sexta-feira, 21 de julho de 2017

Temer dá mais um tiro no pé

Com popularidade de um dígito e acuado por denúncias de corrupção, o presidente Michel Temer deu-se ao luxo de protagonizar mais um fiasco – o de reunir, ontem, seis ministros, toda a cúpula da segurança pública do governo federal, o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o governador Luiz Fernando Pezão para nada anunciar de concreto a respeito do estado de violência em que vive o Rio de Janeiro.

Poucas horas antes do ato de pura propaganda do governo e de absoluta perda de tempo, a Linha Vermelha, via que liga o centro do Rio a diversos municípios, havia sido interditada pela 15ª vez somente este ano devido a tiroteios nas vizinhanças. E quatro bandidos armados assaltaram pacientes que aguardavam numa fila atendimento à porta do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE), cujo laboratório não funciona.

Não foi por falta de aviso que Temer fez o que fez. Ministros o aconselharam a deixar para outra data o anúncio de socorro ao Rio e o detalhamento do Plano Nacional de Segurança que ainda não saiu do papel. Primeiro porque os militares não estão mais dispostos a serem usados como policiais no patrulhamento de ruas. Segundo porque medidas eficazes de segurança exigem sigilo e não alarde.

Os órgãos de inteligência das Forças Armadas e mais a Polícia Federal já trabalham há mais de um mês no Rio sem que se tenha feito nenhum escarcéu em torno disso porque seria contraproducente. Em breve, algumas operações ostensivas serão deflagradas. Quanto mais segredo se guardar a respeito, menor o risco de vazamento de informações e de insucesso. Temer sabia disso, mas não resistiu a atirar no próprio pé.

Ecologia não é ideologia

Quero aqui discorrer sobre uma falácia. A de que conservacionismo e preservação ambiental são políticas “de esquerda”, ou, ainda, que vão contra o desenvolvimento econômico. Para tanto, demonstrarei que essas são posturas pregadas por radicais ou oportunistas, que, normalmente, ganham mais visibilidade em tempos de crise econômica e política, como a que vivemos.

Temos visto uma crescente polarização entre grupos políticos nos últimos anos no Brasil. De um lado, egrégios do partido que estava no poder, chamados “mortadelas”, advindos de partidos que se assumem alinhados a ideologias socialistas. De outro, os “coxinhas”, ou liberais de direita. Essa simplificação das partes, todavia, não reflete a realidade partidária brasileira, nem de quem foi às ruas clamar por mudança.

Já diziam os orientais que o segredo está no equilíbrio, mas essas pessoas não parecem interessadas na parcimônia. Os radicais são movidos por paixões e demonstram-se ardentes por mudanças, todavia, entram em relacionamentos amorosos com seus líderes messiânicos (populistas), que, com promessas fantásticas, dizem que resolverão todos os problemas num passe de mágica. Na verdade, os extremados não agem como cidadãos sensatos, mas como torcidas organizadas, vibrando como se estivessem numa final de Copa do Mundo que jamais chega ao fim.

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Nesse triste contexto “terceiro mundista” do qual tentamos escapar, precisamos estar atentos aos construtores de mitos personificados por lobbies, entidades de classe ou marqueteiros que, em muitos casos, são propagadores de ódio e de discursos radicais. Congressistas de “direita e esquerda” tentam aprovar um abrupto retrocesso na conservação da biodiversidade no Brasil. Projetos de lei que propõem a supressão de áreas protegidas, como o PL que prevê a redução da APA da Escarpa Devoniana no Paraná, do Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, ou de áreas indígenas, na Amazônia, ganharam força na atual gestão.

Infelizmente, falar desse tema num país onde a falta de saúde, educação e segurança pioraram substancialmente nos últimos 13 anos é complicado, mas devemos observar que a destruição do meio ambiente agravou ainda mais essas mazelas.

