domingo, 27 de setembro de 2015

DIlma Levy sofa Vendendo lama da lava jato rock in rio

Fim de feira

Tudo que começa mal acaba mal, mas o governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu trazer uma novidade para esse antigo ensinamento da sabedoria popular ─ está sendo capaz de acabar mal o que nunca chegou a começar. Um dia, mais cedo ou mais tarde, a presidente vai atravessar pela última vez a porta do Palácio do Planalto; é possível, até mesmo, que só acabe indo embora no fim do seu período oficial no emprego, em 1º de janeiro de 2019, data que cada vez menos gente ainda acha que é para valer. Mas, seja lá qual for o dia da saída, Dilma já está acabando. Deixa atrás de si, apenas, algo que Vinicius de Moraes descreveria como uma casa muito engraçada, que não tinha teto, não tinha nada; nela ninguém podia entrar não, porque a casa não tinha chão. É claro que muita gente acha bem pouca graça, ou não acha graça nenhuma, na conta que a presidente está assinando para largar em cima da mesa. Trata-se de um caso raro, sem dúvida: ao contrário do que em geral acontece com as casas, seu governo foi demolido, por ela própria, antes de ser construído. Mas é certo que será isso, precisamente, que vai sobrar após os “X” anos e “Y” meses, dias e horas que Dilma terá passado na Presidência da República: um sombrio trabalho de remoção de entulho, com preço exorbitante, sem previsão de entrega e com resultado final incerto. Seu destino, para quem acredita em destino, era ser derrotada ao fim da linha. Para quem não acredita, ela está acabando mal simplesmente porque nunca fez o mínimo necessário para acabar de outro jeito.


A presidente tem três anos e pouco (ou muito) pela frente até a hora prevista para o desembarque, e diante desse prazo a sensação majoritária (de sete entre dez brasileiros, talvez, pelo ronco das pesquisas de opinião) tem sido a seguinte: “Tudo isso, ainda? Não dá para aguentar até lá”. É compreensível, diante da misteriosa obsessão do Palácio do Planalto em dizer “não” quando deve dizer “sim”, e dizer “sim” quando deve dizer “não” ─ o que resulta nas calamidades de tamanhos diversos produzidas em tempo integral pela linha de montagem operada na alta gerência do Brasil para Todos. Mas poderia ser aceitável um raciocínio diferente: três anos, embora demorem a passar, também seriam tempo suficiente para consertar pelo menos uma parte da babilônia de desatinos que arrumaram em volta de si e contra todos nós. Na teoria, de fato, até que poderia ser assim. Na prática é opção inválida, pois o instinto automático da chefe e seus agentes, como mostram os fatos de cada dia, é usar todo o tempo disponível para repetir erros velhos, que já cometeram, e executar erros novos, que ainda não testaram. O último “pacote” de medidas para lidar com a falência em que meteram o Tesouro Nacional é exatamente mais do mesmo ─ uns rabiscos achados no fim de semana, com promessas que valem tanto quanto outras que Dilma fez e nunca respeitou, ordens que não serão cumpridas e aumento de impostos. Disso não sai.

A concordância mais ou menos geral é que o governo Dilma acabou antes de começar este segundo mandato; o mais provável é que não tenha começado nem o primeiro. Até hoje, nove meses depois de ter nomeado seu atual ministro da Fazenda, a presidente ainda não resolveu se é a favor ou contra ele, porque não consegue resolver se quer ou se não quer fazer o que o homem propõe. Mas já no começo do primeiro mandato deixou claro que seu principal talento era não se entender com ninguém, ordenar a execução de desejos em vez de projetos coerentes, e querer ao mesmo tempo coisas contrárias entre si. Há outro problema complicado ─ Dilma não gosta de ideias diferentes das suas. Mais: não tem interesse, nem sequer curiosidade, em saber que ideias poderiam ser essas. Após quase cinco anos na Presidência, continua irritada, ou indignada, ou estarrecida. Dá ordens que não são obedecidas, ou às quais os subordinados fingem obedecer ─ muitas vezes porque simplesmente não entendem o que ela está mandando fazer. Passa meses sem falar com a maioria dos seus 39 ministros e suas multidões de “homens-chave”, embora considere todos indispensáveis. Assina decretos que depois precisa anular, quando lhe avisam que não sabia o que estava assinando; sua obra-prima até agora, nesse quesito, foi a recente bula que pretendia reduzir prerrogativas dos comandantes das Forças Armadas, criação de uma militante do PT, enfermeira de formação e casada com um cacique do MST, que parece mandar no Ministério da Defesa.

