terça-feira, 11 de julho de 2017

Charge do dia 11/07/2017

Adeus, Temer. E depois?

Não há na nossa história republicana nenhum caso de um presidente que tenha tido uma agonia política tão longa como a de Michel Temer. No início da República, Deodoro da Fonseca, após ter fechado o Congresso Nacional, permaneceu mais uma quinzena no poder antes de ser obrigado a renunciar, após a rebelião da Marinha, entregando o governo a Floriano Peixoto. Mais de meio século depois, Getúlio Vargas resistiu 19 dias até a tragédia do 24 de agosto de 1954. A crise de novembro de 1955 foi resolvida no próprio mês, mesmo tendo três presidentes em um curto espaço de tempo. Já em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, em duas semanas, fundamentalmente, foi possível encontrar uma solução para o impasse sucessório. Três anos depois — e, neste caso, com a decisiva presença militar — em alguns dias foi construída uma nova situação política. Agora, mesmo tendo instituições um pouco mais sólidas do que nos momentos históricos citados, nada indica que seja possível encontrar, a curto prazo, um caminho que retire o país da mais profunda crise da nossa história.

Com a redemocratização, foi construído um estado democrático de direito que não conseguiu lançar os fundamentos de uma República democrática. Pelo contrário, a institucionalidade acabou — graças à sua complexidade e ausência de controle público — dando guarida segura àqueles que conspiraram sistematicamente contra os valores republicanos. O que deveria servir como um instrumento de defesa da cidadania acabou, ao longo de três décadas, sendo utilizado para garantir legalmente — por mais paradoxal que pareça — uma República apodrecida pela corrupção.

Os republicanos passaram por diversos momentos de desilusão política. A cada aparente ruptura, vinha — em seguida — a desilusão. E isso desde o 15 de novembro de 1889, passando por 1930, 1945, 1964, 1985 e, especialmente para a conjuntura que vivemos, 1988 e a sua “Constituição cidadã.” De Saldanha Marinho, lá no início do governo Deodoro, até a atual sociedade civil — participante, ativa, que transformou as redes sociais em instrumentos de combate político — todos dizem que não vivemos na República dos nossos sonhos.


A cada dia fica mais profundo o fosso que separa o cidadão comum da elite dirigente — elite dirigente, entenda-se, dos Três Poderes da República. O poder continua petrificado, de costas para a sociedade. Não quer saber de mudança. Quer manter, na essência, tudo como está. Basta recordar que estamos a cerca de um ano das eleições presidenciais e nada indica que haverá uma profunda alteração do que vivemos no processo eleitoral de 2014. Ou seja, teremos o habitual jogo sujo, com os mesmos partidos políticos, com os marqueteiros de sempre, os eternos candidatos e os ridículos debates. E no segundo turno, se houver, teremos dois candidatos representando frações eventualmente distintas do grande capital. E a cidadania? Ah, esta pouco importa — ou melhor, importa só como eleitor, naqueles segundos em frente à urna eletrônica.

Desta forma, a crise do governo Temer é muito mais profunda. Que o presidente não está à altura do momento histórico, disso não há dúvida. Poderia liderar o país até o processo eleitoral de 2018, mas se apequenou, seduzido pelas benesses financeiras do poder. Resta agora, desesperadamente, se manter à frente do governo, manobrando da forma mais vil. Contudo, nada indica que deva permanecer até 31 de dezembro de 2018.

Mas se o problema fosse somente Michel Temer, tudo poderia facilmente ser resolvido. A questão é mais complexa, é estrutural. Não estamos passando por uma crise política, o que não é pouco, como tantas outras na História do Brasil. Agora há uma crise sistêmica que atinge os Três Poderes. Temer, Lava-Jato, JBS, Dilma, Odebrecht, Lula, Aécio et caterva são faces conhecidas de um sistema que entrou em colapso.

O processo do impeachment deu a falsa ilusão de que tudo estaria resolvido com a mera substituição do titular do Palácio do Planalto. Ledo engano. Tanto que, no “novo governo”, grande parte da base parlamentar é a mesma da antiga situação e, inclusive, teve — e ainda tem — no Ministério Leonardo Picciani, que votou contra a autorização para a abertura do processo contra Dilma Rousseff.

