sábado, 16 de abril de 2016

AUTO_nicolielo

Não vai ter golpe, querida!

Não vai ter golpe. Dilma apenas será impedida de continuar no cargo, tudo dentro da lei e das normas constitucionais. Será apeada do poder devido à incompetência de governar, às mentiras, por ter recebido dinheiro ilegal em sua campanha e por ter cometido crimes de responsabilidade. Pior ainda: por ter dado um tapa na cara dos brasileiros ao convidar para ser seu ministro um sujeito às voltas com a Justiça. Simples assim!

Cansamos de ser passivos e resolvemos assumir o importante papel de protagonistas da cena nacional. Depois do dia 13 de março, quando mais de 6 milhões de brasileiros foram às ruas em centenas de cidades em todos os estados, estamos reivindicando o fim da aventura petista e o fortalecimento do Poder Judiciário. Quer legitimidade maior? As manifestações ordeiras e pacíficas mostraram o verdadeiro espírito dos brasileiros. Demos o recado cristalino a Dilma, a Lula, a seus seguidores e a todos os corruptos: “basta!”


Da mesma forma, a maioria absoluta dos ministros do STF não só percebeu a reação das ruas como reagiu com firmeza às declarações chulas e desrespeitosas do mito do PT. Os magistrados, em número que continua crescendo, declararam seu apoio, sem qualquer direcionamento partidário, ao juiz Sergio Moro e a suas atitudes na “República de Curitiba”, como caracterizou Lula, o messias do pau oco.

O Palácio do Planalto transformou-se em um circo. Dilma fala apenas à sua claque escolhida a dedo, artistas e intelectuais, funcionários encravados na máquina pública federal, bandos ligados ou travestidos de MST, estudantes sustentados na UNE, todos dependentes da “mortadela” oficial e que bradam “em defesa da democracia”. Que democracia? A bolivariana? A cubana? A que eles defendem como sinônimo de incompetência e corrupção?

O país está dividido, prestes a uma convulsão social. Se Dilma tivesse grandeza, espírito cívico e humildade, renunciaria. Pouparia os brasileiros do desgaste emocional e psicológico, e de um embate que pode transformar-se sangrento. O Brasil parou! Não se governa mais. O que resta é um balcão sujo de compra e venda de parlamentares para votar contra o impeachment. Mas, felizmente, estamos todos de olho neles.

E, enquanto o impeachment não vem, Dilma, Lula e seus convivas insistem no seu “pacote anticrise” e “antigolpe”: ameaças à Policia Federal proclamadas pelo (agora suspenso) ministro da Justiça, Eugênio Aragão; ameaças dos movimentos sociais de que o país será incendiado com greves gerais; tentativas de lançar suspeição sobre as atitudes do juiz Sergio Moro e afirmações de que a Lava Jato é a causadora da ruína econômica do país; além da insistência na ladainha de que a “estabilidade democrática e a justiça” estão seriamente ameaçadas.

Somente agora, que a água está batendo na saia, que partidos políticos deixam a base do governo e a possibilidade de impeachment é real e imediata, a presidente vem falar em acordo nacional com base em um programa de recuperação da economia e da união de esforços. A mesma coisa dita pelo seu vice, Michel Temer, em seu discurso vazado, caso venha a assumir a Presidência.

Enquanto isso, a imagem do Brasil no exterior cai por terra. A economia brasileira está puxando para baixo o crescimento mundial. A ONU classificou o país como preocupante, e em sérias dificuldades. As publicações britânicas The Economist eThe Guardian sugerem em seus editoriais a renúncia de Dilma. O americano The New York Times destacou a indicação de Lula como “uma tentativa grosseira de impedir o curso da Justiça” e defendeu que Dilma deveria renunciar agora. É o que pensa a maioria absoluta dos cidadãos brasileiros. Tchau, querida!

Golpe ou paixão pela política?

Nestas horas cruciais para o Brasil é importante enfocar as diferentes leituras do que está ocorrendo na sociedade e nas instituições. Insistir só na ideia de golpe é perigoso, sobretudo porque, segundo as pesquisas, é a grande maioria que pede uma mudança, angustiada por uma crise econômica que já alcança a classe média e especialmente os mais pobres.

O Brasil, com os nervos à flor da pele, ressuscitou a paixão pela política de outros momentos históricos, o que gera – como todas as paixões – sentimentos antagônicos que podem produzir perplexidade e dor.

Como funciona o sistema de suspensão automática no futebol Editoria de arte/

Pior seria, contudo, um país apático e indiferente à política, já que, quando se deixam os destinos do país ao sabor dos políticos, é mais fácil que se incubem tentações autoritárias.

Os eleitores constituem a melhor defesa da democracia, conscientes de serem eles os sujeitos desta. Para isso é normal que existam pontos de vista distintos e até opostos, uma vez que, na política como na democracia, não existem dogmas de fé, mas a aceitação das diferenças capazes de conviver sem guerras.

Nestes dias criticam-se os eleitores por assediar quem foi designado para representá-los no Congresso. Pior seria se cidadãos estivessem indiferentes.