Nada disso vai melhorar ─ em três ou em trinta anos. É o fim da feira.

Fatiamento? O nome certo é trapaça


Sempre que craques da Justiça ameaçam golear campeões da bandidagem, juízes do Supremo Tribunal Federal arranjam algum pretexto para atrapalhar atacantes cujo esquema tático é tão singelo quanto eficaz: aplicar a lei. Foi assim no julgamento do mensalão: os delinquentes estavam a um passo da prisão em regime fechado quando o STF exumou um certo “embargo infringente”.

O palavrão em juridiquês reduziu crime hediondo a contravenção de aprendiz, transformou culpado em inocente e acabou parindo duas brasileirices obscenas: a quadrilha sem chefe e o bando formado por bandidos que agem individualmente, nunca em grupo. Agora incomodado com o desempenho exemplar do juiz Sérgio Moro, dos procuradores federais e dos policiais engajados na Operação Lava Jato, o Supremo inventou o que a imprensa anda chamando de “fatiamento” do escândalo.

Fatiamento coisa nenhuma. O nome certo é trapaça.

A fala imoral de um petista graúdo

A má consciência petista é certamente inédita na política brasileira e é algo único no mundo. Uma declaração dada pelo senador Jorge Viana (PT-AC) à revista petista-governista “Carta Capital” é, por si, um escândalo moral. Leiam:

 “Para salvar o governo, a única solução é piorar o governo. Seria melhor ter perdido a eleição”
O homem é vice-presidente do Senado e tido como um moderado, um conciliador.

Ora, vamos pensar. O que se esconde nesse frase? Certamente Viana se refere, imediatamente, ao fato de que Dilma tenta fazer uma reforma ministerial que impeça que 257 deputados decidam pela formação da comissão especial que pode começar a analisar a denúncia contra a presidente. Impedindo-se a instalação da dita-cuja, não há processo de impeachment possível.

Mas esperem! Por que Dilma está nessa situação desalentadora? As dificuldades não se devem ao fato de que está tendo de arcar com as consequências das escolhas econômicas que fez no primeiro mandato?

Viana sabe muito bem que, por mais escabrosas que sejam as acusações contra o petismo e o governo, se a economia estivesse indo bem, outra seria a situação de Dilma. E não ignora que o segundo mandato foi conquistado à custa do estelionato e, de fato, da traição ao que foi prometido às próprias bases.

Ocorre que todos, também no PT, sabiam que seria assim. É por isso que empresários ligados a Lula, que defendiam a sua volta em 2018, lhe recomendaram vivamente que não entrasse na campanha de Dilma no segundo turno. É por isso que petistas próximos aconselharam Lula “a deixar Dilma perder”.

A “Carta Capital” reproduz, sem aspas, um pensamento que parece ser da revista, mas que é atribuído a petistas:

“Não seria melhor, então, estar na oposição a uma gestão Aécio Neves (PSDB-MG), a atacar o ajuste fiscal que ele certamente faria e a ver o tucano enrolar-se com parlamentares metidos na Operação Lava Jato e hoje aliados ao PT mas que, governistas por vocação, estariam na base de apoio do PSDB? Ao menos, haveria perspectiva de futuro para o partido, algo inexistente hoje, pensam vários petistas.”

Entendi. Essa lógica, que também foi apresentada a Lula no ano passado, quer dizer mais ou menos o seguinte:
“A gente deveria ter deixado para Aécio acertar todas as burradas que fizemos. Depois que ele arrumasse a casa, para o país não quebrar, a gente voltava para bagunçar tudo de novo”.

É asqueroso!

Viana, Carta Capital e aqueles que aconselharam Lula no ano passado não estavam fazendo a defesa da alternância de poder. A seu modo, isso é a defesa da não alternância. A oposição, na cabeça deles, serve apenas co
mo instrumento de satanização da política e serve apenas como elo entre um desastre petista e outro.
Reinaldo Azevedo

Brasília virou as costas para o Brasil

Governos fracos se desconectam da realidade. A desconexão da realidade enfraquece ainda mais os governos. Essa lei de ferro das crises políticas está em franca vigência no Brasil.

A presidente Dilma Rousseff, sequestrada pelo ex-presidente Lula, dedica-se à tarefa errada. Desperdiça o seu precioso tempo em costuras quixotescas com a raia miúda da política nacional, obcecada com a ideia de contar votos na Câmara para evitar o impeachment.

