segunda-feira, 24 de outubro de 2016
Ninguém nota, ninguém vê
Parece ser consenso que um dos segredos do sucesso é fazer a probabilidade trabalhar a favor. Faz sentido. Mas a gente frequentemente toma decisões que minimizam a chance de sucesso simplesmente por desejo de que a realidade seja melhor do que é.
Se o sonho é seguir carreira na iniciativa privada, estudar, progredir, trabalhar e alcançar resultados baseado em méritos próprios e meritocracia, é provável que este seja o caminho mais difícil, mais arriscado, e com recompensas menores e duvidosa. E, se tudo der errado, sem rede social ou aposentadoria digna. Como diriam, perdeu!
Nos trópicos, isto não vale a pena. Racionalmente, a o melhor é procurar salários acima da media, estabilidade no emprego, segurança social diferenciada e aposentadoria privilegiada. A receita é concurso publico. Trabalhar para o Estado combina algo retorno com baixo risco. Imbatível. A vida como ela é.
Mas digamos, por outro lado, que o importante seja satisfazer o instinto empreendedor. Criar empresa, crescer, dar empregos, pagar todos os impostos, e vender exclusivamente par ao setor privado.
Se a burocracia não esmagar. Se o empreendimento sobreviver ao sistema tributário. Se aguentar o custo Brasil. Se tudo der certo, ainda não vai ser bom. Vai faltar financiamento. E vai ser difícil conseguir clientes não relacionados ao Estado. Perdeu de novo!
Pessoas físicas e jurídicas tem em comum que, de acordo com o pervertido sistema capitalista criado nos trópicos, relacionamento privilegiado com o Estado é condição fundamental para o sucesso.
E conseguir este relacionamento requer métodos específicos. E envolvimento e influência nas decisões econômicas e empresariais tomadas por este mesmo Estado. É sem duvida uma especialidade. Infelizmente, especialização que não gera benefícios para a sociedade.
No capitalismo tropical, Robin Hood irremediavelmente engrossaria a fila dos desempregados. Tira-se de todos, para dar a alguns. De todo lado. E ponto.
Através da entronização de privilégios na constituição, nas leis, nas instituições, na cultura, o país vive de administrar exceções. E cada um de seus cidadãos, cada empresa, cada instituição, luta para se enquadrar nas tais exceções.
No final, o que resta é um modelo falido. Com compromissos e benefícios na maior parte das vezes injustificáveis, inexplicáveis, inexplicáveis, mas protegidos com unhas e dentes.
A injustiça, a falta de sentido, a maldade insolente de um sistema de benefícios e privilégios ineficiente, injusta e impagável está incorporada a realidade. É aceita. Não é questionada.
Virou paisagem. Ninguém nota. Ninguém vê.
Se o sonho é seguir carreira na iniciativa privada, estudar, progredir, trabalhar e alcançar resultados baseado em méritos próprios e meritocracia, é provável que este seja o caminho mais difícil, mais arriscado, e com recompensas menores e duvidosa. E, se tudo der errado, sem rede social ou aposentadoria digna. Como diriam, perdeu!
José Jiménez Aranda |
Mas digamos, por outro lado, que o importante seja satisfazer o instinto empreendedor. Criar empresa, crescer, dar empregos, pagar todos os impostos, e vender exclusivamente par ao setor privado.
Se a burocracia não esmagar. Se o empreendimento sobreviver ao sistema tributário. Se aguentar o custo Brasil. Se tudo der certo, ainda não vai ser bom. Vai faltar financiamento. E vai ser difícil conseguir clientes não relacionados ao Estado. Perdeu de novo!
Pessoas físicas e jurídicas tem em comum que, de acordo com o pervertido sistema capitalista criado nos trópicos, relacionamento privilegiado com o Estado é condição fundamental para o sucesso.
E conseguir este relacionamento requer métodos específicos. E envolvimento e influência nas decisões econômicas e empresariais tomadas por este mesmo Estado. É sem duvida uma especialidade. Infelizmente, especialização que não gera benefícios para a sociedade.
