A obsolescência programada, estratégia em que fabricantes limitam deliberadamente a vida útil de produtos para impulsionar o consumo, é uma questão complexa e multifacetada, essa prática tem suas raízes no início do século XX, quando as empresas perceberam que podiam aumentar suas vendas limitando a vida útil dos seus produtos, analisando as teorias estratégias que impulsionaram esse fenômeno, é possível entender como a busca incessante pelo lucro moldou esse modelo econômico perverso. Vários países e entidades internacionais, buscam um aparato jurídico para enfrentamento da obsolescência programada evidenciando a complexidade do problema, enquanto alguns Estados estão na vanguarda dessa discussão, adotando medidas rigorosas, como a França que criou a lei de transição energética, outros países ainda carecem de regulamentações específicas, a análise de tratados internacionais e as propostas de padronização legal são cruciais para o enfrentamento dessa questão, compreender como diferentes nações buscaram soluções e unificar essas abordagens é fundamental para resolução definitiva desse problema.
Investigações revelarem que a obsolescência programada impulsiona artificialmente um ciclo econômico de produção e contribui para o consumo excessivo, estudos de casos indicam que, em média, os consumidores substituem smartphones, laptops e outros dispositivos a cada dois anos, quando, na verdade, se a vida útil do produto fosse maior, seja pela qualidade e durabilidade ou pela atualização regular do seu software, os consumidores não comprariam novos equipamentos, mantendo os que possuem em média quatro anos, gerando um impacto significativo nos lucros, por isso a indução artificial para diminuir a vida útil dos produtos.
Analisar os custos diretos e indiretos para consumidores e governos é essencial. Dados do Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC, apontam que, em países como o Brasil, os consumidores gastam bilhões de reais anualmente substituindo produtos eletrônicos que se tornaram obsoletos, ao mesmo tempo, os custos associados à gestão de resíduos eletrônicos sobrecarregam os cofres públicos e pressionam enormemente a natureza. O aumento exponencial de resíduos eletrônicos é um dos efeitos mais evidentes da obsolescência programada, estatísticas da União Europeia revelam que, em 2023, mais de 12 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos foram geradas globalmente, uma análise aprofundada desses números destaca a urgência de abordagens sustentáveis e de uma força tarefa mundial contra essa forma de rapinagem da indústria de eletroeletrônicos.
Além dos resíduos, a produção e descarte rápidos de produtos eletrônicos contribuem para as emissões de carbono, estudos científicos indicam que a pegada ambiental associada à obsolescência programada é substancial, exigindo estratégias mais eficazes para reduzir os impactos climáticos, a imposição de um padrão de consumo desenfreado tem implicações diretas na qualidade de vida dos consumidores, a análise de pesquisas psicológicas e sociológicas destacam como a cultura do consumismo, alimentada pela indústria eletrônica, impacta negativamente a psique das pessoas e afeta também o bem-estar financeiro dos indivíduos. A rápida obsolescência dos dispositivos aprofunda as desigualdades sociais, estudos socioeconômicos indicam que grupos de baixa renda enfrentam maiores dificuldades para acompanhar as demandas tecnológicas, além do crescente endividamento, a luta por estar sempre atrás da tecnologia funcional do momento será indelevelmente perdida pelos hipossuficientes, exacerbando ao final as disparidades digitais entre as classes sociais, gerando mais um abismo entre os que tem acesso ao mundo digital e quem ficará preterido.
Explorar alternativas sustentáveis é fundamental para mitigar os impactos da obsolescência programada, a promoção de produtos modulares e a adoção de princípios de economia circular oferecem caminhos viáveis, estudos de casos, como a implementação dessas práticas em países europeus, fornecem avanços enormes. Produtos modulares são dispositivos ou sistemas compostos por módulos independentes, interconectados de maneira padronizada, que podem ser facilmente substituídos, atualizados ou reparados de forma individual, essa abordagem contrasta com o design tradicional de produtos, nos quais os componentes são integrados de maneira mais permanente e complexa.