Enquanto isso, na planície, a economia e as finanças entraram em espiral demoníaca. Os juros para cidadãos e empresas comuns estão explodindo a um ritmo que, se for mantido, vai causar estragos gigantescos em pouquíssimo tempo. Em dias. Muitos negócios vão simplesmente parar por falta de oxigênio em suas artérias. Vamos nos deparar com esqueletos que nem sabemos que existem. Vamos criar outros que não precisariam ser fabricados.

Os agentes econômicos necessitam de uma resposta política imediata para essa ameaça iminente. Não para frear o impeachment.

Os políticos não entenderam o tamanho do problema diante dos olhos. As finanças públicas estão quebradas. O que acontece no Rio Grande do Sul, falta de dinheiro para pagar salários de servidores, vai se alastrar para outros Estados e municípios se nada for feito rapidamente.

Uma presidente dedicada obsessivamente a salvar a própria pele neste momento prediz muita desgraça logo à frente, e não apenas para ela. Deputados e senadores tranquilos, que deveriam estar reunidos em sessões emergenciais extenuantes para produzir resposta rápida à ameaça de descalabro, completam a cena de um grupo dirigente que virou as costas para a população. Ai de nós.

Brasil, siga o dinheiro (da campanha de Dilma)

Está tudo bem com as contas de campanha de Dilma Rousseff, decretou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot – que acaba de ter seu mandato renovado pela própria Dilma. Claro que Janot não arquivou o pedido de investigação da campanha da presidente em troca de sua manutenção no cargo. O Brasil é um país de instituições independentes. O que o procurador-geral argumentou é que os pedidos de investigação não devem atrapalhar “o esforço constitucional de pacificação social”. Está fundada a paz dos pixulecos.

A Operação Lava Jato levantou uma série de indícios – claros – de pagamento de propinas em forma de doações legais à campanha de Dilma. O esquema do petrolão, em que negócios com a Petrobras seriam aprovados mediante pedágios milionários ao PT, levou à prisão, entre outros, o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari. Ele é um dos acusados de fazer as propinas – apelidadas pelo próprio de pixulecos – chegarem limpas ao caixa de campanha da presidente. Nada disso é passível de investigação, decidiu Janot, em nome da paz social.

Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon e Nelson Mandela nunca imaginaram que o pacifismo iria tão longe. O pedido feito pelo ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, focava inicialmente o caso da gráfica VTPB, que recebeu da campanha petista R$ 23 milhões em pouco mais de três meses. Dadas as suspeitas de se tratar de empresa fantasma, sem estrutura capaz de oferecer serviços nesse valor, Gilmar Mendes viu aí uma das possibilidades de escoamento das propinas do petrolão – a lavagem do dinheiro que, segundo a Lava Jato, vinha da corrupção na Petrobras para a campanha de Dilma. Mas o procurador-geral arquivou o pedido, indicando, basicamente, que o passado passou:

“Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm. Os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”, disse Rodrigo Janot em seu despacho.

Um militante petista movido a sanduíche de mortadela não usaria argumentação diferente: o pedido de investigação das contas de campanha é choro de perdedor; conformem-se e esperem sentados por 2018. O discurso é também perfeitamente harmônico com o brado de Dilma contra os que supostamente querem roubar-lhe a legitimidade do voto. Todos querem roubar o PT, e o partido da inocência nem sequer oferece 100 anos de perdão. Perdoa­dos, só mesmo os que roubam com estrelinha na lapela. Esses podem ir e voltar à Papuda quantas vezes quiserem, que continuarão no altar da revolução.

O comentário do ministro Gilmar Mendes sobre o despacho do santo padroeiro das gráficas petistas foi o seguinte: “Ridículo”. Duvida? Então leia um pouco mais de Janot, justificando o arquivamento: “A inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral, protagonistas – exagerados – do espetáculo da democracia, para o qual a Constituição trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores”. Entendido? Investigar pixuleco atrapalha o espetáculo da democracia – esse que produziu um rombo espetacular de R$ 30 bilhões no Orçamento da União, segundo os organizadores, e R$ 100 bilhões, segundo as vítimas.

O reconhecimento do deficit proverbial na proposta orçamentária do governo para 2016 indica que os companheiros, ao menos, desistiram de continuar escondendo o rombo. Ou parte dele. Não é mais uma bondade do governo bonzinho: é uma tática para tentar justificar o aumento de impostos – incluindo a recriação da CPMF, que num primeiro momento foi fuzilada de todos os lados. O desastre administrativo do PT forjou um Brasil onde não dá mais para identificar onde termina o espetáculo da democracia e onde começa o espetáculo da cleptocracia. O único quadro claro, sem nenhuma nebulosidade, é a recessão grave em que o bando atirou o país.

