sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Fortes emoções de uma República apodrecida

Está tudo bastante apodrecido. O odor fétido da imoralidade na classe política está exalando de quase todos os lados, de quase todas as instituições. A República carcomida e humilhada vive um impasse sem fim. Enquanto assim for, enquanto tivermos que respirar nesse ar sufocante, a crise política entravará as saídas econômicas, e nosso povo seguirá sofrendo. Assim acontece, via de regra, em países com Estados inchados, em que o que neles se passa tem impacto significativo e amplo sobre a saúde da economia. A Lava Jato pode ser um remédio amargo, mas precisa ser aplicado, e não pode ser em doses homeopáticas. É um tratamento de choque. Precisamos que ela siga adiante, e por isso qualquer tentativa de prejudicá-la e detê-la, intentada pelos vermes a quem ela incomoda, deve ser exemplarmente punida e repudiada.

Oxalá assim o seja em todos os casos, e aqueles que efetivamente comandaram o maior esquema de desmoralização institucional da história do país sejam identificados e presos. Que não paremos nos peixes pequenos, que não paremos na superfície. Os corações do Petrolão, do mensalão, do “PETISTÃO”, ainda estão livres, leves e soltos. Ou melhor, livres e soltos. Leves, despreocupados, tranquilos, já não tenho tanta certeza…

Leia mais artigo de Lucas Berlanza

A força da toga

Tenho um grande amigo, aposentado do Ministério Público do Rio de Janeiro que, na época do mensalão, ao ouvir um bate-papo entre sua mulher e eu, nos interrompeu ao ouvir as duas confessar que não confiávamos nos ministros nomeados pelo Lula e pela Dilma, tal nossa decepção com o PT:

“Isso é porque vocês não conhecem a força da toga”.

Ontem tivemos a prova concreta dessa força.

Ministra Carmen Lúcia na sessão extraordinária de 25/11/2015 (Foto: André Dusek / Agência Estado)
Diante da gravação já hoje célebre feita pelo filho de Nestor Cerverò, na qual se ouve a voz melíflua do senador Delcídio Amaral (PT) tramar vários crimes, da fuga de Cerverò com detalhes assombrosos (e que mostram o quanto o senador já havia estudado o assunto) aos nomes de ministros do Supremo e de outras autoridades que estariam, digamos assim, abertos a qualquer proposta, vimos o STF, o peso da toga republicana sobre seus ombros, reagir com veemência e denodo.

Por ordem do STF, pela primeira vez em nossa História, um senador da República e líder do governo, é preso no cargo.

E não podia ser diferente depois de todas as barbaridades que o filho de Cerverò, em muito boa hora, gravou e entregou na Procuradoria Geral da República.

Apesar da gravidade do assunto, um detalhe chamou minha atenção pela ironia. Deus escreve mesmo certo por linhas tortas... Num dado momento o senador e o advogado de Cerverò discutem, entre outras coisas tais como rotas de fuga, mesadas, subornos e promessas de “vida mansa que segue”, a chance de investir numa diretoria da Petrobrás e mencionam justamente a da Tecnologia da Informação (TI) porque o orçamento é de um R$ 1 bilhão e “lá ninguém enche o saco”. (Para o leitor pouco familiarizado com a TI, sugiro acessar o site InfoWester).

Esse foi outro espanto, saber que na diretoria da Tecnologia da Informação da Petrobrás passava uma verba tão expressiva sem ninguém para aborrecer quem lá se fartava...

Como se pode ver, tem toda a razão o decano do STF, Ministro Celso de Mello, ao dizer que “A ausência de bons costumes leva à corrupção”. Nosso triste Brasil está nessa situação, os bons costumes, em todas as áreas, feneceram e a corrupção transformou-se numa patologia que, infelizmente, levará muito tempo para ser debelada.

Parece que o ex-presidente Lula ficou indignado com o que chamou de burrice: Delcídio se deixar apanhar nessa gravação. São modos de ver, não é? Eu, por exemplo, acho burrice a nota do PT que desobriga o partido de qualquer solidariedade. Precisava dizer isso por escrito, quando já se sabe, por outros casos, que o PT nunca é solidário?