No capitalismo tropical, Robin Hood irremediavelmente engrossaria a fila dos desempregados. Tira-se de todos, para dar a alguns. De todo lado. E ponto.
Através da entronização de privilégios na constituição, nas leis, nas instituições, na cultura, o país vive de administrar exceções. E cada um de seus cidadãos, cada empresa, cada instituição, luta para se enquadrar nas tais exceções.
No final, o que resta é um modelo falido. Com compromissos e benefícios na maior parte das vezes injustificáveis, inexplicáveis, inexplicáveis, mas protegidos com unhas e dentes.
A injustiça, a falta de sentido, a maldade insolente de um sistema de benefícios e privilégios ineficiente, injusta e impagável está incorporada a realidade. É aceita. Não é questionada.
Virou paisagem. Ninguém nota. Ninguém vê.
Os inimigos da democracia
A complexidade e a diversidade da condição humana tornam a convivência democrática um exercício desafiador que precisa se socorrer, nas sociedades livres, de mecanismos de mediação das vontades em conflito. Para que o sistema democrático funcione, é necessário que tanto no plano individual como no coletivo os cidadãos aceitem o fato de que nem sempre suas vontades ou convicções podem prevalecer e por isso devem, democraticamente, acatar as decisões da maioria. É claro que a dinâmica da vida social exige um permanente aperfeiçoamento dessas regras de convivência – as leis – que, enquanto não são mudadas, pelo consenso ou pelo voto da maioria, precisam ser respeitadas. Fora disso, não existe convivência democrática.
Essa é uma lição que, ao longo de sua história de 36 anos, 13 deles no poder, o PT ainda não aprendeu. Padece, esse partido, do vício ideológico que leva seus seguidores a ignorar ou tentar anular dois atributos indissociáveis da condição humana: a complexidade e a diversidade. Esse comportamento foi radicalmente seguido pelos petistas e aliados ao longo de todo o processo do impeachment.
A tropa de choque “dilmista” baseou sua atuação em dois pressupostos relacionados, um político e outro legal: o processo era um “golpe” contra uma presidente legítima e democraticamente eleita, porque ela não cometera nenhum crime de responsabilidade.
Ora, ninguém jamais negou que Dilma foi eleita com 54 milhões de votos. Nem é o caso de saber se cometeu ou não, com suas mentiras, um estelionato eleitoral. A tudo isso se sobrepõe outro fato, igualmente incontestável: Dilma perdeu a confiança da enorme maioria dos brasileiros, que passaram a pedir seu afastamento. Quanto a ter ou não a presidente cometido crime de responsabilidade, o julgamento amplamente majoritário de seus julgadores foi categórico: houve crime. Daí o impeachment previsto pela Constituição.
Os petistas e aliados, contudo, não se conformam. Como partem do princípio de que são monopolistas da verdade e da virtude, durante todo o debate do impeachment insistiram em comportar-se como se estivessem participando de uma assembleia de estudantes – com todo respeito ao idealismo e vigor juvenis que ali ainda se percebem. O anacronismo político e a demagogia barata de suas intervenções frequentemente tropeçavam na falta de argumentos sólidos. Restava-lhe partir para o berro.
Derrotados fragorosamente na votação do impeachment, os petistas anunciam que vão recorrer agora ao STF, mesmo sabendo que são ínfimas as possibilidades de a “camaradagem” de Ricardo Lewandowski, ao fatiar o julgamento para preservar os direitos políticos de Dilma, fazer adeptos. Sabem que a possibilidade de que o Supremo reverta a decisão do Senado é remota. Não faz mal. Haverá outros recursos a serem levados tanto ao STF como a organismos internacionais – como já fizeram –, onde esperam ver o Brasil tratado como uma república de bananas. Para o PT, recursos judiciais são meros pretextos para se exibir no patético papel de vítima de algozes implacáveis.
