sábado, 20 de fevereiro de 2016
A última porta antes do Inferno
A uma geração de distância o Brasil já não se lembra de onde foi que o Plano Real o resgatou. Não dá sinal de ter consciência clara da profundidade do abismo que anda rondando e da curtíssima distância que nos separa do ponto de não retorno.
Empreguismo, ordenha do Estado, incompetência voluntarista, desinstitucionalização e corrupção em metástese derramados por cima de camadas sucessivas de privilégios e entulho legislativo populista acumulado em aluvião desde a Constituição de 88 para ampliar e manter clientelas votando a contento de eleição em eleição, rompeu finalmente todos os limites do suportável. Essa mistura de descontrole de gastos com a derrocada da arrecadação que decorre da paralisia da economia por falta de segurança jurídica é explosiva. O crescimento geométrico da divida que nos levou à hiperinflação num passado recente está de volta com força total.
Se o governo gastar só o que está legalmente obrigado a gastar ela cresce, no mínimo, 6% ao ano acima da inflação segundo as contas de Raul Velloso, o homem que melhor conhece as entranhas da máquina de moer dinheiro do estado brasileiro. O deficit da União foi de R$ 120 bilhões em 2015. O dos estados de mais R$ 30 bilhões. Ainda entraram US$ 57 bilhões em investimentos estrangeiros que disfarçaram o buraco, mas essa fonte está secando. Os juros em que vêm mamar esses dólares estão muito alem do suportável e aumentá-los seria uma confissão de intenções suicidas. O rombo de 2015 já não levou o governo ao mercado; o déficit está sendo finananciado com emissão monetária, ainda que disfarçada.
Na projeção matemática de Raul Velloso a folha de salários da União, que já consome 75% dos gastos públicos e custou 12% do PIB em 2012 deveria dobrar essa proporção do PIB até 2040. Mas a realidade ainda não é tão benfazeja. Ha forças muito mais elementares que “ideologia” empurrando-nos para o desastre. Enquanto aqui fora ha pânico, naquele Brasil dos indemissíveis para todo o sempre onde “performance” é palavra tabu, os salários não param de subir. Brasilia, como sempre, vai de vento em popa e por isso não tem pressa. Os “auxílios” mil – à alimentação, à saude, à “assistência pre-escolar”, à moradia e ao diabo a quatro, não tributáveis e não computados como salário para não mudar o contemplado de faixa no imposto de renda – são os preferidos. Nem por isso abre-se mão do sagrado aumento do “por dentro”. Condescende-se, quando muito, em parcela-lo. A média dos 32 acordos e 6 projetos de lei já aprovados nas “negociações salarias” dos empregados/militantes do PT se aproxima da casa dos 30% nos próximos quatro anos, o que dá como certo, por enquanto (as categorias com “poder de barganha” ainda brigam por bem mais que isso e “à vista”), R$ 50,2 bi a mais na folha do funcionalismo até 2019. Uma vez e meia a CPMF de R$ 32 bi com que sonha dona Dilma.
“O homem é o lobo do homem”…
A imagem virtual do país que tais práticas vão desenhando pôde ser entrevista nos números do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço ventilados na imprensa quando dona Dilma, sob ordens do PT, anunciou que vai usa-lo “para turbinar o consumo”. Dos R$ 273 bilhões depositados lá, a multidão dos trabalhadores da economia privada que sofrem o desemprego que custam os privilégios do Brasil da “1a Classe” detém R$ 18,7 bi (6,8%). A casta dos empregados do Estado, instâncias estadual e municipal incluídas, é dono de R$ 168,4 bilhões (61,7%). Já a imagem física que esses números traduzem é a das quase favelas das imensas “periferias” caóticas e insalubres que vão recobrindo o país do Oiapoque ao Chuí, entre “invasões” eleitoralmente incentivadas e “loteamentos” de araque comprados a vereadores ladrões em torno de núcleos urbanizados minúsculos que explicam mais que suficientemente a tomada de assalto do país tanto peloAedes aegypti quanto pela epidemia de crime que reduziu a vida no Brasil a uma espécie de roleta russa.
O colapso da economia a partir desse patamar é um desastre de proporções ciclópicas. Algo eleitoralmente tão tóxico que Dilma já não tem apoio nem do PT e Lula espera apenas o melhor momento para traí-la. Mas, como é ela que está à frente do esquema de sustentação dos “Sem Crise”, é por ela que, até segunda ordem, eles lutarão na rua e no front clepto-parlamentar, a esta altura regido por gambiarras jurídicas e fabricações de “maiorias” à venezuelana que enterram cada vez mais fundo a segurança jurídica sem a qual é impossível construir.
É sobre esse pano de fundo que Raul Velloso sugere seis medidas capazes de reduzir de 24% para 14% do PIB a projeção do custo da folha de pagamento do Estado em 2040, o que sinalizaria, ao menos, que o país retomou o controle sobre suas contas, reajuste do salário mínimo pelo PIB per capita; limite das pensões a 70% da aposentadoria do morto; idade mínima de 65 anos para aposentadoria; correção dos beneficios assistenciais por 75% do salário mínimo;
idade minima para a fruição de beneficios assistenciais de 65 para 67 anos;
fim do abono salarial (o Bolsa Família garante os realmente miseráveis); e uma manobra política de emergência para contornar a guerra PT x Congresso e manter o país vivo até que ela chegue onde tiver que chegar: os governadores, todos juntos, patrocinariam esse pacote.
Velloso aposta na foça do instinto de sobrevivência. Os governadores estão falidos e isso tiraria o seu caixa tanto quanto o da União do sufoco; pertencem a multiplos partidos, o que garantiria a condição de união nacional imprescindível à aprovação das medidas; proporcionaria ao PT um “álibi” para permitir que se inicie ao menos a remoção do entulho populista mais difuso, sem tocar diretamente na ferida dos seus empregados/militantes. Feita a ressuscitação do Brasil, depois ve-se o que fazer com Dilma, o PT e o seu estado dentro do Estado para além do que o juiz Moro já está fazendo.
Triste? É. Difícil? Mais ainda. Mas é o que temos pra hoje, considerado que pode não haver amanhã.
Fernão Lara Mesquita
Empreguismo, ordenha do Estado, incompetência voluntarista, desinstitucionalização e corrupção em metástese derramados por cima de camadas sucessivas de privilégios e entulho legislativo populista acumulado em aluvião desde a Constituição de 88 para ampliar e manter clientelas votando a contento de eleição em eleição, rompeu finalmente todos os limites do suportável. Essa mistura de descontrole de gastos com a derrocada da arrecadação que decorre da paralisia da economia por falta de segurança jurídica é explosiva. O crescimento geométrico da divida que nos levou à hiperinflação num passado recente está de volta com força total.