A ideia por trás dos produtos modulares é promover a sustentabilidade, a eficiência e a longevidade, proporcionando aos consumidores a capacidade de adaptar, personalizar e manter seus dispositivos ao longo do tempo, cada módulo desempenha uma função específica e pode ser retirado e substituído independentemente dos outros, o que facilita o reparo e a atualização. Várias categorias de produtos podem seguir o conceito modular, como smartphones, laptops, eletrodomésticos, carros e até mesmo edificações. Alguns exemplos práticos incluem:
1. Smartphones Modulares: Permitem que os usuários troquem módulos, como a câmera, bateria ou processador, sem a necessidade de substituir o dispositivo inteiro;
2. Laptops Modulares: Possibilitam a substituição ou atualização de componentes como memória RAM, armazenamento, bateria e tela, oferecendo maior flexibilidade e prolongando a vida útil do computador;
3. Eletrodomésticos Modulares: Geladeiras, máquinas de lavar, micro-ondas, máquinas de secar pratos e roupas, podem ser projetados com módulos independentes para facilitar a manutenção e reparo, durando por muito tempo e se modelando a novas necessidades;
4. Carros Modulares: Algumas empresas automotivas exploram o conceito de carros modulares, nos quais os componentes principais, como motor, bateria e sistema de entretenimento, teriam módulos independentes e substituíveis, elevando a qualidade e vida útil do veículo.
Ao permitir a substituição de partes individuais, os produtos modulares reduzem o desperdício eletrônico e contribuem para uma abordagem mais sustentável, a capacidade de atualizar ou substituir apenas partes específicas reduz a necessidade de produzir novos dispositivos completos, economizando recursos naturais preciosos, com a possibilidade de trocar módulos defeituosos ou obsoletos, a manutenção e o reparo tornam-se mais acessíveis, simples e econômicos, os usuários podem adaptar os produtos às suas necessidades, escolhendo módulos que atendam às suas preferências ou exigências específicas. Embora os produtos modulares ofereçam benefícios significativos, a implementação generalizada enfrenta desafios, principalmente pela visão predatória do mercado que não pretende prescindir fácil dos lucros imediatos apesar de todo impacto ecológico e econômico que criam, no entanto, o crescente interesse na sustentabilidade e na economia circular está impulsionando a exploração e adoção dessa abordagem inovadora em várias indústrias.
A análise de políticas de incentivo e regulamentações é crucial para a promoção de práticas sustentáveis, examinar como diferentes países abordam questões como a rotulagem de durabilidade e a facilitação da reparabilidade destaca estratégias eficazes e lições aprendidas que deve ser socializada como um verdadeiro manual de boas práticas para indústria eletroeletrônica. Como vimos, a rápida sucessão de produtos descartáveis alimenta não apenas um ciclo vicioso de consumo, mas também uma crescente montanha de resíduos eletrônicos, constituindo um crime ambiental de larga escala, a exploração da mão de obra e a desigualdade socioeconômica, muitas vezes associadas à produção em massa, merecem uma análise mais profunda, evidenciando as falhas éticas e sociais inerentes a esse modelo.
Ao mesmo tempo, que a obsolescência programada, cria uma cultura de consumo descontrolado, pode ser considerada um atentado contra a qualidade de vida dos consumidores, o ciclo interminável de compra e descarte não apenas sobrecarrega os orçamentos familiares, mas também gera um impacto psicológico significativo principalmente nos mais jovens, contribuindo para níveis crescentes de ansiedade e estresse, é crucial, porém desafiador, eliminar esse modelo de produção/consumo da nossa sociedade. O capitalismo, baseado na busca incessante pelo lucro, encoraja práticas que priorizam ganhos imediatos em detrimento de considerações ambientais e sociais a longo prazo, esta crítica é uma chamada à reflexão sobre como podemos superar esse modelo em prol da nossa sociedade e do ambientalismo.
A transição para um modelo mais sustentável requer não apenas mudanças nas práticas das empresas, mas também uma reavaliação coletiva de valores e prioridades de todos e de cada um de nós, incentivar a inovação, regulamentar de maneira mais eficaz e promover uma conscientização global sobre as consequências nefastas da obsolescência programada são passos iniciais, porém cruciais. O desafio é transformar essa crítica em ações concretas que possam remodelar a maneira como produzimos, consumimos e interagimos com a tecnologia, somente mediante uma abordagem multidimensional e colaborativa podemos aspirar a um futuro em que a sustentabilidade prevaleça sobre a busca desenfreada pelo lucro, mitigando os danos causados pela programação artificial do que será o lixo sem que necessário precisasse ser, e promovendo um equilíbrio mais justo entre sociedade, economia e meio ambiente.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
Camões 500
Não, mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Luís de Camões, “ Lusíadas”
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Luís de Camões, “ Lusíadas”
Por que o Brasil é recordista de vício no BBB?
"Por que as pessoas no Brasil gostam tanto de Big Brother ? Todos os meus amigos, pessoas progressistas, máquinas. Todo mundo assiste. Nunca vi algo assim." A pergunta foi feita por um amigo alemão que também tem muitos amigos no Brasil durante o BBB 21 , que foi exibido no auge da pandemia e virou uma febre nacional. E sucesso de lucro para a Globo, claro.
