segunda-feira, 16 de março de 2015
Planalto informa: 'Saem seis, entra meia dúzia'
Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadezaNelson Rodrigues
Como muita gente foi às ruas, a acuada Dilma soltou os cachorros no Planalto. Miguel Rosseto, da Secretaria-Geral, e José Eduardo Cardozo, da Justiça, foram os porta-vozes da nova mudança do governo debaixo de um panelaço homérico na noite de domingo. Protagonizaram mais um espetáculo hilário de conflitos. Cardozo saiu com mais diálogo; Rosseto, como adestrado petista, viu insultos ao governo, “golpismo” e outras tralhas que detestam ver na mão da democracia e as quais propriedade do PT.
Depois de 12 anos de governo, enfim vão adotar medidas contra a corrupção e a reforma política, uma carta que acena em toda crise como um lençol branco pedindo paz. Os ministros pretenderam empurrar novamente com a barriga, porque o pacote anticorrupção já foi anunciado desde 2013, inspiração de Pai Santana, como a reforma fora do Congresso, e não sai do gabinete. Era projeto de Lula quando se anunciava o líder de um governo ético.
Apesar de quase 2 milhões nas ruas, sem bolsa passeata, em pleno domingo, o governo de Dilma continua a se mostrar vesgo por conveniência e conivência. Como Dilma poderá enxergar que a maracutaia corre solta e toda a base a apoio, inclusive ministros, estão sob o martelo da Justiça?
Empurrar com a barriga crises política, econômica e moral para se sustentar num cargo, fazendo o diabo, é também levar para o buraco um país.
As ruas deram um recado e o Planalto continua se fazendo de surdo com a máscara de sempre. Até quando, as ruas podem dizer.
Voz das ruas subjuga governo
A voz das ruas que se fez presente ontem no país, atingindo seu ponto máximo na passeata contra a corrupção e contra o governo na Avenida Paulista, que reuniu um milhão de pessoas, sem dúvida alguma ecoou como uma forte expressão popular que subjuga a administração federal e, ao mesmo tempo, assegura em sua sequência a punição para os ladrões da Petrobrás que assaltaram a empresa e que não poderão escapar da punição exigida pela opinião publica.
Isso porque as multidões que se concentraram e se deslocaram pelas capitais e principais cidades brasileiras apresentaram uma série de exigências dentre as quais duas se destacaram: a mudança dos rumos políticos da presidente Dilma Rousseff e o julgamento, sem sofismas dos corruptos, corruptores e intermediários da teia gigantesca que imobilizou e saqueou a principal empresa estatal brasileira.
A insatisfação refletida nas avenidas e nas praças significou, ao mesmo tempo, um marco divisor no desenrolar do segundo mandato da presidente da República. Tanto assim que diante dos fatos ela convocou uma reunião ministerial de emergência no Palácio da Alvorada para certamente avaliar os reflexos das monumentais concentrações populares de ontem.
É verdade que Dilma Rousseff havia fixado o encontro 48 horas antes de sua realização. Mas isso não muda o caráter de emergência uma vez que o resultado das passeatas, principalmente a da cidade de São Paulo surpreendeu a todos não só pela presença maciça do povo, mas também pelo entusiasmo das centenas de milhares de manifestantes de todas as classes sociais. A onda popular, de fato, subjugou o poder Executivo e vai obriga-lo a mudar urgentemente de rumo, uma vez que acentuou uma crise que abala os alicerces do próprio governo.
Esse abalo ficou ainda mais nítido porque as manifestações de sexta-feira, que seriam de apoio a Dilma e à Petrobrás, transformaram-se num misto de apoio sereno e de crítica não tão suave às iniciativas do governo através dos projetos elaborados pelo ministro Joaquim Levy, os quais, depois de ontem, só poderão ser aprovados se a presidente da República se dispuser a enfrentar uma onda de revolta social ainda maior do que aquela que percorreu as ruas brasileiras no domingo.
Se a reunião de ontem marcada por ela foi no Palácio da Alvorada, as praças de 15 de março acentuam um alvorecer de pressões que se intensificam e levam o Planalto ao recuo e à impossibilidade de prosseguir nos rumos até agora traçados.
