A voz das ruas que se fez presente ontem no país, atingindo seu ponto máximo na passeata contra a corrupção e contra o governo na Avenida Paulista, que reuniu um milhão de pessoas, sem dúvida alguma ecoou como uma forte expressão popular que subjuga a administração federal e, ao mesmo tempo, assegura em sua sequência a punição para os ladrões da Petrobrás que assaltaram a empresa e que não poderão escapar da punição exigida pela opinião publica.
Isso porque as multidões que se concentraram e se deslocaram pelas capitais e principais cidades brasileiras apresentaram uma série de exigências dentre as quais duas se destacaram: a mudança dos rumos políticos da presidente Dilma Rousseff e o julgamento, sem sofismas dos corruptos, corruptores e intermediários da teia gigantesca que imobilizou e saqueou a principal empresa estatal brasileira.
A insatisfação refletida nas avenidas e nas praças significou, ao mesmo tempo, um marco divisor no desenrolar do segundo mandato da presidente da República. Tanto assim que diante dos fatos ela convocou uma reunião ministerial de emergência no Palácio da Alvorada para certamente avaliar os reflexos das monumentais concentrações populares de ontem.
É verdade que Dilma Rousseff havia fixado o encontro 48 horas antes de sua realização. Mas isso não muda o caráter de emergência uma vez que o resultado das passeatas, principalmente a da cidade de São Paulo surpreendeu a todos não só pela presença maciça do povo, mas também pelo entusiasmo das centenas de milhares de manifestantes de todas as classes sociais. A onda popular, de fato, subjugou o poder Executivo e vai obriga-lo a mudar urgentemente de rumo, uma vez que acentuou uma crise que abala os alicerces do próprio governo.
Esse abalo ficou ainda mais nítido porque as manifestações de sexta-feira, que seriam de apoio a Dilma e à Petrobrás, transformaram-se num misto de apoio sereno e de crítica não tão suave às iniciativas do governo através dos projetos elaborados pelo ministro Joaquim Levy, os quais, depois de ontem, só poderão ser aprovados se a presidente da República se dispuser a enfrentar uma onda de revolta social ainda maior do que aquela que percorreu as ruas brasileiras no domingo.
Se a reunião de ontem marcada por ela foi no Palácio da Alvorada, as praças de 15 de março acentuam um alvorecer de pressões que se intensificam e levam o Planalto ao recuo e à impossibilidade de prosseguir nos rumos até agora traçados.
Mal traçados porque as afirmações da presidente da República têm colidido frontalmente com os compromissos da candidata quando buscava as urnas do poder. Contradição profunda e evidente, tão evidente quanto a impossibilidade dela poder harmonizar roteiro econômico colocado por Joaquim Levy com as aspirações da sociedade, a tal ponto que o posicionamento contraditório conseguiu cindir o próprio PT, principal partido da base aliada, hoje da mesma forma que o PMDB, acuado pela força colossal da voz das ruas.
A voz das ruas ressoou tanto que sua manifestação de ontem expandiu-se a várias cidades de diversos países, entre os quais Nova York, Londres, Miami, Sidney e Buenos Aires. Os reflexos de tal dimensionamento tornam-se um fator a mais da perda de domínio da opinião pública pelo sistema partidário. Sobretudo porque não houve nenhum caráter partidário nem na Avenida Atlântica no Rio, nem na Praça da Liberdade em Belo Horizonte tampouco na Avenida Paulista.
Houve, efetivamente a explosão de uma revolta popular pacífica contra a perda de rumo da situação nacional, atingida principalmente pelos assaltantes e ladrões que roubaram bilhões de dólares e reais da Petrobrás, comprometendo a economia e administração do país. O povo cansou de esperar uma afirmação mais forte do governo contra tais assaltos; como elas não vieram até agora passou da reivindicação à exigência legítima na defesa dos interesses nacionais e sociais.
A divergência envolvendo Dilma Rousseff e Luis Inácio da Silva publicada na imprensa na sexta-feira dá bem mostras da desorientação e confusão que paralisam atividades que deveriam ser dinâmicas no sentido do desenvolvimento, mas que estacionaram no porto das contradições.
Pedro do Coutto
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