Peço a Deus que as palavras da ministra Carmen Lúcia, na sessão extraordinária de ontem no STF, sejam plenamente absorvidas por todos que de alguma forma têm posição de mando do Brasil:

 “Houve um momento em que nós, brasileiros, acreditamos no mote segundo o qual a esperança tinha vencido o medo. Depois , nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo tinha vencido a esperança. Agora, parece-se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes destas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode estancar a vontade de acertar no espaço público. Não passarão sobre a Constituição do Brasil” .

Bem que Teori avisou que o pior ainda está por vir...

Quando o ministro Teori Zavascki saiu de sua costumeira discrição para avisar que “o pior ainda está por vir”, ele sabia exatamente o que estava falando. E certamente o relator dos inquéritos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal não se referia apenas ao senador Delcídio Amaral, que recentemente passou a assinar “do Amaral” por questões numerológicas, para ver se dava sorte, e o resultado foi desastroso. É claro que Zavascki não estava se referindo a um ou outro peixes gordos prestes a cair na rede, mas a um cardume deles.

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O fato é que, de agora em diante, a Justiça passará a ser ainda mais rigorosa, com a Segunda Turma do Supremo em pé de guerra pelas suspeitas lançadas pelo líder do governo nas gravações obtidas pelo jovem Bernardo Cerveró, que trabalha como ator, mas tem talento especial também para a função de operador de áudio. Além disso, acostumado a conviver com o pai, sabe enxergar com um olho no padre e o outro na missa, se é que vocês me entendem, como dizia o genial jornalista Maneco Muller.

Nestor Cerveró custou a conseguir a delação premiada. Foi uma dificuldade. Nada do que relatava aos procuradores da força-tarefa da Lava jato era considerado “novidade”. A negociação foi se prolongando por meses a fio. Até que o filho Bernardo entrou na jogada da criação de um “fato novo” capaz de motivar a delação. Como se viu esta semana, o jovem ator teve um desempenho excepcional e merece, pelo menos, o Oscar de Efeitos Especiais.

A partir do sensacional envolvimento de Delcídio Amaral, a Lava Jato muda por completo, porque fica completamente afastada a suposta possibilidade de que nas instâncias superiores haja anulação de provas, como aconteceu com o banqueiro Daniel Dantas na malograda operação Satiagraha, que também investigava justamente desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro, vejam que nem sempre a História pode se repetir como farsa. Nenhum tribunal vai dar moleza a esses criminosos do colarinho branco. Habeas corpus, medida cautelar, mandado de segurança? Nem pensar.

Outra consequência inevitável é que muitos executivos e empresários vão seguir o exemplo de Nestor Cerveró e pedir o benefício da delação premiada. O primeiro da fila é o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, grande colecionador de obras de arte. Há meses tenta fazer delação premiada, mas os procuradores dizem que ele não tem provas materiais. Pode ser que agora Duque enfim encontre como comprovar as acusações.

A grande dúvida é Marcelo Odebrecht, o arrogante delfim dos empreiteiros. Na CPI da Petrobras ele descartou qualquer hipótese de fazer acordo, vangloriando-se de ensinar as filhas a não delatarem os malfeitos das outras e ironizando quem trai os cúmplices para se livrar da pena. Ele está prestes a ser condenado. Dizem que a primeira sentença sai antes do Natal.

Quando Marcelo foi preso, o patriarca Emilio Odebrecht deu declarações ameaçadoras, recomendando que o governo deveria construir três celas, uma para ele próprio, as outras para Lula e Dilma. Como se dizia antigamente, promessa é dívida. De toda forma, com ou sem delação da família Odebrecht, vai se confirmar o vaticínio de Zavascki. O pior ainda está mesmo por vir.

Alma penada no fim da picada

Sem contar a semana de "festas", falta menos de um mês para o fim do ano. A partir do dia 24, nada mais funciona. Governo, Congresso e Justiça param ainda antes.

Dados os exemplos vívidos, repulsivos e escandalosos de desastre nacional, tratar de contas públicas parece uma abstração tediosa. Mas convém notar que 2015 vai terminar sem que tenhamos tido um Orçamento e que 2016 vai pelo mesmo caminho. Isso vai dar problema muito concreto.


Não há governo. Algumas burocracias, em especial aquelas para as quais Dilma Rousseff não dá quase a mínima, meio que andam sozinhas, para o bem ou o mal, casos de saúde e educação, por exemplo.