Há um limite para tudo, inclusive para a tolerância em relação ao comportamento político. Esse limite não precisa estar, necessariamente, definido em leis escritas. Existe um foro irrecorrível nas sociedades democráticas, inclusive naquelas, como a brasileira, que ainda se debatem com as dificuldades da incipiência. Esse foro é a consciência popular, a capacidade que os seres humanos têm, nas condições mais adversas, de se dar conta – parafraseando Abraham Lincoln – de que alguns podem ser enganados todo o tempo, todos podem ser enganados por algum tempo, mas é impossível enganar a todos, por todo o tempo. Em outubro de 2014, mais de 54 milhões de brasileiros elegeram uma presidente, sobrepondo-se aos mais de 50 milhões – os petistas nunca mencionam isso – que votaram no oponente dela. Menos de um ano depois, mais de dois terços desses mais de 100 milhões, pelo menos 65 milhões, pediam nas ruas e nas pesquisas de opinião o afastamento de Dilma agora consumado.
O PT precisa aprender que o único caminho que lhe resta, se quiser continuar fazendo parte do ecúmeno sociopolítico brasileiro, é o acato à democracia representativa – liberal, portanto – e o respeito às leis do País.
Essa é uma lição que, ao longo de sua história de 36 anos, 13 deles no poder, o PT ainda não aprendeu. Padece, esse partido, do vício ideológico que leva seus seguidores a ignorar ou tentar anular dois atributos indissociáveis da condição humana: a complexidade e a diversidade. Esse comportamento foi radicalmente seguido pelos petistas e aliados ao longo de todo o processo do impeachment.
A tropa de choque “dilmista” baseou sua atuação em dois pressupostos relacionados, um político e outro legal: o processo era um “golpe” contra uma presidente legítima e democraticamente eleita, porque ela não cometera nenhum crime de responsabilidade.
Ora, ninguém jamais negou que Dilma foi eleita com 54 milhões de votos. Nem é o caso de saber se cometeu ou não, com suas mentiras, um estelionato eleitoral. A tudo isso se sobrepõe outro fato, igualmente incontestável: Dilma perdeu a confiança da enorme maioria dos brasileiros, que passaram a pedir seu afastamento. Quanto a ter ou não a presidente cometido crime de responsabilidade, o julgamento amplamente majoritário de seus julgadores foi categórico: houve crime. Daí o impeachment previsto pela Constituição.
Os petistas e aliados, contudo, não se conformam. Como partem do princípio de que são monopolistas da verdade e da virtude, durante todo o debate do impeachment insistiram em comportar-se como se estivessem participando de uma assembleia de estudantes – com todo respeito ao idealismo e vigor juvenis que ali ainda se percebem. O anacronismo político e a demagogia barata de suas intervenções frequentemente tropeçavam na falta de argumentos sólidos. Restava-lhe partir para o berro.
Derrotados fragorosamente na votação do impeachment, os petistas anunciam que vão recorrer agora ao STF, mesmo sabendo que são ínfimas as possibilidades de a “camaradagem” de Ricardo Lewandowski, ao fatiar o julgamento para preservar os direitos políticos de Dilma, fazer adeptos. Sabem que a possibilidade de que o Supremo reverta a decisão do Senado é remota. Não faz mal. Haverá outros recursos a serem levados tanto ao STF como a organismos internacionais – como já fizeram –, onde esperam ver o Brasil tratado como uma república de bananas. Para o PT, recursos judiciais são meros pretextos para se exibir no patético papel de vítima de algozes implacáveis.
Há um limite para tudo, inclusive para a tolerância em relação ao comportamento político. Esse limite não precisa estar, necessariamente, definido em leis escritas. Existe um foro irrecorrível nas sociedades democráticas, inclusive naquelas, como a brasileira, que ainda se debatem com as dificuldades da incipiência. Esse foro é a consciência popular, a capacidade que os seres humanos têm, nas condições mais adversas, de se dar conta – parafraseando Abraham Lincoln – de que alguns podem ser enganados todo o tempo, todos podem ser enganados por algum tempo, mas é impossível enganar a todos, por todo o tempo. Em outubro de 2014, mais de 54 milhões de brasileiros elegeram uma presidente, sobrepondo-se aos mais de 50 milhões – os petistas nunca mencionam isso – que votaram no oponente dela. Menos de um ano depois, mais de dois terços desses mais de 100 milhões, pelo menos 65 milhões, pediam nas ruas e nas pesquisas de opinião o afastamento de Dilma agora consumado.
