifestou nesse sentido). Então, em vez de discutir regras que limitem as doações das empresas, ou até as proíbam se for o caso, tira-se novamente do bolsinho da calça a ideia de financiamento público e voto em lista fechada. O que tem isso a ver com as calças? É mais uma manobra para confundir. A discussão deveria ser em torno do barateamento das campanhas, mais curtas, em programas de TV menores e mais enxutos, sem atores fingindo de eleitores, sem filmetes milionários, sem marqueteiros inflacionados — apenas algo como o candidato diante da câmara se apresentando, ou entrevistado por um jornalista, ou debatendo com adversários.

Embaralhar o debate só serve para criar confusão, acirrar um clima emocional já acentuado, desviar a atenção. Não faz bem à democracia. Acaba em apelos para se partir para cima ou ameaça de chamar exércitos. O mínimo que o cidadão bem intencionado pode fazer é voltar ao assunto sem morder a isca. Mas que cansa, cansa.

Ana Maria Machado

Trenzinho caipira

No 'governo dos pobres', bilionários se multiplicam

Desde os tempos de Getúlio Vargas nada produz melhor dividendo político do que rotular-se defensor dos pobres. É um discurso que agrada pobres e ricos. Tanto isso é verdade que o PT, em seus anos de credibilidade, enquanto distante das decisões administrativas e dos recursos públicos, era o partido campeão de votos nos bairros mais aristocráticos de Porto Alegre.

Lula, no entanto, precisa dizer o contrário. Ele e seu partido, não se contentam com propagandear o zelo pelos mais necessitados. Eles precisam, também, repetir à exaustão que os ricos ficam contrariados com isso. Falam, Lula e os seus, como se rico fosse idiota e não soubesse, na experiência própria e na internacional, que nada ajuda mais a prosperidade dos ricos do que a prosperidade de todos. É mais riqueza gerada, mais PIB, mais mercado, mais consumo, maior competitividade. Pobreza é atraso e culto à pobreza deveria ser catalogado como conduta antissocial.

A sedução produzida pelo discurso em favor dos pobres se abastece das próprias palavras. Fala-se no Brasil de uma estranha ascensão social em que o número de dependentes do socorro direto do governo aumenta indefinidamente através das décadas. O bolsa-família é um campo de concentração de ingresso voluntário, onde quem entra não sai nem que a vaca tussa. E o seguro-desemprego tornou-se o amigo número um da rotatividade no emprego, desestimulando a permanência no trabalho remunerado. Enquanto isso, o sistema educacional das classes favorecidas no discurso e desfavorecidas nas ações de governo continua reproduzindo a miséria nas salas de aula que o Brasil destina às suas populações carentes.

Enquanto isso, em dez anos de governo dos que supostamente privilegiam a pobreza, o número de bilionários brasileiros pulou de seis para 63, regredindo para 54 com as marolinhas do ano passado. Nenhum crescimento semelhante ocorreu, no mundo, durante esse período. E aí, amigos, dêem-se vivas não a um desenvolvimento harmônico da sociedade, mas ao BNDES e seus juros de pai para filho, subsidiados com o suor do nosso rosto. De 2009 para cá, o banco passou a esguichar dinheiro grosso para a zelite das empresas nacionais. Só do Tesouro Nacional, R$ 360 bilhões foram repassados ao banco para acelerar o desenvolvimento de empresas amigas do governo, muitas das quais com credibilidade semelhante à do próprio governo. Não vou falar dos financiamentos negociados através do itinerante ex-presidente Lula em suas agendas comerciais com ditadores latino-americanos e africanos, porque essa é uma outra história.

Bilhões foram pelo ralo das análises mal feitas e dos negócios mal explicados. Há um clamor nacional pela CPI do BNDES. O governo que diz zelar pelos pobres (mas que precisa deles em sua pobreza) destinou muito mais recursos aos bilionários (porque precisa deles em sua riqueza). Afinal, ninguém tira centenas de milhões de reais do próprio bolso para custear campanhas eleitorais. Esse é o tipo de coisa que só se faz com o dinheiro alheio, vale dizer, com o nosso próprio dinheiro, devidamente levado pelo fisco e, depois, lavado pelo governo nas lavanderias dos negócios públicos.

Percival Puggina


A boca fechada de Dilma

Dilma sai à cata de dinheiro, arrecadando ainda mais impostos. Ela sabe que quebrou
Ela perdeu muito peso em poucos meses. Na balança do corpo, perdeu 15 quilos, desde novembro, graças a uma dieta argentina. Na balança do poder, Dilma Rousseff perdeu parte do apoio de seu principal aliado, o PMDB, e a confiança do país. Hoje, ela é uma mulher bem mais magra e uma presidente bem mais fraca.