Se o governo gastar só o que está legalmente obrigado a gastar ela cresce, no mínimo, 6% ao ano acima da inflação segundo as contas de Raul Velloso, o homem que melhor conhece as entranhas da máquina de moer dinheiro do estado brasileiro. O deficit da União foi de R$ 120 bilhões em 2015. O dos estados de mais R$ 30 bilhões. Ainda entraram US$ 57 bilhões em investimentos estrangeiros que disfarçaram o buraco, mas essa fonte está secando. Os juros em que vêm mamar esses dólares estão muito alem do suportável e aumentá-los seria uma confissão de intenções suicidas. O rombo de 2015 já não levou o governo ao mercado; o déficit está sendo finananciado com emissão monetária, ainda que disfarçada.
Na projeção matemática de Raul Velloso a folha de salários da União, que já consome 75% dos gastos públicos e custou 12% do PIB em 2012 deveria dobrar essa proporção do PIB até 2040. Mas a realidade ainda não é tão benfazeja. Ha forças muito mais elementares que “ideologia” empurrando-nos para o desastre. Enquanto aqui fora ha pânico, naquele Brasil dos indemissíveis para todo o sempre onde “performance” é palavra tabu, os salários não param de subir. Brasilia, como sempre, vai de vento em popa e por isso não tem pressa. Os “auxílios” mil – à alimentação, à saude, à “assistência pre-escolar”, à moradia e ao diabo a quatro, não tributáveis e não computados como salário para não mudar o contemplado de faixa no imposto de renda – são os preferidos. Nem por isso abre-se mão do sagrado aumento do “por dentro”. Condescende-se, quando muito, em parcela-lo. A média dos 32 acordos e 6 projetos de lei já aprovados nas “negociações salarias” dos empregados/militantes do PT se aproxima da casa dos 30% nos próximos quatro anos, o que dá como certo, por enquanto (as categorias com “poder de barganha” ainda brigam por bem mais que isso e “à vista”), R$ 50,2 bi a mais na folha do funcionalismo até 2019. Uma vez e meia a CPMF de R$ 32 bi com que sonha dona Dilma.
“O homem é o lobo do homem”…
A imagem virtual do país que tais práticas vão desenhando pôde ser entrevista nos números do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço ventilados na imprensa quando dona Dilma, sob ordens do PT, anunciou que vai usa-lo “para turbinar o consumo”. Dos R$ 273 bilhões depositados lá, a multidão dos trabalhadores da economia privada que sofrem o desemprego que custam os privilégios do Brasil da “1a Classe” detém R$ 18,7 bi (6,8%). A casta dos empregados do Estado, instâncias estadual e municipal incluídas, é dono de R$ 168,4 bilhões (61,7%). Já a imagem física que esses números traduzem é a das quase favelas das imensas “periferias” caóticas e insalubres que vão recobrindo o país do Oiapoque ao Chuí, entre “invasões” eleitoralmente incentivadas e “loteamentos” de araque comprados a vereadores ladrões em torno de núcleos urbanizados minúsculos que explicam mais que suficientemente a tomada de assalto do país tanto peloAedes aegypti quanto pela epidemia de crime que reduziu a vida no Brasil a uma espécie de roleta russa.
O colapso da economia a partir desse patamar é um desastre de proporções ciclópicas. Algo eleitoralmente tão tóxico que Dilma já não tem apoio nem do PT e Lula espera apenas o melhor momento para traí-la. Mas, como é ela que está à frente do esquema de sustentação dos “Sem Crise”, é por ela que, até segunda ordem, eles lutarão na rua e no front clepto-parlamentar, a esta altura regido por gambiarras jurídicas e fabricações de “maiorias” à venezuelana que enterram cada vez mais fundo a segurança jurídica sem a qual é impossível construir.
É sobre esse pano de fundo que Raul Velloso sugere seis medidas capazes de reduzir de 24% para 14% do PIB a projeção do custo da folha de pagamento do Estado em 2040, o que sinalizaria, ao menos, que o país retomou o controle sobre suas contas, reajuste do salário mínimo pelo PIB per capita; limite das pensões a 70% da aposentadoria do morto; idade mínima de 65 anos para aposentadoria; correção dos beneficios assistenciais por 75% do salário mínimo;
idade minima para a fruição de beneficios assistenciais de 65 para 67 anos;
fim do abono salarial (o Bolsa Família garante os realmente miseráveis); e uma manobra política de emergência para contornar a guerra PT x Congresso e manter o país vivo até que ela chegue onde tiver que chegar: os governadores, todos juntos, patrocinariam esse pacote.
Velloso aposta na foça do instinto de sobrevivência. Os governadores estão falidos e isso tiraria o seu caixa tanto quanto o da União do sufoco; pertencem a multiplos partidos, o que garantiria a condição de união nacional imprescindível à aprovação das medidas; proporcionaria ao PT um “álibi” para permitir que se inicie ao menos a remoção do entulho populista mais difuso, sem tocar diretamente na ferida dos seus empregados/militantes. Feita a ressuscitação do Brasil, depois ve-se o que fazer com Dilma, o PT e o seu estado dentro do Estado para além do que o juiz Moro já está fazendo.
Triste? É. Difícil? Mais ainda. Mas é o que temos pra hoje, considerado que pode não haver amanhã.
Fernão Lara Mesquita
PT diz como salvar o país: mantendo Dilma no poder e Lula fora da cadeia
Evidenciei num post nesta madrugada quão dramático é para o Brasil o casamento da vitória de Leonardo Picciani na disputa pela liderança do PMDB na Câmara com o novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil, decidido pela Standard & Poor’s. Por quê? O primeiro evento indica que será um pouco mais difícil do que seria saudável apear Dilma do poder. O segundo evidencia uma queda ainda mais acentuada na expectativa de que a presidente possa dar uma resposta à crise econômica, política e de confiança que toma conta do Brasil. Ou por outra: ela é um vetor dos desatinos. Se sai fortalecida de um pequeno evento, então o Brasil é que se enfraquece. Mais: a intervenção do Planalto no PMDB implica empurrar a parte derrotada para a oposição aguerrida. Sigamos.
Para efeitos de raciocínio, vamos fazer de conta que Dilma, com a vitória de Picciani, acaba de dar início a um ciclo virtuoso. Ora, na política, algo é virtuoso ou vicioso em relação a alguma coisa. Por que a presidente precisa de musculatura? No momento, o diagnóstico é unânime entre as pessoas responsáveis, ela precisa dar uma resposta à crise fiscal e acenar com algum futuro. Assim, é forçoso que consiga conter gastos no presente e demonstrar suas virtudes visionárias com uma reforma da Previdência responsável.
Mas nada disso vai acontecer. Em primeiro lugar, porque o Planalto não quis a vitória de Picciani em razão de algum objetivo estratégico. O objetivo era derrotar desafetos. E, em segundo lugar, porque o PT não vai aderir nem à agenda dos cortes nem à reforma da Previdência.
Os deputados federais do partido se reuniram nesta quinta para definir as prioridades de 2016. O resultado é assombroso.
A conclusão é que este não é o momento de implementar uma reforma na Previdência Social. Wadih Damous (RJ), uma espécie de boneco de ventríloquo de Lula, mas com curso universitário, foi um dos mais enfáticos na recusa a uma eventual reforma, pois, segundo ele, “colocá-la como centro da agenda geraria tensão na base social do governo, nos movimentos sociais”.
