quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Pensamento do Dia

 

Ramsés (Suíça)

Computação quântica, inteligência artificial e o homo sapiens sapiens: O futuro de hoje

Este crescimento exponencial da tecnologia do chip ajudou a revolucionar a indústria da computação, permitindo máquinas mais rápidas e mais confiáveis que poderiam ser usadas para uma gama cada vez maior de aplicações. Serviu como uma pedra angular no desenvolvimento de computadores.

Hoje nossos aparelhos celulares tem a capacidade computacional superior a muitos dos nossos computadores pessoais, que nesse momento já excedem a necessidade básica de trabalho e entretenimento pessoal, da maioria das pessoas na pesquisa. Dito isto, questionamos se a lei de Moore vai se esvair pela falta de necessidade pessoal de tanto hardware e processamento? Claro que não, essa capacidade vai migrar para outras áreas de conhecimento trazendo novas respostas e necessidades que nem sabíamos que tínhamos

Aqui proponho um exercício futurologico, que como todo exercício de análise para o que há de vir, pode estar fadado ao fracasso pois baseado no presente projetamos o futuro, porém acredito que por conta do caminho que opera nossa tecnologia científica, podemos prever com bastante segurança o casamento inexorável da atual tão discutida inteligência artificial, com a pouco lembrada tecnologia computacional quântica.


A grosso modo para o leigo compreender o que é essa tecnologia, o sistema computacional atual e baseado no sistema binário de zero e um, respondendo basicamente sim ou não a cada pergunta proposta, o sistema binário é usado pelos computadores é e constituído como dito de dois dígitos 0 e o 1. A combinação desses dígitos leva o computador a criar várias informações, como, letras, palavras, textos, cálculos, ou seja, tudo que vivenciamos em nossas máquinas hoje.

Já a tecnologia quântica é um campo multidisciplinar que compreende aspectos da ciência da computação, da física e da matemática e que utiliza a mecânica quântica para resolver problemas complexos mais rapidamente do que em computadores tradicionais, a grosso modo além de responder com o zero e o um binários, tem uma terceira resposta que é zero e um ao mesmo tempo e isso muda tudo, seria o depende entre o sim e o não das questões propostas.

Agora sim entramos na nossa viagem ao futuro próximo, imaginem o casamento dos computadores quânticos com a inteligência artificial (IA)? Que mundo novo pode advir dessa unificação?

A questão não é se, mas, quando acontecer teremos uma modificação completa do mundo do trabalho, tecnologia, ciências, estudos e entretenimento.

O potencial é incalculável e irá transformar radicalmente a vida cotidiana das pessoas em várias áreas, impulsionando a revolução científico-tecnológica de maneiras que ainda são difíceis de imaginar completamente. Vamos explorar apenas algumas das possíveis mudanças que essa fusão pode trazer nesse admirável mundo novo:

1. Processamento de dados ultrarápido:

Os computadores quânticos podem processar enormes quantidades de dados de maneira incrivelmente rápida, tornando possível realizar cálculos complexos em uma fração do tempo que os computadores convencionais levariam. Isso pode melhorar significativamente a eficiência em diversas atividades, desde análises financeiras e previsões climáticas até a otimização de rotas de tráfego em tempo real;

2. Avanço nas ciências e medicina:

Com a capacidade dos computadores quânticos de modelar sistemas complexos de maneira mais precisa, a pesquisa científica e a medicina podem dar passos gigantescos. Por exemplo, novos medicamentos podem ser descobertos mais rapidamente, acelerando a cura de doenças e condições médicas atualmente incuráveis;

3. Inteligência artificial mais poderosa:

A união dos computadores quânticos com a IA pode aprimorar a capacidade de aprendizado e tomada de decisões dos algoritmos de IA. Isso permitirá que a IA compreenda e processe dados complexos em tempo real, levando a assistentes virtuais mais inteligentes, sistemas de reconhecimento de voz mais precisos, chatbots mais eficientes e avanços significativos em áreas como diagnósticos médicos e análise de grandes conjuntos de dados;