A saúde, por exemplo, é sobremaneira atingida pelos efeitos maléficos do desmatamento, poluição, contaminação por agrotóxicos, desastres naturais, etc. Recentes estudos da Universidade de Yale, aliás, apontam que há total relação entre os surtos de doenças, como a febre amarela e outras transmitidas pelo Aedes Egypti, com a devastação ambiental.

Questões relativas ao meio ambiente também permeiam a educação e a segurança pública. A migração do campo para a cidade sobrecarregou a infraestrutura dos grandes centros, tornando ainda mais custosos e difíceis as readequações dos serviços públicos que já possuíam qualidade sofrível décadas atrás.

Enquanto isso, no “mundo encantado de Brasília”, a desclassificada classe política (de todas as siglas) manipula leis e estigmatiza adversários de acordo com suas intenções negociais. Meio ambiente e conservação para essa gente são apenas meios para se chegar a fins puramente econômicos ou eleitoreiros.

Para a maioria dos senhores eleitos, problemas ambientais de médio ou longo prazos são absolutamente irrelevantes e quem pensa nisso é “gente de esquerda” ou “pessoas que querem atrapalhar o progresso”. 

Não se trata disso. Ecologia e meio ambiente não tem nada haver com ideologia. A Ecologia é um ramo da ciência que estuda o meio ambiente e sua interação com os seres vivos, e como ciência, deve ser técnica e desprovida de paixões. Meio ambiente e ecologia, portanto, estão para o socialismo, assim como a astronomia está para o liberalismo. Não há nenhuma relação direta entre elas. Conservar e cumprir as leis ambientais deve ser uma obrigação comum a todos, pois está “cientificamente comprovado” que nem Marx nem Misses sobreviveriam ao desastre de Mariana, por exemplo.

Como empresário e ambientalista, deparo-me com colegas da área empresarial com posturas radicais quando o tema é meio ambiente. No fundo, o que mais lhes desagrada são os custos de ter de cumprir as leis ambientais. Assim como no Brasil ser “dedo-duro” é visto com demérito, exigir que se cumpram leis ambientais, dizem, é “coisa de ecochatos”.

Da mesma forma que a apropriação do discurso conservacionista por alas ditas progressistas é tática de manipulação barata, o propósito do desdém aos ecologistas e desprezo pelas leis ambientais, nada mais é do que uma tentativa de distorção do discurso que visa preservar interesses individuais. A estigmatização da ecologia e dos conservacionistas serve apenas aos radicais e oportunistas de plantão.

Giem Guimarães

Gente fora do mapa

raça humana
Ken Thorne  

Planalto emprega 10 vezes mais que a Casa Branca

A Presidência da República tem mais de 3,8 mil assessores, sem contar órgãos vinculados, segundo o Siape, o sistema oficial de gestão dos recursos humanos. Residência e local de trabalho do presidente americano, a Casa Branca dispõe de um contingente de pessoal dez vezes menor: são apenas 377 pessoas para ajudar Donald Trump a administrar o maior orçamento do planeta, de US$4,4 trilhões (R$13,9 trilhões). O orçamento do Brasil é quatro vezes menor: R$3,5 trilhões.

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Trump tem 83 assessores a menos que os 460 de Barack Obama. Só essa redução faz a Casa Branca economizar US$5,1 milhões ao ano.

O presidente dos EUA mora e trabalha no mesmo local. No Brasil, tem dois palácios, Planalto e Alvorada, além da espaçosa Granja do Torto.

Não estão incluídos, entre os 3,8 mil servidores do Planalto, aqueles de órgãos como Vice-Presidência, secretarias, Abin, agências, AGU etc.

Os EUA, com 120 milhões de habitantes a mais que o Brasil, têm 78 deputados federais a menos. E 19 senadores a mais que os nossos 81.

O Rio de Janeiro solou

Sabem quando fazemos, com todo carinho, um bolo para as crianças comerem na hora que chegam da escola com muita fome? E, na hora H, ao cortar o bolo, vemos que solou?

Pois é essa a sensação que tenho com o Rio. Está solado, deixou de ser aquele bolo delicioso que tanta alegria nos dava.