O PT precisa aprender que o único caminho que lhe resta, se quiser continuar fazendo parte do ecúmeno sociopolítico brasileiro, é o acato à democracia representativa – liberal, portanto – e o respeito às leis do País.
Um tango inesquecível
Al Pacino, em "Perfume de mulher" ("Scente of a woman" - 1974),
dança com Gabrielle Anwar
Fundamentalismo e tolerância
O laicismo, tal como hoje se apresenta e “milita” não é apenas uma opinião, um conjunto de ideias ou uma convicção, que se defende em legítimo e respeitoso diálogo com outras opiniões e convicções, como é próprio da cultura e da praxe democrática. É uma “ideologia”, ou seja, uma cosmovisão –um conjunto global de ideias, fechado em si mesmo -, que pretende ser a “única verdade” racional.
A humanidade, imaginam os defensores de uma cultura agnóstica e laicista, seria mais civilizada e feliz num mundo liberto das amarras espirituais. Será? Penso que não. O fundamentalismo islâmico é apresentado como a comprovação definitiva dos males que a religião provoca no mundo. Sonega-se um dado essencial: o terrorismo é um desvio covarde, uma instrumentalização cínica, uma apropriação criminosa de uma marca que não lhe pertence.
Na verdade, a história das utopias da razão está manchada de sangue, terror e privação. A Revolução Francesa, por exemplo, não gerou apenas um magnífico ideário. A utopia de 1789, em nome da “igualdade”, da “fraternidade”e da “liberdade”, desembocou no terror da guilhotina.
A 2ª Guerra Mundial não foi acionada por gatilhos religiosos. O holocausto do povo judeu, fruto direto da insanidade de Hitler, teve alguns de seus pré-requisitos precisamente na filosofia da morte de Deus. Nietzsche, o orgulhoso idealizador do super-homem, está na raiz imediata dos campos de concentração e de extermínio programado. E não foi a religião que desencadeou o Arquipélago Gulag do stalinismo. Feitas as contas, com isenção e honestidade intelectual, é preciso reconhecer que o sonho racionalista projetou poucas luzes e muitas sombras.
A utopia, concebida no ambiente rarefeito dos gabinetes intelectuais, perfila um homem impecável, um sistema irretocável. Depois, ao topar com o homem real, com suas grandezas e misérias, não admite a evidência das limitações teóricas. Brota, então, o delírio persecutório, a síndrome da conspiração. A abstração quer se impor à realidade. E o humanismo inicial cede espaço ao obscurantismo.
O autêntico fenômeno religioso, ao contrário, só pode medrar no terreno da liberdade. Na verdade, entre uma pessoa de convicções e um fanático existe uma fronteira nítida: o apreço pela liberdade. O fanático impõe, fulmina, empenha-se em aliciar. A pessoa de convicções, ao contrário, assenta serenamente em suas ideias.
Precisamos, todos, promover um clima da racionalidade e de tolerância na discussão das ideias. O debate não pode ser travado em clima de Fla x Flu, marca registrada de certas manifestações nas redes sociais. Não devemos demonizar quem diverge da nossa opinião. O confronto das ideias é enriquecedor. O fechamento à discussão é tremendamente empobrecedor.
A humanidade, imaginam os defensores de uma cultura agnóstica e laicista, seria mais civilizada e feliz num mundo liberto das amarras espirituais. Será? Penso que não. O fundamentalismo islâmico é apresentado como a comprovação definitiva dos males que a religião provoca no mundo. Sonega-se um dado essencial: o terrorismo é um desvio covarde, uma instrumentalização cínica, uma apropriação criminosa de uma marca que não lhe pertence.
Na verdade, a história das utopias da razão está manchada de sangue, terror e privação. A Revolução Francesa, por exemplo, não gerou apenas um magnífico ideário. A utopia de 1789, em nome da “igualdade”, da “fraternidade”e da “liberdade”, desembocou no terror da guilhotina.