Carlos Zarattini (SP) disse que mudanças na Previdência podem ser deixadas para depois. Para ele, o importante agora seria adotar “medidas como a retomada do crédito e o fortalecimento de programas como o Minha Casa Minha Vida”. Vale dizer: a receita do petista para o país sair da crise é aumentar gastos.
Mas ninguém conseguiu sintetizar com tanta precisão o que quer o PT como o líder da bancada, Afonso Florence (BA): segundo ele, as prioridades do partido são enterrar o pedido de impeachment de Dilma e defender o ex-presidente Lula.
E como isso ajudaria o Brasil? Simples: para Florence, “os rebaixamentos da nota brasileira [pelas agências de classificação de risco] trouxeram a crise política como um dos motivos”.
Entenderam? Florence acredita que, se nenhuma suspeita mais houver contra Lula e se ficar claro que Dilma permanece no poder até 2018, então o Brasil sai da crise. É claro que isso não explicaria como o país entrou na dita-cuja, uma vez que Lula não era ainda perseguido pelo seu passado, e Dilma, longe de ser ameaçada com o impeachment, conquistou um segundo mandato. É um raciocínio asnal.
Vocês entenderam por que nada vai acontecer e por que tudo vai piorar? Vocês conseguem ter a noção do grau de loucura e irresponsabilidade que toma um partido quando seus luminares decidem que a sua prioridade é impedir a queda do governo e salvar a biografia do chefe? Vocês entenderam a que nos condena essa agenda, que pretende mandar o futuro às favas e, no presente, radicalizar os fatores que condenaram a economia ao buraco.
Enquanto Dilma e o PT estiverem por aí, assim será. A crise está se aprofundando. Dilma está brincando com fogo. Acabará se queimando. É uma pena que, se isso acontecer, gente inocente também vai acabar pagando o pato.
Para efeitos de raciocínio, vamos fazer de conta que Dilma, com a vitória de Picciani, acaba de dar início a um ciclo virtuoso. Ora, na política, algo é virtuoso ou vicioso em relação a alguma coisa. Por que a presidente precisa de musculatura? No momento, o diagnóstico é unânime entre as pessoas responsáveis, ela precisa dar uma resposta à crise fiscal e acenar com algum futuro. Assim, é forçoso que consiga conter gastos no presente e demonstrar suas virtudes visionárias com uma reforma da Previdência responsável.
Mas nada disso vai acontecer. Em primeiro lugar, porque o Planalto não quis a vitória de Picciani em razão de algum objetivo estratégico. O objetivo era derrotar desafetos. E, em segundo lugar, porque o PT não vai aderir nem à agenda dos cortes nem à reforma da Previdência.
Os deputados federais do partido se reuniram nesta quinta para definir as prioridades de 2016. O resultado é assombroso.
A conclusão é que este não é o momento de implementar uma reforma na Previdência Social. Wadih Damous (RJ), uma espécie de boneco de ventríloquo de Lula, mas com curso universitário, foi um dos mais enfáticos na recusa a uma eventual reforma, pois, segundo ele, “colocá-la como centro da agenda geraria tensão na base social do governo, nos movimentos sociais”.
Carlos Zarattini (SP) disse que mudanças na Previdência podem ser deixadas para depois. Para ele, o importante agora seria adotar “medidas como a retomada do crédito e o fortalecimento de programas como o Minha Casa Minha Vida”. Vale dizer: a receita do petista para o país sair da crise é aumentar gastos.
Mas ninguém conseguiu sintetizar com tanta precisão o que quer o PT como o líder da bancada, Afonso Florence (BA): segundo ele, as prioridades do partido são enterrar o pedido de impeachment de Dilma e defender o ex-presidente Lula.
E como isso ajudaria o Brasil? Simples: para Florence, “os rebaixamentos da nota brasileira [pelas agências de classificação de risco] trouxeram a crise política como um dos motivos”.
Entenderam? Florence acredita que, se nenhuma suspeita mais houver contra Lula e se ficar claro que Dilma permanece no poder até 2018, então o Brasil sai da crise. É claro que isso não explicaria como o país entrou na dita-cuja, uma vez que Lula não era ainda perseguido pelo seu passado, e Dilma, longe de ser ameaçada com o impeachment, conquistou um segundo mandato. É um raciocínio asnal.
Vocês entenderam por que nada vai acontecer e por que tudo vai piorar? Vocês conseguem ter a noção do grau de loucura e irresponsabilidade que toma um partido quando seus luminares decidem que a sua prioridade é impedir a queda do governo e salvar a biografia do chefe? Vocês entenderam a que nos condena essa agenda, que pretende mandar o futuro às favas e, no presente, radicalizar os fatores que condenaram a economia ao buraco.
Enquanto Dilma e o PT estiverem por aí, assim será. A crise está se aprofundando. Dilma está brincando com fogo. Acabará se queimando. É uma pena que, se isso acontecer, gente inocente também vai acabar pagando o pato.
Como chegamos até aqui
Dia desses, conversando sobre a situação econômica do país, um amigo perguntou como deixamos a coisa chegar nesse ponto? Esta não é uma pergunta simples, e a resposta bastante complexa. Tinha razão o velho Nelson Rodrigues quando disse que “o subdesenvolvimento não se improvisa; É obra de Séculos”.
Sem dúvida, nossa história está repleta de oportunidades perdidas e de governos horrorosos. Para começar, o único governo relativamente liberal que já houve nestas plagas, encabeçado por um homem probo e culto – D. Pedro II –, acabou sendo abruptamente encerrado por um golpe de Estado, que desencadearia numa sucessão secular de governos presidencialistas tacanhos, fossem eles empossados a golpes de estado ou eleições – com as raras e honrosas exceções de praxe.
Mas a pergunta do meu amigo referia-se ao período mais recente, protagonizados por governos que conseguiram transformar a pouca ordem econômica que ainda preservávamos num verdadeiro caos, onde se destacam a atual depressão econômica (queda de 4,08% do PIB em 2015), inflação na casa dos dois dígitos, dívida pública em franca expansão, irresponsabilidade fiscal galopante e, last but not least, índices de competitividade e produtividade em declínio acentuado.
Como já mencionado, a explicação para tanto descalabro não é simples, nem os problemas estão limitados a uma só causa, mas se tivesse de apontar um fator principal para nossos infortúnios econômicos atuais, eu miraria na eclosão sem precedentes do chamado capitalismo de compadrio em Pindorama, pois acredito que todos os problemas citados acima estão, direta ou indiretamente, de alguma maneira, atrelados a esta erva daninha que corrompe os mercados de qualquer nação onde se instale.
Como ensinou Murray Rothbard em seu clássico “Power & Market”, existem apenas duas maneiras [legais, embora não necessariamente legítimas] de se adquirir renda: os meios econômicos (produção e trocas voluntárias) e os meios políticos (obtenção de privilégios especiais à custa de terceiros). No processo de livre mercado são utilizados apenas os meios econômicos e, consequentemente, os ganhos de todos estão atrelados, obrigatoriamente, ao que os outros indivíduos na sociedade estão dispostos a pagar por nossos serviços. Nesse arranjo, não há espaço para transferência forçada de renda e de riqueza.
