sábado, 24 de outubro de 2015
A libertação está nos fatos
Poucas vezes terá havido situação semelhante à deste nosso banquete de horrores no qual 90% dos comensais declaram-se com nojo da comida que lhes tem sido servida mas são obrigados a continuar a traga-la simplesmente porque não sabem pedir outro prato.
Na 2a feira, 19, O Globo publicou nova reportagem da série “Cofres Abertos” sobre a realidade do estado petista. O título era “Remuneração em ministério vai até R$ 152 mil”.
Eis alguns dados:
Lula acrescentou 18,3 mil funcionários à folha da União em oito anos. Em apenas quatro Dilma enfiou mais 16,3 mil. Agora são 618 mil, só na ativa. 103.313 têm “cargos de chefia”. Os títulos são qualquer coisa de fascinante. Ha um que inclui 38 palavras. “Chefe de Divisão de Avaliação e Controle de Programas, da Coordenação dos Programas de Geração de Emprego e Renda…” e vai por aí enfileirando outras 30, com o escárnio de referir um acinte desses à “geração de emprego e renda”…
O “teto” dos salários é o da presidente, de R$ 24,3 mil. Mas a grande tribo só de caciques constituída não pelos funcionários concursados ou de carreira mas pelos “de confiança”, com estrela vermelha no peito, ganha R$ 77 mil, somadas as “gratificações” que podem chegar a 37 diferentes. No fim do ano tem bônus “por desempenho”. A Petrobras distribuiu mais de R$ 1 bi aos funcionários em pleno “petrolão”, depois de negar dividendos a acionistas. A Eletronorte distribuiu R$ 2,2 bilhões em “participação nos lucros” proporcionados pelo aumento médio de 29% nas contas de luz dos pobres do Brasil entre os seus 3.400 funcionários. Houve um que embolsou R$ 152 mil.
A folha de salários da União, sem as estatais que são 142, passará este ano de R$ 100 bilhões, 58% mais, fora inflação, do que o PT recebeu lá atrás.
E para trabalhar no inferno que isso cria? Quanto vale a venda de indulgências?
Essa conversa da CPMF como única alternativa para a salvação da pátria face à “incompressibilidade” dos gastos públicos a favor dos pobres não duraria 10 segundos se fatos como esses fossem sistematicamente justapostos às declarações que 100 vezes por dia, os jornais, do papel à telinha, põem no ar para afirmar o contrário. Se fossem editados e perseguidos pelas televisões com as mesmas minúcia, competência técnica e paixão com que seus departamentos de jornalismo fazem de temas desimportantes ou meramente deletérios verdadeiras guerras-santas, então, a Bastilha já teria caído.
Passados 10 meses de paralisia da nação diante da ferocidade do sítio aos dinheiros públicos e ao que ainda resta no bolso do brasileiro de 2a classe, com a tragédia pairando no ar depois do governo mutilar até à paraplegia todos os investimentos em saúde, educação, segurança pública e infraestrutura, a série do Globo é, no entanto, o único esforço concentrado do jornalismo brasileiro na linha de apontar com fatos e números que dispensam as opiniões de “especialistas” imediatamente contestáveis pelas opiniões de outros “especialistas” para expor a criminosa mentira de que este país está sendo vítima.
Nem por isso deixou de sofrer restrições mesmo “dentro de casa” pois apesar da contundência dos fatos, da oportunidade da denúncia e da exclusividade do que estava sendo apresentado, a 1a página do jornal daquele dia não trazia qualquer “chamada” para o seu próprio “furo” e nem as televisões da casa o repercutiram. O tipo de informação sem a disseminação da qual o Brasil jamais desatolará da condição medieval em que tem sido mantido, tornou-se conhecida, portanto, apenas da ínfima parcela da ínfima minoria dos brasileiros alfabetizados que lê jornal que tenha folheado O Globointeiro daquele dia até seus olhos esbarrarem nela por acaso e que se deixaram levar pela curiosidade página abaixo.
É por aí que se agarra insidiosamente ao chão essa cultivada perplexidade do brasileiro que, em plena “era da informação”, traga sem nem sequer argumentar aquilo que já não admitia que lhe impingissem 200 anos atrás mesmo que a custa de se fazer enforcar e esquartejar em praça pública.
Do palco à platéia, Brasília vive imersa no seu “infinito particular“. Enquanto o país real, com as veias abertas, segue amarrado ao poste à espera de que a Pátria Estupradora decida quem vai ou não participar da próxima rodada de abusos, os criminosos mandam prender a polícia e a platéia discute apaixonadamente quem deu em quem, entre os atores da farsa, a mais esperta rasteira do dia.
Deter o estupro não entra nas cogitações de ninguém. A pauta da imprensa – e com ela a do Brasil – foi terceirizada para as “fontes” que disputam o comando de um sistema de opressão cuja lógica opõe-se diametralmente à do trabalho. Os fatos, substância da crítica que pode demolir os “factóides“, esses todos querem ocultados.
Perdemos as referências do passado, terceirizamos a “busca da felicidade” no presente, somos avessos à fórmula asiática de sucesso quanto ao futuro. Condenamo-nos a reinventar a roda em matéria de construção de instituições democráticas porque a que foi inventada pela melhor geração da humanidade no seu mais “iluminado” momento e vem libertando povo após povo que dela se serve, está banida das nossas escolas e da pauta terceirizada pela imprensa a quem nos quer para sempre amarrados a um rei e seus barões. Como o resto do mundo resolve os mesmos problemas que temos absolutamente não interessa aos “olheiros” dos nossos jornais e TVs no exterior que, de lá, só nos mostram o que há de pior…
A imprensa nacional está devendo muito mais à democracia brasileira do que tem cobrado aos outros nas suas cada vez mais segregadas páginas de opinião.
Presunção de culpa
Quando se afirma que “a presidente Dilma é pessoalmente íntegra e correta” – fundamento que o governismo sustenta, sem que a oposição o contradiga ou ao menos o ponha em dúvida -, em que exatamente se está baseando?
Nem mesmo o princípio de presunção de inocência, que fundamenta o direito, cabe com conforto nessa premissa, tendo em vista os fatos que a cercam, desde que assumiu seu primeiro cargo, de ministra de Minas e Energia, no primeiro governo Lula.
A sequência fática só piora as coisas. É só conferir.
Eduardo Cunha, até aqui apresentado como o grande vilão político do Petrolão - o que é pouco mais que uma piada, tendo em vista que o comando da rapina jamais deixou de ser do PT -, também era inocente até que as contas na Suíça aparecessem.
Mas os sinais de que tal presunção era frágil já estavam evidentes bem antes – e, por isso mesmo, ninguém se atrevia a evocá-la quando seu nome era mencionado. Bem ao contrário, prevalecia a presunção de suspeita, mesmo sem as denúncias.
Há situações – e a de Cunha é uma delas – cuja eloquência precede os documentos (às vezes, até mesmo os dispensa).