Depois de ter vivido a longa ditadura espanhola, tenho medo de quem se orgulha de não estar interessado em política, afinal, é ela que determina boa parte de nossa felicidade ou infelicidade, ou a possibilidade de viver em liberdade ou tirania.

Essa paixão que os brasileiros estão vivendo pela política, embora às vezes com tumulto e enfrentamentos, é também o melhor antídoto para as instituições que não deixam de ser sensíveis à voz das ruas que as vigiam e julgam.

Seria perigoso – e injusto –, neste momento, criar-se a imagem de um país às vésperas de um golpe autoritário. Felizmente, o Brasil não é a Venezuela. Com altos e baixos, suas instituições estão vivas e vigilantes. Aqui pulsa o desejo de punir e isolar os políticos corruptos dando, com isto, um exemplo a muitos outros países.

E é palpável a exigência dos cidadãos pela volta a uma economia saneada do cataclismo que a aflige e que não corresponde à riqueza e à vitalidade de um país-continente como o Brasil. Crise econômica na qual sofrem os menos responsáveis.

Que no domingo se veja, com qualquer dos resultados do processo de impedimento contra Dilma, uma festa da democracia digna de ser aplaudida pelo mundo. Com toda a paixão, criatividade e convicção que se queira, mas sem violência, pela qual deverão responder não só quem a desatar, mas também – e sobretudo – quem a instigar e alimentar nos bastidores.

O fiasco da esquerda

Nada, ninguém – direita, militares, burguesia, banqueiros, religiosos -, infundiu tanto dano à causa esquerdista, inaugurada no Brasil em 1922, com a fundação do Partido Comunista, como a Era PT, a cujo declínio melancólico agora se assiste.

Não se sabe como será, daqui para a frente, a reconstrução de um discurso que a prática desmoralizou. Há planos B – como a Rede de Sustentabilidade, de Marina Silva, e o Psol -, mas terão que arcar com a herança maldita do partido-mãe que os gerou, sustentou e abrigou. Não será fácil.

Tudo o que o PT pregou, ao longo dos 22 anos em que foi oposição, negou nos mais de 13 anos em que governa - do combate à corrupção à transparência e eficácia gerencial. Não bastasse, além de quebrar a economia, desmoralizou a própria atividade política, que hoje padece de sua maior crise de credibilidade.

Os argumentos que agora evoca em defesa do mandato de Dilma contrariam os que sustentou quando pediu o impeachment de todos os presidentes da República desde o fim do regime militar. Todos. O único momento em que seu pedido teve o endosso da sociedade foi no governo Collor. Nos demais, falou sozinho.

É interessante e pedagógico conferir na internet – graças à qual a amnésia nacional está sendo curada – o que diziam os líderes do PT ao tempo em que intentaram derrubar outros presidentes da República. Há vídeos para todo gosto, com falas de Lula, José Dirceu, José Genoíno, Jandira Feghali (hoje, no PCdoB), entre outros. Impeachment, que ontem, nas palavras de Lula, era um gesto popular de libertação, virou golpe.

Há um vídeo em que Lula diz que pede a Deus “que o povo brasileiro nunca mais esqueça” que, assim como elegeu, pode depor seus governantes. Deus, ao que parece, o está atendendo.

A esquerda, em 1964, saiu como vítima de um golpe; hoje, graças ao PT, sai por tentá-lo, sem êxito. A frase do falecido Joelmir Beting, de que o PT começou como um partido de presos políticos e acaba como um partido de políticos presos, resume a ópera.

Ser apeada do governo por pedaladas fiscais – crime de responsabilidade, de natureza administrativa – está saindo barato para Dilma, cujo governo e ela própria possuem prontuário bem mais denso e abjeto. Basta conferir o que já expôs a Lava Jato.

Lá, está claramente relatada parte do que se passou (os investigadores dizem que o que se divulgou é apenas um terço do que já têm): o perfil de uma organização criminosa, que se apossou do Estado, para não mais largá-lo.

Onde havia um cofre, houve rapina, com cadáveres pelo caminho, como o demonstram as investigações em torno do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.

Além dele próprio, nada menos que sete testemunhas foram silenciadas pela quadrilha, na véspera da chegada ao Palácio do Planalto, em 2002. Lula, diz a Lava Jato, pagou R$ 6 milhões pelo silêncio de um chantagista, Ronan Maria Pinto, hoje preso. Por quê?

Não há, pois, como dissociar, por mais que o tenha tentado o advogado-geral da União, José Eduardo Cardoso, as pedaladas do conjunto da obra. São os mesmos personagens.

Pouco importa que o pedido de impeachment em exame trate “apenas” das pedaladas – e ainda que o STF, cada vez mais envolvido na política partidária, queira impor tal limite -, a população, responsável por levar o governo ao cadafalso, sabe com quem está falando. Sabe que fala com a turma de Santo André – a turma do Mensalão, do Petrolão, do Eletrolão, do BNDESão, dos fundos de pensão. Tudo muito “ão”.