A pandemia acabou, mas meu amigo continua com razão. Sim, a realidade é um sucesso entre todas as camadas da população. No momento, quando você entra nas redes sociais, tem a impressão de que "só se fala disso".
O sucesso do reality no Brasil é um “case” mundial. Mais pessoas veem o programa no país do que em qualquer outro lugar do mundo.
Os números mostram isso. A diferença de audiência entre o reality da Globo e suas versões fora do mundo é gigantesca. A título de comparação: a estreia do BBB 24 foi vista por 39,1 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, a estreia do BB 25, exibida no ano passado, atingiu (apenas) 3,4 milhões de telespectadores.
No Brasil, 51 milhões de pessoas assistiram à final do BBB 21, o programa com maior audiência dos últimos anos. Enquanto isso, nos EUA, o recorde, registrado no BB1, é de “apenas” nove milhões.
Aqui, na Alemanha, um "sucesso" de audiência foi comemorado na estreia do Promi Big Brother (Big Brother celebridades), quando mais de 1,7 milhão de pessoas assistiram à abertura do reality. Em geral, a mídia de audiência do programa fica abaixo de 1 milhão. Ou seja, o Brasil é o campeão do mesmo vício.
Acho que existem muitas razões para que o programa ainda faça tanto sucesso no Brasil. Uma delas é o escapismo. A vida não é fácil. Vou dormir pensando em quem deve sair no "paredão" ou em problemas de outras pessoas que não ganharam o "anjo", por mais ridículo que seja, pode ser bem mais confortável do que ir dormir encarando a própria vida.
Sei como é, também já fui meio viciada no BBB . E, claro, como boa adicta, assistia e usava o Twitter (atual X) ao mesmo tempo. Desde que as redes sociais existem, elas fazem parte da experiência antropológica de ver o BBB. Adoramos comentar. Adoramos ter opinião. E, em muitos casos, os fãs viram “hooligans” . Sim, existe briga séria por causa do BBB . É difícil imaginar o programa hoje sem as redes sociais, onde nós, brasileiros, também colecionamos registros de engajamento.
É difícil não ceder à tentação. Em parte, porque a direção do programa brasileiro costuma ser muito competente (para o bem e para o mal) e sabe muito bem como fisgar a audiência. Desde 2020, por exemplo, o programa reúne anônimos e famosos, o que amplia o interesse e as fofocas.
Outra técnica usada pela produção do programa é escolher participantes que geram raiva e com potencial para escândalos. Ano após ano, a produção recruta homofóbicos , machistas e outros tipos que geram ódio. A nossa revolta faz a Globo lucrar. Mas é difícil ficar quieta quando uma mulher é agredida e/ou insultada na TV.
No momento, as mulheres do Brasil estão revoltadas com o pagodeiro Rodriguinho, que fez sucesso nos anos 90 com o grupo Os Travessos . Motivo: em pouco mais de uma semana desde a estreia da nova temporada, ele já fez comentários machistas, etaristas e misóginos. Explico: o cantor disse que o corpo da modelo e inspirou Yasmin Brunet "já foi melhor" e que ela está "mais velha" (sic).
"Ela tá mais velha e largou mão", disse, além de falar que ela estava comendo demais no programa.
A revolta com ele é justa. É lucrativo para a Globo, que ano que vem deve recrutar mais machistas para integrarem o elenco, já que a fórmula funciona.
Enquanto muitos se indignam, outros gostam e se identificam com os machistas e homofóbicos que sempre estão lá, formando uma espécie de "elenco fixo", já que os personagens mudam, mas as ideias continuam sempre presentes no programa.
Sim, vamos aceitar a realidade. Muitos gostam de ver um homem, por exemplo, julgando o corpo de uma mulher de maneira podre, já que eles mesmo fazem isso. O machismo exibido no programa em todas as temporadas é o mesmo praticado por pessoas comuns, infelizmente.
Será que vale a pena assistir e passar essa raiva? Não houve raiva o suficiente na vida real? Ora, já lidamos com machismo, por exemplo, quase todos os dias. Isso é rotina. Para que assistir isso de novo na hora de lazer? Essa é uma boa maneira de relaxar? Acho que não. Mas entendo, é muito difícil resistir. Da Alemanha, sem acesso à Globo, eu mesma não resisto e "assisto" a muitas cenas pelo Twitter (hoje X). E passo raiva, claro.
Vale a pena? Certamente não. Existem milhares de coisas melhores para fazer com o seu tempo, como "desligar a televisão e ir ler um livro" (como dizia uma antiga vinheta da MTV), ir para a academia, dar uma volta. A droga é poderosa. Vicia mesmo. Mas tente resistir.