4. Criptografia e segurança mais robustas:

Embora a computação quântica possa ameaçar os sistemas de criptografia atuais, a unificação com a IA pode ajudar a criar algoritmos criptográficos quânticos mais seguros e eficientes. Isso garantiria uma comunicação mais segura e protegeria as informações pessoais dos usuários;

5. Realidade virtual e aumentada avançada: Com o poder de processamento dos computadores quânticos combinado com a inteligência artificial, a experiência de realidade virtual e aumentada pode ser revolucionada. Seria possível criar ambientes virtuais mais realistas, interativos e personalizados, permitindo novas formas de entretenimento, treinamento e comunicação;

6. Otimização de logística e transporte: Com a capacidade de resolver problemas complexos de otimização, a união da computação quântica com a IA pode melhorar significativamente a logística e o transporte. Isso inclui aprimorar a logística de cadeias de suprimentos, otimizar o tráfego em tempo real e planejar rotas mais eficientes para entrega de produtos e serviços;

7. Mudanças na indústria financeira:

A velocidade e a precisão dos computadores quânticos com IA podem revolucionar o setor financeiro. Algoritmos avançados podem detectar fraudes com maior eficiência, prever mudanças econômicas de forma mais precisa e aprimorar estratégias de investimento;

8. Avanço na inteligência de máquinas autônomas: 

A combinação de computação quântica e IA pode impulsionar veículos autônomos, drones e robôs inteligentes, permitindo que eles tomem decisões mais rápidas e precisas em ambientes complexos e em constante mudança.

Essas são apenas algumas das maneiras pelas quais a unificação dos computadores quânticos com a inteligência artificial pode modificar a vida cotidiana das pessoas. É importante ressaltar que, apesar do grande potencial positivo, essa revolução também apresenta desafios éticos e de segurança, como o controle e a responsabilidade dessas tecnologias avançadas. Portanto, um desenvolvimento cuidadoso e ético é essencial para aproveitar plenamente os benefícios dessa fusão tecnológica. Lógico que seremos impactados, sim muitos empregos deixarão de existir e muitos serão desempregados por essa nova etapa da evolução tecnológica fato que ocorreu em todas revoluções científicas e que consolidou saltos evolutivos do conhecimento da humanidade, mas diferente dos trabalhadores que quebravam as máquinas da revolução industrial vamos ter que saber absorver a mão de obra e inteligência humana para outras áreas mais necessárias onde a inventividade e criatividade das pessoas são fundamentais, chegará ao fim o modo de trabalho repetitivo baseado no taylorismo ou mesmo no fordismo.

Cabe a nós trazer para humanidade um momento único de crescimento da liberdade humana para progredir em aspectos até hoje não imaginados, novas relações de trabalho com jornadas menores porém mais eficientes, foco no lazer e também o ócio criativo como proposto por Domenico de Masi.

Como visto, esse mundo que se descortina pode ser o início de uma bela jornada para o ser humano se utilizada para o crescimento e igualdade de oportunidades na utilização dessa ferramenta maravilhosa, mas também pode ser um futuro distópico que esses instrumentos forem mantidos nas mãos de poucos representando a continuidade opressiva de um mundo onde o abismo entre os mais ricos e mais pobres cada vez se acentua. Temos mais uma oportunidade de fazer o certo e levar nossa sociedade a um outro patamar, mais inclusiva, ambientalmente justa e socialmente solidária, não percamos pois mais essa oportunidade, e como dizia o poeta, "é você que ama o passado e não vê que o novo sempre vem".

Força da grana move Brasília

No fim do século passado, um famoso artigo de Francis Fukuyama previu o fim da História. Errou o alvo, ainda bem, porque, sem as peripécias da História, nossa vida seria tomada pelo tédio e pela melancolia. Apesar disso, há momentos arrastados na História do Brasil, como essa briga do Congresso por verbas do Orçamento, algo tão chato como uma reunião de condomínio.