Daí o insucesso de tentar focar apenas no que está no pedido em exame. Há mais 36 pedidos na Câmara, que, em seu conjunto, contam a história completa. Um deles, da OAB, dá a roupagem jurídica e empresta ao processo sua grife histórica.

Dá o conteúdo penal ao processo. Estão na cadeia ex-dirigentes do PT, junto com empresários que pontificaram nos seus governos. As delações recentes evidenciam que as campanhas de 2006, 2010 e 2014 foram financiadas com dinheiro roubado da Petrobras, que serviu até para financiar pesquisas falsas de opinião.

A presidente Dilma, beneficiária de duas dessas campanhas, não pode alegar que não sabia. Ainda que isso fosse verdade, não reduziria, nos termos da lei, a responsabilidade que lhe cabe – e que já provocou a responsabilização penal de outros candidatos, o mais recente deles o ex-senador tucano Eduardo Azeredo, de Minas Gerais, condenado a 20 anos de prisão.

Os parlamentares que votam amanhã sabem disso; sabem que é o todo – não apenas a parte em exame - que move a população, aos milhões, Brasil afora. Sabem o custo de decepcioná-la. A esquerda é herdeira desse legado. Teve sua oportunidade no poder e mostrou que seu projeto de um Brasil melhor esgotou-se no discurso, movido não a compromissos, mas a propaganda.

Estima-se que o impeachment será aprovado, o que abre perspectiva a um novo ciclo para o país, com muitas dificuldades e desafios. Se não for, as dificuldades e os desafios serão ainda maiores, já que privados do ingrediente mais importante em ocasiões como esta: a esperança.

Dilma, em 2014: 'Sem apoio é impossível assegurar governo estável'

“Sem apoio no Congresso Nacional não é possível assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais.” Pronunciada por Dilma Rousseff em setembro de 2014, essa frase compôs a artilharia da então candidata à reeleição contra a oponente Marina Silva.

Num debate eleitoral, Dilma insinuou que a “nova política” de que falava Marina conduziria o país ao desastre. O comentário foi reproduzido na propaganda da campanha petista (veja no vídeo). Nela, um locutor declarou: “Duas vezes na nossa história o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do governo do eu sozinho. E a gente sabe como isso acabou.”

Ao fundo, aparecem notícias de jornal sobre a renúncia de Jânio Quadros e o impeachment de Fernando Collor. Quando comparou Marina a tais personagens, Dilma era apoiada por um conglomerado composto de 14 partidos. Uma superestrutura em que cabia de tudo —de Paulo Maluf ao próprio Collor. O tempo passou. E o feitiço virou-se contra a feiticeira.

Charge do dia 16/04/2016
Dilma experimenta agora uma modalidade de solidão, que é a companhia do PT e do PCdoB. Abandonaram-na: PMDB, PP, PR, PSD, PTB… Neste domingo, a presidente irá à sorte dos votos no plenário da Câmara com receio de não dispor das 172 presenças, ausências ou abstenções de que necessita para evitar que seus antagonistas alcancem o número mínimo de votos para abrir o processo de impeachment: 342.

Eis o que dizia a campanha de Dilma em 2014. “A base de apoio de Marina Silva tem, hoje, 33 deputados. Sabe de quantos ela precisaria para aprovar um simples projeto de lei? No mínimo 129. E uma emenda constitucional? 308. Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?”

Dilma era apresentada como personagem jeitosíssima: “…Reúne tudo o que um governante precisa: tem conhecimento dos problemas, sabe como construir as soluções, e tem força política para realizar os seus projetos porque numa democracia ninguém governa sem partidos, ninguém governo sozinho.”

Considerando-se tais critérios, Dilma seria hoje uma presidente inviável. Mesmo que sobrevivesse ao impeachment por um placar mixuruca, não disporia de uma base congressual para “assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais.'' E a Lava Jato impediria o PT de providenciar um novo mensalão ou um novo petrolão para comprar apoiadores.

A lenda e a obra

Com a velha lorota de implantar um “Projeto Social” que na realidade jamais existiu, o método do trio Lula-Dilma-PT, depois de treze anos em Brasília, só conseguiu apresentar ao país um governo que incomoda a todos, mas é especialmente esmagador para os mais pobres. O Brasil está vivendo hoje uma de suas fábulas mais fabulosas, ou, para quem prefere uma linguagem com menos cerimônia, a maior mentira de todas as que já foram contadas por aqui nos últimos 500 anos. O grande conto do vigário de hoje não é a história de chamar o processo de impeachment de “golpe”. É uma falsificação tão miserável dos fatos que nem o próprio governo, o ex-presidente Lula ou o PT acreditam nisso; se acreditassem, já teriam tomado há muito tempo as providências legais para impedir o golpe, acionando as autoridades responsáveis pela segurança pública. Também não é a gritaria oficial contra a “violência” de quem está a favor do impeachment; que “violência” é essa, quando 3,5 milhões de pessoas, ou mais, vão às ruas de todo o país para pedir a saída de Dilma e não se registra um único episódio de desordem? Esqueça-se, ainda, a aflição das classes intelectuais com a “legalidade”, ou os esforços para transformar o juiz Sergio Moro numa espécie de capitão do mato das “elites” ─ Moro, para resumir a ópera, é o homem mais popular do Brasil no momento. Não se trata nem nunca se tratou de nada disso, nem das outras contrafações multiúso em circulação atualmente na praça. A mentira campeã é a tentativa de dizer que há uma disputa entre “dois projetos de país”. Um deles é o “Projeto Social” Lula-PT para melhorar a vida do povo brasileiro. O outro não se sabe direito o que é, e nem interessa ─ basta saber que é o “projeto” de quem discorda de Lula e, portanto, é coisa do mal. Não pode ser debatido. É “deles”.