O Rio solou porque não respeitamos as regras elementares, sobretudo a que se refere aos ingredientes: não são de boa qualidade, estão com a validade vencida, e ficaram na prateleira do congelador por muito tempo...

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A cidade assim solada, triste, assustada, afasta os seus e não apetece aos turistas.

As notícias (recentes) são apavorantes: na fila do Instituto de Diabetes e Endocrinologia, no centro da cidade, ontem à tarde, os pacientes que aguardavam o acesso em fila, foram assaltados por quatro bandidos que levaram o que puderam; na Linha Vermelha, no início da noite de ontem, tiroteios e muita confusão, como tem sido hábito. A via, uma das mais importantes para o acesso à cidade, foi parcialmente interditada para que a Polícia Militar pudesse prender um traficante conhecido como 'Charlinho'. Ele escapou, há boato de que foi baleado, estão fazendo buscas em hospitais para ver se o encontram; mais cedo, na mesma região, houve intenso tiroteio entre o bando do tal 'Charlinho' e policiais da 59ª delegacia, a ponto da população achar que a delegacia estava sendo atacada, segundo os delegados. Não estava. Tudo não passava de uma das batalhas diárias entre a Polícia e os traficantes; anteontem, o tiroteio na mesma Linha Vermelha obrigou os motoristas a se abrigarem no 22º BPM (Maré). Os que buscaram abrigo estavam muito assustados, ainda mais quando a energia foi cortada e o batalhão ficou às escuras. Dá para sentir o medo das pessoas: idosos, crianças, adultos, no escuro e ouvindo um forte tiroteio; na noite de anteontem um homem morreu com um tiro no rosto na Avenida das Américas, numa tentativa de assalto; um serviço essencial para a cidade pode parar a qualquer momento: a empresa terceirizada que opera a central telefônica que atende ao pedido de ambulâncias (SAMU) pode parar por falta de dinheiro. É isso mesmo, a dívida do governo do Estado com eles já está em mais de R$10 milhões. São vencimentos atrasados desde dezembro de 2016!

Tudo isso mexe conosco de modo muito negativo. Estamos sempre com o coração na mão, preocupados com os nossos. No que se refere às crianças, então, a situação é mais grave. A UNICEF, reunida em Genebra, atesta que escolares do Rio estão sob grande risco de não desenvolverem integralmente o seu potencial. De acordo com a UNICEF, “estudos mostram que interrupções repetidas em ambientes de violência afetam negativamente a habilidade das crianças de se concentrarem e aprenderem sem medo. Precisar buscar abrigo e esconderijo e até testemunhar episódios de violência têm um grande impacto psicossocial nas crianças e várias relatam sofrerem de síndromes de estresse, como pesadelos e crises de ansiedade. Crescer em um ambiente com frequentes episódios de violência armada também pode fazer com que as crianças percebam a violência como o procedimento normal na resolução de conflitos”.

Na antessala do horror em que nos transformaram, o bolo definitivamente solou.

Temer tirou o sofá da sala

A anedota é antiga. Ao chegar do trabalho, o sujeito abre a porta de casa e encontra a mulher (ou o marido) com o vizinho no sofá. No dia seguinte, resolve tomar uma providência: tira o sofá da sala. O governo lembrou a piada ao comprar um misturador de vozes para o Planalto. A geringonça, instalada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), emite um sinal que impede a captação do som ambiente. O objetivo é evitar que o presidente volte a ser alvo de gravadores indiscretos.


Temer já caiu duas vezes no grampo. No ano passado, o autor foi um ministro que se dizia pressionado a favorecer um colega. O presidente era suspeito, mas fez pose de vítima. “É uma indignidade absoluta alguém meter um gravador no bolso para gravar outrem”, esbravejou.

Em março, ele foi fisgado pelo gravador do empresário Joesley Batista. A fita deu origem à primeira denúncia criminal contra um presidente no cargo desde a proclamação da República.