No entanto, se vencermos as barreiras do tédio, veremos que estamos diante de algo essencial para nossa vida cotidiana e mesmo para o futuro da democracia. Trava-se uma luta pela grana que todos pagam em impostos. Teoricamente, esse dinheiro deveria ser usado de uma forma racional para a prestação de todos os serviços que o Estado nos deve.

Isso é tão importante que, nas revoltas de 2013, segundo muitos observadores, houve protesto porque o Estado não devolvia em serviços eficazes o grande volume de impostos pagos a ele.

O avanço do Congresso sobre o dinheiro a ser gasto tem sido intenso nos últimos anos. Alguns ainda se lembram do orçamento secreto do período Bolsonaro. Era ilegal e acabou caindo por ordem do STF. Mas a força do Congresso é tão grande que ele continua impondo ao governo altos gastos em suas emendas parlamentares. Só no Orçamento deste ano, a coisa vai para mais de R$ 47 bilhões. Isso sem contar os quase R$ 5 bilhões que destinaram ao financiamento das eleições municipais.


Não vai dar certo. O dinheiro já é curto e, se não for usado com o máximo de racionalidade, com visão nacional, as frustrações podem aumentar. Salário mínimo um pouco melhor não basta. Há outros fatores — como escola pública de qualidade, saneamento, hospitais razoáveis — que influenciam a sensação de pobreza ou bem-estar.

Os deputados dizem que não há problemas se destinarem grande parte da grana nacional para suas obras. Afinal, argumentam, ninguém conhece melhor o país do que eles. Acontece que conhecem tão bem, a ponto de saber qual obra dá mais votos que a outra, e de modo geral sempre optarão por bons resultados eleitorais.

Na época do orçamento secreto, houve coisas do arco-da-velha que, provavelmente, continuarão acontecendo. Escolas receberam equipamento de robótica e não tinham sequer conexão com a internet. O episódio mais pitoresco ocorreu em Igarapé Grande, no Maranhão, onde a Polícia Federal fez a Operação Quebra-Ossos. O município tem 12 mil habitantes, mas registrou gastos de raio X com 7.500 dedos quebrados. Inimaginável o que fizeram com as mãos para chegar a esses números. Há registro também, noutros pontos do país, de tratoraços, a compra de tratores por preços superfaturados.

Sinceramente, não escrevo com intenções moralistas. A esta altura da vida, fora da política, trabalho outras categorias, distante do protesto indignado. Prefiro fazer parte de uma discreta versão moderna de um coro grego, como na Antígona. Qualquer procura humana que ignore limites, sugere Sófocles, inevitavelmente trará a desgraça.

Surfando numa conjuntura de tolerância com os erros, os políticos brasileiros estão passando dos limites, uma forma de perder a sabedoria. Com todos os pequenos deslizes recebidos com silêncio pela sociedade, avançam cada vez mais rumo a uma dominação indiscriminada, voltada apenas para o próprio umbigo.

Todos sabemos das grandes necessidades do país. Sabemos também que, mesmo usando racionalmente os recursos, não conseguiremos satisfazê-las, o cobertor é curto.

O uso leviano do dinheiro arrecadado, gastos milionários com partidos políticos, isso é muito perigoso. Em 2013, tudo parecia bem, até que alguma coisa explodiu. Há tempo de corrigir o rumo, embora seja difícil imaginar como o gênio voltará para a lâmpada, como o Congresso se conformará em não ter tanto dinheiro para se perpetuar no poder. Infelizmente, é disso que se trata. Os donos da grana se reelegem, e as coisas nunca mudam por lá.

Partido Miliciano, o sujeito oculto da política nacional

Apenas 12 dos 28 partidos e federações que disputaram as eleições de 2022 conseguiram alcançar a cláusula de desempenho fixada pela Emenda Constitucional 97, de 2017. De lá para cá, somente essas 12 legendas têm acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita de rádio e televisão.

As novas regras em vigência desde 2018 impuseram às 16 legendas que não alcançaram o critério de desempenho três alternativas de sobrevivência – a fusão, incorporação ou federação com aquelas que obtiveram melhor desempenho nas urnas.