Entre as principais forças políticas com representação no Congresso, há um relativo consenso de que tudo o que ocorreu nos últimos anos não passou de mero acidente de percurso. Algo inevitável, típico de uma jovem democracia. Insistem na falácia de que as instituições estão funcionando, mesmo em meio aos escândalos que transformaram o Brasil no país mais corrupto do mundo ocidental. É a velha conciliação, sempre presente na nossa história, principalmente nos momentos de tensão política.

Desta vez, dada a profundidade e magnitude temporal da crise, é provável que a conciliação fracasse. Isso só poderá ocorrer se a sociedade civil tiver uma ação ativa e propositiva. E aí mora um dos problemas. Fazer o quê? Como? Quais são as propostas? De que forma encaminhá-las? Como combinar a institucionalidade vigente com ideias de reorganização do aparelho de Estado? E de que forma construir o novo em meio a uma estrutura arcaica, que impede as mudanças?

Michel Temer deve logo abandonar o Palácio do Planalto. Mas a crise sistêmica vai permanecer. Ela é muito mais profunda do que a mera substituição do presidente. E se for seguido o velho figurino brasileiro — o que é mais provável — permaneceremos em meio à turbulência nos próximos anos, com reflexos diretos na economia e na sociedade.
Marco Antonio Villa

Paisagem brasileira

Casinha de pau-a-pique, no sertão brasileiro.  http://www.portalanaroca.com.br/confie-na-vida-e-siga-em-frente-o-mal-so-existe-quando-damos-poder-a-ele-e-nos-somos-do-tamanho-que-queremos-ser-_______________-marla-de-queiroz/

A cabra da vizinha dá mais leite

"Morte de Abel" - Gustave Doré
 Gustave Doré
O primeiro homicídio da Humanidade deu-se por inveja. Caim ficou desesperado com o sucesso de Abel e matou o irmão com uma pedrada.

Portanto, a inveja, um dos sete pecados capitais, vitimou 20% da Humanidade ainda nos albores do Éden. Só não foram 25% porque Abel teve uma irmã gêmea. De todo modo, foi o primeiro genocídio.

Jorge Luís Borges, que não ganhou o Prêmio Nobel de Literatura e involuntariamente tornou ainda menores muitos daqueles que o receberam por razões extraliterárias, voltou a este tema diversas vezes em sua obra.

Numa delas, Abel e Caim estão andando no deserto e param à noite para comer e descansar. À luz da fogueira, Caim vê a cicatriz na cabeça de Abel, deixa cair o pão que está levando à boca e pede perdão pelo crime. Abel responde: “Foi você quem me matou ou fui eu quem te matou?”.

Diz Caim: “Agora sei que em verdade você me perdoou, pois perdoar é esquecer. Também vou tratar de esquecer”. Abel conclui: “É isso mesmo. Enquanto há remorso, ainda há culpa”.

Noutra passagem, Borges lembra trecho de uma kenningar, gênero desconcertante da poesia medieval nórdica, em que Eva está debulhada em lágrimas enquanto lava as roupas ensanguentadas de Abel.

A inveja é um dos sete pecados capitais e tem resultado em desgraças tremendas. Os outros seis são a gula, a luxúria, a avareza, a ira, a soberba e a preguiça. Eles surgiram na Idade Média e demoraram alguns séculos para serem oficialmente reconhecidos pela Igreja.

Todavia a inveja é anterior à lista. Os antigos romanos designavam um conjunto de sentimentos desarrumados sob a rubrica da inveja, que incluía a antipatia, o ódio, a má vontade, o ciúme e a rivalidade.

Inveja veio do Latim invidia, do verbo videre, ver, e carrega o significado de negar o que se vê, pelo prefixo in, que indica negação. Não é que o invejoso não vê, é que ele se recusa a ver e, quando vê, quer negar o que vê.

Como na tradição portuguesa, pouco se lê, o povo guardou a sabedoria dos provérbios e dos ditados com versos e rimas, com o fim de garantir a memorização.