A pandemia acabou, mas meu amigo continua com razão. Sim, a realidade é um sucesso entre todas as camadas da população. No momento, quando você entra nas redes sociais, tem a impressão de que "só se fala disso".
O sucesso do reality no Brasil é um “case” mundial. Mais pessoas veem o programa no país do que em qualquer outro lugar do mundo.
Os números mostram isso. A diferença de audiência entre o reality da Globo e suas versões fora do mundo é gigantesca. A título de comparação: a estreia do BBB 24 foi vista por 39,1 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, a estreia do BB 25, exibida no ano passado, atingiu (apenas) 3,4 milhões de telespectadores.
No Brasil, 51 milhões de pessoas assistiram à final do BBB 21, o programa com maior audiência dos últimos anos. Enquanto isso, nos EUA, o recorde, registrado no BB1, é de “apenas” nove milhões.
Aqui, na Alemanha, um "sucesso" de audiência foi comemorado na estreia do Promi Big Brother (Big Brother celebridades), quando mais de 1,7 milhão de pessoas assistiram à abertura do reality. Em geral, a mídia de audiência do programa fica abaixo de 1 milhão. Ou seja, o Brasil é o campeão do mesmo vício.
Acho que existem muitas razões para que o programa ainda faça tanto sucesso no Brasil. Uma delas é o escapismo. A vida não é fácil. Vou dormir pensando em quem deve sair no "paredão" ou em problemas de outras pessoas que não ganharam o "anjo", por mais ridículo que seja, pode ser bem mais confortável do que ir dormir encarando a própria vida.
Sei como é, também já fui meio viciada no BBB . E, claro, como boa adicta, assistia e usava o Twitter (atual X) ao mesmo tempo. Desde que as redes sociais existem, elas fazem parte da experiência antropológica de ver o BBB. Adoramos comentar. Adoramos ter opinião. E, em muitos casos, os fãs viram “hooligans” . Sim, existe briga séria por causa do BBB . É difícil imaginar o programa hoje sem as redes sociais, onde nós, brasileiros, também colecionamos registros de engajamento.
É difícil não ceder à tentação. Em parte, porque a direção do programa brasileiro costuma ser muito competente (para o bem e para o mal) e sabe muito bem como fisgar a audiência. Desde 2020, por exemplo, o programa reúne anônimos e famosos, o que amplia o interesse e as fofocas.
Outra técnica usada pela produção do programa é escolher participantes que geram raiva e com potencial para escândalos. Ano após ano, a produção recruta homofóbicos , machistas e outros tipos que geram ódio. A nossa revolta faz a Globo lucrar. Mas é difícil ficar quieta quando uma mulher é agredida e/ou insultada na TV.
No momento, as mulheres do Brasil estão revoltadas com o pagodeiro Rodriguinho, que fez sucesso nos anos 90 com o grupo Os Travessos . Motivo: em pouco mais de uma semana desde a estreia da nova temporada, ele já fez comentários machistas, etaristas e misóginos. Explico: o cantor disse que o corpo da modelo e inspirou Yasmin Brunet "já foi melhor" e que ela está "mais velha" (sic).
"Ela tá mais velha e largou mão", disse, além de falar que ela estava comendo demais no programa.
A revolta com ele é justa. É lucrativo para a Globo, que ano que vem deve recrutar mais machistas para integrarem o elenco, já que a fórmula funciona.
Enquanto muitos se indignam, outros gostam e se identificam com os machistas e homofóbicos que sempre estão lá, formando uma espécie de "elenco fixo", já que os personagens mudam, mas as ideias continuam sempre presentes no programa.
Sim, vamos aceitar a realidade. Muitos gostam de ver um homem, por exemplo, julgando o corpo de uma mulher de maneira podre, já que eles mesmo fazem isso. O machismo exibido no programa em todas as temporadas é o mesmo praticado por pessoas comuns, infelizmente.
Será que vale a pena assistir e passar essa raiva? Não houve raiva o suficiente na vida real? Ora, já lidamos com machismo, por exemplo, quase todos os dias. Isso é rotina. Para que assistir isso de novo na hora de lazer? Essa é uma boa maneira de relaxar? Acho que não. Mas entendo, é muito difícil resistir. Da Alemanha, sem acesso à Globo, eu mesma não resisto e "assisto" a muitas cenas pelo Twitter (hoje X). E passo raiva, claro.