A 2ª Guerra Mundial não foi acionada por gatilhos religiosos. O holocausto do povo judeu, fruto direto da insanidade de Hitler, teve alguns de seus pré-requisitos precisamente na filosofia da morte de Deus. Nietzsche, o orgulhoso idealizador do super-homem, está na raiz imediata dos campos de concentração e de extermínio programado. E não foi a religião que desencadeou o Arquipélago Gulag do stalinismo. Feitas as contas, com isenção e honestidade intelectual, é preciso reconhecer que o sonho racionalista projetou poucas luzes e muitas sombras.
A utopia, concebida no ambiente rarefeito dos gabinetes intelectuais, perfila um homem impecável, um sistema irretocável. Depois, ao topar com o homem real, com suas grandezas e misérias, não admite a evidência das limitações teóricas. Brota, então, o delírio persecutório, a síndrome da conspiração. A abstração quer se impor à realidade. E o humanismo inicial cede espaço ao obscurantismo.
O autêntico fenômeno religioso, ao contrário, só pode medrar no terreno da liberdade. Na verdade, entre uma pessoa de convicções e um fanático existe uma fronteira nítida: o apreço pela liberdade. O fanático impõe, fulmina, empenha-se em aliciar. A pessoa de convicções, ao contrário, assenta serenamente em suas ideias.
Precisamos, todos, promover um clima da racionalidade e de tolerância na discussão das ideias. O debate não pode ser travado em clima de Fla x Flu, marca registrada de certas manifestações nas redes sociais. Não devemos demonizar quem diverge da nossa opinião. O confronto das ideias é enriquecedor. O fechamento à discussão é tremendamente empobrecedor.
Epidemia de sífilis atrai ganância da indústria do remédio
Em meio ao alvoroço que provocou a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha, muita gente não se apercebeu que o país enfrenta uma epidemia de sífilis. Isso mesmo, uma doença do século XV, que praticamente desapareceu no resto do mundo, virou epidemia no Brasil, segundo alerta o próprio Ministro da Saúde Ricardo Barros. Como não bastasse, o vírus da Zika que vem provocando hidrocefalia nos recém-nascidos, agora estamos diante de outra doença que também afeta a futura geração ainda no ventre da mãe. Esse é mais um dos legados da herança maldita dos petistas que preferiram assaltar os cofres públicos a cuidar da saúde dos brasileiros.
Ao constatar a epidemia, o Ministério da Saúde, mais uma vez, mostrou a sua espetacular incompetência na política de prevenção a doenças no país para impedir que muitas delas virem epidemia. Seus dirigentes aproveitam-se da situação para anunciar que o Brasil vai estimular a indústria farmacêutica a fabricar mais penicilina, pois, por se tratar de um remédio barato, ela quase não o produz mais. A pergunta que se faz é a seguinte: por que o Ministério da Saúde deixou que a doença contaminasse as mães e os bebês a esse ponto? Por que deixou virar epidemia para só então alertar para a grave situação? Será que por trás de tudo isso não está funcionando mais uma vez o lobby da indústria farmacêutica para entupir o Brasil de penicilina a preço exorbitante, como já aconteceu em outros momentos de crises fabricadas?
O brasileiro vive tão espoliado, tão massacrado pelo poder público que se tornou um povo descrente. Duvida de tudo. Não acredita mais em nada divulgado pelo governo. Está tão desiludido que reage até para o bom dia do vizinho. E tem motivos de sobra para isso. Na última década enfrentou todo tipo de epidemia: dengue, zika, chikungunya, aumento da AIDS e, agora, sífilis. Enfrentou tragédias de chuva e de seca, onde viu o dinheiro público ir para o ralo ou para o bolso dos políticos e empresários corruptos. A maior de todas as crises, entretanto, foi o desastre da administração da Dilma que deixou o país capengando, carente de tudo. O resultado do caos é essa mais nova epidemia, a de sífilis.