Mal traçados porque as afirmações da presidente da República têm colidido frontalmente com os compromissos da candidata quando buscava as urnas do poder. Contradição profunda e evidente, tão evidente quanto a impossibilidade dela poder harmonizar roteiro econômico colocado por Joaquim Levy com as aspirações da sociedade, a tal ponto que o posicionamento contraditório conseguiu cindir o próprio PT, principal partido da base aliada, hoje da mesma forma que o PMDB, acuado pela força colossal da voz das ruas.
A voz das ruas ressoou tanto que sua manifestação de ontem expandiu-se a várias cidades de diversos países, entre os quais Nova York, Londres, Miami, Sidney e Buenos Aires. Os reflexos de tal dimensionamento tornam-se um fator a mais da perda de domínio da opinião pública pelo sistema partidário. Sobretudo porque não houve nenhum caráter partidário nem na Avenida Atlântica no Rio, nem na Praça da Liberdade em Belo Horizonte tampouco na Avenida Paulista.
Houve, efetivamente a explosão de uma revolta popular pacífica contra a perda de rumo da situação nacional, atingida principalmente pelos assaltantes e ladrões que roubaram bilhões de dólares e reais da Petrobrás, comprometendo a economia e administração do país. O povo cansou de esperar uma afirmação mais forte do governo contra tais assaltos; como elas não vieram até agora passou da reivindicação à exigência legítima na defesa dos interesses nacionais e sociais.
A divergência envolvendo Dilma Rousseff e Luis Inácio da Silva publicada na imprensa na sexta-feira dá bem mostras da desorientação e confusão que paralisam atividades que deveriam ser dinâmicas no sentido do desenvolvimento, mas que estacionaram no porto das contradições.
Pedro do Coutto
Isso porque as multidões que se concentraram e se deslocaram pelas capitais e principais cidades brasileiras apresentaram uma série de exigências dentre as quais duas se destacaram: a mudança dos rumos políticos da presidente Dilma Rousseff e o julgamento, sem sofismas dos corruptos, corruptores e intermediários da teia gigantesca que imobilizou e saqueou a principal empresa estatal brasileira.
A insatisfação refletida nas avenidas e nas praças significou, ao mesmo tempo, um marco divisor no desenrolar do segundo mandato da presidente da República. Tanto assim que diante dos fatos ela convocou uma reunião ministerial de emergência no Palácio da Alvorada para certamente avaliar os reflexos das monumentais concentrações populares de ontem.
É verdade que Dilma Rousseff havia fixado o encontro 48 horas antes de sua realização. Mas isso não muda o caráter de emergência uma vez que o resultado das passeatas, principalmente a da cidade de São Paulo surpreendeu a todos não só pela presença maciça do povo, mas também pelo entusiasmo das centenas de milhares de manifestantes de todas as classes sociais. A onda popular, de fato, subjugou o poder Executivo e vai obriga-lo a mudar urgentemente de rumo, uma vez que acentuou uma crise que abala os alicerces do próprio governo.
Esse abalo ficou ainda mais nítido porque as manifestações de sexta-feira, que seriam de apoio a Dilma e à Petrobrás, transformaram-se num misto de apoio sereno e de crítica não tão suave às iniciativas do governo através dos projetos elaborados pelo ministro Joaquim Levy, os quais, depois de ontem, só poderão ser aprovados se a presidente da República se dispuser a enfrentar uma onda de revolta social ainda maior do que aquela que percorreu as ruas brasileiras no domingo.
Se a reunião de ontem marcada por ela foi no Palácio da Alvorada, as praças de 15 de março acentuam um alvorecer de pressões que se intensificam e levam o Planalto ao recuo e à impossibilidade de prosseguir nos rumos até agora traçados.
Mal traçados porque as afirmações da presidente da República têm colidido frontalmente com os compromissos da candidata quando buscava as urnas do poder. Contradição profunda e evidente, tão evidente quanto a impossibilidade dela poder harmonizar roteiro econômico colocado por Joaquim Levy com as aspirações da sociedade, a tal ponto que o posicionamento contraditório conseguiu cindir o próprio PT, principal partido da base aliada, hoje da mesma forma que o PMDB, acuado pela força colossal da voz das ruas.