Vejamos agora o que há no entorno de Dilma. Quando a roubalheira sistêmica se instalou na Petrobras, a partir de 2003, ela era, por dupla via – ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da empresa -, a autoridade máxima e responsável. Como é de seu perfil, jamais a delegou.
Corrupção, sabemos desde os tempos em que a direção da Petrobras destruiu Paulo Francis, na década dos 90 do século passado, nunca foi novidade por lá. Mas jamais assumiu a natureza sistêmica e bilionária que lhe impôs o lulismo, ao ponto de se transformar, segundo o The New York Times, no maior escândalo financeiro da face da Terra.
O ex-gerente Pedro Barusco, que sozinho amealhou (ou por outra, devolveu) quase 100 milhões de dólares, que o diga. O escândalo internacional da Fifa envolveu algo em torno de 150 milhões de dólares – ou seja, um Barusco e meio, personagem secundário na bacanal financeira da empresa.
Detalhe: estamos falando apenas da Petrobras; há ainda a Eletrobras, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, os fundos de pensão etc.
As contas até aqui feitas pela Lava Jato já passam dos 20 bilhões de reais. Ainda estão longe dos 88,6 bilhões que o balanço da Petrobras, ainda sob a presidência de Graça Foster, constatou.
Saiu-se, pois, do milhão para o bilhão com a maior naturalidade. Quando do primeiro escândalo revelado, a compra superfaturada – e põe superfaturada nisso - da refinaria de Pasadena, nos EUA, Dilma autorizou a operação.
Disse posteriormente que não sabia da tramoia, como se isso a absolvesse. Não saber – e estamos diante de uma questão de fé: crer ou não crer – só acrescenta o ingrediente da incompetência ao da imoralidade. Não o reduz – em contundência ou em responsabilidade penal - em um só milímetro.
Nestor Cerveró, que era o diretor do setor, declarou ao Ministério Público que teve nada menos que nove reuniões com Dilma a respeito de Pasadena. Bastava uma - ou não?
Dilma, segundo ela própria, fora enganada por Cerveró com um relatório incompleto. Se percebeu que estava incompleto, por que não requereu um completo? Afinal, sempre se disse uma especialista na matéria. Na sua santa indignação, “puniu” Cerveró, promovendo-o a diretor financeiro da BR Distribuidora. Como castigo, deu-lhe um dos mais cobiçados cofres da empresa.
Outros cinco delatores premiados – alguns também ex-diretores da Petrobras, nomeados ou mantidos no cargo pela presidente – afirmam que as duas campanhas presidenciais de Dilma (além da anterior de Lula, em 2006) foram abastecidas com dinheiro roubado da Petrobras. O dinheiro era “lavado” na Justiça, como “doação legítima” por parte dos empreiteiros gatunos. Crime perfeito. Ela – que prometera “fazer o diabo” para ganhar a eleição - também não sabia de nada. Claro, claro.
Imagine-se, por exemplo, se Eduardo Cunha, em sua defesa, sustentasse que desconhecia ter contas secretas na Suíça. É tão verossímil quanto alguém, responsável pela Petrobrás por mais de uma década – e com perfil administrativo profundamente centralizador -, alegar que não percebeu os bilhões que de lá saíam pela janela. Pior: parte deles indo diretamente para os cofres de seu partido e para o caixa de sua campanha eleitoral. Duas campanhas, registre-se.
Dilma afirmou que não conhecida Paulo Roberto Costa, o “Paulinho do Lula”, que, no entanto, foi instado a contribuir, com parte da propina que extorquira da Petrobrás, cerca de 2 milhões de reais, para a campanha dela, segundo Fernando Baiano. Não o fizesse, deixaria o cargo, o que dispensa comentários.
O mesmo Paulo Roberto garantiu que Dilma “sempre soube de tudo”. Pois é: mas Dilma, que “não conhecia” Costa, o manteve no cargo e o incluiu entre os convidados para a cerimônia de casamento de sua filha, acessível apenas aos íntimos.
Como se vê, o ambiente nem é presuntivo, nem muito menos inocente. E o empenho geral, sobretudo da presidente, em evitar que haja julgamento, transcende as suspeitas. Quem se sabe inocente não adia, mas, inversamente, clama por julgamento.
Do bate-boca que a presidente teve, diretamente da Suécia, com Eduardo Cunha, há dias, o mínimo que se pode dizer é que ambos têm razão.
Nem mesmo o princípio de presunção de inocência, que fundamenta o direito, cabe com conforto nessa premissa, tendo em vista os fatos que a cercam, desde que assumiu seu primeiro cargo, de ministra de Minas e Energia, no primeiro governo Lula.
A sequência fática só piora as coisas. É só conferir.
Mas os sinais de que tal presunção era frágil já estavam evidentes bem antes – e, por isso mesmo, ninguém se atrevia a evocá-la quando seu nome era mencionado. Bem ao contrário, prevalecia a presunção de suspeita, mesmo sem as denúncias.
Há situações – e a de Cunha é uma delas – cuja eloquência precede os documentos (às vezes, até mesmo os dispensa).
Vejamos agora o que há no entorno de Dilma. Quando a roubalheira sistêmica se instalou na Petrobras, a partir de 2003, ela era, por dupla via – ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da empresa -, a autoridade máxima e responsável. Como é de seu perfil, jamais a delegou.
Corrupção, sabemos desde os tempos em que a direção da Petrobras destruiu Paulo Francis, na década dos 90 do século passado, nunca foi novidade por lá. Mas jamais assumiu a natureza sistêmica e bilionária que lhe impôs o lulismo, ao ponto de se transformar, segundo o The New York Times, no maior escândalo financeiro da face da Terra.
O ex-gerente Pedro Barusco, que sozinho amealhou (ou por outra, devolveu) quase 100 milhões de dólares, que o diga. O escândalo internacional da Fifa envolveu algo em torno de 150 milhões de dólares – ou seja, um Barusco e meio, personagem secundário na bacanal financeira da empresa.
Detalhe: estamos falando apenas da Petrobras; há ainda a Eletrobras, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, os fundos de pensão etc.
As contas até aqui feitas pela Lava Jato já passam dos 20 bilhões de reais. Ainda estão longe dos 88,6 bilhões que o balanço da Petrobras, ainda sob a presidência de Graça Foster, constatou.
Saiu-se, pois, do milhão para o bilhão com a maior naturalidade. Quando do primeiro escândalo revelado, a compra superfaturada – e põe superfaturada nisso - da refinaria de Pasadena, nos EUA, Dilma autorizou a operação.
Disse posteriormente que não sabia da tramoia, como se isso a absolvesse. Não saber – e estamos diante de uma questão de fé: crer ou não crer – só acrescenta o ingrediente da incompetência ao da imoralidade. Não o reduz – em contundência ou em responsabilidade penal - em um só milímetro.
Nestor Cerveró, que era o diretor do setor, declarou ao Ministério Público que teve nada menos que nove reuniões com Dilma a respeito de Pasadena. Bastava uma - ou não?