Vale a pena? Certamente não. Existem milhares de coisas melhores para fazer com o seu tempo, como "desligar a televisão e ir ler um livro" (como dizia uma antiga vinheta da MTV), ir para a academia, dar uma volta. A droga é poderosa. Vicia mesmo. Mas tente resistir.
Desinformação climática é relevante
A desinformação climática consiste no compartilhamento de informações falsas ou de dados atuais pré-selecionados sobre as emissões de combustíveis fósseis ou sobre as mudanças climáticas, o que inclui a omissão dos dados completos sobre esses temas, potencialmente influenciando a opinião de muitas pessoas.
Isso ocorre não necessariamente de maneira proposital: a desinformação também pode ser resultado de enganos ou da má compreensão de um tema complexo.
Um exemplo é a chamada greenwashing ("lavagem verde"), adotada por algumas empresas para transmitir uma imagem de correção ecológica e de respeito ao meio ambiente que não corresponde à realidade.
Algumas empresas de vestuário, por exemplo, propagandeiam o uso de fibras naturais ou renováveis e de embalagens recicláveis, ao mesmo tempo em que omitem a enorme quantidade de roupas descartáveis e de baixa qualidade que produzem.
A desinformação também ocorre quando negacionistas das mudanças climáticas e outros grupos ou organizações publicam de maneira proposital informações falsas ou disseminam farsas no intuito de avançar sua agenda contra a ciência do clima e as políticas governamentais criadas em benefício do meio ambiente.
Grandes empresas petrolíferas como Shell, Exxon Mobil e BP, juntamente com a chamada Coalizão para o Clima Global – um grupo de fachada dissolvido em 2022 que reunia quatro empresas associadas à indústria dos combustíveis fosseis – foram acusadas de promover campanhas de descrédito contra cientistas do clima e de omitir seus investimentos em combustíveis fósseis através de lobbies e propagandas com mensagens positivas desde o anos 1970.
Grupos como a The Empowerment Alliance ("Aliança do Empoderamento") nos Estados Unidos ou a Responsible Energy Citizen Coalition ("Coalizão de Cidadãos Responsáveis em Energia") na Europa utilizam táticas como o chamado astroturfing – ações políticas criadas de modo a parecer que são movimentos populares espontâneos – para promover o uso de gás natural derivado de combustíveis fósseis e para desacreditar políticas ambientais, sendo muitas vezes financiados por fontes obscuras.
Desinformações e mentiras também são publicadas em alguns veículos de imprensa ou promovidas por políticos populistas. Quando as enchentes resultantes de um ciclone extratropical causaram mais de 40 mortes no Rio Grande do Sul, em setembro de 2023, oposicionistas do governo e até um jornalista bastante conhecido no país atribuíram as mortes a abertura de comportas de três represas, numa tentativa de distrair a atenção dos esforços para mitigar os efeitos extremos do aquecimento global e culpar o atual governo federal pelo ocorrido. Umas das três barragens em questão nem sequer têm comportas.
As redes sociais e a manipulação de fotografias ou vídeos tornaram mais fácil a disseminação desse tipo de desinformação, especialmente quando associadas a teorias da conspiração, como nos ataques recentes à estratégia de planejamento urbano chamada de cidades de 15 minutos – na qual as cidades seriam planejadas de tal modo em que a maioria dos serviços e necessidades básicas dos habitantes estariam localizados a 15 minutos de distância, a pé ou de bicicleta, dos locais de moradia.
A Climate Action Against Disinformation ("Ação Climática contra a Desinformação"), uma coalizão global que trabalha no combate à desinformação e à má compreensão dos fatos, concluíram que as postagens negacionistas do clima com hashtags como #ClimateScam ("farsa climática") aumentaram na rede social X (antigo Twitter) depois de a plataforma ter sido adquirida pelo bilionário Elon Musk.
Nos últimos anos, a desinformação também infiltrou a esfera dos tomadores de decisões políticas. Um dos exemplos mais notáveis foram as repetidas críticas do ex-presidente dos EUA Donald Trump às energias renováveis e sua negação à ciência do clima antes e depois de ser eleito, com frequência classificando as mudanças climáticas como "farsa".
Trump, inclusive, retirou os EUA do Acordo Climático de Paris, de 2015, assinado por mais de 190 países que se comprometeram a limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais. A decisão gerou um retrocesso de vários anos nas ações climáticas dos EUA e, possivelmente, globais.
Enquanto isso, se esgota o tempo para a adoção de medidas para conter o aquecimento global, em meio ao aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa e recordes sucessivos de temperaturas em todo o mundo.