E, por fim, o primeiro homicídio da Humanidade representou nos tempos míticos uma rivalidade terrível entre a agricultura e a pecuária. Caim era agricultor e Abel era pastor, diz a Bíblia. E o agricultor tomou-se de uma inveja danada quando Deus (o Estado, segundo a leitura leiga do texto sagrado), revelando sua preferência pela carne assada que Abel lhe oferecia nos sacrifícios, não deu muita bola para os frutos da terra oferecidos por Caim.

Não vem ao caso, mas como a batata dos delatores da Friboi está assando no lamaçal de denúncias em que se transformou nosso país, o contexto acabou por me inspirar esta pauta.

A roda do tempo

Tudo começou na quinta-feira 11 de julho de 2013. No início do expediente, o delegado federal Márcio Adriano Anselmo encontrou sobre a mesa de trabalho um despacho do juiz Sergio Moro autorizando a interceptação dos telefones de Carlos Habib Chater e das “empresas controladas por ele, usualmente em nome de pessoas interpostas”. No ofício, estavam ressaltadas com um “especialmente” as linhas usadas em três empresas de Brasília (Angel Serviços, Torre Comércio e Posto da Torre). Era o nono “evento” dentro de um processo (nº 5026387-13.2013.404.7000) sobre a rotina de lavagem de dinheiro num empreendimento em Volta Redonda (RJ).

Logo, fez-se um derivativo processual, a investigação de um associado de Chater, flagrado ao telefone. Era Alberto Youssef, um dos 62 doleiros que Moro mandara prender nove anos antes por lavagem de dinheiro. Em 2014, Youssef foi novamente preso, e o país soube da existência da Operação Lava-Jato.


Passaram-se quatro anos. Ontem, assistiu-se na Câmara à mais recente consequência política dessa investigação, a abertura do ritual para derrubada de um presidente. Se confirmado, será o segundo governo a cair, por motivos diferentes, nos últimos 12 meses. Não é pouco para uma sociedade que retomou a vida em regime democrático há apenas três décadas.

Dos quatro presidentes escolhidos nas urnas, desde então, somente dois (Fernando Henrique e Lula) conseguiram passar a faixa presidencial ao sucessor eleito. Outros dois foram depostos, por impeachment. Collor acabou punido pelo Congresso com a cassação dos direitos políticos, mesmo depois da renúncia ao mandato, mas foi absolvido no Supremo por falta de provas sobre os crimes imputados. Dilma, impedida por fraude nas contas de um governo marcado pela crise aberta pela Lava-Jato, acabou preservada da punição por uma vírgula inexistente no texto constitucional, criada pelos então presidentes do Supremo, Ricardo Lewandovski, e do Senado, Renan Calheiros.

Agora, julga-se Michel Temer, duas vezes colhido por Dilma como vice, com apoio de Lula, e cuja ascensão ao Palácio do Planalto, no ano passado, foi respaldada pelo PSDB de Fernando Henrique. A base é a própria voz de Temer em gravação com um empresário corruptor, numa espécie de confissão extrajudicial.

O cenário que está aí foi descrito há exatos 13 anos, num artigo publicado sobre o que ocorrera na Operação Mãos Limpas, realizada na Itália no início dos anos 90: “A independência judiciária, interna e externa, a progressiva deslegitimação de um sistema político corrupto e a maior legitimação da magistratura em relação aos políticos profissionais foram, portanto, as condições que tornaram possível o círculo virtuoso gerado [pelas investigações].” Quem escreveu foi o juiz federal Sergio Fernando Moro. Acabara de mandar prender seis dezenas de doleiros em uma dúzia de cidades, entre eles Youssef. As prisões desses lavadores de dinheiro afetaram o fluxo de financiamentos para candidatos a prefeito e vereador nas eleições municipais de 2004. Alguns dos favoritos perderam nas urnas, por inanição monetária. Dos que sobreviveram, muitos agora estão enredados na Lava-Jato, junto a Temer, Dilma e Lula. Na roda do tempo, a crise de legitimidade política que está aí é obra dos próprios políticos.