Dilma, segundo ela própria, fora enganada por Cerveró com um relatório incompleto. Se percebeu que estava incompleto, por que não requereu um completo? Afinal, sempre se disse uma especialista na matéria. Na sua santa indignação, “puniu” Cerveró, promovendo-o a diretor financeiro da BR Distribuidora. Como castigo, deu-lhe um dos mais cobiçados cofres da empresa.
Outros cinco delatores premiados – alguns também ex-diretores da Petrobras, nomeados ou mantidos no cargo pela presidente – afirmam que as duas campanhas presidenciais de Dilma (além da anterior de Lula, em 2006) foram abastecidas com dinheiro roubado da Petrobras. O dinheiro era “lavado” na Justiça, como “doação legítima” por parte dos empreiteiros gatunos. Crime perfeito. Ela – que prometera “fazer o diabo” para ganhar a eleição - também não sabia de nada. Claro, claro.
Imagine-se, por exemplo, se Eduardo Cunha, em sua defesa, sustentasse que desconhecia ter contas secretas na Suíça. É tão verossímil quanto alguém, responsável pela Petrobrás por mais de uma década – e com perfil administrativo profundamente centralizador -, alegar que não percebeu os bilhões que de lá saíam pela janela. Pior: parte deles indo diretamente para os cofres de seu partido e para o caixa de sua campanha eleitoral. Duas campanhas, registre-se.
Dilma afirmou que não conhecida Paulo Roberto Costa, o “Paulinho do Lula”, que, no entanto, foi instado a contribuir, com parte da propina que extorquira da Petrobrás, cerca de 2 milhões de reais, para a campanha dela, segundo Fernando Baiano. Não o fizesse, deixaria o cargo, o que dispensa comentários.
O mesmo Paulo Roberto garantiu que Dilma “sempre soube de tudo”. Pois é: mas Dilma, que “não conhecia” Costa, o manteve no cargo e o incluiu entre os convidados para a cerimônia de casamento de sua filha, acessível apenas aos íntimos.
Como se vê, o ambiente nem é presuntivo, nem muito menos inocente. E o empenho geral, sobretudo da presidente, em evitar que haja julgamento, transcende as suspeitas. Quem se sabe inocente não adia, mas, inversamente, clama por julgamento.
Do bate-boca que a presidente teve, diretamente da Suécia, com Eduardo Cunha, há dias, o mínimo que se pode dizer é que ambos têm razão.
Alguém precisa dizer aos políticos: 'É a economia, estúpidos!'
A situação do país está cada vez pior, mas os políticos e as autoridades dos três Poderes se comportam como se estivessem na Ilha da Fantasia ou na Terra do Nunca Jamais. Não há empenho em buscar alternativas para vencer a crise, é como se tudo fosse se resolver naturalmente, talvez por osmose, como se dizia antigamente. A omissão e a inércia são impressionantes, como se houvesse possibilidade de retomar o desenvolvimento do país mediante a teoria do laisser-faire, a versão mais pura e simplificada do capitalismo, em que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência, apenas com regulamentos suficientes para proteger os direitos de propriedade. Bem, sonhar ainda não é proibido.
Mas é justamente isso que está acontecendo. A única e exclusiva preocupação do governo atual é se manter no poder, a qualquer preço. Não tem nenhum programa administrativo, não planeja minimamente a gestão, nada, nada. Dedica-se apenas a tramar incessantemente para evitar o impeachment ou a cassação pela Justiça Federal. Para tanto, vale qualquer acordo, não há a menor preocupação com a ética.
O presidente do Senado segue na mesma levada. Conseguiu eleger o filho para governar Alagoas, transformou o estado num feudo, agora somente se empenha em atender ao governo federal, na esperança de que o inquérito sobre seu envolvimento do esquema da Petrobras caminhe devagar, devagarinho, no ritmo do genial Martinho da Vila.
Na Câmara, seu presidente tentou agir com independência e enfrentar o governo, mas se deu mal. A resposta foi um inquérito que caminha em velocidade supersônica, coisa jamais vista na política. Nas contas dele, pela 15ª sexta-feira seguida a Procuradoria-Geral da República municia a imprensa com denúncias contra ele, a mulher e a filha
. Sua imagem está destruída, mesmo assim ele sonha em manter não somente o mandato, mas também o cargo de presidente da Câmara.
E no Supremo, está tudo dominado, como se diz atualmente. O presidente do tribunal é da inteira confiança dos governantes, já demonstrou ser especialista em reativar recursos infringentes extintos e em aceitar a existência de quadrilhas que funcionam sem chefes, a boa vontade é total.
Enquanto os políticos e as autoridades criam este mundo à parte, uma espécie de “Meu Brasil Brasileiro” particular, a economia nacional mergulha numa fase crítica. Todos os Estados entraram em recessão, exceto o Pará, que este ano conseguirá uma façanha – a estagnação. Os indicadores são sinistros, os empresários meteram o pé no freio, até as multinacionais decidiram reduzir seus quadros, agravando o desemprego. A arrecadação despenca, consequentemente não há recursos para investimentos, o governo não admite nem discutir cortes nas despesas de custeio, a dívida pública aumenta incessantemente, caminha-se para um impasse e para a bancarrota.
Em 1992, na campanha presidencial dos EUA, o consultor James Carville, então assessor da campanha de Bill Clinton, criou a frase “É a economia, estúpido!”. O candidato favorito era o presidente republicano Gorge Bus pai, que acabara de triunfar na Guerra do Golfo. Mas o consultor Carville percebeu que os eleitores estavam mais preocupados com a crise econômica do que com a investida contra o Iraque de Saddam Russein. E Clinton venceu.
Não estamos em ano eleitoral, mas alguém precisa imediatamente ocupar a Praça dos Três Poderes, em Brasília, e instalar placas gigantescas que possam ser vista de todos os lados, com a frase “É a economia, estúpidos!”.
Talvez assim os políticos e as autoridades despertassem desse sonho imbecil e resolvessem agir para solucionar a crise nacional. Mas isso parece irreal, porque eles não querem acordar para encarar a realidade.
Um ano depois
Duas vezes, esta semana, a presidente Dilma declarou “o compromisso inarredável com a continuidade do Bolsa Família”. Assim respondeu à sugestão do relator do Orçamento, deputado Ricardo Barros, de cortar 10 bilhões de reais do programa como forma de enfrentar a crise econômica. Dá para acreditar?
Melhor deixar a promessa em suspenso, porque da reeleição até hoje, Madame descumpriu um monte de promessas eleitorais, a maior delas de que não reduziria os direitos trabalhistas. Reduziu, assim como cortou investimentos numa série de programas sociais.
A perda de credibilidade é tão nefasta para o governo quanto a perda de popularidade, ou melhor, uma é consequência da outra. Um ano depois de conquistar o segundo mandato, a presidente é outra. O Brasil também. Fossem realizadas novas eleições neste segundo domingo de outubro e em vez de votos ela colheria rejeições.
Para permanecer no poder, Dilma “faria o diabo”. Fez. O resultado aí está: um governo envolto nas trevas do impeachment, condenado aos panelaços e demais manifestações de indignação nacional. Perdeu o apoio da opinião pública, da classe média, dos trabalhadores, do empresariado e da torcida do Flamengo. Obriga-se a desaparecer das concentrações populares e até das telinhas. Como alternativa, percorre o planeta. Depois da Suécia e da Finlândia, programa viagens ao Vietnã, França, Portugal e alhures.