A voz das ruas ressoou tanto que sua manifestação de ontem expandiu-se a várias cidades de diversos países, entre os quais Nova York, Londres, Miami, Sidney e Buenos Aires. Os reflexos de tal dimensionamento tornam-se um fator a mais da perda de domínio da opinião pública pelo sistema partidário. Sobretudo porque não houve nenhum caráter partidário nem na Avenida Atlântica no Rio, nem na Praça da Liberdade em Belo Horizonte tampouco na Avenida Paulista.
Houve, efetivamente a explosão de uma revolta popular pacífica contra a perda de rumo da situação nacional, atingida principalmente pelos assaltantes e ladrões que roubaram bilhões de dólares e reais da Petrobrás, comprometendo a economia e administração do país. O povo cansou de esperar uma afirmação mais forte do governo contra tais assaltos; como elas não vieram até agora passou da reivindicação à exigência legítima na defesa dos interesses nacionais e sociais.
A divergência envolvendo Dilma Rousseff e Luis Inácio da Silva publicada na imprensa na sexta-feira dá bem mostras da desorientação e confusão que paralisam atividades que deveriam ser dinâmicas no sentido do desenvolvimento, mas que estacionaram no porto das contradições.
Pedro do Coutto
'O que é isso, cara? Que País é esse?'
Nesse domingo, o povo foi às ruas para mostrar a gente como Duque, que menospreza, sucateia, rouba, assalta o país, devia ter vergonha na cara e não mais tentar de todo jeito se livrar da Justiça com os bolsos cheios. O dinheiro dos pobres alimentou essa canalha para chegar onde chegou apenas para se locupletar. Agora Duque pode pensar bem no país que diz ser seu, mas que não é, o Brasil tem respeito e quer respeito.
É isso, Duque, e muitos outros roedores comissariados, o que as pessoas disseram com todos os cartazes, gritos e apitaços no domingo. Você agora sabe que a coisa vermelha está ficando preta.
E agora, o que acontece?
O Brasil continua apostando maciçamente em seus valores democráticos e em suas melhorias econômicas e sociais, conquistadas com sangue e dor.
O Brasil, diante da surpresa de todos, foi para as ruas em todo o país, em massa, convocado pelo novo poder das redes sociais. As duas cidades símbolo: Brasília, a capital política, e São Paulo, centro nevrálgico do poder econômico e financeiro, deram vida às duas maiores manifestações de sua história.
Nas mais de 200 cidades onde os brasileiros sem outra bandeira além das cores do Brasil, ouviu-se um único grito: “Fora Dilma”, “fora PT”, representado graficamente por um caixão. Junto com esses dois gritos, o de “corrupção nunca mais” e uma defesa clara da democracia.
Milhares de cartazes cheios de criatividade, muitos escritos à mão, revelavam a insatisfação de um país que sente que sua vida piora a cada dia. “Que nos devolvam o Brasil”, rezava outro cartaz e, ao seu lado: “Dilma, a paciência acabou”. Outros destacavam: “Não somos a elite. Não somos de direita. Somos o Brasil”.
É verdade. A idiossincrasia das manifestações, em todas as cidades, desmentiu as aves de mau agouro da véspera. O Brasil os desmentiu redondamente. Diziam que era o país do “caviar”, o dos ricos, o que sairia à rua para exigir a cabeça de Dilma. Não foi. Foi o Brasil plural, foi o Brasil mestiço, o que saiu à rua sem ideologias nem classes. Desfilaram juntas famílias inteiras com seus filhos; casais de namorados de mãos dadas, idosos, muitos jovens e até grávidas felizes. Trabalhadores lado a lado com empresários.
Temia-se que, como em 2013, grupos violentos tentariam abortar as manifestações. Não apareceram. Não houve incidentes. Mais ainda, os brasileiros revelaram o melhor de sua alma: seu espírito festivo, sua criatividade, sua paixão por estar juntos, seu pluralismo e a defesa de um valor que não estão dispostos a renunciar: a democracia.