No mais, a presidente se ocupa de:

1) Preservar seu mandato sobre o nada, não se sabe bem para o quê, talvez para escolher a cor do PowerPoint dos ministros, como já disse um jornalista inglês fazendo troça da mania de minúcias da presidente;

2) Como o pessoal de seu partido, coalizão restante ou governo vai fugir da polícia;

3) De megalomanias ora ainda mais delirantes, por falta de recursos, vistas com raiva ou escárnio por dois terços da população.

Enfim, Dilma Rousseff jamais compreendeu o que é ser presidente, ter prioridades maiores, liderança nacional para formar acordos de mudanças, visão de longo prazo. Se quando havia algum dinheiro e poder era assim, pior ainda agora, que é uma alma penada no Planalto, a obstruir soluções.

Ontem se soube que o deficit do governo federal no ano já vai a 0,7% do PIB, sem contar "pedaladas" que talvez ainda deva pagar. Previa-se superavit de 1% do PIB. Ninguém mais liga, como se o país fosse um navio fantasma à deriva, do qual se espera apenas saber quando vai se arrebentar nos rochedos.

Gasta-se ou corta-se à matroca, ao vai da valsa. O rombo cresce, de qualquer maneira; não se sabe em que medida crescerá no ano que vem. O Congresso, em grande parte atolado na imundície e avesso a Dilma, não vota nada.

Nessa toada, é quase inevitável degradação adicional do crédito do país e de suas empresas no início do ano que vem. Vamos escapar apenas se os donos do dinheiro grosso acharem que está tudo tão calmo no mundo que até no Brasil vale a pena colocar algum.

A senadora que preside a Comissão Mista do Orçamento, Rose de Freitas (PMDB-ES), escarnece do governo. Diz que a turma de Dilma manda mudanças frequentes para o Orçamento de 2016, que não se entendem nem mesmo na equipe econômica, tanto que começa a duvidar de que queiram votar a lei ainda neste ano. Virou pilhéria.

Fazenda e Orçamento não se entendem sobre o tamanho do deficit do ano que vem, embora, repita-se, ninguém acredita nesses números, mesmo porque nem sabemos o tamanho da recessão de 2016.

Sabe-se que o deficit neste ano não é ainda maior porque se cortou quase 40% do investimento federal "em obras", o que faz o país atolar ainda mais e é insustentável. Que a Previdência sangra e deve sangrar mais, com mais desemprego e mais informalidade. Que a coisa está tão feia que o Tesouro (Fazenda) propôs ontem discretamente que se comece a cortar o gasto com Previdência Rural (de pessoas que praticamente não contribuíram, que recebem o mínimo e gera quase todo o deficit do INSS, de R$ 76 bilhões até aqui).

À espera dos outros

A pergunta que não quer calar: qual será o próximo? Ou quais serão os próximos parlamentares que encontrarão a Polícia Federal batendo às suas portas de manhã bem cedo? Há muitos, agora que foi rompido o princípio da inviolabilidade. Deputados e senadores já podem ser presos no exercício de seus mandatos, caso o Supremo Tribunal Federal aceite provas irrefutáveis de sua culpa nos escândalos de corrupção. O primeiro foi Delcídio do Amaral. Outros não demoram.

A manifestação unanime dos cinco ministros da Segunda Turma do STF pela prisão do líder do governo no Senado não deixa dúvidas. Por certo que depois da decisão da mais alta corte nacional de justiça torna-se necessária a licença da respectiva casa do Congresso, mas foi definitiva a votação dos senadores, na noite de quarta-feira. Bem que quase toda a bancada do PT tentou salvar o companheiro, mas prevaleceu aquela máxima de que não há força capaz de contrariar a natureza das coisas. Ainda mais diante do reconhecimento pelos dirigentes do partido, em nota oficial, que Delcídio do Amaral não tinha salvação.

Fica a indagação sobre quem liberou a gravação da conversa entre o senador, o ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, e auxiliares, peça fundamental para a prisão do líder do governo. Seu filho, Bernardo Cerveró, foi responsável por entregar a gravação ao Procurador Geral da República, que a despachou para o ministro-relator. Teori Zavaski dividiu sua iniciativa com os quatro colegas da Segunda Turma, seguindo-se a mobilização da Polícia Federal para as prisões. Em algum momento rompeu-se a cadeia do sigilo, fator essencial para sensibilizar o Senado e a opinião pública. Melhor assim, em nome do combate à corrupção.

