terça-feira, 8 de julho de 2014

Marinha

Emiliano Di Cavalcanti (1897 - 1976)

Lance a lance, tudo igual


O futebol toma o país, e com ele toda nossa hipocrisia. Vibramos em estádios superfaturados, torcemos por vitórias que não levam a nada em nossa melhoria social, mas nos esbaldamos com o orgulho de ser brasileiros. Ufanistas desde criancinhas com a mentirinha de que aqui é o país do futebol, quando já deixou há muito de ser. O último grande futebol apresentado em Copas, aplaudido de pé como maravilhoso, aconteceu há 30 anos, e ainda assim foi derrotado.

Também já não detemos mais nenhuma liderança em estádios, que mesmos sem padrão Fifa não conseguem ser enchidos pela paixão nacional. Perdemos longe para os Estados Unidos, que estão lotando seus estádios com o “soccer”. Aqui ainda há apenas 1% de mulheres registradas como jogadoras, mas lá elas já são 40% das registradas.

Vivemos de clichês alimentados pela mídia, que “joga pra cima” como bem conhece quem labutou nas redações esportivas. Sobra farofa no que servem. E o brasileiro fica entupido de misturar a farinha ao chope da festa que se esparrama como se vivêssemos num país dos paraísos. Enche a boca e bate no peito de melhor do mundo, que deixou de ser e não sabe, porque não interessa a seu egocentrismo. Mais vale a fantasia, que esconde tudo de todos e a cara de uma realidade de desastres, de infortúnios.  

As explicações, ou o que se entende como desculpas pelo pouco jogo apresentado, ou o ufanismo da última vitória, são ingredientes muito usados também no campo político. Tudo é o óbvio, mas que os jogadores e comissão técnica da seleção brasileira defendem como observações inteligentes. Tal no campo como no Planalto. Pareceram nas coletivas de imprensa estar jogando para uma plateia de eleitores como no jogo político.

O espetáculo das coletivas mostra o quão vazios, ou cretinos, somos em futebol como em política quando temos que dar explicações. Dessas fugimos como o diabo da cruz para não nos embananar nas respostas e perder o eleitorado.

À exaustão, falam do ídolo, contundido, pedem a cabeça do adversário “criminoso”, quiçá querem até sua extradição para julgamento popular em praça pública. Pois somos ridículos, e até racistas, quando defendemos o que apelidaram de país, ou os “ídolos” nacionais, mas não nos mexemos para salvar a Pátria e a pele dos compatriotas quando os políticos esculhambam tudo até as empresas criadas com o suor do trabalhador, se lixam para a saúde, brincam de oferecer educação.

Como no futebol, tentam de todas as formas driblar o público em arenas políticas espalhadas pelo país a custos exorbitantes como os estádios modelitos Fifa, que refletem muito bem os gigantes espalhados pela ditadura para exaltar o futebol pós-Copa de 1970. Ou já se esqueceram dos Geraldões e Castelões construídos na época para exaltar o famigerado Pra frente, Brasil?

Embora muitos defendam que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, aqui se misturam as coisas. A Copa, fora de torneio de futebol, tem servido, e muito bem, para escusos interesses eleitoreiros. Ou o governo não já está tirando seus lucros para investir nas eleições? E pode ser a competição o fiel da balança para assegurar o continuísmo. 

A Copa não é dela

"Mas nada – nem o desejado hexa – será capaz de esconder a orgia de gastos que por antecipação assegurou ao Brasil o título da Copa mais cara já realizada. Só as 12 arenas custaram R$ 8 bilhões, 285% acima dos R$ 2,8 bilhões fixados em 2007. Mais do que o dobro dos R$ 3,2 bilhões da África do Sul e dos R$ 3,6 bilhões da Alemanha. Sem computar o legado muito aquém do prometido: das 100 obras previstas, mais da metade não estão prontas e 20% ficaram para as calendas"

Ataque à mídia

"Agora, com o Estado aparelhado, o Congresso ameaçado pelo decreto de Dilma que inaugura a governança via conselhos, obviamente controlados pelo governo, e a imprensa fustigada, o lulismo mostra sua verdadeira cara: o rosto do caudilhismo"
Leia mais o artigo Ataque à mídia, de Carlos Alberto Di Franco