Trata-se de uma farsa, e por uma razão bem simples: Lula não tem projeto social nenhum. Sempre disse que tem, claro ─ é mentira velha. O que muda é a embalagem. Vem em garrafa, em lata, em plástico, mas a mentira é sempre a mesma. O ex-presidente, desde o começo de sua caminhada rumo ao topo, nunca se interessou por fatos. O que realmente vale, em sua maneira de ver o Brasil, é a imagem que consegue criar; acha mais eficaz substituir a ação pela comunicação. Política é coisa que se faz com um bom gerente de marketing, alguém capaz de entender a sua indiferença quanto aos teores de lógica, realismo ou verdade naquilo que diz; só lhe importa a quantidade de gente disposta a acreditar nele. O projeto de Lula é cuidar de Lula ─ e convencer a maioria do público de que ele é mesmo o homem que diz ser. Quer que acreditem, por exemplo, que está sendo questionado na Justiça por causa de um pedalinho no sítio de Atibaia, ou porque tem uma adega com sabe-se lá quantas garrafas de bebida. Ou, então, que o juiz Moro é o culpado pelo desemprego (“Vão procurar os seus empregos com o Sergio Moro”, já disse), porque os processos de corrupção de Curitiba estão causando problemas para as empresas e daí elas demitem. Alguém engoliu? Então valeu. Tem dado certo; Lula já foi eleito presidente duas vezes e, mais que isso, conseguiu eleger Dilma Rousseff outras duas. No exterior, onde as lendas brasileiras mais esquisitas são tantas vezes levadas a sério, constava até há pouco tempo que ele era um grande reformador da sociedade no Terceiro Mundo. E o “Projeto Social” ─ resultou no quê? Não vem ao caso. Ficar fazendo perguntas sobre isso é “preconceito”.

A comprovação prática de que o avanço dos interesses populares, tal como é pregado por Lula, faz parte de um país imaginário está no fato de que o Brasil de hoje vai horrivelmente mal. Ou existe alguém achando que não vai? Após treze anos e tanto de governo pelo método Lula-Dilma-PT, temos acima de 10 milhões de desempregados na praça, mais do que em qualquer outra época ─ e com viés de alta. Para a maioria deles, perder o emprego não é um fenômeno da economia; significa ser jogado de repente à fronteira da miséria, ou algo tão parecido com isso que não dá para perceber a diferença. O Brasil está a caminho de três anos seguidos de recessão após um ano de crescimento zero, uma desgraça 100% assinada pelo trio citado acima ─ e, como se sabe, é impossível produzir menos e aumentar renda. Na verdade, o que está aumentando são as classes D e E, que só de 2015 até o fim de 2016 vão ganhar cerca de 8 milhões de brasileiros com renda familiar de 2 000 reais para baixo. Caso a economia não volte a crescer já, e muito, haverá mais pobres no Brasil em 2018, ao fim do mandato oficial de Dilma, do que havia em 2005. Não existe nenhuma defesa para eles. Os serviços públicos que deveriam atendê-los estão quebrados pela falência múltipla do governo. Governo ruim é isso ─ incomoda a todos, mas esmaga o pobre.

A grande lenda viva no Brasil conta que Lula comandou “reformas sociais” de alto alcance. Que reformas? Desde que ele chegou à presidência, e até hoje, não houve nenhuma reforma social de verdade neste país ─ não as reformas que realmente mudam alguma coisa decisiva. Onde está a reforma da lei de propriedade imobiliária, que permitiria aos pobres tirar escritura dos espaços que ocupam ─ e a partir daí obter patrimônio, crédito e respeito? Está exatamente onde esteve antes de Lula e PT: no zero. Não foi feito nada de sério na reforma da Previdência Social, uma aberração talvez sem paralelo no resto do mundo ─ 1 milhão de aposentados do setor público consomem mais dinheiro do governo, na hora em que o Erário paga os déficits perpétuos do sistema, do que 28 milhões de aposentados da área privada. Ao contrário: os reformadores sociais não admitem que seja feita a mínima mudança para reduzir a injustiça, turbinada pelo fato de que a Previdência, sozinha, gasta mais do que saúde, educação e programas sociais somados.