Os números divulgados pelo Ministério da Saúde são assustadores. Nos últimos cinco anos a doença avançou de forma incontrolável. Em 2014 foram registrados mais de 100 mil casos de sífilis em gestante no Brasil. O surgimento de bebês com sífilis congênita foi de 6,5 casos em 2015 para cada mil nascidos vivos, 13 vezes mais do que é tolerado pela Organização Mundial da Saúde, e 170% mais do que o registrado em 2010. A sífilis em gestante teve um aumento de 202%. Passou de 3,7 para 11,2 casos a cada mil nascidos vivos. E para a sífilis adquirida, a sífilis na população em geral, a taxa é de 42,7 casos para 100 mil habitantes.
A sífilis é uma doença sexualmente transmissível. Quando não curada com eficiência ela pode atingir o cérebro e o coração levando a pessoa à morte. Como a penicilina é barata, há dois anos o remédio desapareceu do mercado. Para que a indústria volte a fabricá-lo, o Ministério da Saúde está disposto a pagar 50% a mais para trazê-lo de volta ao mercado. Assim, ele subiria dos atuais R$ 6,00 para R$ 9,00. Entendeu agora porque o antibiótico sumiu das prateleiras? É isso mesmo o que você pensou. Com o aumento, a penicilina entra de novo no mercado para acabar com a “epidemia” que a própria indústria farmacêutica provocou para forçar o Ministério da Saúde a aumentar os preços. E assim, passivamente, o governo vai desembolsar uma fortuna para combater uma doença que afeta principalmente países de extrema pobreza. Agora, epidêmico no Brasil.
Muda-se a mesa da sala, mas as cadeiras continuam as mesmas.
Jorge Oliveira
Ao constatar a epidemia, o Ministério da Saúde, mais uma vez, mostrou a sua espetacular incompetência na política de prevenção a doenças no país para impedir que muitas delas virem epidemia. Seus dirigentes aproveitam-se da situação para anunciar que o Brasil vai estimular a indústria farmacêutica a fabricar mais penicilina, pois, por se tratar de um remédio barato, ela quase não o produz mais. A pergunta que se faz é a seguinte: por que o Ministério da Saúde deixou que a doença contaminasse as mães e os bebês a esse ponto? Por que deixou virar epidemia para só então alertar para a grave situação? Será que por trás de tudo isso não está funcionando mais uma vez o lobby da indústria farmacêutica para entupir o Brasil de penicilina a preço exorbitante, como já aconteceu em outros momentos de crises fabricadas?
O brasileiro vive tão espoliado, tão massacrado pelo poder público que se tornou um povo descrente. Duvida de tudo. Não acredita mais em nada divulgado pelo governo. Está tão desiludido que reage até para o bom dia do vizinho. E tem motivos de sobra para isso. Na última década enfrentou todo tipo de epidemia: dengue, zika, chikungunya, aumento da AIDS e, agora, sífilis. Enfrentou tragédias de chuva e de seca, onde viu o dinheiro público ir para o ralo ou para o bolso dos políticos e empresários corruptos. A maior de todas as crises, entretanto, foi o desastre da administração da Dilma que deixou o país capengando, carente de tudo. O resultado do caos é essa mais nova epidemia, a de sífilis.
Os números divulgados pelo Ministério da Saúde são assustadores. Nos últimos cinco anos a doença avançou de forma incontrolável. Em 2014 foram registrados mais de 100 mil casos de sífilis em gestante no Brasil. O surgimento de bebês com sífilis congênita foi de 6,5 casos em 2015 para cada mil nascidos vivos, 13 vezes mais do que é tolerado pela Organização Mundial da Saúde, e 170% mais do que o registrado em 2010. A sífilis em gestante teve um aumento de 202%. Passou de 3,7 para 11,2 casos a cada mil nascidos vivos. E para a sífilis adquirida, a sífilis na população em geral, a taxa é de 42,7 casos para 100 mil habitantes.
A sífilis é uma doença sexualmente transmissível. Quando não curada com eficiência ela pode atingir o cérebro e o coração levando a pessoa à morte. Como a penicilina é barata, há dois anos o remédio desapareceu do mercado. Para que a indústria volte a fabricá-lo, o Ministério da Saúde está disposto a pagar 50% a mais para trazê-lo de volta ao mercado. Assim, ele subiria dos atuais R$ 6,00 para R$ 9,00. Entendeu agora porque o antibiótico sumiu das prateleiras? É isso mesmo o que você pensou. Com o aumento, a penicilina entra de novo no mercado para acabar com a “epidemia” que a própria indústria farmacêutica provocou para forçar o Ministério da Saúde a aumentar os preços. E assim, passivamente, o governo vai desembolsar uma fortuna para combater uma doença que afeta principalmente países de extrema pobreza. Agora, epidêmico no Brasil.