Em suma, o 25 de novembro passa a constituir-se num marco institucional de vulto, nas relações entre os poderes da União. Deputados e senadores já podem ser presos no exercício de seus mandatos, além dos casos de flagrante delito. Obstruir investigações também dá cadeia, claro que preliminar, seguindo-se o processo pautado pelo livre direito de defesa.

Célebre professor de Direito Penal da USP era conhecido por seu linguajar castiço e empolado, mas sempre demonstrando a seus alunos que a variedade de expressões pode significar os mesmos conceitos. Pediu que vertessem para o vernáculo o vulgar e muito em moda comentário utilizado pela juventude, de que “pouco me importa que a mula manque, pois eu quero é rosetar”. Ninguém conseguiu, até que o mestre traduziu: “pouco se me dá que o corcel claudique, pois apraz-me acicatá-lo”...

Assim podem ser interpretadas as variadas e vetustas considerações dos ministros a respeito da corrupção: “lugar de ladrão é na cadeia”..
.

Tenho nojo!

O mantra talvez equivalente ao francesinho “Je suis Charlie”...

Tenho nojo
De ver meu país solapado por bandidos em todos os quadrantes, tranquilamente ciosos de que ficarão impunes;


Tenho nojo
Em abrir os jornais, ouvir rádio e ver televisão todos os dias e perceber a mídia valorizando a ação de criminosos, estupradores, serial killers, agiotas, traficantes e milicianos – todos irmanados proficientemente em emprestar a “audiência da desgraça” a esses veículos;

Tenho nojo
Desses políticos que resolvem visitar os sítios de enchentes e tragédias, trajando seus sapatos italianos e ternos franceses, desembarcando de helicópteros e prometendo verbas, mundos e fundos que jamais chegarão de fato aos desabrigados;


Tenho nojo
De nossa “presidenta”, ex-guerrilheira, lamentando farisaicamente a morte de inocentes em delitos terroristas, quando no passado os tramava, condenando outros inocentes e planejando tocaias, assaltos a bancos e a cofres privados de políticos;

Tenho nojo
Do antecessor da “presidenta”, um dos homens analfabetos mais venais e sem caráter desse país e das elites que o financiaram e que impedem a polícia de prendê-lo e pagar por seus crimes;

Tenho nojo
Do partido que está no governo, que só intenciona permanecer no poder, e a qualquer custo, manobrando o Erário, aparelhando as estatais e permitindo a pior onda de corrupção jamais vista nesse país;

Tenho nojo
De nossos empreiteiros, dinâmicos em aditivos, superfaturamentos e em bancar por propinas ocultas toda a máquina de corrupção que infesta a nossa miserável política;

Tenho nojo
Da maioria expressiva de nossos deputados, fiéis canalhas e vendedores de virtudes públicas, que só desejam fazer caixinha para as próximas eleições, roubando pra se eleger e se elegendo pra roubar;

Tenho nojo
Do chamado poder Judiciário, tão lento para fazer justiça aos pobres e lépido e compreensivo para julgar os ricos, permitindo toda a sorte de recursos e chicanas. Os togados adoram prender pretos, pobres e prostitutas, trabalhando em seus ricos palácios e conseguindo dormir sem culpa;

Tenho nojo
Desses pastores televisivos, travestidos de arautos de Deus e Jesus, ofendendo a fé pública, roubando os pobres através de dízimos e ofertas, além de oferecer a salvação a todos que acreditem que eles podem expulsar demônios. No entanto, eles são bastante coniventes e conformados com os demônios que mandam aqui, porque lhes dão benesses e concessões de TV e rádio em troca de votos;

Tenho nojo
Dos slogans mentirosos, lançados pelo governo, sugerindo a salvação da Pátria pela educação e saúde, quando sabemos que são ramos deficientes e vergonhosos de nossa Nação, desespero de seus habitantes e motivo de chacota pelas nações realmente desenvolvidas;

Tenho nojo
Dos militares da ativa, que dizem que amam o Brasil acima de tudo, mas ficam caladinhos e silenciosos, aguentando todos os estupros de gestão no país e em suas respectivas Armas, esperando ir para a reserva e aí, então, garantidos nas aposentadorias, ver devolvidos os próprios cérebros e convencer os pobres civis de que detêm alguma opinião e “acendrado” patriotismo;