Bom para a política, esse enxugamento deu mais nitidez ideológica ao sistema partidário, com prevalência da corrente conservadora. Porém, nessa contabilidade partidária o sujeito oculto é o Partido Miliciano, infiltrado na direita como um cavalo de Tróia.

Camuflado em legendas majoritárias, serve-se do dinheiro público destinado ao desenvolvimento das atividades partidárias para alavancar sua estratégia de ampliação territorial. Como fez no Rio, a partir da Assembleia Legislativa.


Essa turma abraça as pautas conservadoras, embora pouco ou nada lhe importem os valores religiosos e morais da direita tradicional. O faz pela conveniência de atrair essa direita para temas próprios que aparentam similaridade ideológica.

Importa-lhes não aprimorar a política antidrogas e materializar um braço parlamentar do crime, blindando-se no bolsonarismo para impedir a ação dos poderes constituídos e consolidar-se como um poderoso grupo paramilitar a serviço de um estado paralelo, cujo comando divide com o tráfico.

Ao permitir a fusão de interesses distintos com uma pauta de valores comum apenas na aparência, a direita corre o risco de associar sua imagem – e suas biografias individuais – a temas que são caros apenas aos milicianos. E comprometer-se com uma associação criminosa infiltrada no parlamento.

É quando, por exemplo, a bancada do agronegócio defende a política bolsonarista de armar cada morador de Copacabana, quando o que lhe importa é garantir o direito de defender suas propriedades no campo.

Nesse contexto se inserem as recentes operações de busca e apreensão nos gabinetes parlamentares dos deputados Alexandre Ramagem e Carlos Jordy, cada um, a seu modo, flagrado em crimes contra o Estado.

Ambos são os únicos beneficiados , nesse momento, pela mobilização da direita contra o STF em decorrência do episódio. A soberania do Legislativo, nesse caso, é mero pretexto para acobertamento de ambos.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, e o do Senado, Rodrigo Pacheco, parecem já entender esses riscos. Evitaram dar repercussão às operações da PF contra Ramagem e Jordy. Mas se tornaram alvo indiscriminado da direita, novamente contaminada pelos interesses milicianos.

A carga sobre ambos para que comprem a briga contra o STF aumentou e levou Pacheco a abdicar de seu estilo mineiro e polido para desancar o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que o chamara publicamente de “frouxo” por não agir contra Alexandre de Moraes.

O que mobiliza a direita contra o STF não é a mesma causa que mobiliza a milícia. Esta pretende neutralizar o STF para escapar da prisão; aquela pretende limitá-lo à interpretação da Constituição e impedi-lo de ultrapassar a fronteira entre o intérprete da Constituição e o legislador.

Tem-se que o agronegócio não precisa dos milicianos para enfrentar sua batalha com o STF, como estes precisam da direita para materializar a guerra contra o Judiciário, em nome da liberdade para delinquir. A direita pode resolver suas contendas pela via política; as milícias, não.

O experiente advogado de muitos políticos, de diferentes matizes ideológicas, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, calcula em duas dezenas os parlamentares já alcançados pelas investigações que culminaram com o 8 de janeiro e que estão no mesmo roteiro de Jordy e Ramagem.

A ex-deputada Joice Hasselmann que, bem ou mal, transitou pela intimidade do bolsonarismo, concorda com esse cálculo, desde que ele se refira apenas aos ex-integrantes do PSL. “No macro, é bem mais”, diz ela. A tirar por ambos, vem mais encrenca aí no roteiro de operações judiciais contra parlamentares.

O STF dobrou a aposta e realizou uma operação de busca e apreensão contra o vereador Carlos Bolsonaro na extensão das investigações sobre a Abin paralela – a rede de espionagem política ilegal comandada por agentes de inteligência a serviço do governo Bolsonaro. Não daria esse bote se não estivesse já respaldado por informações seguras e ainda sigilosas.