Foi o Brasil no qual as crianças tiravam fotos com os policiais militares armados até os dentes. Foi o Brasil que às portas do Congresso Nacional, em Brasília, entregavam flores brancas às forças da ordem.Leia mais o artigo de Juan Arias
Silêncio de diva
Aproximadamente 1,8 milhão de pessoas foram às ruas no Brasil, em pleno domingo, o que é um manifesto de respeito em qualquer país, no entanto, a presidente Dilma se enclausurou ainda mais no Planalto e mandou seus cães de guarda latirem para os cidadãos.
O cinismo
Alguém que fala em nome dos trabalhadores num protesto numa sexta à tarde é certamente um cínico. Alguém que é considerado um líder nacional sem que se conheça exatamente a sua atividade é um folgazão. Alguém que é tido como uma voz influente, cujos sequazes invadiram há dias um laboratório, destruindo anos de pesquisa científica, tem absoluta confiança na impunidade.
Reinaldo Jardim
Muda-se a história para ficar bem na foto
Se alguém quiser medir a história brasileira por essa régua petista vai se deparar com um problema: manifestações a favor foram importantíssimas no país e reuniram multidões. Para os petistas, segundo ainda aquele pensamento de burrice, não existiram as manifestações da Diretas Já e as da saída de Collor.
Como sempre, o PT muda a história a seu bel-prazer. Desde que, logicamente, possa aparecer bem na foto.
A culpada
Lições do dia em que o PT perdeu nas ruas
Lição número um do domingo histórico de 15 de março de 2015, quando o Brasil celebrou com maturidade, coragem e alegria os 30 anos do fim da ditadura de 1964 e do início da redemocratização: o PT perdeu o controle das ruas.
De fato começara a perder desde que a corrupção passou a corroê-lo por dentro em 2005 – portanto, há exatos 10 anos –, tão logo o escândalo do mensalão fez o primeiro governo Lula tremer. Não caiu, é verdade. Mas perdeu a pose e nunca mais a recuperou.
Lição número 2 de um domingo histórico: Lula deixou de ser intocável. Em nenhum ato público de grande porte até aqui, manifestantes haviam ousado, em coro e por muito tempo, ofender Lula com palavras de ordem.
Os que tentaram em outras ocasiões não foram bem-sucedidos. Mas ontem foram sim. “Lula cachaceiro, devolve meu dinheiro” foi uma das agressivas palavras de ordem. Estamos longe da cultura nórdica que cobra boa educação a qualquer hora.
Infelizmente é assim e sempre será neste país abençoado por Deus e bonito por natureza. Não foi assim quando Dilma acabou insultada no jogo de abertura da Copa do Mundo, no ano passado? Não devemos nos julgar inferiores por isso.
Quantos países, de pouca experiência democrática como o nosso, seriam capazes de pôr mais de dois milhões de pessoas nas ruas pacificamente? Isso é quase metade da população da Noruega. É sete vezes mais do que a população da Islândia.
Atravessamos apenas 30 anos ininterruptos de Estado Democrático de Direito. A democracia por aqui está mais no papel do que na realidade das pessoas. Temos liberdade. Não temos rede de esgoto. E liberdade sem rede de esgoto não melhora a vida de ninguém.
Agravou-se a situação da presidente Dilma. Ela não pode falar ao país por meio de rede nacional de rádio e de televisão porque seria recepcionada por um panelaço. Não pode circular por aí para não ser vaiada. Muito menos confraternizar com seu povo sem medo.
À crise econômica somou-se a crise política. Roguemos para que disso não resulte uma crise institucional. No momento, Dilma nada tem a dizer aos brasileiros – nada de novo, nada que mude sua situação. E os brasileiros não desejam ouvi-la. Simples.
Como restabelecer o diálogo sem o qual o país entrará em uma das fases mais delicadas de sua história recente? O governo carece de líderes. Os partidos, idem. Por espontâneas e desorganizadas, as manifestações não têm quem as guie. E não admitem ser guiadas.
A solução não está no impeachment. Presidente só pode ser deposto se cometer um dos oito crimes de responsabilidades previstos na Constituição. Dilma não cometeu nenhum deles. O que fazer então? Eu não sei. De outras vezes pensei que sabia. Desta, não.
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