Já entregou o ministério e não reconquistou o apoio do Congresso, mesmo distribuindo benesses, favores e sinecuras a deputados e senadores. Não dispõe da metade do PT e alimenta o PMDB como os imperadores romanos alimentavam os leões. Com três anos e dois meses pela frente, a pergunta é se vai aguentar. Além do desemprego em massa, do aumento de impostos, taxas e tarifas, do congelamento e até da redução dos salários e direitos sociais, da elevação do custo de vida, da inflação e do corte de recursos para obras públicas, assiste o dia seguinte tornar-se sempre pior do que a véspera.
A sucessão de escândalos envolvendo ministros, líderes, dirigentes partidários de sua hoje esfrangalhada base política, além de funcionários públicos e empreiteiras, não deixa duvidas de que o Tiririca estava errado: fica pior, sim.
Jura a presidente que não renuncia. Dificilmente o Congresso aprovará o seu afastamento. Na melhor das hipóteses, o remédio é continuar sofrendo, ela e nós. Na pior será ver a indignação geral transformar-se em rebelião social e na ruptura institucional.
Melhor deixar a promessa em suspenso, porque da reeleição até hoje, Madame descumpriu um monte de promessas eleitorais, a maior delas de que não reduziria os direitos trabalhistas. Reduziu, assim como cortou investimentos numa série de programas sociais.
Para permanecer no poder, Dilma “faria o diabo”. Fez. O resultado aí está: um governo envolto nas trevas do impeachment, condenado aos panelaços e demais manifestações de indignação nacional. Perdeu o apoio da opinião pública, da classe média, dos trabalhadores, do empresariado e da torcida do Flamengo. Obriga-se a desaparecer das concentrações populares e até das telinhas. Como alternativa, percorre o planeta. Depois da Suécia e da Finlândia, programa viagens ao Vietnã, França, Portugal e alhures.
Já entregou o ministério e não reconquistou o apoio do Congresso, mesmo distribuindo benesses, favores e sinecuras a deputados e senadores. Não dispõe da metade do PT e alimenta o PMDB como os imperadores romanos alimentavam os leões. Com três anos e dois meses pela frente, a pergunta é se vai aguentar. Além do desemprego em massa, do aumento de impostos, taxas e tarifas, do congelamento e até da redução dos salários e direitos sociais, da elevação do custo de vida, da inflação e do corte de recursos para obras públicas, assiste o dia seguinte tornar-se sempre pior do que a véspera.
A sucessão de escândalos envolvendo ministros, líderes, dirigentes partidários de sua hoje esfrangalhada base política, além de funcionários públicos e empreiteiras, não deixa duvidas de que o Tiririca estava errado: fica pior, sim.
Jura a presidente que não renuncia. Dificilmente o Congresso aprovará o seu afastamento. Na melhor das hipóteses, o remédio é continuar sofrendo, ela e nós. Na pior será ver a indignação geral transformar-se em rebelião social e na ruptura institucional.
Nem o bom velhinho escapa
A piora no mercado de trabalho - setembro teve a pior taxa de desemprego desde 2009 - não poupou nem o Papai Noel. A procura do comércio pelos profissionais que personificam o bom velhinho caminha a passos lentos. De acordo com o diretor da Escola de Papai Noel do Brasil, com sede no Rio, Limachem Cherem, lojistas têm sinalizado não ter condições de pagar mais do que no ano passado pelos cerca de 40 dias de trabalho e têm adiado a contratação para barganhar lá na frente.
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Duas épocas
Um dos sinais mais óbvios da autenticidade humana de um movimento político é a sua capacidade de inspirar grandes obras de literatura. Todo movimento revolucionário, no início, tem esse dom, pela simples razão de que há sempre injustiças no mundo e a revolta contra elas é uma tendência natural do coração humano. Os revolucionários apenas se apropriam dela e a utilizam como canal para a conquista do poder. Invariavelmente, tão logo instalados no poder eles multiplicam e reforçam as injustiças em vez de eliminá-las.
Isso não acontece por uma coincidência ou por algum desvio dos ideais revolucionários, mas por efeito incontornável da própria mecânica revolucionária. Quem sobe ao poder em nome de uma sociedade futura, amaldiçoando a sociedade presente na sua totalidade, só se submete ao veredito do futuro e da História, colocando-se portanto acima do julgamento dos vivos. A cristalização do impulso revolucionário numa ditadura totalitária é assim o caminho normal e normativo das revoluções sociais e não uma distorção dos seus propósitos iniciais.
Daí que a literatura de inspiração revolucionária acabe logo cedendo lugar à literatura dos dissidentes, dos prisioneiros de consciência, dos exilados e desiludidos. E invariavelmente a segunda é mais forte e mais inspirada que a primeira, porque não reflete os ideais e slogans de um movimento político, mas a experiência direta dos horrores da revolução consolidada.
Por isso é que, se nos países capitalistas se produz alguma boa literatura comunista, nos países comunistas a única grande literatura que aparece é anticomunista.
Nada do que o comunismo em ascensão produziu na Rússia, nem mesmo A Mãe, de Máximo Gorki, ou O Don Silencioso, de Vladimir Sholokov, pontos altos da literatura soviética, se compara às obras-primas de Joseph Brodsky, Alexander Zinoviev, Alexander Soljenítsin, Ossip e Nadja Mandelstam.
No caso cubano, a diferença é mais pronunciada ainda. Quem ainda se lembrará de qualquer romance ou poema pró-castrista, se pode ler os livros de Guillermo Cabrera Infante, Severo Sarduy, Reinaldo Arenas e Leonardo Padura? Entre aqueles que não se opuseram frontalmente ao regime, ainda vale a pena ler Alejo Carpentier, que no seu período de burocrata paparicado pela ditadura nunca mais voltou a escrever algo do porte de El Reyno de Este Mundo, de 1949, e José Lezama Lima, Paradiso, de 1966, espancado pela crítica oficial cubana por sua estética “burguesa”.
Na esfera da filosofia e das ciências sociais, a penúria intelectual daquilo que proveio dos países da Cortina de Ferro contrasta de maneira patética com a riqueza e criatividade da produção marxista... nas democracias capitalistas.
Se os movimentos revolucionários inspiram idéias e obras de arte enquanto lutam contra um governo estabelecido, tão logo chegam ao poder dedicam-se com empenho e diligência em secar todas as fontes, em reduzir tudo a um deserto mental mil vezes mais seco e estéril do que qualquer ditadura reacionária jamais logrou instaurar.
No tempo dos militares, a esquerda queixava-se do empobrecimento intelectual do ambiente, ao qual no entanto ela própria, tanto quanto a direita, dava um brilho e um vigor que hoje seriam impensáveis.
Vejam só algumas amostras casuais de livros publicados naquela fase que os esquerdistas, por demagogia ou loucura, descreviam como o fundo do poço cultural.