Há um outro quadro claro, que o Brasil tem dificuldade de enxergar: a investigação da campanha de Dilma Rousseff é o caminho evidente para revelar que o governo do PT é, essencialmente, uma operação de pilhagem. Cabe aos lesados remover do caminho os pacifistas de aluguel.

Guilherme Fiuza 

Insustentável

Duas semanas depois do anúncio de cortes de cargos e de ministérios para tentar sinalizar que o governo estaria levando a crise do país a sério, a presidente Dilma Rousseff, como de costume, zanzou para lá e para cá e nada avançou. Ao contrário. Só os impostos avançaram.

Rebatizada de CPPrev, a CPMF chegou ao Congresso em edição extra do Diário Oficial acompanhada por uma Medida Provisória que aumenta o Imposto de Renda sobre ganhos de capital. Para dizer que algum corte houve, formalizou-se a polêmica proposta do fim do adicional para servidores aposentados que trabalham - uma economia de mentirinha - e dos pagamentos acima do teto. Essa última, uma determinação constitucional que deveria ser regra desde sempre.

Quanto aos cargos, nada. A promessa era cortar irrisórios mil dos mais de 100 mil comissionados, sete mil deles pendurados na Presidência da República. Mas nem isso.

A União mantém hoje nada menos do que indecentes 22.619 cargos de livre nomeação, com salários que chegam a R$ 18 mil. Segundo o Contas Abertas, os cargos de confiança representam 86,1% do efetivo do Ministério do Esporte, 85,6% do da Pesca e 74% do de Desenvolvimento Social, e de 53% nos ministérios das Cidades e do Turismo.

Sem meias palavras, institucionalizou-se o compadrio.

A tal reforma ministerial, que já era tímida, deverá ser menor ainda. E dificilmente se poupará um único centavo. Muito menos servirá à eficiência da administração.

Só está sendo feita para preservar o mandato da presidente. Algo que pouquíssima gente quer, nem mesmo aqueles que devem alguma fidelidade a ela, por compromisso ou simples resposta ao toma lá.

Dilma passou a semana oferecendo mundos e fundos de um governo que não tem nem uma coisa nem outra. Até colheu algum êxito junto ao sempre negociável PMDB. Quando imaginou ter resolvido a pendenga, encalacrou-se. Desagradou peemedebistas poderosos e petistas estrelados.

O PT, que perdeu nacos grandes de seu capital para a corrupção - Mensalão e investigações da Lava-Jato -, já não consegue disfarçar a angústia. Parte expressiva do partido não tem mais disposição para defender Dilma. Oscila entre o melhor momento e a melhor forma de ela sair. Se agora ou daqui a pouco, por impedimento ou renúncia.

O PMDB, o mesmo que acaba de negociar a ocupação de seis ministérios, se apresenta ao público em programa eleitoral em franca oposição a Dilma. O partido se posicionou contra o aumento de impostos e pisou forte no calo mais dolorido da presidente – a mentira -, defendendo a “prestação de contas com a verdade”.

Temer abriu e encerrou o programa como presidente. E sem panelaço.

Em Nova York, Dilma apresentará ao mundo os planos e compromissos do Brasil quanto às questões climáticas e o desenvolvimento sustentável. Garantiu que serão arrojados. Por aqui, ela só tem conseguido andar para trás. Além de competência, falta-lhe clima e sustentação para o exercício do cargo.

Mary Zaidan

Data venia para discordar


Em meio a tanta coisa errada, se há uma iniciativa que está dando certo no país é a Operação Lava-Jato. A não ser os acusados e os advogados deles, não conheço quem coloque em suspeição a independência e a correção do juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações que nos têm propiciado cenas até então inéditas de poderosos executivos e empresários sendo presos por envolvimento em redes de corrupção — sendo presos e tendo que devolver o fruto do roubo.

Quando foram vistas antes novidades como esta: “MP suíço informa que bloqueou R$ 1,3 bi em investigações sobre Petrobras”? Ou esta, entre outras: “Ex-gerente Fernando Barusco devolveu 97 milhões de dólares de propina”. Que outro homem público brasileiro, além desse juiz de 43 anos, consegue hoje ser aplaudido por onde passa?