Está emparedada pelo Congresso, que se amotina por causas nobres e motivos espúrios. Está isolada do povo por não ter condições financeiras para manter um governo assistencialista e populista. Corta programas sociais para não ver o Brasil se desmilinguir. Com um Estado inchado que custa 40% do PIB – repetindo, um Estado que consome quase metade do PIB, um dos Estados mais caros do mundo –, Dilma sai à cata de dinheiro, arrecadando ainda mais impostos. Ela sabe que quebrou.

Da mesma forma que reduziu a barriga e os quadris, Dilma terá de encolher o Estado e as estatais, coisa que já deveria ter feito em tempos gordos, antes da dieta. Em 2005, há dez anos, havia um projeto de ajuste fiscal de longo prazo, com uma meta de deficit zero nas contas públicas. Dilma achou “rudimentar” esse regime. Deu no que deu, o Estado ficou obeso, e só mesmo uma cirurgia radical nos salvará.

Não será o médico argentino Máximo Ravenna que fará emagrecer a gulosa máquina petista. Esse método reduz apenas quilos, rapidamente, e visa queimar as reservas de gordura do corpo. Associa cardápio de baixa caloria a atividade física e acompanhamento psicológico. Dilma é obediente, ingere apenas 800 calorias por dia e ajusta seu figurino. No corpo, tinha muitas reservas a queimar. Já no país...

Para ajustar as finanças, ainda bem que Dilma não chamou um argentino. O mago Joaquim Levy, sorridente e pragmático, precisa mostrar resultados rápidos na economia. O ajuste de Levy é draconiano, mas será que seu cliente, o governo do PT, se ajustará às regras da dieta? Ou se viciou no desperdício? Dilma e Levy precisarão se entender às mil maravilhas, porque, se houver uma quebra de discurso e de confiança entre médico e paciente, neste caso, quem sofrerá será nosso corpinho, quem sofrerá será o Brasil.

Dilma prova hoje o sabor amargo de uma vitória eleitoral conquistada em cima de mentiras, ilusões, conchavos, acusações irresponsáveis e promessas vãs. O eleitorado militante petista está mais calado que a presidente. Se existe alguém, hoje, que não provoca inveja no Brasil, é Dilma. Também não inspira pena. Chegou aonde chegou por suas próprias pernas, arrogância, omissão e temperamento. Dilma II só pode culpar Dilma I. Também pode culpar seu criador, Lula, que a fez acreditar num futuro mirabolante.

Metida no inferno astral, o que faz Dilma? Come menos e fala menos. Quase some. A imprensa a acusa de “letargia” e “inércia”. Chama a presidente de “zumbi” e “surda”. Parece telespectadora de si mesma. Vê a lista dos políticos acusados de corrupção, divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, felizmente sem seu nome. Vê a paralisação dos caminhoneiros. Vê a greve de professores. Vê a revolta das mulheres dos sem-terra, armadas com facões. Vê despencar a venda de carros em fevereiro. Vê sua Medida Provisória devolvida por Renan Calheiros, logo quem. Vê que perdeu até a chance de indicar cinco novos ministros para o Supremo Tribunal Federal, porque a Câmara aumentou a idade máxima, no STF, de 70 para 75 anos. Vê um movimento nas ruas e redes sociais por seu impeachment. Vê o povo insatisfeito e temeroso com a volta da inflação e do desemprego.

Pois eu acho que Dilma está certa ao se recolher. Comer menos, falar menos, evitar gafes, entender o que se passa, recosturar suas alianças, esperar passar a borrasca e não fazer besteira. Pode até divulgar fotos suas comprando doce de leite num supermercado no Uruguai, para parecer uma avó e dona de casa comum. Mas terá de trabalhar mais e direito nos 46 meses que lhe restam. Não basta se repaginar, ondular o cabelo e refazer os terninhos. Terá de se reinventar. Mudar a postura. E assumir responsabilidade real com a vida de 200 milhões de brasileiros e suas famílias.

Dilma errou demais da conta. Mas a hora é de um pacto para evitar o pior panorama: uma recessão sem luz no fim do túnel. Não importa mais quem votou em Dilma ou contra ela. Importa o voto em nosso país, importa evitar uma crise institucional e econômica sem volta. Vale acompanhar o ensaio de uma aproximação entre setores do PT e do PSDB, unidos por dois interesses: tornar o PMDB um pouco mais humilde e salvar o Brasil. Há interlocutores no PSDB que Dilma já disse admirar e respeitar. Um deles é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, por enquanto, é melhor ficar de boca fechada.

Ruth de Aquino