À esquerda: Antônio Callado: Quarup; Carlos Heitor Cony: Pessach: A travessia.;;Caio Prado Júnior: A Revolução Brasileira;;Jorge Amado: Os Pastores da Noite; Dona Flor e Seus Dois Maridos; Tenda dos Milagres; Teresa Batista Cansada de Guerra; Tieta do Agreste; Tocaia Grande; Jacob Gorender: O Escravismo Colonial; Alfredo Bosi: O Ser e o Tempo da Poesia; Jorge Andrade: Os Ossos do Barão; Labirinto; Marques Rebelo: A Guerra Está em Nós; Otto Maria Carpeaux: A Literatura Alemã; Vinte e Cinco Anos de Literatura.; Ferreira Gullar: Poema Sujo; Antônio Cândido: Literatura e Sociedade; Formação da Literatura Brasileira; José Honório Rodrigues: Conciliação e Reforma no Brasil; História e Historiadores do Brasil; Vida e História;História e Historiografia, e por fim o monumental Independência: Revolução e Contra-Revolução, em cinco volumes; Ledo Ivo: A Noite Misteriosa; Calabar; Mar Oceano; João Antônio: Leão-de-Chácara; Malhação do Judas Carioca; Abraçado ao Meu Rancor.
À direita: Gilberto Freyre: Brasil, Brasis e Brasília; O Brasileiro entre os Outros Hispanos; Homens, Engenharias e Rumos Sociais; Antônio Olinto: A Casa da Água; Josué Montello: Os Degraus do Paraíso; Os Tambores de São Luís; A Coroa de Areia; O Silêncio da Confissão; José Guilherme Merquior: As Idéias e as Formas; A Natureza do Processo; De Anchieta a Euclides; O Argumento Liberal; O Elixir do Apocalipse; Michel Foucault; O Marxismo Ocidental; Gerardo Mello Mourão: Peripécia de Gerardo; Os Peãs; O Valete de Espadas; Herberto Sales: Dados Biográficos do Finado Marcelino; O Fruto do Vosso Ventre; Os Pareceres do Tempo;A Porta de Chifre; Na Relva da Tua Lembrança; Gustavo Corção: Dois Amores, Duas Cidades; O Desconcerto do Mundo; O Século do Nada; Miguel Reale: Experiência e Cultura; O Homem e Seus Horizontes; Verdade e Conjetura; Manuel Bandeira: Estrela da Vida Inteira; Nelson Rodrigues: Toda Nudez Será Castigada; Memórias; A Cabra Vadia; O Óbvio Ululante; À Sombra das Chuteiras Imortais; O Reacionário.
Por essa simples amostragem colhida a esmo – da qual excluo, de propósito, os autores politicamente inclassificáveis como Carlos Drummond de Andrade ou Pedro Nava --, é impossível não concluir que o período militar foi um dos mais criativos e pujantes da nossa história mental, só comparável ao Segundo Império e à “redescoberta do Brasil” nos anos 30 do século XX, da qual ele foi o herdeiro e continuador.
A década que se seguiu à “redemocratização” de 1984-85 já mostra, em contrapartida, os sintomas inequívocos de impotência e decrepitude que documentei em O Imbecil Coletivo (1997), e o tempo decorrido desde então evidencia, pelo vácuo generalizado, a morte da cultura superior no Brasil. Ainda mais impressionante do que esses dois fatos é a ausência de qualquer sinal de alarma ante fenômeno tão degradante, jamais observado antes em qualquer outro país do mundo ocidental. Como escrevi em 2012 (v.http://www.olavodecarvalho.org/semana/120604dc.html):
“Mas, assim como não vejo nenhuma obra de literatura imaginativa que mereça atenção, muito menos deparo, nas resenhas de jornais e nas revistas “de cultura” que não cessam de aparecer, com alguém que se dê conta do descalabro, do supremo escândalo intelectual que é um país de quase duzentos milhões de habitantes, com uma universidade em cada esquina, sem nenhuma literatura superior. Ninguém se mostra assustado, ninguém reclama, ninguém diz um “ai”. Todos parecem sentir que a casa está na mais perfeita ordem, e alguns até são loucos o bastante para acreditar que o grande sinal de saúde cultural do país são eles próprios. Pois não houve até um ministro da Cultura que assegurou estar a nossa produção cultural atravessando um dos seus momentos mais brilhantes, mais criativos? Media, decerto, pelo número de shows de funk.”
Qual a diferença entre os dois períodos? É simples e brutal. Os militares não fizeram nenhum esforço de apropriar-se da cultura superior para usá-la como instrumento de propaganda. Deixaram que as coisas seguissem o seu próprio rumo. Podem até ser acusados de absenteísmo suicida, quando se vê que, ao longo de vinte anos de um regime que teve entre suas metas declaradas o combate à subversão orquestrada pela ditadura cubana, o governo não produziu um só filminho de propaganda anticomunista.
A “redemocratização” inaugurou o período da “organização da cultura” segundo os cânones preconizados por Antonio Gramsci: a era da “ocupação de espaços”, do dirigismo cultural, da “hegemonia” na mídia, do terrorismo intelectual comunista nas universidades, da burocratização ditatorial de toda atividade mental superior e do boicote sistemático a toda opinião divergente do oficialismo esquerdista.
Os efeitos não poderiam ser mais visíveis nem mais catastróficos. Toda a esfera das atividades “culturais” tornou-se uma farsa subsidiada, um rateio de cargos, benesses, paparicações e verbas estatais entre os “companheiros”.
A corrupção da cultura superior antecedeu e preparou o advento dos Mensalões, dos Petrolões e da Smartmatic. E a própria reação popular evidencia a queda vertiginosa dos padrões de julgamento: a nação inteira, permanecendo sonsa, anestesiada e indiferente ante a destruição da cultura, só estrilou quando doeu no bolso.
Isso não acontece por uma coincidência ou por algum desvio dos ideais revolucionários, mas por efeito incontornável da própria mecânica revolucionária. Quem sobe ao poder em nome de uma sociedade futura, amaldiçoando a sociedade presente na sua totalidade, só se submete ao veredito do futuro e da História, colocando-se portanto acima do julgamento dos vivos. A cristalização do impulso revolucionário numa ditadura totalitária é assim o caminho normal e normativo das revoluções sociais e não uma distorção dos seus propósitos iniciais.
Daí que a literatura de inspiração revolucionária acabe logo cedendo lugar à literatura dos dissidentes, dos prisioneiros de consciência, dos exilados e desiludidos. E invariavelmente a segunda é mais forte e mais inspirada que a primeira, porque não reflete os ideais e slogans de um movimento político, mas a experiência direta dos horrores da revolução consolidada.
Por isso é que, se nos países capitalistas se produz alguma boa literatura comunista, nos países comunistas a única grande literatura que aparece é anticomunista.
Nada do que o comunismo em ascensão produziu na Rússia, nem mesmo A Mãe, de Máximo Gorki, ou O Don Silencioso, de Vladimir Sholokov, pontos altos da literatura soviética, se compara às obras-primas de Joseph Brodsky, Alexander Zinoviev, Alexander Soljenítsin, Ossip e Nadja Mandelstam.