José Casado

É triste, mas o Brasil não tem candidato limpo a presidente

É triste, mas verdadeiro, o eleitor brasileiro não tem um candidato a presidente da república ficha limpa em 2018. Os nomes postos aí, os mais notáveis, estão sujos da lama da Lava Jato. E a escolha por um deles, se é que algum chega até lá antes de ser preso, é um caminho difícil. A última eleição, a de 2014, foi um divisor de água na política do país. Reelegemos a Dilma para Lula governar novamente, e o desastre bateu às portas da nação com o destroço da economia, a corrupção deslavada e a prisão dos políticos que, por décadas, deram às cartas no país. Dois anos depois, o que seria uma operação simples envolvendo doleiros de Brasília, escancarou-se às comportas do maior escândalo de corrupção do mundo, patrocinado pela turma do PT e seus associados.

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Não sobrou ninguém. O Marcelo Odebrecht entregou a metade dos políticos do Congresso Nacional, apontando um a um quem estava na caixinha da empresa. E o Joesley acabou de atear fogo ao circo. Na delação premiada entregou a outra metade. Os que ficaram de fora, os cabeças de bagres, certamente não tiveram acesso aos empresários inescrupulosos que dominaram, nos bastidores, a política e a economia. Assim, a pouco mais de um ano das eleições estamos acéfalos de candidatos com credibilidade e honradez para tocar o país e combater a corrupção desenfreada que contaminou a nação.

Olha só, para nossa infelicidade, quem ainda pensa em se candidatar para tocar o país: Lula, Aécio, Alckmin, Bolsonaro, Marina, Doria. As lideranças que surgiram nos últimos vinte anos, também foram parar na lama da corrupção, a exemplo de Lindbergh, o senador petista, que se esgoela diariamente no plenário para provar que é honesto. Outros líderes não surgiram nesse tempo, porque as entidades estudantis estiveram aparelhadas e atreladas a partidos políticos e envolvidas com a política demagógica e populista do PT.

Corre-se o sério risco de elegermos mais um cacareco, depois do último desastre.

Assim, é com profunda melancolia, que avisamos: precisa-se de um candidato a presidente ficha limpa. Não é fácil escolher um desses bufões para administrar o país, depois que a Dilma botou a última pá de cal nas esperanças dos brasileiros. Durante seis anos, ela foi sem ser presidente. Apaga-se a cada minuto da história política do Brasil. E um dia será encontrada vagando pelas ruas repetindo o refrão como uma tonta: “É golpe! Fora Temer”. O outro, Lula, ideólogo da petezada corrupta, continua vociferando bobagens nas reuniões dos seus companheiros enquanto o Sérgio Moro não pronuncia a sentença para seus crimes.

Quer voltar ao poder para consertar o país, segundo ele, em estado de putrefação. Olha se isso não é mesmo coisa de esquizofrênico. Em menos de um ano, ele e a Dilma esqueceram que deixaram uma herança de 14 milhões de desempregados, uma economia capenga e desacreditada no exterior, uma organização criminosa que avançou pelas empresas públicas como ave de rapina, o aparelhamento do estado com milhões de cargos comissionados para a rapaziada dos sindicatos e o esfacelamento da máquina pública que emperrou o desenvolvimento. Mesmo assim, nos seus delirantes comícios, ele proclama os seus apaniguados a voltarem ao poder. Coisa de quem bebe, diria seus críticos mais cruéis.

A mesma postura do esquecimento da trágica gestão também contaminou os parlamentares petistas no Congresso Nacional. É hilário ouvir alguns deles falar em ética, recuperação da economia e moralidade administrativa quando se sabe que deixaram milhões de trabalhadores sem comida no prato pelo desemprego avassalador. Mas eles usam o púlpito para criticar a gestão atual do Temer como se não fossem responsáveis por mais essa herança maldita, vice em dois mandatos da Dilma. Lula, por exemplo, diz que ninguém precisa se envergonhar de ser político. Claro que não, todos concordamos. Devemos nos envergonhar dele e dessa corja petista que saquearam os cofres públicos e traíram os votos dos brasileiros de boa fé.

E você, que ainda está em dúvida quanto em quem votar, fique sabendo que o voto em branco também é uma forma de protesto.

Gente fora do mapa


 Conjunto habitacional em Campo Grande, Peter Bauza

Tem um lado bom no Parlamento?

Dia desses, sem querer, peguei um caminho pouco usual em Brasília. Para chegar a um bairro chamado Sudoeste, atravessei de ponta a ponta a Vila Militar, onde se concentram tropas das forças armadas. Quando passei em frente ao Quartel General do Exército, a memória não me traiu. Um implacável frio na espinha, uma sensação desagradável de medo.