A maioria dos cientistas concorda que ações urgentes se fazem necessárias, embora a desinformação resulte em questionamentos sobre a tese científica já comprovada de que os humanos são a causa das mudanças climáticas, e crie dúvidas que minam o apoio popular à defesa do clima.
Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima da ONU (IPCC) reconheceu pela primeira vez que a "retórica e desinformação sobre as mudanças climáticas e a desautorização deliberada da ciência contribuíram para percepções errôneas sobre o consenso científico, assim como para incertezas, ignorância dos riscos e da urgência e para a discórdia".
Grupos como a Climate Action Against Disinformation, governos como o da União Europeia (UE) e organizações globais como a ONU, a Organização Meteorológica Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre outras, trabalham para denunciar e combater a desinformação.
Muitos veículos de imprensa também direcionam recursos para a cobertura jornalística sobre o clima, a fim de desfazer mitos e mentiras sobre as questões ambientais.
Isso ocorre não necessariamente de maneira proposital: a desinformação também pode ser resultado de enganos ou da má compreensão de um tema complexo.
Um exemplo é a chamada greenwashing ("lavagem verde"), adotada por algumas empresas para transmitir uma imagem de correção ecológica e de respeito ao meio ambiente que não corresponde à realidade.
Algumas empresas de vestuário, por exemplo, propagandeiam o uso de fibras naturais ou renováveis e de embalagens recicláveis, ao mesmo tempo em que omitem a enorme quantidade de roupas descartáveis e de baixa qualidade que produzem.
A desinformação também ocorre quando negacionistas das mudanças climáticas e outros grupos ou organizações publicam de maneira proposital informações falsas ou disseminam farsas no intuito de avançar sua agenda contra a ciência do clima e as políticas governamentais criadas em benefício do meio ambiente.
Grandes empresas petrolíferas como Shell, Exxon Mobil e BP, juntamente com a chamada Coalizão para o Clima Global – um grupo de fachada dissolvido em 2022 que reunia quatro empresas associadas à indústria dos combustíveis fosseis – foram acusadas de promover campanhas de descrédito contra cientistas do clima e de omitir seus investimentos em combustíveis fósseis através de lobbies e propagandas com mensagens positivas desde o anos 1970.
Grupos como a The Empowerment Alliance ("Aliança do Empoderamento") nos Estados Unidos ou a Responsible Energy Citizen Coalition ("Coalizão de Cidadãos Responsáveis em Energia") na Europa utilizam táticas como o chamado astroturfing – ações políticas criadas de modo a parecer que são movimentos populares espontâneos – para promover o uso de gás natural derivado de combustíveis fósseis e para desacreditar políticas ambientais, sendo muitas vezes financiados por fontes obscuras.
Desinformações e mentiras também são publicadas em alguns veículos de imprensa ou promovidas por políticos populistas. Quando as enchentes resultantes de um ciclone extratropical causaram mais de 40 mortes no Rio Grande do Sul, em setembro de 2023, oposicionistas do governo e até um jornalista bastante conhecido no país atribuíram as mortes a abertura de comportas de três represas, numa tentativa de distrair a atenção dos esforços para mitigar os efeitos extremos do aquecimento global e culpar o atual governo federal pelo ocorrido. Umas das três barragens em questão nem sequer têm comportas.
As redes sociais e a manipulação de fotografias ou vídeos tornaram mais fácil a disseminação desse tipo de desinformação, especialmente quando associadas a teorias da conspiração, como nos ataques recentes à estratégia de planejamento urbano chamada de cidades de 15 minutos – na qual as cidades seriam planejadas de tal modo em que a maioria dos serviços e necessidades básicas dos habitantes estariam localizados a 15 minutos de distância, a pé ou de bicicleta, dos locais de moradia.
A Climate Action Against Disinformation ("Ação Climática contra a Desinformação"), uma coalizão global que trabalha no combate à desinformação e à má compreensão dos fatos, concluíram que as postagens negacionistas do clima com hashtags como #ClimateScam ("farsa climática") aumentaram na rede social X (antigo Twitter) depois de a plataforma ter sido adquirida pelo bilionário Elon Musk.
Nos últimos anos, a desinformação também infiltrou a esfera dos tomadores de decisões políticas. Um dos exemplos mais notáveis foram as repetidas críticas do ex-presidente dos EUA Donald Trump às energias renováveis e sua negação à ciência do clima antes e depois de ser eleito, com frequência classificando as mudanças climáticas como "farsa".
Trump, inclusive, retirou os EUA do Acordo Climático de Paris, de 2015, assinado por mais de 190 países que se comprometeram a limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais. A decisão gerou um retrocesso de vários anos nas ações climáticas dos EUA e, possivelmente, globais.