No caso cubano, a diferença é mais pronunciada ainda. Quem ainda se lembrará de qualquer romance ou poema pró-castrista, se pode ler os livros de Guillermo Cabrera Infante, Severo Sarduy, Reinaldo Arenas e Leonardo Padura? Entre aqueles que não se opuseram frontalmente ao regime, ainda vale a pena ler Alejo Carpentier, que no seu período de burocrata paparicado pela ditadura nunca mais voltou a escrever algo do porte de El Reyno de Este Mundo, de 1949, e José Lezama Lima, Paradiso, de 1966, espancado pela crítica oficial cubana por sua estética “burguesa”.
Na esfera da filosofia e das ciências sociais, a penúria intelectual daquilo que proveio dos países da Cortina de Ferro contrasta de maneira patética com a riqueza e criatividade da produção marxista... nas democracias capitalistas.
Se os movimentos revolucionários inspiram idéias e obras de arte enquanto lutam contra um governo estabelecido, tão logo chegam ao poder dedicam-se com empenho e diligência em secar todas as fontes, em reduzir tudo a um deserto mental mil vezes mais seco e estéril do que qualquer ditadura reacionária jamais logrou instaurar.
Vejam só algumas amostras casuais de livros publicados naquela fase que os esquerdistas, por demagogia ou loucura, descreviam como o fundo do poço cultural.
À esquerda: Antônio Callado: Quarup; Carlos Heitor Cony: Pessach: A travessia.;;Caio Prado Júnior: A Revolução Brasileira;;Jorge Amado: Os Pastores da Noite; Dona Flor e Seus Dois Maridos; Tenda dos Milagres; Teresa Batista Cansada de Guerra; Tieta do Agreste; Tocaia Grande; Jacob Gorender: O Escravismo Colonial; Alfredo Bosi: O Ser e o Tempo da Poesia; Jorge Andrade: Os Ossos do Barão; Labirinto; Marques Rebelo: A Guerra Está em Nós; Otto Maria Carpeaux: A Literatura Alemã; Vinte e Cinco Anos de Literatura.; Ferreira Gullar: Poema Sujo; Antônio Cândido: Literatura e Sociedade; Formação da Literatura Brasileira; José Honório Rodrigues: Conciliação e Reforma no Brasil; História e Historiadores do Brasil; Vida e História;História e Historiografia, e por fim o monumental Independência: Revolução e Contra-Revolução, em cinco volumes; Ledo Ivo: A Noite Misteriosa; Calabar; Mar Oceano; João Antônio: Leão-de-Chácara; Malhação do Judas Carioca; Abraçado ao Meu Rancor.
À direita: Gilberto Freyre: Brasil, Brasis e Brasília; O Brasileiro entre os Outros Hispanos; Homens, Engenharias e Rumos Sociais; Antônio Olinto: A Casa da Água; Josué Montello: Os Degraus do Paraíso; Os Tambores de São Luís; A Coroa de Areia; O Silêncio da Confissão; José Guilherme Merquior: As Idéias e as Formas; A Natureza do Processo; De Anchieta a Euclides; O Argumento Liberal; O Elixir do Apocalipse; Michel Foucault; O Marxismo Ocidental; Gerardo Mello Mourão: Peripécia de Gerardo; Os Peãs; O Valete de Espadas; Herberto Sales: Dados Biográficos do Finado Marcelino; O Fruto do Vosso Ventre; Os Pareceres do Tempo;A Porta de Chifre; Na Relva da Tua Lembrança; Gustavo Corção: Dois Amores, Duas Cidades; O Desconcerto do Mundo; O Século do Nada; Miguel Reale: Experiência e Cultura; O Homem e Seus Horizontes; Verdade e Conjetura; Manuel Bandeira: Estrela da Vida Inteira; Nelson Rodrigues: Toda Nudez Será Castigada; Memórias; A Cabra Vadia; O Óbvio Ululante; À Sombra das Chuteiras Imortais; O Reacionário.
Por essa simples amostragem colhida a esmo – da qual excluo, de propósito, os autores politicamente inclassificáveis como Carlos Drummond de Andrade ou Pedro Nava --, é impossível não concluir que o período militar foi um dos mais criativos e pujantes da nossa história mental, só comparável ao Segundo Império e à “redescoberta do Brasil” nos anos 30 do século XX, da qual ele foi o herdeiro e continuador.
A década que se seguiu à “redemocratização” de 1984-85 já mostra, em contrapartida, os sintomas inequívocos de impotência e decrepitude que documentei em O Imbecil Coletivo (1997), e o tempo decorrido desde então evidencia, pelo vácuo generalizado, a morte da cultura superior no Brasil. Ainda mais impressionante do que esses dois fatos é a ausência de qualquer sinal de alarma ante fenômeno tão degradante, jamais observado antes em qualquer outro país do mundo ocidental. Como escrevi em 2012 (v.http://www.olavodecarvalho.org/semana/120604dc.html):
“Digo que essa entidade (a literatura brasileira) sumiu porque – creiam – não cesso de procurá-la. Vasculho catálogos de editoras, reviro a internet em busca de sites literários, leio dezenas de obras de ficção e poesias que seus autores têm o sadismo de me enviar, e no fim das contas encontrei o quê? Nada. Tudo é monstruosamente bobo, vazio, presunçoso e escrito em língua de orangotangos. No máximo aponta aqui e ali algum talento anêmico, que para vingar precisaria ainda de muita leitura, experiência da vida e uns bons tabefes.
“Mas, assim como não vejo nenhuma obra de literatura imaginativa que mereça atenção, muito menos deparo, nas resenhas de jornais e nas revistas “de cultura” que não cessam de aparecer, com alguém que se dê conta do descalabro, do supremo escândalo intelectual que é um país de quase duzentos milhões de habitantes, com uma universidade em cada esquina, sem nenhuma literatura superior. Ninguém se mostra assustado, ninguém reclama, ninguém diz um “ai”. Todos parecem sentir que a casa está na mais perfeita ordem, e alguns até são loucos o bastante para acreditar que o grande sinal de saúde cultural do país são eles próprios. Pois não houve até um ministro da Cultura que assegurou estar a nossa produção cultural atravessando um dos seus momentos mais brilhantes, mais criativos? Media, decerto, pelo número de shows de funk.”
Qual a diferença entre os dois períodos? É simples e brutal. Os militares não fizeram nenhum esforço de apropriar-se da cultura superior para usá-la como instrumento de propaganda. Deixaram que as coisas seguissem o seu próprio rumo. Podem até ser acusados de absenteísmo suicida, quando se vê que, ao longo de vinte anos de um regime que teve entre suas metas declaradas o combate à subversão orquestrada pela ditadura cubana, o governo não produziu um só filminho de propaganda anticomunista.
