sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A árvore antiga e as novas lamas

Um velho carvalho com galhos abertos. Parecia uma cruz.

Foi usado na segunda guerra mundial pelos nazistas para enforcar membros da resistência soviética. Dizem também que foi usado pelos estalinistas para matar oficiais acusados de traição.

Uma árvore e tanto, com história de dignidade. A única que sobrou nos arredores da usina de Chernobyl depois do acidente nuclear.

Três anos depois os burocratas de Kiev abriram a região e chamaram correspondentes estrangeiros. Queriam mostrar que o ar havia melhorado nos arredores do sarcófago soterrado por uma montanha de concreto.

Vimos o carvalho, tiramos fotos dele.

Na coletiva com o diretor do complexo, o terceiro depois do acidente, ouvimos respostas inspiradoras.

O reator? Não, não há previsão para sua volta. Moradias? Não, só de passagem, os técnicos vivem em Kiev. Produção agrícola? Não, sem previsões além das experiências com os tomates, cuja casca absorve todos os venenos. Novas equipes permanentes? Não, só temporárias, com salários em dobro.

Quantas vítimas? Silêncio. Quantas? Quantas? Impossível responder senhores. Os bombeiros e voluntários que apagaram o incêndio? Todos mortos. Na verdade ainda faltavam alguns, condenados. As crianças? Sendo tratadas de Moscou a Paris; de Havana a Telavive. Também condenadas na sua maioria.

Em horas de crise os burocratas não sabem responder. Perdem até a noção do ridículo. A Samarco é uma vítima do acidente em Mariana? Bem, quer dizer... Outras barragens podem explodir? Olha, estamos monitorando... Os peixes? Ah, em dois, três anos estarão de volta.


Os burocratas de Mariana, da empresa aos governos, deveriam ser fisgados em anzóis e jogados ao mar, pois no rio Doce não dá mais nada.

De repente, quem sabe, poderiam ser pescados pelo bom senso e pela vergonha, dois itens em falta.

Nos ministros, no governador, nos gerentes, em toda a linha envolvida na catástrofe.
Sempre faltou atenção às minas no Brasil. As energias monopolizaram planos e projetos de governos e ministros brasileiros ao longo do tempo.

A presidente da República, quando ministra, não queria saber do assunto. Abnegados funcionários que cuidavam do tema reagiram quando ela foi para a Casa Civil: ninguém quis ir junto.

O atual ministro está atarantado. A ministra do Meio Ambiente vai ficar uns dias sem falar no ocorrido. Estará em Paris, ocupadíssima coma reunião internacional do clima.

Se sentir algum gosto de metal na boca será, por certo, de algum vinho chardonnay oxidado pelo tempo. Nada que altere o gosto do peixe ainda por lá pescado.

A sujeira chegou ao mar do Espírito Santo e ainda há vítimas soterradas na lama de Minas Gerais. O barro vai secar e virar pedra.

Mais um pouco e a resposta será inspirada em Chernobyl: quantas vítimas? Quantas? Não sabemos, impossível responder senhores.

Comunismo e capitalismo juntos, burocracia e ganância de braços dados com o crime.

E aqui ninguém sai nem pede demissão.

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