Quando os subsídios e favores do governo entram em cena, no entanto, a situação muda de figura. Através deles são disponibilizados os meios políticos para a obtenção de renda. Enquanto no livre mercado a acumulação de riqueza é apenas uma resultante de escolhas voluntárias de todos os indivíduos e, por extensão, o meio segundo o qual os homens servem uns aos outros, no sistema de compadrio o subsídio governamental abre o caminho para a repartição da renda em função da capacidade das pessoas ou grupos de pessoas de obter o controle sobre o aparelho de Estado.
A ingerência ostensiva do governo nos mercados, portanto, cria um processo de distribuição de lucros e perdas diferente, onde os ganhos estão apartados da produção eficiente e da troca voluntária, e são determinados por fatores diversos daqueles. Na medida em que esta distribuição ocorre, a repartição dos lucros é distorcida e desvinculada da prestação de serviço eficiente aos consumidores.
Nesse novo arranjo, os níveis de produção e bem estar geral são comprometidos de duas maneiras: primeiro, pelo desvio de energia e recursos da atividade produtiva para a atividade política (rent-seeking) e, segundo, pelo fato de que o governo inevitavelmente irá cobrar pesados encargos da sociedade, principalmente das empresas e indivíduos produtivos, para beneficiar grupos privilegiados, não raro ineficientes. Em resumo, os apadrinhados políticos conseguem, legalmente, reivindicar somas cada vez maiores de recursos dos pagadores de impostos (normalmente a fração eficiente da economia).
Aqueles que obtêm sucesso no arranjo de livre mercado são os mais hábeis e eficientes na produção de mercadorias e serviços, portanto, em servir aos seus semelhantes. Já aqueles que são bem sucedidos através da luta política são os mais hábeis em conseguir favores daqueles que exercem o poder da coerção legal. Geralmente, o processo de divisão e especialização do trabalho fará com que pessoas diferentes sejam adeptas dessas duas atividades bastante distintas, e, por conseguinte, pela via da concorrência desleal, o esmagamento de um desses grupos será levado a efeito, para que o outro grupo possa beneficiar-se.
No capitalismo de Estado, notadamente em economias grandes e diversificadas como a brasileira, não é fácil elencar todas as distorções e as cadeias lógicas de causa e efeito promovidas pela economia de compadrio. No entanto, não é preciso ser nenhum gênio para inferir como as políticas abundantes de isenções fiscais para determinadas indústrias aumentam a carga tributária sobre a sociedade inteira. Como as políticas de crédito farto e subsidiado de BNDES, CAIXA e BB para empresas apadrinhadas aumentam tanto o ônus fiscal quanto o custo do dinheiro para as demais. Como o conluio e a corrupção, que envolveram praticamente todos os grandes contratos governamentais nos últimos anos, fizeram com que empresas ineficientes subjugassem as eficientes na corrida por maiores receitas e lucros. Como o aumento absurdo dos gastos públicos fez com que a inflação alcançasse índices que não víamos há décadas.
Não raro, essas distorções são invisíveis aos olhar distraído e até mesmo aos índices agregados, pois os verdadeiros empreendedores – como apontou Adam Smith – são capazes de superar muitas das obstruções impertinentes que loucura estatal é capaz de colocar em seu caminho, e continuar promovendo a prosperidade geral. Porém, há limites para esta habilidade, especialmente quando a economia de compadrio resulta em distorções insuperáveis, bloqueando todos os incentivos da atividade empresarial e, consequentemente, os ganhos naturais do processo de especialização e divisão do trabalho. Parece que, infelizmente, alcançamos este patamar.
O mais desanimador, entretanto, é que sair dessa verdadeira armadilha não é tarefa fácil e demanda um tempo razoavelmente longo, principalmente no que concerne à desmontagem do vasto sistema de privilégios (não apenas empresariais e corporativos, mas também individuais) erguido por sucessivos governos, desde a Constituição de 1988.
João Luiz Mauad
Sem dúvida, nossa história está repleta de oportunidades perdidas e de governos horrorosos. Para começar, o único governo relativamente liberal que já houve nestas plagas, encabeçado por um homem probo e culto – D. Pedro II –, acabou sendo abruptamente encerrado por um golpe de Estado, que desencadearia numa sucessão secular de governos presidencialistas tacanhos, fossem eles empossados a golpes de estado ou eleições – com as raras e honrosas exceções de praxe.
Mas a pergunta do meu amigo referia-se ao período mais recente, protagonizados por governos que conseguiram transformar a pouca ordem econômica que ainda preservávamos num verdadeiro caos, onde se destacam a atual depressão econômica (queda de 4,08% do PIB em 2015), inflação na casa dos dois dígitos, dívida pública em franca expansão, irresponsabilidade fiscal galopante e, last but not least, índices de competitividade e produtividade em declínio acentuado.
Como já mencionado, a explicação para tanto descalabro não é simples, nem os problemas estão limitados a uma só causa, mas se tivesse de apontar um fator principal para nossos infortúnios econômicos atuais, eu miraria na eclosão sem precedentes do chamado capitalismo de compadrio em Pindorama, pois acredito que todos os problemas citados acima estão, direta ou indiretamente, de alguma maneira, atrelados a esta erva daninha que corrompe os mercados de qualquer nação onde se instale.
Como ensinou Murray Rothbard em seu clássico “Power & Market”, existem apenas duas maneiras [legais, embora não necessariamente legítimas] de se adquirir renda: os meios econômicos (produção e trocas voluntárias) e os meios políticos (obtenção de privilégios especiais à custa de terceiros). No processo de livre mercado são utilizados apenas os meios econômicos e, consequentemente, os ganhos de todos estão atrelados, obrigatoriamente, ao que os outros indivíduos na sociedade estão dispostos a pagar por nossos serviços. Nesse arranjo, não há espaço para transferência forçada de renda e de riqueza.
Quando os subsídios e favores do governo entram em cena, no entanto, a situação muda de figura. Através deles são disponibilizados os meios políticos para a obtenção de renda. Enquanto no livre mercado a acumulação de riqueza é apenas uma resultante de escolhas voluntárias de todos os indivíduos e, por extensão, o meio segundo o qual os homens servem uns aos outros, no sistema de compadrio o subsídio governamental abre o caminho para a repartição da renda em função da capacidade das pessoas ou grupos de pessoas de obter o controle sobre o aparelho de Estado.
A ingerência ostensiva do governo nos mercados, portanto, cria um processo de distribuição de lucros e perdas diferente, onde os ganhos estão apartados da produção eficiente e da troca voluntária, e são determinados por fatores diversos daqueles. Na medida em que esta distribuição ocorre, a repartição dos lucros é distorcida e desvinculada da prestação de serviço eficiente aos consumidores.