Muda-se a mesa da sala, mas as cadeiras continuam as mesmas.
Jorge Oliveira
Chance para ex-financiadores de campanha provarem amor pelo Brasil
Empresas investiram quase R$ 5 bilhões na campanha eleitoral de 2014. Quando perguntados porque fizeram isso, os empresários geralmente dão resposta padrão: fortalecer a democracia, participar do processo. Ou seja, se eles foram sinceros, trata-se de uma verdadeira prova de amor pelo Brasil. Mas a maioria da população duvida disso e considera que eles estavam comprando favores dos políticos.
Agora que o financiamento empresarial de campanha está proibido, as empresas têm a chance de provar que investiam desinteressadamente nas eleições. Uma prova seria investir os R$ 5 bilhões em outros benefícios coletivos que não poderão mais ser gastos, a cada quatro anos, em campanhas eleitorais, o que se equivale a R$ 1,25 bilhão por ano. Por exemplo, as empresas poderiam provar o amor ao Brasil doando recursos para o plantio de árvores.
Justifico. O Brasil desmatou demais e em lugares errados e proibidos e está sofrendo por causa disso. O desmatamento no entorno dos rios agrava o efeito das estiagens e faz rios secarem, prejudicando o abastecimento para consumo humano, o uso para agricultura e a geração de energia por meio de hidrelétricas.
Por outro lado, na época das chuvas muitos rios transbordam e alagam cidades. Isso ocorre porque sem a proteção da floresta parte do solo é levado para o leito do rio, deixando-o mais raso. E a água da chuva corre mais rapidamente para os rios quando o solo está nu. Com as árvores, a água escorreria mais lentamente e uma parte se infiltraria no solo em vez de escorrer pela superfície.
Nos morros das cidades, a falta de floresta leva a deslizamentos de terras que matam e desalojam pessoas; geralmente as mais pobres que moram em lugares proibidos ou inadequados.
Em suma, a população do campo e das cidades se beneficiaria com o reflorestamento.
Infelizmente, o plantio espontâneo ou obrigatório de árvores tem ficado muito aquém do que o necessário e pode continuar assim se depender dos políticos financiados pelos empresários no passado recente.
Parte do reflorestamento que deveria ocorrer em áreas desmatadas ilegalmente deixou de ser obrigatório, pois os políticos anistiaram parte destes crimes ao mudarem o Código Florestal em 2012. Além disso, o prazo para o início do reflorestamento de áreas desmatadas ilegalmente tem sido adiado pelos mesmos políticos – em específico, eles têm adiado o prazo para o Cadastro Ambiental Rural, que é o primeiro passo para a regularização ambiental. Acresça-se, nem o Congresso e nem o Executivo destinaram recursos do orçamento para apoiar os pequenos proprietários a reflorestarem suas áreas, conforme autoriza o Código Florestal.
Quanto seria possível plantar com o recurso que deixará de ser investido pelas empresas em financiamento de campanhas eleitorais? Considerando R$ 1,25 bilhão por ano, seria possível custear um terço do custo total anual estimado para o Brasil atingir a meta de reflorestar 12 milhões de hectares até 2030*. Mesmo supondo que as empresas só estivessem dispostas a investir metade do que investiram na última eleição (equivalente a R$ 625 milhões por ano), ainda seria um volume expressivo e suficiente para consolidar uma indústria do reflorestamento de espécies nativas que será necessária para o reflorestamento em larga escala no país. Essa indústria envolve desde a coleta de sementes, preparação de mudas, plantio e manutenção das áreas plantadas.