Jamais se fez uma reforma decente na saúde pública, que Lula já disse ser uma das “melhores do mundo” e na vida real é um dos piores insultos feitos pelo governo aos brasileiros que não têm dinheiro para pagar planos médicos privados. Estão entregues a hospitais sem anestesia para fazer operações, sem horário para consultas, sem vacinas para se defender das epidemias que nunca castigaram tanto a população como neste 14º ano de governos petistas. No momento, por sinal, o Ministério da Saúde foi posto à venda como um saco de batatas por Lula e Dilma, em sua guerra ao impeachment. Só falam no atrativo de sua verba de “90 bilhões” em 2016. Quando dizem “Ministério da Saúde”, não pensam em saúde ─ pensam em dinheiro. Que raio de reforma social estão fazendo aí ─ ou em qualquer outra área do governo que afeta diretamente a vida de quem nasceu no degrau errado da escala de renda? Não há força humana capaz de pôr no “Projeto” de Lula uma melhoria real da educação no Brasil, a única maneira conhecida de fazer com que os pobres saiam da pobreza e não voltem a ela. Nada é tão potente para diminuir as desigualdades quanto o acesso à instrução de qualidade; ninguém consegue ganhar mais sabendo menos. Mas o “Projeto” ignora esse fato. Em vez de cumprirem sua obrigação de fornecer uma educação pública menos miserável a todos, os donos do governo criaram “cotas” ─ o que não ajuda em nada as dezenas de milhões de jovens brasileiros que nunca vão receber cota alguma.

Sobram, para ir ficando por aqui, os aumentos do salário mínimo, as estatísticas sobre um aumento de 130% acima da inflação, de 2003 a 2014, na renda dos 10% mais pobres da população, e o Bolsa Família. Os aumentos reais do mínimo foram criação do governo Fernando Henrique. Os 130% foram, como citado, para os 10% mais pobres, e a renda desses 10% continua sendo uma das mais baixas do mundo ─ fizeram uma viagem da miséria à miséria. O Bolsa Família é um programa de preservação da pobreza nacional; como um cidadão deixará um dia de ser pobre com 150 reais por mês? É isso, no fim das contas, a soma total do que o governo tem a mostrar como “conquistas sociais”. É, também, tudo o que Lula, Dilma e PT prometem daqui para a frente. Estão vivendo o momento decisivo para escapar do impeachment e continuar mandando no Brasil ─ querem garantir que o país não correrá nenhum risco de mudança, nem hoje nem nunca.

A 'nova' Construção

Estrela cadente se despede

Mentira foi tudo mentira / Você não me amou / Mentira foi tanta mentira / Que você contou
(Tito Madi)

O PT está para se despedir do governo e do estrelato. Melancolicamente o partido da ética na política brasileira sai de cena mentindo, ameaçando os próprios brasileiros com seus "exércitos" mercenários, comprando votos favoráveis, com ministro aspone (e investigado pela Polícia Federal) instalado em hotel para comandar o fisiologismo, e apelando para chicanas na Justiça. Um prontuário criminal nada digno para quem bate no peito dizendo estar defendendo a democracia. Enfim, mostra a cara verdadeira de seus companheiros.

Quem defende democracia, adotando manobras criminosas, é grupo autoritário. Por mais que os tempos sejam de incerteza na próxima semana, o PT desde já declara guerra ao país se não aceitar suas condições de "pacto" ou "novo modo de governar". À beira da guilhotina, reza a Belzebu e faz promessas que de antemão sabe-se não serão cumpridas como todas as que cansou de anunciar em todos estes anos. Prenuncia até o caos, como profeta do apocalipse.

O partido que foi contra a Constituição de 1988, porque tinha uma constituição própria, não merece o respeito que exige. É demais aceitar que em uma semana se tornou santo depois de pactuar com o diabo e empreiteiras para vencer eleições e infernizar a vida de milhões de brasileiros com uma governança de mentira.

As barbaridades perpetradas durante 13 anos, que entristecem ex-petistas e revoltam tanto seguidores de velhos tempos, se avolumam nestes dias.

A cartilha da mediocridade é seguida à risca. Os aliados de ontem, que tanto lhes serviram em suas maracutaias extra-governamentais ou políticas, hoje são taxados de bandidos, menosprezados, vilipendiados.

O vice-presidente de dois mandatos é acusado de não ter sido eleito pelo voto, quando formou chapa com a presidente, e querer ganhar o cargo num "golpe". Desvirtuam, como de costume, a verdade segundo seus interesses, pois sem o vice e seu partido não conseguiriam manter-se no governo, como acontece agora.

Usufrutuários do país, não querem largar a boquinha que tanto enriqueceu empresários e principalmente políticos e seus familiares, sem contar a bandidagem comissionada.

Nem um gesto destes dias é prego sem estopa. Todos têm o único intuito de manter o status dos benefícios com o dinheiro público em troca de migalhas jogadas à sociedade brasileira como hóstias abençoadas pelo diabo. Jogam o vale-tudo, antes de escoarem pelo ralo como aposta política de um país melhor que imperou com apoio do crime institucionalizado.