Nesse novo arranjo, os níveis de produção e bem estar geral são comprometidos de duas maneiras: primeiro, pelo desvio de energia e recursos da atividade produtiva para a atividade política (rent-seeking) e, segundo, pelo fato de que o governo inevitavelmente irá cobrar pesados encargos da sociedade, principalmente das empresas e indivíduos produtivos, para beneficiar grupos privilegiados, não raro ineficientes. Em resumo, os apadrinhados políticos conseguem, legalmente, reivindicar somas cada vez maiores de recursos dos pagadores de impostos (normalmente a fração eficiente da economia).
Aqueles que obtêm sucesso no arranjo de livre mercado são os mais hábeis e eficientes na produção de mercadorias e serviços, portanto, em servir aos seus semelhantes. Já aqueles que são bem sucedidos através da luta política são os mais hábeis em conseguir favores daqueles que exercem o poder da coerção legal. Geralmente, o processo de divisão e especialização do trabalho fará com que pessoas diferentes sejam adeptas dessas duas atividades bastante distintas, e, por conseguinte, pela via da concorrência desleal, o esmagamento de um desses grupos será levado a efeito, para que o outro grupo possa beneficiar-se.
No capitalismo de Estado, notadamente em economias grandes e diversificadas como a brasileira, não é fácil elencar todas as distorções e as cadeias lógicas de causa e efeito promovidas pela economia de compadrio. No entanto, não é preciso ser nenhum gênio para inferir como as políticas abundantes de isenções fiscais para determinadas indústrias aumentam a carga tributária sobre a sociedade inteira. Como as políticas de crédito farto e subsidiado de BNDES, CAIXA e BB para empresas apadrinhadas aumentam tanto o ônus fiscal quanto o custo do dinheiro para as demais. Como o conluio e a corrupção, que envolveram praticamente todos os grandes contratos governamentais nos últimos anos, fizeram com que empresas ineficientes subjugassem as eficientes na corrida por maiores receitas e lucros. Como o aumento absurdo dos gastos públicos fez com que a inflação alcançasse índices que não víamos há décadas.
Não raro, essas distorções são invisíveis aos olhar distraído e até mesmo aos índices agregados, pois os verdadeiros empreendedores – como apontou Adam Smith – são capazes de superar muitas das obstruções impertinentes que loucura estatal é capaz de colocar em seu caminho, e continuar promovendo a prosperidade geral. Porém, há limites para esta habilidade, especialmente quando a economia de compadrio resulta em distorções insuperáveis, bloqueando todos os incentivos da atividade empresarial e, consequentemente, os ganhos naturais do processo de especialização e divisão do trabalho. Parece que, infelizmente, alcançamos este patamar.
O mais desanimador, entretanto, é que sair dessa verdadeira armadilha não é tarefa fácil e demanda um tempo razoavelmente longo, principalmente no que concerne à desmontagem do vasto sistema de privilégios (não apenas empresariais e corporativos, mas também individuais) erguido por sucessivos governos, desde a Constituição de 1988.
João Luiz Mauad
O pior possível
E é para isso que existe, já que conflitos são inerentes à condição humana e não deixarão de existir. O aspecto mais grave da crise brasileira é a resistência do governo a permitir uma saída política. Investe no conflito, tentando minar o jogo político, intervindo na economia interna do Judiciário, do Congresso e dos partidos – vide sua intervenção na escolha do líder do PMDB.
Investe, pois, no pior possível. Na medida em que as portas se fecham a uma alternativa política, civilizada – e isso pressupõe o governo reconhecer sua própria falência –, outras, perigosas e de consequências imprevisíveis (ou até previsíveis), se abrem.
O projeto político do PT, independentemente dos crimes que lhe são imputados pela Lava Jato, fracassou. O país acaba de receber a terceira desclassificação econômica por uma agência internacional de avaliação de riscos, acrescida de um viés de baixa – isto é, sem perspectivas de melhora.
Em termos concretos, significa mais evasão de capitais – e menos dinheiro, menos investimentos, menos empregos, mais crise social, mais necessidade de buscar saídas políticas.
É hora de quem está no poder admitir seu fracasso. E essa é a saída mais indolor para o país. Não há conspiração: não foi a oposição que fez as opções econômicas que levaram a esse desfecho. E não foi a oposição que levou o partido do governo, o PT, a sabotar o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e agora a se opor ao projeto da reforma da Previdência. E, no começo de tudo, a saquear a Petrobras e demais estatais.
A confusão está dentro, e não fora do governo. E reflete a falência de seu projeto de poder, que, além de não dispor de saídas para a economia, vê-se às voltas com os tribunais. Também aí vale-se do jogo truculento, ao arrepio das instituições e da lei.
A suspensão do depoimento de Lula a um procurador, em São Paulo, além da ilegalidade intrínseca ao ato, foi ornada com uma exibição de truculência típica de milícias nazifascistas. Lula, ano passado, já em meio a acusações graves de corrupção, avisou que iria “pro pau”. E mencionou dispor de um exército – o “exército do Stédile” – para enfrentar os adversários.
Ocorre que seu grande adversário, desde então, é a lei. As acusações que sobre ele pesam, com indícios consistentes (alguns veementes), em grande parte fornecidos por pessoas que com ele privavam desde quando estava na presidência da república, precisam ser respondidas.
Se é inocente, não há por que reagir como tem feito. Dispõe de um vasto leque de renomados advogados e, até que se prove o contrário, beneficia-se da presunção de inocência. E beneficia-se além da conta, já que até agora só depôs como testemunha e ainda não é oficialmente investigado, como, por exemplo, o é Eduardo Cunha, cujas denúncias são bem menos graves que as que pesam contra Lula e Dilma. Mas, se, apesar de tudo isso, parte para a ignorância das milícias, reforça apenas a presunção de culpa.
O que se viu em São Paulo, às portas do fórum de Barra Funda, na quarta-feira, foi um espetáculo de ilegalidades. Sindicalistas da CUT, militantes do PT, financiados por dinheiro público (o imposto sindical), vieram de várias partes do país, em ônibus fretados, agredir quem protestava contra a conduta de Lula – pouca gente, já que não houve convocação e era dia de trabalho.
As milícias de Mussolini e Hitler agiam assim – e deu no que deu. O modo como o governo tem agido, no tapetão em Brasília, não é diferente. E estimula a truculência miliciana, que é o avesso do jogo político civilizado. O que explica governadores, prefeitos e parlamentares – funcionários públicos, pagos pelo contribuinte – deixarem suas funções para se reunirem no Instituto Lula em busca de um meio de driblar o Código Penal e evitar que seu guru – ex-presidente e, portanto, cidadão comum – se explique perante o Judiciário? Outra ilegalidade. Milicianos de gravata.
Para onde esse enfrentamento conduzirá? Para o agravamento da crise - econômica, política, moral, psicossocial -, que, sem vislumbrar um conduto pacífico, poderá resultar no “pior possível”, já que alguma saída sempre haverá.
Um país quebra, mas não fecha. O Brasil quebrou. Resta saber que saída encontrará, já que não é possível fechá-lo.