A “redemocratização” inaugurou o período da “organização da cultura” segundo os cânones preconizados por Antonio Gramsci: a era da “ocupação de espaços”, do dirigismo cultural, da “hegemonia” na mídia, do terrorismo intelectual comunista nas universidades, da burocratização ditatorial de toda atividade mental superior e do boicote sistemático a toda opinião divergente do oficialismo esquerdista.
Os efeitos não poderiam ser mais visíveis nem mais catastróficos. Toda a esfera das atividades “culturais” tornou-se uma farsa subsidiada, um rateio de cargos, benesses, paparicações e verbas estatais entre os “companheiros”.
A corrupção da cultura superior antecedeu e preparou o advento dos Mensalões, dos Petrolões e da Smartmatic. E a própria reação popular evidencia a queda vertiginosa dos padrões de julgamento: a nação inteira, permanecendo sonsa, anestesiada e indiferente ante a destruição da cultura, só estrilou quando doeu no bolso.
O Brasil não merecia estar passando por esta crise
Aprecio ler os artigos da jornalista Miriam Leitão, uma das nossas melhores especialistas em matéria econômica. Inteligente e atualizada, faz comentários diariamente em “O Globo”, como este que fechou um dos seus artigos da semana passada, que ousei tomar-lhe emprestado.
A frase é boa porque controvertida. Será que a nossa nação faz jus a todo este espetáculo nojento que a está sufocando, tanto no plano moral como no terreno fértil da sua prosperidade e da felicidade do seu povo?
Sim e não. Muita coisa fizemos desde o ano do Descobrimento e mais ainda deixamos de fazer, destruindo mesmo alicerces e estruturas que muito nos custaram. Se essa foi a nossa glória no curso de séculos, foi também a nossa desgraça. Se houve homens e heróis anônimos que lutaram pelo crescimento da pátria, houve, também, os que forjaram os ferros que nos aguilhoaram para reprimir os passos da prosperidade pela qual tanto lutamos.
Porém, vencemos a maior parte das vezes. Frequentemente, apraz-nos comparar e discutir o sucesso da grande nação norte-americana com o progresso modesto da nossa. Por que assim foi se mais ou menos um século separou o início da colonização brasileira da norte-americana? Muitos motivos podem ser utilizados nas rotas inóspitas da história. Esquecemos sempre, porém, ou não o sabemos sequer, que nunca percorremos caminhos semelhantes à busca dos nossos destinos.
Com efeito, quando os “pilgrims” aportaram nas terras generosas da Nova Inglaterra, não os movia somente o sofrimento da tirania do colonizador, o desejo de apenas tirar e levar embora, de explorar sem nada deixar. Ao contrário, movia-lhes profunda devoção religiosa, que lhes guiava mentes, inteligências e corações para um novo lar, onde, louvando o Senhor, iriam estabelecer uma nova pátria. Navegavam por um longo mar sem jamais conhecê-lo. Não temiam ondas que lhes batiam violentamente as embarcações. Não tinham medo do desconhecido, da escuridão e dos raios das noites tempestuosas. Fundar um novo mundo, sob as bênçãos de Deus, onde procriariam suas famílias, cresceriam e multiplicariam seus descendentes, cultivariam a liberdade do seu povo e, sobretudo, haveriam de fazer resplandecer o direito de serem felizes, honrando ao seu Deus.
E agora, Brasil? Depois da tanto esforço, de tanto sacrifício, de tanta luta, irresponsavelmente, um denso enxame cobre o país. Já se fala, José, de uma expressão de dominância fiscal, como aconteceu no passado. Tem razão, você, Míriam Leitão. Erraram profundamente, quem sabe de propósito, para que fins, não sei.
“O Brasil não merecia estar passando por estas crises”. A inflação sobe, não mais se aumenta a taxa de juros: péssimo sinal. E agora, José? Não dispensa o Joaquim? E o lulopetismo, a atazanar? Cabe, como uma luva, a belíssima reflexão do grande Drummond, e a pergunta fatal: Que farão de nós? Que faremos nós? Mas tudo acabou, e tudo fugiu, e tudo mofou, e agora, José? Para que confins iremos? É mesmo o império da dominância fiscal?
Infelizmente, e para não ser ainda mais pessimista, talvez haja uma resposta contida na pergunta fatal: crise, crise, crise, e o lulopetismo a dançar freneticamente. Ah! Brasil, Argentina também. Que vale o consolo? Ponha-se, então, o Mercosul inteiro. Quem sabe teremos paz... Quando? Em que remota geração? José (Drummond), já nos socorreste tanto com a sua superior poesia. Valha-nos agora. Muito pouca gente tem consciência do que está a caminho. Pior: dentre os que sabem, ainda tem de descontar os que não acreditam. Ah, meu Deus, não nos abandone.
O caos na República de Bananalândia
Estamos tão metidos no dia a dia das falcatruas, mentiras e politicagens que acabamos perdendo a perspectiva de quanto o país vem se degradando assustadoramente na atual crise política e econômica.
Fora do Brasil, os jornais vêm estampando neste momento, e com bastante destaque, fotos e textos contando sobre a nossa novela terceiro mundista e seus dois personagens principais, Dilma e Eduardo Cunha.
Corrupção e violação de leis existem em toda parte, no mundo inteiro. Mas uma avaliação de fora, algumas vezes beirando o jocoso, faz acordar para o fato de o Brasil estar se superando no tratamento seguinte à descoberta de malfeitos.
Com cadáveres políticos empurrando o país para uma cova cada vez mais funda.
A realidade horrível para quem está dentro, sofrendo uma recessão de -3% do PIB, inflação de quase dois dígitos e forte desvalorização da moeda, é quase surreal para quem nos vê de fora. A pergunta parece ser: o que esses caras estão esperando?
Eduardo Cunha foi beneficiário de desvios do Petrolão e mentiu em uma CPI sobre ter dinheiro fora do país. Agora, comanda o processo que pode derrubar uma presidente que se diz “ilibada”. Mas que violou as contas públicas sob a justificativa de pagar, no ano da sua reeleição, benefícios sociais que contam muito eleitoralmente em um país tão pobre.
Pode-se considerar que a degradação atual seja um processo político normal dentro das regras mundiais da politicagem. Onde se agarrar ao poder é o que importa. Até que a coisa fique realmente insustentável e as nuvens mudem, derrubando uns e preservando outros.
Mas e o resto do país? Estamos em meados de outubro e não existe nenhuma solução aparente para nosso problema de fundo: não há dinheiro para fechar as contas, já estouradas. E as coisas não vão parar de piorar sem arrumar isso. Ponto.
Fora do Brasil, os jornais vêm estampando neste momento, e com bastante destaque, fotos e textos contando sobre a nossa novela terceiro mundista e seus dois personagens principais, Dilma e Eduardo Cunha.
Com cadáveres políticos empurrando o país para uma cova cada vez mais funda.
A realidade horrível para quem está dentro, sofrendo uma recessão de -3% do PIB, inflação de quase dois dígitos e forte desvalorização da moeda, é quase surreal para quem nos vê de fora. A pergunta parece ser: o que esses caras estão esperando?