Tenho nojo
De ver uma população conformada, a cada assassinato torpe, exigindo justiça para sair em telejornais, e aceitando todas as sevícias sem dar um pio, sempre esperando que surja um otário qualquer à frente de alguma revolta para oferecer o próprio pescoço e aguardando, como ovelhas, o próximo escândalo;

Tenho nojo
De ver o povo maltrapilha e tutelado, acreditando que é o bolsa-família a salvação de seus males e que qualquer coisa diferente do partido que está no governo lhes tomará de fato o pobre benefício;
Tenho nojo
De ser obrigado a ouvir, durante a semana, o pavoroso programa “A Hora do Brasil”, serviço chapa-branca do governo, ocupado em desfilar os feitos de ficção em que só os imbecis acreditam;

Tenho nojo
Dos jornalistas e artistas que se vendem em troca de dinheiro, distorcendo a realidade e se calando diante dos desmandos que desfilam sob seus olhos, em troca de viagens a Paris e moradia em prédios de luxo;

Tenho nojo
De nossos médicos burgueses, que só querem viver em centros urbanos e obter ganhos de clientes abonados e que permitem que o país seja invadido por escórias estrangeiras de falsos médicos;

Tenho nojo
De nossos advogados dinheiristas, que se especializam em defender delinquentes poderosos, em troca de polpudos honorários, porque na verdade não acreditam na Justiça, considerando-a apenas um objeto de lucro relativo;

Tenho nojo
Dos carcereiros de nossas penitenciárias que libertam os apenados nos fins de semana, desde que estes lhes tragam dinheiro e sustentem por fora uma cota extra;

Tenho nojo
Dos policiais que recebem propinas nos mais variados negócios escusos e que matam o pobre povo desvalido, registrando autos de resistência, na certeza de que escaparão ilesos e sem nenhum problema com as suas corregedorias;

Tenho nojo
Dos eleitores que aceitam dentaduras, pares de sapato e outros benefícios passageiros, vendendo o seu voto e o futuro de seus filhos. Essa escória, a propósito, adora corrupção, admira os políticos ladrões, lamentando não poder roubar com a mesma eficiência. A propósito, a corrupção está no DNA do brasileiro: quanto mais ladrão, mais querido;

Tenho nojo
Das mulheres que falam em eliminar agressões masculinas, reivindicam direitos e princípios feministas e aceitam de bom grado que suas companheiras vendam o corpo para utilização comercial e sonhem com casamentos milionários em troca da própria prostituição;

Tenho nojo
Dos homossexuais que pretendem que os heterossexuais não tenham direitos equivalentes e que no fundo desejam que todos adiram às suas práticas sodomitas;

Tenho nojo
De apresentadoras de programas infantis, que convidam crianças a se tornarem adultas antes do tempo e copiem a sensualidade dos adultos, destruindo a infância e o crescimento sadio de meninos e meninas;

Tenho nojo
Dos que alardeiam que roubam porque antes os outros fizeram o mesmo, como se um erro justificasse outro...

E, finalmente, tenho nojo de saber que esse país não tem conserto e que tudo vai ficar assim mesmo, sempre esperando a próxima atração.

Silêncio de Dilma sobre seu líder Delcídio é ensurdecedor

A prisão de Delcídio Amaral é constrangedora não somente para a presidente Dilma Rousseff, que nunca escondeu sua admiração pelo envolvente parlamentar do Mato Grosso do Sul, a ponto de indicá-lo líder do governo no Senado, mas também para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que retirou o nome dele da lista de parlamentares a serem investigados por inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Na época, choveram críticas a Janot, inclusive aqui na Tribuna da Internet, porque já havia muitas evidências da participação de Delcídio Amaral em irregularidades na Petrobras desde o governo FHC, quando ainda estava no PSDB, partido a que esteve filiado entre 1998 e 2001.

Quando era tucano, foi diretor de Gás e Energia da Petrobrás, entre 2000 e 2001, exatamente na época do superfaturamento do gasoduto de Urucu, quando se tornou amigo e companheiro de Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, dois dos principais envolvidos na Operação Lava Jato.

Em 2001, Delcídio se aproximou do PT em Mato Grosso do Sul, filiou-se ao partido, foi nomeado secretário de Infraestrutura do então governador Zeca do PT, e na sequência, apoiado por ele, elegeu-se ao Senado em 2002. Era um dos neopetistas mais prestigiados, até ser abatido pelos gravadores do jovem Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor Internacional da Petrobras.