Se fechar a torneira, não precisa de CPMF
Vista como uma solução equivocada há anos, a reimplantação da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras foi trazida de volta à pauta do Congresso pelo governo. Com ampla repercussão negativa, não apenas no setor produtivo, mas também em toda a população brasileira, o retorno da CPMF será mais um passo para prosseguirmos rumo ao abismo econômico em que se transformou o nosso país.
Ao analisarmos os atuais escândalos envolvendo os mais divergentes grupos políticos, fica claro onde está o real problema orçamentário. Salta aos olhos dos brasileiros a urgência da reforma para diminuir o tamanho da máquina pública e o excessivo número de ministérios, combatendo a corrupção e reduzindo-se gastos nas estruturas de governo. Apenas o corte nos supersalários pagos a servidores, que chegam a ser maiores que o teto de R$ 33,7 mil, poderia economizar quase R$ 10 bilhões por ano, quase o valor citado para cobrir a CPMF.
Está nas mãos dos parlamentares – que estão onde estão graças aos votos de seus eleitores – a não aprovação da contribuição. As primeiras vitórias já foram a queda na previsão total do valor de arrecadação, pois a estimativa inicial era de R$ 32 bilhões e, atualmente, é de R$ 10,3 bilhões, além dos prazos impostos para a tramitação do projeto. Entre as bancadas de deputados federais, também é grande a probabilidade de rejeição. Agora, nos resta pressionar para que os representantes paranaenses votem contra a inserção do imposto, fazendo-se necessário um trabalho corpo a corpo de todos os cidadãos. Mas, se ocorrer a aprovação da CPMF, é preciso que a população saiba claramente quem votou contra e a favor da sua recriação.
É importante repensar a gestão pública em todos os níveis. Os modelos atuais estão esgotados, as cidades estão se somando em problemas e não em soluções, não há continuidade de projetos e apenas são ajustadas realidades ao grupo político que vence as eleições. As regiões metropolitanas devem ser pensadas de forma integrada, com soluções técnicas que ajudem o cidadão a ser feliz e morar perto do trabalho e da escola de seus filhos, com serviços de saúde e de segurança adequados. As necessidades dos municípios são muitas e os orçamentos estão minguando. Torna-se fundamental a busca da competência via gestão moderna de recursos em vez da criação ou elevação de imposto.
Apesar de todos os esforços do governo em forçar essa aprovação, está claro que ninguém quer o retorno do tributo. E o motivo é simples: se fechar a torneira da corrupção espalhada em todas as esferas de governo, da ineficiência na administração pública e dos milhares de cargos comissionados existentes no Brasil, não precisa de CPMF.
Guido Bresolin Junior
O imposto foi utilizado há oito anos para cobrir gastos com a saúde pública. Agora, apesar de ser anunciada como solução de caixa do Estado pela Presidência da República, com a finalidade de ajuste fiscal, a CPMF não é nem de longe a melhor opção para equilibrar as contas públicas. O retorno será apenas para corrigir equívocos da administração, pois a população e os meios produtivos não serão beneficiados em nada.
Ao analisarmos os atuais escândalos envolvendo os mais divergentes grupos políticos, fica claro onde está o real problema orçamentário. Salta aos olhos dos brasileiros a urgência da reforma para diminuir o tamanho da máquina pública e o excessivo número de ministérios, combatendo a corrupção e reduzindo-se gastos nas estruturas de governo. Apenas o corte nos supersalários pagos a servidores, que chegam a ser maiores que o teto de R$ 33,7 mil, poderia economizar quase R$ 10 bilhões por ano, quase o valor citado para cobrir a CPMF.
Está nas mãos dos parlamentares – que estão onde estão graças aos votos de seus eleitores – a não aprovação da contribuição. As primeiras vitórias já foram a queda na previsão total do valor de arrecadação, pois a estimativa inicial era de R$ 32 bilhões e, atualmente, é de R$ 10,3 bilhões, além dos prazos impostos para a tramitação do projeto. Entre as bancadas de deputados federais, também é grande a probabilidade de rejeição. Agora, nos resta pressionar para que os representantes paranaenses votem contra a inserção do imposto, fazendo-se necessário um trabalho corpo a corpo de todos os cidadãos. Mas, se ocorrer a aprovação da CPMF, é preciso que a população saiba claramente quem votou contra e a favor da sua recriação.
É importante repensar a gestão pública em todos os níveis. Os modelos atuais estão esgotados, as cidades estão se somando em problemas e não em soluções, não há continuidade de projetos e apenas são ajustadas realidades ao grupo político que vence as eleições. As regiões metropolitanas devem ser pensadas de forma integrada, com soluções técnicas que ajudem o cidadão a ser feliz e morar perto do trabalho e da escola de seus filhos, com serviços de saúde e de segurança adequados. As necessidades dos municípios são muitas e os orçamentos estão minguando. Torna-se fundamental a busca da competência via gestão moderna de recursos em vez da criação ou elevação de imposto.
Apesar de todos os esforços do governo em forçar essa aprovação, está claro que ninguém quer o retorno do tributo. E o motivo é simples: se fechar a torneira da corrupção espalhada em todas as esferas de governo, da ineficiência na administração pública e dos milhares de cargos comissionados existentes no Brasil, não precisa de CPMF.
Guido Bresolin Junior
O sonho transformado em pesadelo
Há pelo menos três anos o ex-presidente Lula anuncia imediatas viagens pelos Estados, iniciando ampla temporada de renovação do PT. Bem antes da blitz que se abateu sobre sua vida particular e antecedendo, mesmo, suas primeiras desavenças com a sucessora, vinha o primeiro companheiro alertando para a necessidade de balançar a roseira do partido, apagando a crescente imagem de que cada um preocupava-se mais em ocupar maiores espaços de poder, cargos, funções e até ministérios. Também começavam a empenhar-se em aumentar suas contas bancárias. Privilegiados proletários mudavam de classe, até permitindo-se essa facilidade ao mais importante deles, quem sabe por direito divino. O irônico é ter o Lula percebido a metamorfose, ainda que se julgasse no direito de estar acima e além da lei, como todo grande governante.
O diabo é que as viagens não saíram. As tais caravanas não deixavam os camelódromos. O máximo uma ou outra incursão ao Norte ou ao Nordeste. O resultado aí está: verdadeiro ou fictício, o alvo recebe flechas cada vez maiores de adversários, aliados e de indiferentes. O ex-presidente insurge-se, ainda que com certa educação, diante do modelo adotado por Madame diante da crise, ou seja, a volta da CPMF, a reforma da Previdência Social, a supressão de direitos sociais, o aumento de impostos e de preços, a desindexação e demais maldades.
Distancia-se, o Lula, do outrora caminho amplo e aberto do retorno ao palácio do Planalto em 2018, hoje premido por acusações verdadeiras, ou nem tanto, de proprietário de triplex, sítios de luxo, conferencista sem conferência e sucedâneos.