Até 2019, a milícia era um fenômeno de alcance e ação estaduais. O ciclo Bolsonaro lhe deu escala nacional e se a direita conservadora, mas democrática, continuar a trata-la como igual, estará se associando à ideologia do crime e contribuindo decisivamente para que o Congresso Nacional se torne, em pouco tempo, uma Alerj federal.

Fábricas de fraude online são motivadas com trabalho escravo

Aaron mal podia acreditar na própria sorte: uma companhia de tecnologia da Tailândia lhe ofereceu o emprego de seus sonhos – salário alto, benefícios generosos, uma via para escapar de um futuro desolador no sul da África. "Eu torci para ir trabalhar em outro continente, e um dia me contatei. Eu descobri que tudo era legítimo – até que cheguei ao Bangcoc."

A Organização das Nações Unidas calcula que mais de 100 mil indivíduos estão confinados nos centros de fraude online de Mianmar, num regime praticamente de escravidão . A equipe investigativa da DW encontrou-se com diversos sobreviventes de uma dessas "fábricas", o KK Park, que descrevem vigilância rigorosa, tortura e assassinato atés.

No aeroporto, Aaron teve uma recepção calorosa e foi convidado a entrar num carro, junto com dois outros jovens da África Oriental. "Achamos que iríamos para um hotel que fica talvez a uns dez minutos do aeroporto. Mas o motorista tomou outra direção."

Depois de quase oito horas de viagem, o grupo chegou à cidade fronteiriça de Mae Sot, no norte de Taiwan, onde foi transportado através do rio Moei até o estado de Kayin, região de Mianmar devastada por uma guerra pela independência. "Tinha gente com armas. Eles disseram que era para entrarmos no barco. E nós atravessamos", relata Aaron.

Dali, ele e seus companheiros foram levados para o KK Park, uma central onde milhares são submetidos a ações criminosas, enganando internautas dos Estados Unidos, Europa e China. 

“A gente trabalhava 17 horas por dia, nada de férias, sem feriados, sem descanso”, conta o jovem Lucas, da África Oriental, que foi suspenso à força 12 meses na central de fraudes online. "E se a gente disse que queria ir embora, eles ameaçaram que iam vender a gente – ou matar."

Chegando ao KK Park, Aaron, Lucas e os demais receberam instruções sobre como praticar os golpes. Sua tarefa era convencer os “clientes” – como são designados internamente como vítimas – a investir em criptomoedas . Estes pensaram ter depositado suas economias em investimentos lucrativos, mas ao invés disso o dinheiro entraria numa conta controlada pelos criminosos. Assim que se alcançasse uma determinada soma, as contas eram zeradas.

KK Park, apenas uma entre pelo menos dez fábricas
de golpes online na fronteira Mianmar-Tailândia

Esse tipo de golpe online é apelidado pig abate (abate de porcos): os trapaceiros engordam suas vítimas e em seguida as levam para o matadouro. Os manuais distribuídos à chegada no centro descreviam em detalhes como estabelecer confiança e aproveitavam os pontos fracos dos alvos. Por exemplo: "Seja engraçado. Os clientes devem se apaixonar por você ao ponto de esquecer tudo."

Havia metas semanais: uma soma determinada que os "agentes de venda" à revelação deviam arrecadar ou um número de "clientes" para entrar em contato. Quem não alcançava essas metas, era punido.

“Quem até o meio-dia não conseguiu nenhum novo cliente, ficou sem almoço. Se alguém reparasse que deixou de atender a uma chamada, você era espancado, ou forçado a ficar horas de pé”, conta Lucas. Vídeos e os relatos de prisioneiros anteriores da fábrica de fraudes confirmam torturas psíquicas e físicas sistemáticas.

Confrontados com imagens exclusivas tiradas do interior do complexo, todos os entrevistados consideraram os crachás nos uniformes dos guardas: trata-se das insígnias da Força de Guarda de Fronteira, um grupo de ex-rebeldes que deixou de combater a junta militar birmanesa há uma década atrás , em troca do controle total sobre seus territórios. Os soldados policiais do KK Park, mas os chefes de operação são chineses, de acordo com diversas fontes.