Enquanto isso, se esgota o tempo para a adoção de medidas para conter o aquecimento global, em meio ao aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa e recordes sucessivos de temperaturas em todo o mundo.
A maioria dos cientistas concorda que ações urgentes se fazem necessárias, embora a desinformação resulte em questionamentos sobre a tese científica já comprovada de que os humanos são a causa das mudanças climáticas, e crie dúvidas que minam o apoio popular à defesa do clima.
Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima da ONU (IPCC) reconheceu pela primeira vez que a "retórica e desinformação sobre as mudanças climáticas e a desautorização deliberada da ciência contribuíram para percepções errôneas sobre o consenso científico, assim como para incertezas, ignorância dos riscos e da urgência e para a discórdia".
Grupos como a Climate Action Against Disinformation, governos como o da União Europeia (UE) e organizações globais como a ONU, a Organização Meteorológica Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre outras, trabalham para denunciar e combater a desinformação.
Muitos veículos de imprensa também direcionam recursos para a cobertura jornalística sobre o clima, a fim de desfazer mitos e mentiras sobre as questões ambientais.
A persistência da memória
Em 2024, já muitos chamaram a atenção para o facto, cerca de metade da população adulta mundial vai ter oportunidade de votar. É certo que algumas destas eleições, como será o caso das que acontecerão na Rússia ou no Irão, pouco mais serão do que meros atos formais, ritualistas ou performativos. Mas também é verdade que teremos importantes eleições livres e justas nalguns dos tradicionais bastiões da democracia liberal ocidental. Os portugueses terão, como bem sabemos, oportunidade de escolher um novo governo, os europeus um novo parlamento e, com muito mais significado global, os americanos escolherão um novo presidente.
Infelizmente, aquilo que, noutras circunstâncias, poderia ser uma grande festa da democracia, arrisca-se a resultar, a nível mundial, num enorme retrocesso dos regimes demo-liberais tal como os fomos conhecendo e, em consequência disso, numa perigosa erosão dos tradicionais pilares da segurança e da paz. Os sinais estão à vista de todos quantos queiram olhá-los de frente. Por todo o lado, crescem desencantos e descontentamentos profundos com esta particular fórmula de governo e de organização da cidade, assente em originalíssimas (mas também delicadíssimas) instituições materiais e imateriais, a que devemos muita da nossa paz, liberdade e prosperidade passadas, mas que parece progressivamente ter perdido a capacidade de ser geradora de esperança para franjas crescentes das populações. Sendo que – é bom ter consciência disso – não há qualquer regime político que possa sobreviver indefinidamente à desesperança. É pela desesperança que caem as autocracias, mas é também a desesperança que, mais subtil e lentamente, corrói as democracias.
São muitas e são variadas as causas da desesperança (das percepções sobre corrupção à desigualdade, da estagnação económica à disfuncionalidade do Estado). Seria uma irresponsabilidade tentar dissertar sobre todas, em poucas linhas, com um mínimo de seriedade e de profundidade. A minha proposta é bem mais modesta. Fixo-me, alternativamente, na ideia de memória. Não porque a junte ao rol das causas da desesperança, mas porque tenho para mim que esta lenta e silenciosa degenerescência dos nossos regimes demo-liberais se explica tanto pelo desencanto com as suas limitações intrínsecas e com as conjunturais dificuldades em responder aos desafios do tempo presente, como se fica a dever à falta de uma memória aguda, presente e viva sobre as suas reais alternativas.
Infelizmente, aquilo que, noutras circunstâncias, poderia ser uma grande festa da democracia, arrisca-se a resultar, a nível mundial, num enorme retrocesso dos regimes demo-liberais tal como os fomos conhecendo e, em consequência disso, numa perigosa erosão dos tradicionais pilares da segurança e da paz. Os sinais estão à vista de todos quantos queiram olhá-los de frente. Por todo o lado, crescem desencantos e descontentamentos profundos com esta particular fórmula de governo e de organização da cidade, assente em originalíssimas (mas também delicadíssimas) instituições materiais e imateriais, a que devemos muita da nossa paz, liberdade e prosperidade passadas, mas que parece progressivamente ter perdido a capacidade de ser geradora de esperança para franjas crescentes das populações. Sendo que – é bom ter consciência disso – não há qualquer regime político que possa sobreviver indefinidamente à desesperança. É pela desesperança que caem as autocracias, mas é também a desesperança que, mais subtil e lentamente, corrói as democracias.