Faz muito já deveria ter iniciado o périplo da recuperação de sua base. Hesita. Apoiar-se na juventude ainda intocada pelos vícios do poder seria a salvação, ignorando-se se por pudor, desilusão ou descrença prefere perder tempo. Tem consciência de que a perda de popularidade não atinge apenas a sucessora. Só andando para a frente conseguirá recuperar o tempo perdido, se for possível.
Em pequenos arraiais petistas sente-se uma espécie de ânimo juvenil capaz de estimular o chefe maior não apenas a salvar-se, mas a salvar o partido, mesmo precisando atropelar parte do projeto agora adotado por Dilma. Se for preciso isolá-la ou mesmo sacrificá-la, outra alternativa não haverá, se o resultado final vier a ser a preservação do poder. Ou do sonho transformado em pesadelo.
O que positivamente não dá é ficar o Lula protestando em casa, Dilma aderindo aos adversários, no palácio, e o povão pagando mais impostos e praguejando contra o custo de vida...
A solução para tudo
O governo federal se encarregou de descobrir uma vacina capaz de, ao mesmo tempo, extinguir o mosquito Aedes aegypti e livrar o povo brasileiro dos terríveis vírus que ele transmite, como os da dengue, do zika e da febre chikungunya. Trata-se da CPMF – contribuição provisória que a presidente Dilma Rousseff pretende ressuscitar. A proposta inicial era de que o “imposto do cheque” servisse para debelar o déficit da Previdência Social, mas no último fim de semana o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mudou o objetivo – agora, segundo ele, é para combater a praga do mosquito.
A declaração do ministro surgiu no “dia do zika zero”, o sábado passado em que autoridades, incluindo a presidente Dilma e seu vice, Michel Temer (que veio a Curitiba), desdobraram-se em viagens pelo país para participar de ações locais de combate ao Aedes e conscientizar a população para a necessidade de tomar medidas para eliminar focos e locais propícios à sua multiplicação. Forças Armadas, agentes de saúde e governos estaduais e municipais compuseram o – sem dúvida necessário – mutirão sanitário. “Temos de ter uma conscientização de que, neste momento que o Brasil vive, a aprovação desse tributo é muito importante. Nós não teremos outra forma de produzir recursos para desenvolver atividades como esta [de combate ao mosquito]”, declarou o ministro.
Reconheça-se que a situação é de emergência e que se trata de uma questão a ser vista com olhos humanitários. Ninguém tem o direito de se manter insensível aos danos humanos sobrevindos das mortes e das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti e que vêm atingindo milhares de nascituros, sobretudo nos estados do Nordeste. É extremamente preocupante também a possibilidade de expansão territorial dos casos e em velocidade imprevisível. Portanto, o problema exige medidas rápidas para conter a epidemia.
Entretanto, a cada vez que o país se defronta com dificuldades, sejam elas de naturezas as mais diversas, a primeira defesa dos governos para fugir da acusação de descumprimento de suas atividades é brandir a bandeira da escassez de recursos. E, consequentemente, alertar para a necessidade de incrementar a arrecadação de impostos, taxas e contribuições – caso contrário, costumam afirmar os gestores públicos, os problemas vão persistir e aumentar.
O mais grave em relação à CPMF é que as justificativas variam ao sabor das conveniências do momento. Primeiro, o tributo teria a função de custear a Previdência; depois, Dilma mudou o discurso: a CPMF era crucial para o país sair da recessão; agora, sem a CPMF não há como combater o Aedes. Ou seja: sem o imposto, o país vai acabar – afinal, dele dependeria a reativação da economia, a melhora das contas da previdência, a contenção do mosquito e sabe-se lá mais o quê.
A gestão equivocada da economia produzida pelo governo de Dilma Rousseff, responsável por ter levado o país ao forte desequilíbrio das contas públicas, à inflação de dois dígitos, à recessão e ao desemprego em massa, exige agora – de acordo com a mentalidade estreita dos governantes – ainda maiores sacrifícios da população, obrigada a pagar tributos cada vez mais elevados e a se submeter à criação de outros, como se tenta agora com a ressurreição da rejeitada CPMF.
Num cenário de crise e necessidade de ajuste, não se pode descartar de antemão alguma elevação nos impostos. Mas ela só seria aceitável se antes o poder público desse uma demonstração cabal de que está reduzindo suas despesas, cortando privilégios e exageros. Nada disso foi feito, e por isso é ainda mais lamentável que o Planalto aproveite a emergência sanitária para, outra vez, clamar pela CPMF, sem nem mesmo apresentar uma proposta realista ao Congresso, por exemplo estipulando a duração do eventual novo imposto.
Um Legislativo e uma sociedade conscientes não podem permitir aumento de carga tributária enquanto o governo não demonstrar de forma cabal que está fazendo todo o possível para conter o déficit fiscal.
Reconheça-se que a situação é de emergência e que se trata de uma questão a ser vista com olhos humanitários. Ninguém tem o direito de se manter insensível aos danos humanos sobrevindos das mortes e das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti e que vêm atingindo milhares de nascituros, sobretudo nos estados do Nordeste. É extremamente preocupante também a possibilidade de expansão territorial dos casos e em velocidade imprevisível. Portanto, o problema exige medidas rápidas para conter a epidemia.
Entretanto, a cada vez que o país se defronta com dificuldades, sejam elas de naturezas as mais diversas, a primeira defesa dos governos para fugir da acusação de descumprimento de suas atividades é brandir a bandeira da escassez de recursos. E, consequentemente, alertar para a necessidade de incrementar a arrecadação de impostos, taxas e contribuições – caso contrário, costumam afirmar os gestores públicos, os problemas vão persistir e aumentar.
O mais grave em relação à CPMF é que as justificativas variam ao sabor das conveniências do momento. Primeiro, o tributo teria a função de custear a Previdência; depois, Dilma mudou o discurso: a CPMF era crucial para o país sair da recessão; agora, sem a CPMF não há como combater o Aedes. Ou seja: sem o imposto, o país vai acabar – afinal, dele dependeria a reativação da economia, a melhora das contas da previdência, a contenção do mosquito e sabe-se lá mais o quê.
A gestão equivocada da economia produzida pelo governo de Dilma Rousseff, responsável por ter levado o país ao forte desequilíbrio das contas públicas, à inflação de dois dígitos, à recessão e ao desemprego em massa, exige agora – de acordo com a mentalidade estreita dos governantes – ainda maiores sacrifícios da população, obrigada a pagar tributos cada vez mais elevados e a se submeter à criação de outros, como se tenta agora com a ressurreição da rejeitada CPMF.
Num cenário de crise e necessidade de ajuste, não se pode descartar de antemão alguma elevação nos impostos. Mas ela só seria aceitável se antes o poder público desse uma demonstração cabal de que está reduzindo suas despesas, cortando privilégios e exageros. Nada disso foi feito, e por isso é ainda mais lamentável que o Planalto aproveite a emergência sanitária para, outra vez, clamar pela CPMF, sem nem mesmo apresentar uma proposta realista ao Congresso, por exemplo estipulando a duração do eventual novo imposto.
Um Legislativo e uma sociedade conscientes não podem permitir aumento de carga tributária enquanto o governo não demonstrar de forma cabal que está fazendo todo o possível para conter o déficit fiscal.