A trilha de pagamentos de diversas vítimas de fraude leva até as carteiras de criptomoedas usadas pelo KK Park para recuperação das economias dos defraudados. Lá, o dinheiro é distribuído por outras carteiras que funcionam como contas digitais para armazenar criptomoedas.

Uma delas foi aberta por Wang Yi Cheng, um empresário chinês residente em Tailândia. Ele recebeu moedas de milhares de dólares em criptomoedas de carteiras usadas pelo KK Park, e integra uma rede maior, de empresários chineses no exterior, que inclui um notório chefão da máfia chinesa.

No período em que recebia transferências diretas de carteiras geridas pela fábrica de fraudes tailandesas, Wang era vice-presidente da Thai-Asia Economic Exchange Association, uma associação sedada em Bangcoc que promove relações entre a Tailândia e a China.

A Tailândia-Ásia partilha o seu edifício-sede com o Overseas Hongmen Culture Exchange Center, que em 2023 foi alvo de uma batida policial, juntamente com outros centros da Hogmen, por operar ilegalmente e servir como fachada para o crime organizado chinês.

Essas organizações têm conexões estreitas com Wan Kuok Koi, aliás "Broken Tooth". Ex-líder da tríade 14K, depois de passar mais de dez anos na prisão por atividades criminosas em Macau, em 2018 fundou a World Hongmen History and Culture Association. Nesse ínterim ela foi aplicada a avaliação pelos Estados Unidos, devido ao seu envolvimento com o crime organizado.

Jason Tower, especialista em crime organizado do American Institute for Peace, menciona que Wan Kuok Koi gosta de repetir que costumava lutar pelos cartéis, mas agora luta pelo Partido Comunista da China.

De fato, sua organização Hongmen também promove uma ambiciosa Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), um projeto de infraestrutura trilionário, também conhecido como Um Cinturão, Uma Rota ou Nova Rota da Seda, que envolve integrar a China ainda mais à economia global.

O terreno em que foi construído o KK Park é uma área-alvo dos investimentos da China na BRI: relatórios do governo saudaram projetos de construção em suas áreas específicas, embora mais tarde Pequim tenha se distanciado, devido a denúncias de fraude em ampla escala.

O complexo em si não é mencionado nos comunicados oficiais da China, nem foi palco de cerimônias pioneiras, como as realizadas em outros projetos de construção na área. Em vez disso, o KK Park foi construído sob medida para a aplicação de golpes online. Soldados armados vigiavam todas as entradas e tinham câmeras de vigilância por toda parte.

As relações de poder nebulosas na região de conflito de Kayin, na fronteira birmanesa, proporcionam solo fértil a atividades criminosas. O KK Park é apenas uma de pelo menos dez fábricas de golpes online da área.

Suas operações ilícitas remontam a uma complexa rede de firmas e associações usadas por criminosos para legitimar seus crimes e "lavar" milhões em capital originário de fraudes. Suas operações estão se expandindo continuamente do Sudeste da Ásia para a África, Europa e América do Norte.

“Estamos realmente vendo que essas redes criminosas se tornam cada vez mais poderosas, mais influentes, e mais ramificadas em países de todo o mundo”, comenta Tower. "E os esforços de aplicar a lei estão tocando a ponta do iceberg."

Aaron e Lucas tiveram sorte. Depois de o salário lhes ser negado diversas vezes, eles e outros prisioneiros se recusaram a continuar trabalhando, e receberam ordem de arrumar seus pertences. “Escutei eles dizendo que iam nos vender para uma outra organização”, recorda Lucas.

Os jovens africanos reagiram rapidamente e contataram o ativista australiano Judah Tana, conhecido por auxiliar refugiados na fronteira Mianmar-Tailândia. E assim Aaron e Lucas escaparam, escondidos no banco de trás de seu jipe. Algumas semanas depois, ambos puderam retornar ao seu país de origem: seu pesadelo de tráfico humano e escravidão chegou ao fim.