São muitas e são variadas as causas da desesperança (das percepções sobre corrupção à desigualdade, da estagnação económica à disfuncionalidade do Estado). Seria uma irresponsabilidade tentar dissertar sobre todas, em poucas linhas, com um mínimo de seriedade e de profundidade. A minha proposta é bem mais modesta. Fixo-me, alternativamente, na ideia de memória. Não porque a junte ao rol das causas da desesperança, mas porque tenho para mim que esta lenta e silenciosa degenerescência dos nossos regimes demo-liberais se explica tanto pelo desencanto com as suas limitações intrínsecas e com as conjunturais dificuldades em responder aos desafios do tempo presente, como se fica a dever à falta de uma memória aguda, presente e viva sobre as suas reais alternativas.
A desintegração da Persistência da Memória, Salvador Dali
Explico-me. Em boa parte do mundo ocidental, uma muito significativa percentagem dos eleitores que são chamados a votar, neste perigoso ano de 2024, nunca verdadeiramente experimentou uma alternativa aos regimes demo-liberais em que temos o luxo de viver. Isso é verdade para boa parte dos cidadãos da União Europeia e é uma verdade insofismável para a esmagadora maioria dos cidadãos nascidos nos Estados Unidos (as exceções serão mesmo os migrantes chegados de outras paragens). Mesmo em Portugal, uma jovem democracia no contexto europeu e um dos países mais envelhecidos do mundo, quase metade dos eleitores nasceu já depois do 25 de Abril e cerca de três quartos destes não tinham atingido a maioridade naquela data (eu próprio incluído). Igualmente relevante, uma parte significativa dos líderes que se apresentam a eleições não podem ter reais memórias da vida num regime sem eleições livres e justas, sem separação de poderes, sem liberdade de expressão, sem proteções constitucionais às minorias e aos direitos fundamentais. Entre nós, só Rui Rocha, Rui Tavares e Luís Montenegro nasceram antes – e nasceram pouco antes – da revolução. Respetivamente em 1970, 1972 e em 1973.
Porventura mais relevante, a esmagadora maioria dos eleitores e dos líderes políticos do mundo ocidental nunca experimentou o horror de viver num país dilacerado pela guerra. Se é certo que nos Estados Unidos vários líderes políticos foram chamados a combater noutras paragens (curiosamente não é o caso de Trump, o primeiro Presidente americano sem qualquer experiência prévia, governativa ou militar), em boa parte da Europa há muito que se retirou a geração que viveu o trauma da Segunda Guerra Mundial. Em Portugal nenhum dos líderes políticos atuais terá, obviamente, memórias da Guerra Colonial.
Não quero com isto naturalmente significar que o apego racional aos ideais democráticos e da paz não seja real e absolutamente convicto nas gerações que nunca viveram em ditadura ou que nunca experimentaram a guerra. Seria absolutamente injusto fazê-lo. Limito-me a dizer que a ausência dessa memória viva e vivida acarreta riscos muito específicos. Desde logo porque cria uma ilusão sobre a perenidade da democracia e da paz. No plano racional, sabemos bem que o passado está pejado de sombras e de horrores, mas a verdade é que temos dificuldade em acreditar que possam, efetivamente, reavivar-se. Talvez seja uma defesa inconsciente e necessária para viver o quotidiano – mas uma defesa perigosa, como já veremos.
Da mesma forma, esta ausência de memórias diretas torna-nos incapazes de fazer tangível um passado que nunca foi o nosso. Somos capazes de uma racionalidade abstrata, é certo. Mas, porque nos é impossível reinventar as cicatrizes das memórias vividas, nunca conseguimos verdadeiramente entender, em toda a sua profundidade concreta, a experiência de uma vida sem liberdade, sem democracia ou sem paz.
Ora é essa ilusão sobre a perenidade da democracia e da paz e é essa incapacidade de alcançar o real significado de um mundo em que não existam, que, não destruindo o nosso apego intelectual a ambas, diluem o nosso sentido de urgência e a nossa capacidade de sacrifício para as preservar. É a complacência inconsciente que nos deixa mais expostos à repetição do indizível.
Teria Mario Soares feito frente, com a coragem que conhecemos, aos delírios da esquerda militar sem um passado de prisão e de exílio? Teriam Kohl e Mitterrand defendido com o mesmo afinco o projeto de paz que é a União sem a experiência de ter servido na Segunda Guerra Mundial? Teria Adenauer dedicado a última parte da vida a reconstruir uma Alemanha pacífica e reconciliada com a Europa, se não queimassem ainda as memórias do Reich?
São respostas que nunca teremos. Assim como não temos real resposta ao problema da erosão da memória. Resta-nos, apesar de tudo, ter a consciência de que existe.
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