Independente do resultado da votação do impeachment, a estrela é cadente. Surgiu como esperança de mudança, se esvai como exemplo de criminalização política. A ética que cobrou dos outros nunca exigiu nos próprios atos. Isso ninguém mais esquecerá.

Crimes e castigos

Sejam nobres ou torpes os motivos, sempre que um governo compra parlamentares em massa com cargos e verbas para aprovar projetos que afetam as instituições democráticas, o preço dos interesses de um grupo de poder é a degradação do Congresso, o descrédito da política e, como o tempo mostrou, acaba castigando os beneficiários dos crimes.

Foi assim quando Sarney e seus aliados, em uma administração catastrófica, lutaram no Congresso com todos os seus recursos e argumentos… rsrs… pelos cinco anos de mandato. Depois de ser apedrejado num ônibus e sair de cena completamente desmoralizado, com inflação de 50% ao mês, até Sarney deve ter se arrependido. Poderia ter economizado, a si e ao país, um ano de vergonhas e humilhações.

Com o sucesso do Plano Real, a estabilidade econômica, as privatizações, o Brasil crescendo em ambiente democrático, o governo FHC ia tão bem que os tucanos concluíram que precisavam de pelo menos mais quatro anos para fazer a modernização do país. Com seu prestígio e popularidade, FHC poderia eleger quem quisesse para a tarefa, José Serra, Luiz Eduardo Magalhães, mas…

A emenda da reeleição custou muito mais do que esperavam, não só em dinheiro vivo e cargos no governo, mas na degradação do Congresso. Na euforia da reeleição, ninguém notou nada. O procurador-geral que não procurava nada, nada achou. E o segundo mandato, que tanto quis, foi um castigo para FHC.

A reeleição foi uma herança bendita para Lula, que pôde fazer um bom primeiro governo e tentar assegurar de todas as formas, com o mensalão, o petrolão e a compra de apoios, mais quatro anos no poder. E foi justamente em seu segundo mandato, no vale-tudo para eleger Dilma, que começaram a gastança, as fraudes e os erros de gestão que hoje devastam o país e o PT.

Com Dilma a situação chegou ao paroxismo na compra desesperada de parlamentares com cargos e verbas para tentar evitar o impeachment. A fisiologia da digestão sempre termina em …. vocês sabem.

O vendido sorri e agradece, mas odeia quem o compra, porque é testemunha de sua vileza e inferioridade. Jamais será um aliado fiel.

O futuro para reescrever

O futuro nada mais é do que um vazio indiferente que não interessa a ninguém, mas o passado é cheio de vida e seu rosto irrita, revolta, fere, a ponto de querermos destruí-lo ou pintá-lo de novo. Só queremos ser mestres do futuro para podermos mudar o passado. Lutamos para ter acesso aos laboratório onde se pode retocar as fotos e reescrever as biografias e a História
Milan Kundera

O que será o amanhã no país, depois do desfecho de domingo?

O titulo, claro, está reproduzindo um samba bastante popular, mas seu conteúdo reflete o enigma que somente será decifrado depois da votação de domingo sobre o impeachment ou não da presidente Dilma Rousseff. A divisão das correntes em choque está flagrante e perceptível na atmosfera política que antecede as grandes decisões. Falei em divisão, porém isso não quer dizer que em partes iguais. A maioria maciça dos eleitores e eleitoras está desejando o afastamento da presidente da República. Isso é indiscutível e se reflete nos levantamentos do Globo, Folha de São Paulo e de O Estado de São Paulo sobre a tendência dos parlamentares.

Entretanto, a incógnita é se será alcançado o quórum de 342 deputados, 2/3 da Câmara para encaminhar o afastamento à aceitação pelo Senado Federal. A maioria existente é muito ampla, porem no momento em que escrevo, na quinta-feira, faltavam 40 votos para aprovar o processo de impeachment.


A maioria da sociedade brasileira está representada na indicação apontada pelas pesquisas. E inegável que o governo da presidente Dilma Rousseff encontra-se em minoria. Porém, a diferença existente pode não se tornar capaz de assegurar seu afastamento do Planalto.

Mas como disse no titulo, nesta altura dos acontecimentos o aspecto mais importante reside no que será depois do vendaval de domingo. E como vão se comportar as correntes contra e a favor do governo nas praças e ruas brasileiras. Podem suceder confrontos intensos e, por isso, as forças de segurança pública terão que estar preparadas para impedir os choques, observando também limites para sua própria atuação.

O objetivo essencial e impedir acontecimentos que coloquem em risco a segurança das pessoas e dos estabelecimentos comerciais e meios de transporte, como sempre alvo de exacerbações. Este é um lado da questão.

O outro lado, mais profundo, é como o Brasil vai acordar na alvorada de segunda-feira. O que será absorvido da crise e como vão se refletir as reações na formação de qualquer um dos governos que emergir dos votos da Câmará Federal. Sim, porque haverá mudanças inevitáveis no Ministério. Tanto se Dilma sair vitoriosa, quanto se Michel Temer for o vencedor da etapa em confronto.