O uso do aparelho antigrampo contraria o discurso do presidente. Em novembro, ele disse que mandaria o GSI gravar suas conversas.

Chegou a definir a medida como uma “depuração dos costumes”. “Talvez desse limão nós façamos uma limonada institucional, fazendo com que as audiências do presidente sejam todas gravadas”, declarou.

Se a ideia fosse para valer, os historiadores do futuro saberiam o que Temer prometeu aos deputados que o visitaram antes de votar na Comissão de Constituição de Justiça.

O GSI existe para garantir a segurança da Presidência, não para encobrir as práticas de quem ocupa o cargo. Se Temer quer evitar novas gravações constrangedoras, bastaria não dizer nada que possa ser usado contra ele na Justiça. Apelar ao misturador de vozes é o mesmo que tirar o sofá da sala —ou do gabinete.

Paisagem brasileira

Beira de rio (1905), Antônio Parreiras

Lula e bandidos à solta, tudo a ver

Se você ainda não ouviu falar em desencarceramento, prepare seus olhos, ouvidos, nariz e garganta para o que vem por aí.

Nada disso é recente, tudo está entre as causas da nossa insegurança e precisa de Lula em liberdade para que o processo se complete. Lula atrás das grades sinaliza o capítulo final de uma era na política brasileira, encerrando muitas carreiras, idéias e militâncias impulsionadas pela energia que dele emanava.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Desencarcerar? Soltar presos? Polícia prende, justiça solta? Agenda pelo desencarceramento? Que diabos é isso? Os promotores de Justiça do MP/RS, Diego Pessi e Leonardo Giardin de Souza, abriram a janela sobre o tema. Ambos são autores do livro “Bandidolatria e Democídio, ensaio sobre garantismo penal e criminalidade no Brasil”. Em recente artigo, chamam a atenção para a existência de uma tal “Rede Justiça Criminal, ente fantasmagórico que diz reunir oito ONGs preocupadas com o sistema criminal brasileiro (prisaonaoejustica.org). Dentre as reivindicações da abnegada militância, destaca-se a inarredável proibição de prender, pois cadeias superlotadas geram “mais violência”, sendo necessário apostar em mecanismos que dificultem a prisão ou induzam a soltura de criminosos”. Tudo que você quer, não é mesmo, leitor?

Em novembro de 2013, essa rede criou uma Agenda pelo Desencarceramento. Seus autores consideram “chegada a hora de reverter a histórica violência do país contra as pessoas mais pobres e, com seriedade, fortalecer a construção de um caminho voltado ao horizonte de uma sociedade sem opressões e sem cárceres”. Para isso, pontuam as seguintes metas:
• suspensão de qualquer investimento em construção de novas unidades prisionais;• restrição máxima das prisões cautelares, redução de penas e descriminalização de condutas, em especial aquelas relacionadas à política de drogas;• ampliação das garantias da execução penal e abertura do cárcere para a sociedade;• vedação absoluta da privatização do sistema prisional;– Combate à tortura, desmilitarização das polícias e da gestão pública.
Enquanto os brasileiros convivem com níveis de violência e insegurança superiores aos de regiões em guerra, influentes organizações assombram a sociedade com tais propostas. Por quê? Marxismo em grau máximo.

Para ideologias coletivistas, o indivíduo é um anacoluto, uma inconsistência na gramática marxista, onde somente o coletivo tem importância. O indivíduo é descartável por ser portador de interesses conflitantes com os do coletivo onde deveria estar inserido. Por isso, a Sibéria, os gulags, as clínicas psiquiátricas. Por isso, para a turma do desencarceramento, violência não é praticada por quem está nas ruas roubando, matando, estuprando, apavorando a sociedade; violenta é a sociedade que encarcera aqueles a quem, antes, “excluiu”. O criminoso seria produto geneticamente inevitável dessa sociedade que só será curada pelo mergulho no socialismo (é assim que eles chamam o comunismo). De modo simétrico, está tudo na Teologia da Libertação, absolvendo, o pecado individual em nome de um impessoal e coletivo pecado social que só se redime com os “oprimidos, conscientizados, lutando por sua libertação”.