Cuidado com o andor!
Temei os profetas e aqueles que estão dispostos a morrer pela verdade, pois, em geral, farão morrer muitos outros juntamente com eles, frequentemente antes deles, por vezes no lugar delesUmberto Eco, escritor italiano morto ontem aos 84 anos
As Mírians do Brasil passam
O PT usou a fórmula Collor de atazanar o adversário. Há 27 anos, Collor colocou a fita de Míriam (Cordeiro) para arrasar Lula em plena campanha. Agora a companheirada ressuscitou Míriam (Dutra) para sair no lucro sobre o PSDB, atacando Fernando Henrique.
Como sempre a baixeza petista e a mediocridade dos seus atores ganham espaço na mídia para mostrar que aqui a ralé é geral. Lula e FHC seriam farinha do mesmo saco, como solta foguetes a companheirada. Sempre apelam para se igualar a quem não chegam aos pés.
Ninguém ainda se esqueceu de Rosemary, mais danosa ao país do que as duas Mírians. No entanto, a patetice do ministro Cardozo anunciou em trombetas a investigação da Polícia Federal no caso da Dutra. Silêncio ministerial e partidário sobre o namoro de Lula e Rose, que gastou a rodo com o cartão corporativo e viajou para o exterior quase tanto quanto o ex-presidente Lula, tudo às custas do Erário. Se contabilizar o estrago das indicações a preço de ouro para cargos no governo.
O fumacê petista com a ex-jornalista, amiga de Franklin Martins e da sua mulher, que negociou os encontros entre autoridades africanas e Léo Pinheiro, da OAS, é chuva de Verão. Não é questão de Estado, mas caso passional que não tirou dinheiro do país. Só fez mesmo FHC perdeu tempo e dinheiro. Apenas questão pessoal.
Como a Cordeiro passou, a Dutra também passará.
No entanto a toda-poderosa Rose ainda tem que responder na Justiça, quando seu grande defensor Zé Dirceu está na cadeia. E os fatos serão mais cruéis para Lula, que de quebra terá que aguentar a galega. Aí sim o pau vai comer no lombo da honestidade em pessoa.
Como sempre a baixeza petista e a mediocridade dos seus atores ganham espaço na mídia para mostrar que aqui a ralé é geral. Lula e FHC seriam farinha do mesmo saco, como solta foguetes a companheirada. Sempre apelam para se igualar a quem não chegam aos pés.
O fumacê petista com a ex-jornalista, amiga de Franklin Martins e da sua mulher, que negociou os encontros entre autoridades africanas e Léo Pinheiro, da OAS, é chuva de Verão. Não é questão de Estado, mas caso passional que não tirou dinheiro do país. Só fez mesmo FHC perdeu tempo e dinheiro. Apenas questão pessoal.
Como a Cordeiro passou, a Dutra também passará.
No entanto a toda-poderosa Rose ainda tem que responder na Justiça, quando seu grande defensor Zé Dirceu está na cadeia. E os fatos serão mais cruéis para Lula, que de quebra terá que aguentar a galega. Aí sim o pau vai comer no lombo da honestidade em pessoa.
Quando o barato sai caro
Além de oito anos de salários de presidente e despesas zero, Lula ganhou R$ 27 milhões fazendo palestras no exterior, tudo com nota fiscal, declarado à Receita Federal e com impostos pagos. Teria todo o direito de comprar o tríplex ou o sítio que quisesse, sem dar satisfações a ninguém. Ainda que as palestras não fossem compradas por interessados internacionais, mas pagas por empresas brasileiras que queriam fazer bons negócios e resolver problemas complicados com governos locais, seria, digamos, apenas lobby. Mas isto ainda está sob investigação e, até prova em contrário, os milhões de Lula são tão limpos como os de Bill Clinton.
Com uns sete ou oito milhõezinhos, ele poderia comprar uma boa cobertura, não um muquifo na cafona Guarujá, mas em Ipanema, e um belo sítio em Campos do Jordão. Sobrariam-lhe uns 20 milhões, e ele não teria que enfrentar o calvário imobiliário que o humilha publicamente, desmoraliza sua liderança e ridiculariza o seu maior patrimônio: a “alma viva mais honesta do país”.
Mas, sabe-se lá por que, já que burro não é, Lula preferiu fazer tudo escondido, para se aproveitar de vantagens oferecidas por “amigos” e empresários com interesses no governo, enrolar-se numa mentira atrás da outra, tudo para não gastar uma pequena parte do seu patrimônio.
Seus 20 milhões, se investidos por Henrique Meirelles (por Mantega ou Dilma jamais!), lhe renderiam uns R$ 250 mil por mês, além de suas gordas aposentadorias e bolsa-ditadura, sem contar com futuras palestras, que, agora, ninguém quer de graça. Poderia viver como a mais luxuosa e odiosa elite brasileira. Ou como um craque de futebol.
Claro, viver de renda no luxo ia pegar meio mal para a militância do PT, mas logo tudo seria visto como o heroico triunfo de um torneiro mecânico sobre a burguesia.
Não consigo entender como um cara tão inteligente colocou em risco sua reputação e sua carreira por tão pouco, talvez por arrogância e soberba, ou malandragem barata, em jogadas ilegais e perigosas, ou tudo isso para não gastar o que — diante de seu patrimônio pessoal — seria coisa de pobre. Um barato que está lhe custando caríssimo.
Nelson Motta
Com uns sete ou oito milhõezinhos, ele poderia comprar uma boa cobertura, não um muquifo na cafona Guarujá, mas em Ipanema, e um belo sítio em Campos do Jordão. Sobrariam-lhe uns 20 milhões, e ele não teria que enfrentar o calvário imobiliário que o humilha publicamente, desmoraliza sua liderança e ridiculariza o seu maior patrimônio: a “alma viva mais honesta do país”.
Mas, sabe-se lá por que, já que burro não é, Lula preferiu fazer tudo escondido, para se aproveitar de vantagens oferecidas por “amigos” e empresários com interesses no governo, enrolar-se numa mentira atrás da outra, tudo para não gastar uma pequena parte do seu patrimônio.
Seus 20 milhões, se investidos por Henrique Meirelles (por Mantega ou Dilma jamais!), lhe renderiam uns R$ 250 mil por mês, além de suas gordas aposentadorias e bolsa-ditadura, sem contar com futuras palestras, que, agora, ninguém quer de graça. Poderia viver como a mais luxuosa e odiosa elite brasileira. Ou como um craque de futebol.
Claro, viver de renda no luxo ia pegar meio mal para a militância do PT, mas logo tudo seria visto como o heroico triunfo de um torneiro mecânico sobre a burguesia.
Não consigo entender como um cara tão inteligente colocou em risco sua reputação e sua carreira por tão pouco, talvez por arrogância e soberba, ou malandragem barata, em jogadas ilegais e perigosas, ou tudo isso para não gastar o que — diante de seu patrimônio pessoal — seria coisa de pobre. Um barato que está lhe custando caríssimo.
Nelson Motta
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