A própria Dilma Rousseff admitiu na quarta-feira, em declaração pública no Palácio do Planalto, que vai reformular sua equipe. Michel Temer, o opositor da presidente, seguramente nomeara sua própria equipe. Portanto, seja como for, a partir da próxima semana o país não será o mesmo.

Muito mais do que as chamadas pedaladas fiscais, o abalo principal que atingiu o atual governo decorreu da gigantesca corrupção praticada na Petrobras por um triângulo de ladrões, envolvendo empreiteiras , políticos e administradores públicos. A presidente Dilma Rousseff não percebeu que as pessoas mais próximas a ela e a seu governo eram seus principais inimigos. Este o maior fator para seu desgaste. Michel Temer não tocou neste tema, alias como chamou atenção Elio Gaspari no seu artigo de quarta-feira, publicado simultaneamente no Globo e na Folha de São Paulo. A omissão do vice refletiu mal junto a todos aqueles que não apoiam Dilma, mas que apoiam intensamente os resultados da operação Lava-Jato.

Diante deste quadro vamos esperar o desfecho deste domingo e seu reflexo no amanhecer de segunda-feira.

O velho golpe da publicidade e o novo jeitinho brasileiro

Golpe? Que golpe vocifera a ocupante do Alvorada? E a claque repete num coro de estridentes que não vai ter golpe. Só se for o da publicidade, diria eu. O que os americanos chamam de publicity stunt, uma jogada de marketing, ou os franceses chamam de coup de publicité, coup de pub, cascade publicitaire. Ou em bom português: cascata. Sobretudo no cenário da política brasileira, ou ao que ficou reduzida a subcultura política brasileira, de toda sorte de trapaças, mentiras, traições, indecências, escárnios, ataque à propriedade do próximo e até mesmo à sua integridade física. Pela corrupção do valor da democracia numa prática política de pura demagogia, cleptocracia ou oclocracia, desde que o esquerdismo (uma degeneração da esquerda) se infiltrou nos quadros hegemônicos da socialdemocracia e socialismo nacionais, ao invés de sermos representados pelos melhores entre os cidadãos de bem, como já se disse, somos representados pelos piores dos cidadãos de bens. E tenho reiterado aqui: não adianta lúcidas análises de nossos grandes problemas políticos, econômicos, sociais e morais. É urgente o consenso entre segmentos da academia que não esteja comprometida com o Estado dominado pelo anarco-petismo; de profissionais de mídia cansados da cobertura do blá blá blá dos políticos profissionais; de parte de um estamento burocrático de carreira de estado que busca autonomia dos políticos fisiológicos; e de lideranças de empreendedores sociais e privados que não compactuam com o cinismo generalizado. Este consenso em torno de uma agenda reformista do estado brasileiro, de suas instituições e políticas públicas, com suas propostas agrupadas e veiculadas nas redes sociais e na grande mídia, com certeza promoverá uma revolução de costumes políticos, turbinando as mudanças já em curso no âmbito de setores tradicionais da produção cultural como educação, justiça e igrejas.


Por que o lulopetismo, depois de treze anos no poder, simplesmente nos traiu com a promessa de uma nova política baseada na ética republicana que expulsaria a velha prática fisiológica dos governos. Vide a cena dantesca da corrupção a luz do dia e de uma retórica mentirosa que quer enganar todos a todo tempo. O que já se provou impossível no mundo contemporâneo por que a marquetagem tem perna curta. Aliás, marqueteiros políticos são uma jabuticaba que só existe no Brasil. Quando não, um ato falho que revela a pobreza de espírito de reduzir a nobre arte da política a mero marketing comercial. Em qualquer campanha eleitoral do mundo, estrategistas são cientistas políticos formuladores de estratégias de argumentação e não propagandistas de efeitos especiais, de trucagens e trocadilhos de superproduções televisivas. E o petismo, aqui entre nós, abusou da crença de que somos todos crédulos idiotas durante todo o tempo. Menosprezando que os cidadãos brasileiros fossem acordar um dia por não quererem mais viver submetidos a uma falsa esperança delirante de que “um outro Brasil é possível”, mesmo que às custas do Brasil real. Pois acordamos decididos a não mais querer um Brasil de promessas vãs, de propaganda eleitoral compulsória, falsos testemunhais de artistas pagos, militantes recrutados a diárias e sanduíches de mortadela, cenotécnicos palanques de showmícios e manipuladas pesquisas de opinião. Preferimos o país real, mesmo que injusto e com uma imensidão de desafios a cumprir. Mas com nossa liberdade garantida. Liberdades civis de nos manifestar, associar, empreender e assumir nossas livres escolhas. Sem a tutela de governantes e seus comissários arrogantes que querem saber mais do que nós mesmos sobre o rumo que tomamos na vida. Repudiamos palavras-de-ordem de asseclas governistas, doutrinações nas escolas de professores facciosos, má gestão de empresas públicas por executivos e conselheiros esquerdistas, cínicos relativistas morais, realistas mais excessivos do que a própria realidade, intelectuais orgânicos chatos de retrógrados chavões doutrinários já desmoralizados em todo mundo. O estelionato eleitoral de 2014 é que foi o verdadeiro golpe! Não as manifestações de 13 de março que pediram justamente o fim dos golpistas eleitorais. Os verdadeiros cidadãos que não compactuam com a imoralidade pública e a corrupção política como fatalidade nacional! A maioria da população brasileira que foi enganada pelo golpe da marquetagem levada a cabo pelos presidiários João Santana e Monica Moura, o Feira e a Xepa da Lava Jato, a mando e soldo de propina desviada de empresas públicas pela cúpula petista! Este, sim, o verdadeiro golpe de publicidade contra a democracia!