Cansei de escrever e dizer que era exatamente isso que estava por trás da leniência da legislação, da falta de investimentos no sistema prisional, da inoperância do Fundo Penitenciário Nacional; que era exatamente isso que promovia a superlotação e a gritaria dos militantes de direitos humanos ante o desejado produto de sua estratégia: solta todo mundo que assim não dá.

Agora, tanto o método quanto a finalidade estão muito claros, com agenda redigida por seus articuladores, que, obviamente, permanecem à sombra de suas ONGs. Durante 13 anos de governo petista, essa estratégia foi determinante da crise que nos levou à condição de 11° país mais inseguro do mundo, com o maior número de homicídios e 19 das 50 cidades mais violentas do planeta. Por enquanto. O fim da era Lula é o fim desse macabro programa.

Percival Puggina

Saudades da Lava-Jato

Seria maravilhoso se, ao fim da Lava-Jato, nos fosse dado um Brasil livre de políticos corruptos — pelo menos até o surgimento dos novos corruptos — com os condenados presos e falidos, sob o império da lei.

Só que não. Ou alguém acredita que o Senado, com mais da metade de seus membros investigados ou réus em vários processos (alguns têm 13, como Renan Calheiros, ou nove, como Aécio Neves ), não vai votar leis que facilitem o objetivo coletivo de escapar da cadeia e não devolver o roubado? E a Câmara, que tem um terço dos seus integrantes acusados dos mais diversos crimes, vai votar contra o seu espírito corporativista?

O bom é que os partidos podem acabar, como na Itália depois da Operação Mãos Limpas, quando tiveram que mudar de nome e fazer novas alianças. Aqui o PMDB, PSDB, PT, PP, PR, PTB não farão falta, mas o que virá depois deles? Uma remota chance de novas ideias e práticas? Na Itália, políticos investigados dos novos partidos de esquerda, direita e centro se juntaram para aprovar leis que anistiavam ou minimizavam seus crimes. Quem conhece o Brasil sabe que aqui não vai ser muito diferente.

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A Lava-Jato vai passar, mas o seu espírito vai ficar na memória nacional como um tempo em que o Ministério Público, a Polícia Federal e os juízes de primeira instância deram todo o seu esforço e competência para proteger o Estado e a democracia, perseguindo e punindo os que afrontam a lei e a Justiça, estabelecendo uma nova mentalidade em que a lei é mesmo para todos, sem exceções.

O que mais vou ter saudades é da alegria esfuziante que me invadia, e a milhões de brasileiros, ao receber a notícia, ou melhor, ver ao vivo, gente como Eduardo Cunha, Marcelo Odebrecht, Sérgio Cabral, Zé Dirceu, Palocci, Eike Batista, presos como qualquer ladrão de galinhas. Era como comemorar um gol de placa do Brasil.

Pena que a maioria vai escapar. Unidos, eles enfrentarão a opinião pública e os meios de comunicação para se proteger, pagarão os piores micos, se submeterão aos mais constrangedores vexames, mas no final escaparão e formarão novas alianças “por um país mais justo e solidário”.

Nelson Motta

Humanidade já gerou 8,3 bilhões de toneladas de plástico

Desde que começou a produção em massa de plásticos, nos anos cinquenta, os humanos geraram 8,3 bilhões de toneladas métricas do material. Dessa quantidade enorme, apenas 9% são reciclados. A grande maioria acaba sem tratamento nos aterros sanitários ou no meio ambiente. Segundo um novo estudo sobre a produção desse material sintético, seu uso e destino final, se continuarmos nesse ritmo, em 2050 haverá mais de 12 bilhões de toneladas de resíduos plásticos.