Daí, a surpresa diante da decisão do Supremo Tribunal Federal que, na prática, promoveu o chamado “fatiamento” da Lava-Jato, retirando de Moro o poder de apuração sobre os casos que não envolvam diretamente a Petrobras. Advogados de defesa festejaram o precedente e vários já estão preparando recursos para levar inquéritos para longe da 13ª Vara de Justiça Federal de Curitiba, a de Moro, o que é muito significativo.

Mas quem sou eu, um leigo ignorante das filigranas do Judiciário, para questionar uma decisão da mais alta corte do país? O problema é que nesse coro dos descontentes estão importantes personagens do cenário jurídico, como o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para quem se trata de investigar uma mesma “organização criminosa que se espraiou em diversos órgãos públicos e que opera de maneira uniforme, com modus operandi idêntico, quase com os mesmos atores".

Em outras palavras, há muitos corruptos que não são exclusivos do petrolão. O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, fala em “derrota do Ministério Público” ao admitir que os trabalhos desenvolvidos por eles até agora vão “sofrer” com a divisão. Seria o começo do fim da Lava-Jato? Será que o país é mesmo masoquista, só gosta das más notícias? Parece que não.

Um criminalista levantou para Merval até a hipótese do surgimento de um movimento de solidariedade de juízes tipo “somos todos Moro”, mas que o colunista acha improvável. Possível é que os procuradores da operação forneçam know-how e apoio a seus colegas de outros estados que tiverem de cumprir a nova tarefa. O próprio Dallagnol promete: “Vamos lutar e trabalhar arduamente para que não haja grandes perdas”. O ideal é que não haja perda nenhuma.

Da rua não sair

O mal dos povos, o mal de nós todos, é só aparecermos à luz do dia no carnaval, seja o propriamente dito, seja a revolução. Talvez a solução se encontrasse numa boa e irremovível palavra-de-ordem: povo que desceu à rua, da rua não sai mais. Porque a luta foi sempre entre duas paciências: a do povo e a do poder. A paciência do povo é infinita, e negativa por não ser mais do que isso, ao passo que a paciência do poder, sendo igualmente infinita, apresenta a «positividade» de saber esperar e preparar os regressos quando o poder, acidentalmente, foi derrotado
José Saramago

Partido matreiro

Cheio de querrequequé:
Se deita, mas fica em pé;
Devagar, porém ligeiro.
Finge detestar dinheiro,
Franze a testa, fica sério;
Leva até o cemitério,
Chora mas fica contente;
Quer tirar a presidente,
Mas não larga o Ministério.

II

Quando a banda militar
Soltou o último suspiro,
Ulisses, que eu admiro,
Pensou que ia governar,
Mas Sarney saiu de lá
Das bandas do Maranhão,
Deixou a situação,
Virou PMDB,
Continuou no poder
E Tancredo no caixão.

 III

No governo colorido,
O partido se achegou:
Foi devagar, mas entrou
Sem fazer muito alarido
(Mulher que trai o marido,
Trai sem arrastar tamanco).
Collor não aguentou o tranco,
Retornou para Alagoas
E o tal partido “de boa”
No Governo Itamar Franco.

IV

Aí veio FHC,
Todo intelectual,
Lançou o plano real
E arrochou pra valer.
De novo o MDB,
Com gente da ditadura,
Montou sua estrutura
Na Esplanada em Brasília,
Ficou até com a mobília,
Não largou a rapadura.

V

E saiu se pendurando
No Governo do PT:
Dava e mandava vender,
Comia, saía mastigando,
Lula só autorizando
Canal e transposição.
PMDB dá pão,
Mas fica com a padaria,
No final ninguém sabia
Quem foi que passou a mão.

VI

Veio Dilma e os bestinhas
Chafurdaram no petróleo,
Lambuzaram a mão de óleo
A que chamam de graxinha.
Cada um fez uma caixinha,
Mas foi a fonte secar
Começaram a reclamar,
Dizer que estavam com o povo:
- Ou roda a roda de novo
Ou vamos te empichar!

VII

Michel combinou com Cunha
Para espalhar o boato
Que o Brasil tinha carrapato
E a febre xincungunha.
Fez munganga, fez mumunha,
Misturou-se com os tucanos,
Traçou um monte de planos,
Juntou um monte de gente
Pra tirar a presidente
Até o final do ano.