Investir em reflorestamento também beneficiaria diretamente os setores de algumas das empresas que financiaram eleições. Por exemplo, a JBS, a maior empresa de processamento de carne do mundo foi a maior financiadora de campanha em 2014 (R$ 350 milhões). Este valor anualizado seria suficiente para reflorestar quase 20 mil hectares por ano nas fazendas que são suas fornecedoras.
Finalmente, o financiamento do plantio de árvores resultaria em um ganho de reputação para as empresas muito maior do que financiar políticos.
Quais empresas estão dispostas a provar o seu amor pelo Brasil?
Paulo Barreto
Agora que o financiamento empresarial de campanha está proibido, as empresas têm a chance de provar que investiam desinteressadamente nas eleições. Uma prova seria investir os R$ 5 bilhões em outros benefícios coletivos que não poderão mais ser gastos, a cada quatro anos, em campanhas eleitorais, o que se equivale a R$ 1,25 bilhão por ano. Por exemplo, as empresas poderiam provar o amor ao Brasil doando recursos para o plantio de árvores.
Por outro lado, na época das chuvas muitos rios transbordam e alagam cidades. Isso ocorre porque sem a proteção da floresta parte do solo é levado para o leito do rio, deixando-o mais raso. E a água da chuva corre mais rapidamente para os rios quando o solo está nu. Com as árvores, a água escorreria mais lentamente e uma parte se infiltraria no solo em vez de escorrer pela superfície.
Nos morros das cidades, a falta de floresta leva a deslizamentos de terras que matam e desalojam pessoas; geralmente as mais pobres que moram em lugares proibidos ou inadequados.
Em suma, a população do campo e das cidades se beneficiaria com o reflorestamento.
Considerando R$ 1,25 bilhão por ano, seria possível custear um terço do custo total anual estimado para o Brasil atingir a meta de reflorestar 12 milhões de hectares até 2030* Essa meta foi estabelecida pelo Brasil como parte do plano de reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento global. O Instituto Escolhas estimou que seriam necessários R$ 3,7 bilhões por ano para custear o reflorestamento de 12 milhões de hectares até 2030.
Infelizmente, o plantio espontâneo ou obrigatório de árvores tem ficado muito aquém do que o necessário e pode continuar assim se depender dos políticos financiados pelos empresários no passado recente.
Parte do reflorestamento que deveria ocorrer em áreas desmatadas ilegalmente deixou de ser obrigatório, pois os políticos anistiaram parte destes crimes ao mudarem o Código Florestal em 2012. Além disso, o prazo para o início do reflorestamento de áreas desmatadas ilegalmente tem sido adiado pelos mesmos políticos – em específico, eles têm adiado o prazo para o Cadastro Ambiental Rural, que é o primeiro passo para a regularização ambiental. Acresça-se, nem o Congresso e nem o Executivo destinaram recursos do orçamento para apoiar os pequenos proprietários a reflorestarem suas áreas, conforme autoriza o Código Florestal.
Quanto seria possível plantar com o recurso que deixará de ser investido pelas empresas em financiamento de campanhas eleitorais? Considerando R$ 1,25 bilhão por ano, seria possível custear um terço do custo total anual estimado para o Brasil atingir a meta de reflorestar 12 milhões de hectares até 2030*. Mesmo supondo que as empresas só estivessem dispostas a investir metade do que investiram na última eleição (equivalente a R$ 625 milhões por ano), ainda seria um volume expressivo e suficiente para consolidar uma indústria do reflorestamento de espécies nativas que será necessária para o reflorestamento em larga escala no país. Essa indústria envolve desde a coleta de sementes, preparação de mudas, plantio e manutenção das áreas plantadas.
Investir em reflorestamento também beneficiaria diretamente os setores de algumas das empresas que financiaram eleições. Por exemplo, a JBS, a maior empresa de processamento de carne do mundo foi a maior financiadora de campanha em 2014 (R$ 350 milhões). Este valor anualizado seria suficiente para reflorestar quase 20 mil hectares por ano nas fazendas que são suas fornecedoras.
Finalmente, o financiamento do plantio de árvores resultaria em um ganho de reputação para as empresas muito maior do que financiar políticos.
Quais empresas estão dispostas a provar o seu amor pelo Brasil?
Paulo Barreto
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