Eduardo Cunha foi beneficiário de desvios do Petrolão e mentiu em uma CPI sobre ter dinheiro fora do país. Agora, comanda o processo que pode derrubar uma presidente que se diz “ilibada”. Mas que violou as contas públicas sob a justificativa de pagar, no ano da sua reeleição, benefícios sociais que contam muito eleitoralmente em um país tão pobre.
Pode-se considerar que a degradação atual seja um processo político normal dentro das regras mundiais da politicagem. Onde se agarrar ao poder é o que importa. Até que a coisa fique realmente insustentável e as nuvens mudem, derrubando uns e preservando outros.
Mas e o resto do país? Estamos em meados de outubro e não existe nenhuma solução aparente para nosso problema de fundo: não há dinheiro para fechar as contas, já estouradas. E as coisas não vão parar de piorar sem arrumar isso. Ponto.
A dívida pública vai continuar subindo, levando dólar, inflação e piora da grave recessão juntos? Com o resto do Congresso e oposição patrocinando o rumo à terra arrasada e a um empobrecimento geral?
A coisa caminha para isso. E ninguém parece se importar muito.
A coisa caminha para isso. E ninguém parece se importar muito.
O mundo 'deles'
Existe o mundo de Lula e Dilma Rousseff e existe o mundo real. O único vaso comunicante entre eles é o Congresso Nacional, que não impede que a demagogia, a corrupção e a incompetência do primeiro continuem a escorrer para o segundo, envenenando-o...
Esse veneno está matando a economia brasileira rapidamente.
O Antagonista
Dilma se faz de 'coitadinha'. Mas é culpada de tudo
Não aceito essas tentativas de livrarem Dilma do cadafalso, pois ela é a responsável pelo caos político, econômico e social, que nos encontramos! Não se pode isentar a presidente dos desmandos que acontecerem sob seu governo, diante de seu nariz, sob justificativa de que ela teria sido traída pelos companheiros e aliados de sua administração.
A questão não envolve somente a corrupção – como enfatiza João Pedro Stédile, defensor de Dilma continuar no poder – mas sua notória incompetência e falta de autoridade moral em face de suas mentiras e manipulações em dados econômicos (as famosas pedaladas), alterando substancialmente a realidade brasileira neste aspecto, para vencer as eleições de forma enganosa, deturpada, e ainda hoje há dúvida quanto à seriedade das apurações.
Ora, este é um comportamento que deve ser punido e com rigor, pois se espera de um governo exatamente o contrário, isto é, que aja com discernimento, austeridade, verdade e clareza. E Dilma sempre mentiu, adulterou os fatos, manteve permanentemente alianças espúrias, loteou várias vezes a Esplanada dos Ministérios, cercou-se de gente desonesta e corrupta. Portanto, não pode se explicar dizendo que os ladrões estão na cadeia ou processados. Isso é uma falácia, haja vista ser de sua responsabilidade direta a escolha de maus assessores e, consequentemente, as irregularidades por eles praticadas!
Dilma tenta de maneira sórdida e patética se livrar da responsabilidade de ser presidente da República, função que não lhe permite barganha, acordos, erros crassos, ilicitudes, e depois alegar que as providências estão sendo tomadas para erradicar os “malfeitos” praticados pelos outros.
Dilma é simplesmente culpada pelos nossos problemas insolúveis, inclusive de o Congresso ter dois presidentes envolvidos no petrolão, e com eles manter tratativas de se livrar do processo de impeachment, outra atitude condenável da presidente, que deveria se afastar desses dois corruptos e desonestos parlamentares.
Envolvida até a medula com esta política deletéria, negligenciou áreas de seu governo de fundamentais importâncias ao povo. Educação, Saúde e Segurança, simplesmente abandonadas e desprezadas pela presidente porque apenas preocupada consigo e seu mandato.
Vaidosa, arrogante, prepotente, autoritária, incompetente e teimosa, Dilma está destruindo o Brasil e deixando o povo em situação de desespero, enquanto o sistema financeiro pratica juros de agiotagem explícita contra o cidadão e as empresas, cada vez mais endividados.
Além das ilegalidades e do uso de propinas para fortalecer a campanha eleitoral, a soma dos atos escabrosos, a incompetência, as mentiras, o péssimo sentido de escolha de pessoal para funções, importantes tanto para o primeiro quanto demais escalões, tudo isso mostra ser indispensável o impeachment, caso ainda haja interesse do povo em recuperar o País, desenvolvê-lo e obter melhores condições de emprego e possibilidade de progresso individual.
Desta forma, mesmo excluindo hipoteticamente a corrupção e a desonestidade que marcam o governo de Dilma Rousseff, ainda assim encontraríamos razões de sobra para dar um fim à sua malfadada, danosa e prejudicial administração.
Ora, este é um comportamento que deve ser punido e com rigor, pois se espera de um governo exatamente o contrário, isto é, que aja com discernimento, austeridade, verdade e clareza. E Dilma sempre mentiu, adulterou os fatos, manteve permanentemente alianças espúrias, loteou várias vezes a Esplanada dos Ministérios, cercou-se de gente desonesta e corrupta. Portanto, não pode se explicar dizendo que os ladrões estão na cadeia ou processados. Isso é uma falácia, haja vista ser de sua responsabilidade direta a escolha de maus assessores e, consequentemente, as irregularidades por eles praticadas!
Dilma tenta de maneira sórdida e patética se livrar da responsabilidade de ser presidente da República, função que não lhe permite barganha, acordos, erros crassos, ilicitudes, e depois alegar que as providências estão sendo tomadas para erradicar os “malfeitos” praticados pelos outros.
Dilma é simplesmente culpada pelos nossos problemas insolúveis, inclusive de o Congresso ter dois presidentes envolvidos no petrolão, e com eles manter tratativas de se livrar do processo de impeachment, outra atitude condenável da presidente, que deveria se afastar desses dois corruptos e desonestos parlamentares.
Envolvida até a medula com esta política deletéria, negligenciou áreas de seu governo de fundamentais importâncias ao povo. Educação, Saúde e Segurança, simplesmente abandonadas e desprezadas pela presidente porque apenas preocupada consigo e seu mandato.
Vaidosa, arrogante, prepotente, autoritária, incompetente e teimosa, Dilma está destruindo o Brasil e deixando o povo em situação de desespero, enquanto o sistema financeiro pratica juros de agiotagem explícita contra o cidadão e as empresas, cada vez mais endividados.
Além das ilegalidades e do uso de propinas para fortalecer a campanha eleitoral, a soma dos atos escabrosos, a incompetência, as mentiras, o péssimo sentido de escolha de pessoal para funções, importantes tanto para o primeiro quanto demais escalões, tudo isso mostra ser indispensável o impeachment, caso ainda haja interesse do povo em recuperar o País, desenvolvê-lo e obter melhores condições de emprego e possibilidade de progresso individual.
Desta forma, mesmo excluindo hipoteticamente a corrupção e a desonestidade que marcam o governo de Dilma Rousseff, ainda assim encontraríamos razões de sobra para dar um fim à sua malfadada, danosa e prejudicial administração.
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