VIII

Foi aí que a presidente
Parou com os coices de mula,
Se aconselhou com Lula,
Que é mais experiente,
Traquinoso e saliente,
Esperto e muito afamado,
Direto, sem rodeado:
- Dê a eles o filé,
Pra comer como quiser,
Que eu já tô empanzinado!

IX

Nesse instante a rebeldia
De súbito se transformou
Em muita paz e amor,
Entendimento e harmonia.
PMDB queria
Era fazer um acerto:
O longe ficou mais perto,
Cachorro não larga osso,
Botou o Brasil no bolso,
Nunca mais passou aperto.
Miguezim de Princesa

O programa do PMDB

Se hoje fosse colocado em votação o impeachment, a presidente Dilma estaria em apuros. O momento de mutação entre o improvável e o provável ocorreu na semana passada. Nem a oferta de ministérios, cargos e mimos ao PMDB mudou o clima.

A prova, que pode ser algo próximo de se realizar, foi o programa partidário do PMDB exibido na última quinta-feira. Num discurso único e concatenado, recitado desde a abertura por Michel Temer, passando pelas figuras de proa do partido e finalizando com ele numa pose em que lhe faltava apenas a faixa verde-amarela.

“Mudar” e a maturidade do partido para conduzir o país a novos rumos se repetiram, deixando o projeto de tomada da Presidência da República como um passo natural. Mais ainda facilitados pela onda de descontentamento de setores políticos, econômicos e sociais, referendados na overdose de impopularidade da presidente Dilma Rousseff. É isso em que acreditam e que querem os peemedebistas.

Michel Temer já percorreu as principais lideranças políticas do país e encontrou sinal verde para promover o complô, apenas com a recomendação de usar luvas de pelica.

O programa partidário serviu para mostrar a coesão do PMDB e contar quem está na empreitada. Quem deu a cara assinou o projeto, como os conjurados romanos que apunhalaram ao mesmo tempo Júlio César à luz do dia, mostrando que não era um o culpado, mas muitos os responsáveis. Depois sobrou para Brutus, filho adotivo, imortalizando o “Até tu, filho meu?”.

O sonho peemedebista de ocupar o Planalto nunca esteve tão perto de se realizar, sem usar lâminas. Nem tanto por méritos do partido, mas pelas falhas da presidente, que vem escorregando em decisões desastradas. Faltaram-lhe diretrizes e planos, acenos a metas que Lula ditou e ela não conseguiu renovar.

O PMDB unido se mostrou para o “terceiro turno”, que se vence no tapetão. Nenhuma citação aos 13 anos de convivência com o poder, como se já não fizesse parte de suas responsabilidades a situação à qual se chegou. Fim de festa e de casamento.
Um pano de fundo preto mostrou, durante todo o programa, as cores do apagão de poder, nada a mostrar e tudo a esquecer. Os holofotes mostrando as “caras lavadas” dos peemedebistas recitando um pacto de união. Nenhum ministro com cargo, ou figura alinhada com o governo Dilma apareceu na moldura. Apenas a numerosa tropa de elite pronta para a missão mais dura.

A falta de remédio para a crise política vivida por Dilma estaria na aparente omissão em segurar a Lava Jato, que devastou adversários de alguns ministros petistas, mas acabou invadindo o quintal do PMDB e de outros partidos.

Mesmo inconfessada, a razão do racha é essa, na dificuldade e no medo. Os ministros Aloizio Mercadante e Eduardo Cardozo seriam os responsáveis. As circunstâncias acabaram por gerar a união espontânea de diferentes interessados em salvar a pele. E já que Dilma não conseguiu se livrar dos ministros e das escolhas equivocadas, para o PMDB passou a ser melhor se livrar dela e, por tabela, de todos, e escalar a cadeira mais alta. Conta com um forte apoio e com a insatisfação gerada pelas medidas “levyanas”, a inflação, os juros altos e o desemprego, sem um aceno de luz no final do túnel.

Dilma se encontra vulnerável como nunca, e a conspiração segue um rito que não pareça um golpe, mas um chamamento das ruas. Precisa prestar atenção como quem passou pela ponte que caiu, e se encontra isolada.

Crise econômica alimenta rejeição a políticos


Os motores das economias latino-americanas estão perdendo força.O maná das matérias-primas a preços elevados desapareceu, e a tração da locomotiva chinesa, o primeiro importador de mercadorias no mundo, está ficando mais fraca, pressionada pela crise interna do gigante asiático. O crescimento econômico na região entrou em fase de hibernação —as previsões de organizações internacionais estão em cerca de 1% para o médio prazo— após mais de cinco anos de expansão acelerada. E, com a economia desaquecida, chegam também os ventos da preocupação política. Apenas 37% dos latino-americanos estão satisfeitos com a qualidade da democracia em seus respectivos países, segundo um amplo estudo da consultoria chilena Latinobarómetro, com base em pesquisas realizadas em 17 Estados.