Nos anos de chumbo, quando trabalhávamos - e vivíamos - sob o medo da repressão, da linha dura dos militares, aquelas vias eram interditadas aos civis. Havia guaritas e cercas. Jornalistas por ali... presos, apenas.

Hoje, são grandes avenidas, abertas aos cidadãos, As vias floridas remetem nossos anseios e medos à ainda frágil democracia brasileira. Inevitável lembrar que apologistas do atraso conquistam preferência de parte considerável do eleitorado.


Mas não passarão. Ainda que tenhamos muita luta pela frente. Ontem, ao ouvir o relatório do deputado Sergio Sveiter, autorizando a continuidade de denúncia contra Michel Temer, vimos alguma seriedade na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

Não se repetiu o comportamento debochado do então presidente da casa, o ex-deputado preso Eduardo Cunha, que, no impeachment de Dilma, fez, da mesma comissão, gato e sapato.

Vamos aguardar. Novo seriado está apenas começando. A impressionante história recente do Brasil revela enredo nunca imaginado. Minúcias, detalhes, degradações, traições, alianças espúrias. De tudo, um pouco.

História rica em pormenores. Na pior das hipóteses, contamos com deputados e senadores - até com aqueles que tanto nos envergonham. No falatório da comissão de Constituição e Justiça, todos enalteceram a democracia. Pode ser o lado bom do parlamento. Que sejam fieis a sua pregação. Já terão feito muito. Greta Garbo, dessa vez, não vai parar no Irajá...

A lógica torpe do petismo

A resolução aprovada no 6.º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) revela de modo incontestável a torpe lógica que move o partido. Se os discursos de Lula da Silva, o líder máximo da organização, e do restante da cúpula dirigente durante o evento já indicavam que o PT opera em uma realidade alternativa, como se fosse um mero observador da crise econômica, política e moral que legou ao País, e não seu responsável direto, agora, com a publicação do teor do documento, ao cinismo, à soberba e à desfaçatez daquelas falas se soma o atestado de que, realmente, os polos do partido são invertidos.

No texto, o PT ataca o que classificou ─ entre aspas, vale ressaltar ─ como “republicanismo” de Lula da Silva e Dilma Rousseff no processo de escolha dos nomes para a Procuradoria-Geral da República (PGR), para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para a Polícia Federal (PF) durante seus mandatos na Presidência. No caso da Procuradoria-Geral, os ex-presidentes escolheram os primeiros colocados na lista tríplice enviada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Já a indicação de ministros para o STF teria recaído sobre juristas que não estavam comprometidos, a priori, com a agenda do partido. E a não interferência dos chefes do Poder Executivo nas indicações para a diretoria da PF constituiu o tal “republicanismo”.

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De acordo com o documento, a postura “republicana” de Lula e Dilma durante as referidas nomeações foi diretamente responsável pelas agruras vividas pelo partido a partir da eclosão do escândalo do mensalão, em 2005. “Sem aquele tipo de ‘republicanismo’, a Operação Lava Jato e antes dela a Ação Penal 470 (mensalão) não teriam conseguido instalar a ‘justiça de exceção’ organizada com o objetivo de destruir o PT e Lula”, diz o projeto de resolução aprovado pela direção petista. Tudo soa tão descabido e surreal que o texto está mais próximo de um roteiro de comédia pastelão do que de um documento oficial de um partido que governou o País por 13 anos.

O caso das indicações para a PGR é um dos mais nítidos exemplos da lógica torpe do PT. O partido, agora na oposição, é uma das entidades que acusavam o presidente Michel Temer de “ameaçar a Lava Jato” caso não indicasse o primeiro colocado na lista tríplice da ANPR como sucessor de Rodrigo Janot. Ora, nem Lula, nem Dilma, nem Temer ou qualquer presidente da República têm a obrigação legal de atender a esse critério.