Até agora, nenhuma palavra do Palácio do Planalto sobre a prisão de DelcÍdio Amaral. Até quando vai durar este ensurdecedor silêncio da ainda presidente Dilma Rousseff em relação a um de seus parlamentares preferidos, que a representava diretamente no Congresso Nacional, na honrosa condição de líder do governo?

Dilma também não se defenderá da gravíssima acusação de Nestor Cerveró, que em suas anotações registrou que ela sabia de tudo sobre o escândalo de Pasadena? Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração e convocou a reunião extraordinária para comprar a sucateada refinaria americana, um dia depois de a Diretoria ter recomendado que se fechasse negócio. Nunca antes na História da Petrobras o Conselho havia sido convocado extraordinariamente com tamanha urgência.

E agora, como Dilma pode continuar imitando Lula e dizer que não sabia de nada? Para a meia dúzia de iluminados que ainda acreditavam na “inocência” dela (todos os petistas são culpados, menos a “presidenta” Dilma…), é uma decepção terrível. Mas a vida é assim mesmo, traz uma decepção atrás da outra.

Como se preservar no inferno

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O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, os que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até ao ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço
Ítalo Calvino

Tutti buona gente

Ultimamente as notícias vindas de todos os lados são tão ruins que conferi-las é um convite ao pesadelo
Cerca de três da manhã de terça-feira. Depois de dar comida para os gatos e de trocar a sua água, resolvi voltar para o computador e para a internet, para ver como estava deixando o mundo antes de ir dormir. Não tem sido fácil fazer isso ultimamente; as notícias vindas de todos os lados são tão ruins que conferi-las é um convite ao pesadelo. Desta vez, o que me tira o sono são mais artigos e ensaios sobre o Estado Islâmico, sobre os refugiados sírios, sobre as atrocidades na África, sobre essa tragédia indescritível que aconteceu em Minas, sobre as escolas de São Paulo e as bibliotecas do Rio; e a foto sinistra e mal iluminada de nove homens de pé, diante de uma mesa.

O da esquerda confere alguma coisa no celular. É o governador Pezão. Os outros são Eduardo Paes, Pedro Paulo, o espancador, que fala a um microfone, Picciani, Sergio Cabral. O último da direita está escondido; o destino me poupou de reconhecer os demais. Já vi essa cena antes, muitas e muitas vezes, nos livros de História, nos jornais, em documentários e filmes. A postura de todos, do descolado Paes, de mãos no bolso, ao ameaçador Picciani, que apoia os dedos na mesa e olha para a frente como quem pergunta “Vai encarar?” é a mesma que o primeiro grupo de trogloditas ostentou na primeira caverna — os machos da espécie cerrando fileiras em torno de um elemento ameaçado, avisando à comunidade que todos ali são irmãos em armas, parças, brothers para o que der e vier.

Ninguém precisa de legenda para entender a foto do ato de desagravo que o PMDB carioca fez ao secretário-executivo da prefeitura do Rio de Janeiro: ali está um grupo de velhos coronéis defendendo o seu latifúndio, um conjunto de senhores feudais garantindo os seus privilégios. O recado que ela transmite está errado em tantos níveis que não dá nem para começar a enumerar. A sensação predominante que desperta é asco.

Não é mais aceitável que homens eleitos para representar a população estejam tão em desacordo com a sua cidade e tão desatentos ao espírito do seu tempo; não é mais aceitável que desprezem dessa forma os seus eleitores, e que desafiem com tal soberba a opinião pública.

Já tivemos muitos governadores inqualificáveis, mas Pezão atingiu um novo patamar de sordidez ao classificar autos lavrados em delegacias como “fofocas”; Eduardo Paes, que se quer tão moderno, fala com uma voz saída da profundeza dos séculos quando diz que as agressões de Pedro Paulo à ex-mulher “foram uma coisa de casal, que aconteceu entre quatro paredes”.

A maioria dos crimes, prefeito, acontece entre quatro paredes.