As relações entre o estado de saúde da economia e o grau de aprovação das instituições políticas são desenhadas como duas linhas paralelas no relatório, que vem sendo realizado há duas décadas. De mãos dadas com o declínio do PIB na região, o ano de 2015 registrou o menor nível de interesse político dos últimos 10 anos. Confirmando a mesma lógica, o desânimo em relação à política despencou em 2001, coincidindo com a última grande crise econômica na América Latina.

"O crescimento, as reformas, a expansão de direitos e a expansão do acesso aos serviços chegaram, sem dúvida, a um segmento da população que nunca havia podido dispor deles antes. É a nova classe média. A América Latina nunca havia experimentado um período prolongado de tanta prosperidade, podendo tirar da pobreza cerca de 100 milhões de habitantes", observa o relatório.

A conclusão da Latinobarómetro, depois de duas décadas medindo o clima político na região, é a de que o copo está meio cheio. "Mas esse copo meio cheio traz impaciência, a incerteza e a angústia de não retroceder quando acontece uma pausa no ciclo de prosperidade, como a desaceleração atual, produzindo o protesto contra as ameaças iminentes sobre o que foi alcançado", acrescenta.


Dada a incerteza econômica, o dedo aponta para a classe política. O nível de aprovação dos governos caiu para 47% este ano, de 60% em 2009, quando o motor econômico da região avançava a todo vapor. Somente em quatro países mais da metade da população está satisfeita com a democracia: Uruguai, Equador, Argentina e República Dominicana, Estados que apresentam uma desigualdade social mais baixa. No outro lado da balança estão o México (21%), que continua sofrendo com o peso da insegurança e da violência, e o Brasil (19%), imerso em uma recessão econômica e atingido pelo grave escândalo de corrupção na petrolífera estatal Petrobras.

"A desigualdade é o que marca a região", diz o estudo. Mais de 100 milhões de trabalhadores —quase a metade da força de trabalho da região— estão na sombra da informalidade e a grande maioria tem renda abaixo da linha de pobreza. Equador, Bolívia e Nicarágua são os três países onde há mais cidadãos que acreditam que a distribuição da riqueza é justa. No Chile, por outro lado, apenas 5% disseram que a distribuição da riqueza é justa. A sensação de justiça social na Venezuela está acima da média, mas caiu pela metade ao longo dos últimos dois anos.

Patrimônio de água

O Médio Paraíba, que hoje conhecemos como o Vale do Café e abrange vários municípios do Estado do Rio, era originalmente dominado por densa floresta de Mata Atlântica e habitada por índios, até ser cortada por caminhos que levaram à extração do ouro das Minas Gerais e, mais tarde, já no encontro dos séculos XVIII e XIX, quedar-se à monocultura do café.

Do apogeu que transformou o local no maior produtor mundial da rubiácea até o declínio provocado pela evasão da mão de obra escravizada, restaram casarões colossais, as carecas de suas montanhas, agora dominadas por rebanhos, e a urgente necessidade de uma política capaz de reflorestar e de proteger nascentes e olhos d’água.


O Código Florestal Brasileiro (lei 4771/1965, aprovada em substituição ao decreto 23.793 — este da década de 1930 — e revogada pela lei nº 12.651/2012) diz que toda vez que uma nascente é descoberta, o local imediatamente passa a ser uma Área de Proteção Permanente (APP). Incrível que, passados 50 anos de sua aprovação, não tenhamos ainda números que apontem aproximadamente a quantidade de nascentes no país.

Outra resolução tão importante quanto a da proteção das nascentes é a que aponta para a recuperação das matas ciliares, que ficam às margens dos rios. Temos um exemplo no Vale do Café, com o Paraíba do Sul. A crise hídrica de 2014 mostrou o esgotamento daquela fonte, que baixou quase um metro, deixando à vista ilhas de areia.

A partir dos anos 90, representantes de todos os setores firmaram o compromisso de trabalhar para resgatar a autoestima da região, pela restauração de sua memória imaterial e com iniciativas que visam a preservar o seu patrimônio.

Hoje é fundamental que se evolua das ações isoladas para uma parceria que envolva governos, ONGs e empresas interessadas. As nascentes e olhos d’água localizados em área rural devem ser protegidos, através do replantio, diz, ainda, o Código Florestal.