Em que pesem as eventuais críticas que possam ser feitas aos membros da cúpula da PGR e da PF e aos ministros do STF, a ressalva que o PT faz é, na prática, um elogio à atuação daqueles que, aparentemente, critica. Para o partido, indicações corretas seriam aquelas em que os indicados estivessem comprometidos, acima de quaisquer outros desígnios, com os interesses da própria legenda. Aliás, não foi imbuído de outro espírito que, uma vez no poder, o PT aparelhou cada repartição pública que encontrou pela frente.

Seria absolutamente natural um partido que chegou ao poder indicar para cargos-chave da administração pública quadros identificados com seu projeto de governo. O que se viu, no entanto, foi a ocupação do Estado com o único objetivo de saquear os cofres públicos para viabilizar um projeto de poder, e não de país.

Diante dos maiores descalabros cometidos durante os mandatos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores foi condescendente, como também foi com os membros da cúpula petista enredados pelas teias da Justiça. Quando supostamente “acertaram” ─ segundo os critérios da lógica invertida do partido ─, foram criticados.

Com uma resolução desse teor, o PT mostra que não aprendeu nada com os erros cometidos durante o período em que esteve no poder e faz questão de perder cada oportunidade que aparece para exercer uma saudável autocrítica, a tal “refundação” defendida por alguns de seus próceres. Mas é compreensível. Devem ser de difícil contrição erros que são vistos como virtudes.

Mundo vive sexta extinção em massa - e é pior do que parece

O mundo está passando por uma "aniquilação biológica" de suas espécies animais, num fenômeno que já pode ser considerado uma sexta extinção em massa e que é mais grave do que parece, aponta um estudo divulgado nesta segunda-feira.

Segundo o estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences(PNAS), há uma tendência de investidas cada vez maiores contra a biodiversidade do planeta, resultando numa perspectiva "sombria sobre o futuro da vida, inclusive humana". O motivo, diz o estudo: "problemas ambientais globais causados pelo homem".

"Nas últimas décadas, a perda de habitat, a superexploração de recursos, os organismos invasivos, a poluição, o uso de toxinas e, mais recentemente, as mudanças climáticas, bem como as interações entre esses fatores, levaram ao declínio catastrófico nos números e nos tamanhos das populações de espécies de vertebrados tanto comuns como raros", afirmam, os pesquisadores.

Para a pesquisa, uma das mais completas já feitas sobre o tema, cientistas da Universidade de Stanford e da Universidade Nacional Autônoma do México utilizaram uma mostra de 27,6 mil vertebrados terrestres e uma análise detalhada de 177 espécies de mamíferos que sofreram declínio populacional entre 1900 e 2015.


Os pesquisadores observaram que as populações de vertebrados sofreram grandes perdas, inclusive entre as espécies que despertam pouca preocupação. Cerca de um terço (8.851) das espécies analisadas – o que representa quase metade das espécies de vertebrados conhecidas – apresentou declínio populacional e diminuição em termos de distribuição geográfica, mesmo aquelas que atualmente não são consideradas como sob risco de extinção.

Já entre os 177 mamíferos estudados, todos perderam 30% ou mais em distribuição geográfica, com mais de 40% registrando um declínio populacional severo, com encolhimento superior a 80%.

"Diversas espécies de mamíferos que estavam relativamente seguras há uma ou duas décadas estão agora em perigo", dizem os pesquisadores. Como exemplos de quedas representativas na população, eles citaram guepardos, orangotangos, leões, pangolins e girafas.

Nos 500 milhões de anos de existência da Terra, houve cinco "extinções em massa" que levaram ao desaparecimento de 75% das espécies. O último episódio aconteceu cerca de 66 milhões de anos atrás, quando 76% de todas as espécies foram perdidas, incluindo os dinossauros, devido à atividade vulcânica, alterações climáticas e impacto de asteroides.

Os cientistas ressaltaram ainda que o foco na extinção de espécies leva a "uma falsa impressão de que o habitat da Terra não está ameaçado, e sim apenas lentamente entrando em um episódio de grande perda de biodiversidade".

"Essa visão negligencia as tendências atuais de declínios e extinções da população", afirma o estudo. "A aniquilação biológica resultante obviamente terá graves consequências ecológicas, econômicas e sociais".

"A humanidade acabará por pagar um preço muito alto pela diminuição do único conjunto de vida que conhecemos no universo", alertam os cientistas.