Nenhuma figura da foto, contudo, é mais patética do que o próprio Pedro Paulo, tão pouco à vontade no papel de homem de bem que o PMDB insiste em lhe atribuir. Fora do partido, que vive numa espécie de universo paralelo ancorado nas piores práticas políticas, ninguém mais consegue olhar para ele sem sentir repulsa — não apenas pelos socos e pontapés desferidos contra a mulher a quem traiu, mas também pela mentira contada na cara dura para garantir uma carreira já agonizante, apesar do apoio execrável dos seus lamentáveis padrinhos.

Dizem que havia mulheres na sala onde foi tirada a foto sinistra e que elas também manifestaram apoio ao espancador, aplaudindo-o e gritando palavras de ordem. Vi manifestações de espanto em relação a isso nas redes sociais, mas não entendi o motivo. O que esperar de uma pessoa que se filia ao partido de Eduardo Cunha e de Renan Calheiros, de José Sarney e de Jader Barbalho? Ser mulher não é garantia de decência, sensibilidade ou bons propósitos.
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O mais triste é que, até outro dia, eu tinha boa impressão de Eduardo Paes. Ele conquistou a minha simpatia ao derrubar o viaduto da perimetral, uma das obras mais equivocadas e antiestéticas jamais realizadas no Rio, e ao voltar a sua atenção para áreas antes esquecidas da nossa cidade. Isso fez dele, aos meus olhos, um administrador moderno e audacioso. Um dia até almoçamos juntos; foi uma tarde muito agradável.

A minha ilusão de que ele poderia ser um político mais antenado com a atualidade, porém, que já tinha ficado seriamente abalada quando ele se alinhou com a máfia dos táxis contra o Uber, acabou por completo com a defesa intransigente que tem feito do seu secretário — uma defesa antiga, machista, vinda de um mundo e de um tempo que já não deveriam ter lugar.

Em entrevista ao meus colegas Alan Gripp e Jeferson Ribeiro, ele disse que as surras que Pedro Paulo dava na mulher são assunto de família, e que o que deve valer para o eleitor são as suas propostas para a cidade.

Sem perceber, o dinâmico Paes, que cultiva uma imagem tão aggiornata, acaba de ressuscitar, em nova roupagem, uma variante cafajeste do velho “rouba mas faz” — que, ao longo das décadas, só serviu para desmoralizar a política e afundar o país.

Que decepção.

Cora Rónai

A árvore antiga e as novas lamas

Um velho carvalho com galhos abertos. Parecia uma cruz.

Foi usado na segunda guerra mundial pelos nazistas para enforcar membros da resistência soviética. Dizem também que foi usado pelos estalinistas para matar oficiais acusados de traição.

Uma árvore e tanto, com história de dignidade. A única que sobrou nos arredores da usina de Chernobyl depois do acidente nuclear.

Três anos depois os burocratas de Kiev abriram a região e chamaram correspondentes estrangeiros. Queriam mostrar que o ar havia melhorado nos arredores do sarcófago soterrado por uma montanha de concreto.

Vimos o carvalho, tiramos fotos dele.

Na coletiva com o diretor do complexo, o terceiro depois do acidente, ouvimos respostas inspiradoras.

O reator? Não, não há previsão para sua volta. Moradias? Não, só de passagem, os técnicos vivem em Kiev. Produção agrícola? Não, sem previsões além das experiências com os tomates, cuja casca absorve todos os venenos. Novas equipes permanentes? Não, só temporárias, com salários em dobro.

Quantas vítimas? Silêncio. Quantas? Quantas? Impossível responder senhores. Os bombeiros e voluntários que apagaram o incêndio? Todos mortos. Na verdade ainda faltavam alguns, condenados. As crianças? Sendo tratadas de Moscou a Paris; de Havana a Telavive. Também condenadas na sua maioria.

Em horas de crise os burocratas não sabem responder. Perdem até a noção do ridículo. A Samarco é uma vítima do acidente em Mariana? Bem, quer dizer... Outras barragens podem explodir? Olha, estamos monitorando... Os peixes? Ah, em dois, três anos estarão de volta.


Os burocratas de Mariana, da empresa aos governos, deveriam ser fisgados em anzóis e jogados ao mar, pois no rio Doce não dá mais nada.

De repente, quem sabe, poderiam ser pescados pelo bom senso e pela vergonha, dois itens em falta.

Nos ministros, no governador, nos gerentes, em toda a linha envolvida na catástrofe.
Sempre faltou atenção às minas no Brasil. As energias monopolizaram planos e projetos de governos e ministros brasileiros ao longo do tempo.