O ideal é que os governos federal, estadual e municipais incentivem campanhas para conscientização da importância do mapeamento das nascentes em todo o Vale do Café para que a natureza ali seja protegida através do plantio de mudas de Mata Atlântica. O replantio — o trabalho de semear, plantar, produzir — é uma grande contribuição para o meio ambiente.

Devido ao grande crescimento econômico, no século retrasado, os cafeicultores construíram ali casarões grandiosos, que agora são abertos à visitação para programações turísticas, desde que a região foi redescoberta por comerciantes, pesquisadores e amigos da ecologia do futuro. Em 2016, o Rio abrigará as Olimpíadas. Atrair visitantes para o Vale do Café é importante para que todos conheçam o trabalho de preservação dos rios. A água é para todos, democrática. E a tarefa de fazer com que ela seja abundante é coletiva.

Preservar a área verde é dever de todos; e a troca de experiências e conhecimentos sobre a educação ambiental, fundamental.

Nestor Rocha, presidente do Instituto Preservale

Quero sentar na janelinha

stormwindow
Adoro janelas, janelas abertas, vidros por onde se possa ver as coisas e pessoas passarem, a luz do sol, o vento entrar para renovar o ar. Antes de tudo estar atenta, vigilante. O mês de outubro me lembra disso; mas antes de mais nada nos faz desejar que dela, da janelinha, possamos mesmo é avistar mudanças que já não aguentamos mais esperar tanto. Iguais aos apaixonados como quedam esperando seus amores, que disso entendo bem

De onde vivo tenho poucos horizontes para esticar os olhos, sobram só umas nesguinhas abertas entre um prédio e outro de São Paulo em sua área central. Mas eu me estico como posso, já que não tem dado para sair volitando por aí, tendo os prazeres de olhar mares infinitos. O binóculo, contudo, fica guardado, desnecessário, já que tudo aparece muito perto, que vem vindo, visível a olho nu, mas tal qual o país, continua inalcançável. Muita coisa a gente vê se aproximando, parece que há uma luz, mas esta nunca chega. Preciso providenciar uma luneta, para pontos mais longínquos; e mais paciência.

Assim está o nosso dia a dia. Literalmente dia após dia, semana após semana, mês após mês vivendo e sobrevivendo nessa reatividade, na dependência de que outros façam movimentos que destravem os nossos próprios passos. É horrível depender. Vendem as almas deles e as nossas nas bacias, desavergonhadamente.

O nervoso e a ansiedade que isso dá levam à janelinha. Vontade de avistar perspectivas. Normalmente símbolo de poder - quem senta nela pode mais, e é mais importante - mas até essa premissa já era. Agora na verdade temos é de ficar esperando de camarote, pro bem e pro mal, que os senhores do Poder, dos Poderes, se entendam pelo menos um pouco, em prol de um projeto comum. Depois, que se engalfinhem de novo!

Não é um balde de água fria, mas lembro que muitas vezes costumamos falar quando alguém acha que a solução vai cair do céu: "Puxa a cadeira aí e senta pra não se cansar". Pelo menos é melhor fazer isso da janelinha, observando os movimentos que diariamente descrevemos em nossos textos, artigos, colunas e crônicas. Com o calor desregulado do planeta talvez ajude, fique mais fresquinho.

Mais uma vez queria poder estar vendo, falando e escrevendo sobre comportamento, sobre as questões femininas, sobre a liberdade que no meio de tudo isso vem sendo gatunada em decisões desses parlamentares de quinta categoria que infelizmente foram parar lá por conta do voto. Mas conhecemos como esse voto foi obtido. Com a mentira. Com a promessa do osso para roer.

É muito difícil saber das coisas, ter vivido para ver, ter até condição de prever o que acontecerá sem nem ser vidente. A gente sofre, porque também muitas vezes precisa se calar quando a turba toda corre numa mesma direção. Não poder, da porta para fora, falar o que se pensa mesmo, tudo, de verdade, dá uma gastura e tanto, mas é preciso e estamos num momento assim. Brigar no meio da multidão que está se voltando ou de joelhos para alguma Meca é tragédia anunciada, e nós podemos ser pisoteados.

Por enquanto, meus olhos grandes e atentos vão se distraindo, olhando para o céu, contando passarinhos - qualquer hora um deles pode pousar na minha janela com boas novas.

Se souber de algo antes, aviso vocês.