Cabe à mídia cívica brasileira reagir e começar a dar a mesma visibilidade a estes agentes de cidadania das ruas que geralmente dá ao cenário apodrecido dos lobbies dos palácios e das casas legislativas. Pois a velha classe política brasileira trata o cidadão como se fosse delinquente igual a ela ou simples débil mental que cai credulamente nas suas esparrelas. Vejam que eloquente exemplo de que a cultura de cidadania no Brasil começa a vencer a cultura de impunidade. Se o leitor pesquisar no Google as dez menções de corrupção no estado do Paraná, por exemplo, verá que a primeira menção é uma notícia do G1 sobre um caso de corrupção na UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - e logo abaixo seguem oito menções de combate à corrupção, entre as quais uma reportagem de Wilson Kirsche da RPC – Rede Paranaense de Comunicação filiada da Rede Globo, mostrando um teste de corrupção com um freezer cheio de picolés de iniciativa do professor André Luis Shiguemoto da mesma Universidade. Um cartaz convida os estudantes a retirarem livremente seus picolés contra um depósito de dois reais por picolé numa caixa ao lado do freezer. Pois numa campanha de 400 picolés retirados, apenas 6 unidades não tiveram seus valores depositados, ou menos de 2% do total. O resultado do teste de confiança passou a instruir um debate entre os estudantes sobre a responsabilidade moral individual pela conduta pública como forma de mudança de nossa prevalente cultura política de impunidade. Você pode acessar também a página da campanha Por um novo jeitinho Brasileiro de cinco jovens estudantes paulistas egressos do Colégio Bandeirantes, Amanda, Cristobal, Gabriel, Pedro e Thomas.Inconformados com a balela do velho jeitinho brasileiro, começaram a colecionar exemplos de cidadãos comuns, a quem chamam de “ídolos éticos”, pois todos têm capacidade de auxiliar na mudança dos costumes sociais com condutas cívicas e moralmente responsáveis no cotidiano da sociedade brasileira. A própria reportagem do teste do freezer de picolés consta como um dos exemplos a serem seguidos pelos jovens do coletivo. E compartilhado nas redes sociais, o vídeo da reportagem do Paraná acabou por ser replicado em âmbito nacional como fecho de ouro do Jornal Nacional do dia 11 de abril. O que nos anima de esperança, mesmo que em meio a esta enxurrada incessante de delinquências do noticiário político nacional, de que seis milhões de cidadãos manifestantes de 13 de março, por mais que os governistas se façam de desentendidos com seus infindáveis golpes de publicidade rasteira, não se deixarão enganar todos e a todo tempo. Pelo menos uma parte considerável dos mesmos que tomam iniciativas cívicas como estas repercutidas nas redes sociais e na mídia profissional. Esta é minha aposta. Oxalá!

O inferno de ser Dilma Rousseff

Se um sujeito comum já se cansa de ser si próprio a vida toda; se já considera um peso ter de enfrentar todo dia o mesmo passado, a rotina, as mesmas limitações determinadas pela personalidade; se já se delicia com a imagem de encarnar um John Malkovich por pelo menos alguns minutos, então imagine uma presidente rejeitada. Deve ser um fardo insuportável ser Dilma todos os dias. Ter de levantar da cama de manhã, olhar no espelho e pensar “ah, não, que droga, acordei de novo como Dilma Rousseff”.


Pessoas comuns desfrutam o luxo de errar em segredo – só algum parente, um amigo ou talvez só elas próprias sabem de suas tolices; aos poucos o tempo se incumbe de editar os trechos vergonhosos da biografia. Já Dilma passará o resto da vida em julgamento, evitando festas ou passeios para que os outros não a lembrem de sua culpa, lendo em cada rosto a mensagem “Dilma, Dilma, não se esqueça, você é a Dilma, a Dilma que errou e teimou em errar, a Dilma arrogante que esculhambou o país”.

Eu não aguentaria. Tentaria uma vida anônima na Tasmânia, faria uma cirurgia para mudar de rosto. Ou – uma saída mais simples – tentaria convencer os outros de que virei outra pessoa. Como os criminosos que viram evangélicos na cadeia, admitiria os erros, renegaria o passado, diria a todos que vivia iludido mas agora encontrei a verdade.

É isto que resta a Dilma: criar uma narrativa para livrar-se de si própria
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