A presidente da República, quando ministra, não queria saber do assunto. Abnegados funcionários que cuidavam do tema reagiram quando ela foi para a Casa Civil: ninguém quis ir junto.

O atual ministro está atarantado. A ministra do Meio Ambiente vai ficar uns dias sem falar no ocorrido. Estará em Paris, ocupadíssima coma reunião internacional do clima.

Se sentir algum gosto de metal na boca será, por certo, de algum vinho chardonnay oxidado pelo tempo. Nada que altere o gosto do peixe ainda por lá pescado.

A sujeira chegou ao mar do Espírito Santo e ainda há vítimas soterradas na lama de Minas Gerais. O barro vai secar e virar pedra.

Mais um pouco e a resposta será inspirada em Chernobyl: quantas vítimas? Quantas? Não sabemos, impossível responder senhores.

Comunismo e capitalismo juntos, burocracia e ganância de braços dados com o crime.

E aqui ninguém sai nem pede demissão.

Lama, lágrimas e morte: a jornada do fotógrafo no rio Doce

A vida no rio Doce foi toda morta
Benilde, pescador










Regência é um lugar especial para o fotógrafo Leonardo Merçon, de 34 anos. Desde a adolescência, a vila na foz do rio Doce, norte do Espírito Santo, era parada obrigatória para a prática de surfe.

Ali ele conheceu uma comunidade de 300 famílias, entre pescadores, caboclos e descendentes de índios, com uma característica marcante: a preocupação em conservar a natureza.
"É uma população organizada, acostumada a brigar pelo local, que é um santuário ecológico mesmo. Muitos escolheram viver ali", diz Leonardo.


No último final de semana, naquele mesmo local, o fotógrafo acompanhou o momento em que o povoado se tornou vítima do maior acidente ambiental da história do Brasil.

Um dos trechos mais preservados do rio Doce foi tomado pela lama de duas barragens da Samarco (Vale e BHP Billiton), rompidas no último 5 em Mariana (MG). Cerca de 25 mil piscinas olímpicas de rejeitos de mineração se deslocaram – e ainda percorrem – mais de 600 km até a costa capixaba.

"A água verde do rio se misturou com a lama até tudo ficar marrom. Os moradores estavam chocados, tentando ajudar de alguma forma", conta Leonardo, sobre o momento em que a mancha se espalhou por 10 km de praias na foz do rio.

O testemunho em Regência foi a última escala da segunda expedição de Leonardo pelo rio Doce desde o desastre de Mariana.

Acompanhado por dois colegas do Instituto Últimos Refúgios, organização ambiental sem fins lucrativos que fundou em 2011, o fotógrafo acompanhou as consequências da tragédia por diferentes cidades: Governador Valadares, Resplendor, Conselheiro Pena, Aimorés, Baixo Guandu.

Em Governador Valadares (MG), a maior cidade da região, sem água por uma semana em razão do desastre, veio a consciência do tamanho do problema.

"Ali tomamos um susto e vimos que era muito mais feio do que imaginávamos. Começamos a ver milhares de peixes mortos, camarões, caramujos que saíam da água para morrer queimados em pedras quentes, só para não ficar na água. Vimos peixes de 10 kg mortos e moradores desavisados recolhendo tudo para consumo", relata.


Após essa primeira viagem de três dias – "assustadora", na definição de Leonardo – os recursos terminaram e o grupo voltou a Vitória. Mas logo conseguiu doações para pegar a estrada novamente, desta vez para registrar o impacto do deslocamento da lama até a foz do rio.

Para o fotógrafo, foi possível perceber que a lama está descendo o rio em blocos. "Em cada lugar a lama assume uma aparência diferente, o que talvez explique a diferença nas análises de qualidade da água".

Na semana posterior à tragédia, por exemplo, a Prefeitura de Baixo Guandu (ES) apresentou análise da água do rio Doce que apontava concentração elevada de metais pesados, como mercúrio, arsênio e chumbo. Dias depois, outro exame da lama do rio em Valadares apontou metais em limites toleráveis.
Alerta

Independentemente da discussão ainda em aberto sobre a qualidade da água do rio, os danos à natureza, segundo Leonardo, são gigantescos. "As pessoas não têm noção. É mais grave do que possam imaginar."