Apesar de alguns plásticos já existirem no início do século XX, a produção em massa não começou até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando deixou de ser algo quase reservado para os militares. Fruto de reações químicas (polimerização) de compostos orgânicos obtidos em sua maioria do petróleo, o plástico é uma das grandes criações da humanidade. Depois do aço e do cimento, é o produto de origem não natural mais presente na civilização. Mas suas virtudes o transformam em problema quando seu ciclo de vida útil termina.

Charge Poluição Lixo no Mar

“A maioria dos plásticos não é biodegradável, portanto os resíduos plásticos que estamos gerando nos acompanharão por séculos e até milênios”, diz a pesquisadora da Universidade da Geórgia, Jenna Jambeck. Em 2015, Jambeck e um grupo de colegas estimava que todo ano chegavam aos mares do planeta cerca de oito toneladas de plásticos. Agora, com colegas da Universidade da Califórnia em Santa Barbara e a Associação para a Educação Marina (SEA), Jambeck foi além, calculando quanto plástico geraram os humanos em sua curta história e onde tudo isso foi parar.

A pesquisa, publicada na revista Science Advances, começa no ano 1950, quando o número de dois milhões de toneladas de plástico produzidas foi ultrapassado. Em 2015, últimos dados disponíveis, essa quantidade aumentou para 380 milhões de toneladas. Acumulados todos esses anos, os humanos criaram 8,3 bilhões de toneladas. A maior parte são resinas à base de monômeros como o etileno e o propileno. Cerca de 2 bilhões de toneladas são fibras, destacando o poliéster, o acrílico e as poliamidas sintéticas. Os 500 milhões restantes são aditivos para dar as características desejadas a cada produto feito de plástico.

Apesar de parecer que a consciência ambiental e o surgimento de novos materiais estavam deixando o plástico para trás, os dados dizem exatamente o contrário: a metade dos plásticos produzidos desde 1950 foram fabricados na última década. Outro dado revelado pelo estudo é a nova geopolítica do plástico. No início, tanto sua produção como seu uso eram algo quase exclusivo dos Estados Unidos, aos quais aos poucos se uniriam os países europeus. Hoje, no entanto, apesar de os dois continuarem sendo os principais consumidores de plástico, o maior produtor é a China. As fábricas chinesas produzem um terço de todas as resinas e quase 70% das fibras.

O estudo também analisa onde tanto plástico foi parar. Todo ano entram novos plásticos no circuito e os velhos saem. Isso faz com que haja em uso cerca de 2,5 bilhões de toneladas, a maioria na construção, onde são usados materiais plásticos de longa vida. O restante – bolsas, roupas, embalagens – em sua maioria acaba no lixo e, em médio e longo prazo, nas terras e mares do planeta.

Nos anos oitenta começou-se a reciclar o plástico. Mas não parece ter funcionado. Apenas 9% dos resíduos plásticos são reciclados. Além disso, os plásticos reciclados, que não têm a qualidade dos originais, poucas vezes são reciclados pela terceira ou quarta vez. Então a reciclagem só atrasa sua chegada ao lixão. Outros 12% de lixo plástico são eliminados pela incineração. Apesar de a quantidade de plásticos decompostos por pirólise (mais eficiente e ecológica) estar aumentando, a grande maioria desses plásticos são queimados sem mais. Por região geográfica, europeus (30%) e chineses (25%) são os que mais reciclam e também os que mais queimam, 40% e 30%, respectivamente. No outro extremo estão os Estados Unidos. Com um índice de incineração de 16%, reciclam apenas 9% do plástico que usam. Os outros 75% são jogados fora e pronto.

“Há regiões em que o plástico é indispensável, especialmente nos produtos feitos para durar”, comenta a pesquisadora do SEA e coautora do estudo, Kara Lavender. “Mas acho que precisamos refletir sobre nosso uso amplo dos plásticos e nos perguntar quando usar esses materiais faz ou não sentido”, acrescenta. Sem essa reflexão, a projeção feita pelos pesquisadores é a de que, em 2050, os humanos terão produzido mais de 34.000 toneladas de plástico e pelo menos um terço acabará no lixão ou pior ainda.