Fui convidada por eles — pelos democratas —, mas também havia muitos republicanos interessados no tema. Comigo testemunharam mais duas pessoas: um renomado cientista ambiental e um ex-diplomata americano com passagens pela América Latina e especialista em conservação ambiental. Eu e o cientista havíamos sido convidados pelos democratas, enquanto o ex-diplomata fora chamado pelos republicanos. A audiência foi uma das primeiras desde que o Congresso retornou do recesso do verão, o que dá uma ideia da importância do assunto para os parlamentares aqui nos EUA. Antes de a audiência começar, conversei bastante com o convidado dos republicanos. Tivemos uma excelente troca de ideias sobre os desafios da economia e do meio ambiente e, sobretudo, as dificuldades de levar a alguns políticos e a uma parte da população o sentimento de urgência que hoje deveria tocar a todos. Vejam: eu era a convidada dos democratas, ele dos republicanos. Contudo, travamos uma conversa civilizada, com substância e argumentos fundamentados. Ao final, aprendi muito ao ouvi-lo e tenho certeza de que ele também aprendeu algo comigo — afinal, era eu a única brasileira presente. Digo isso para sublinhar a importância do diálogo, essa majestosa forma de interagir, que parece extinta no Brasil de hoje.
Propus diversas vias de colaboração possíveis entre o governo dos Estados Unidos e o governo brasileiro. Uma delas trata do Fundo Amazônia — hoje em uma espécie de limbo devido às atitudes de Bolsonaro. Há imensa oportunidade para aumentar o fundo diversificando suas fontes de recursos para empréstimos diversos, inclusive para os chamados pagamentos de serviços ambientais, matéria que ainda precisa ser regularizada no Brasil. Falei também sobre o uso das terras indígenas — nossa Constituição prevê a utilização econômica sustentável dessas terras, mas nós ainda não sabemos fazê-lo. Os EUA, com sua larga experiência em regularizar esse tipo de atividade nas terras de povos indígenas, pode nos ajudar imensamente a desenvolver esse potencial. Há muito o que fazer na área de cooperação técnica, para além do financiamento. Ressaltei que as possibilidades existem, que a pesquisa científica sobre o que funciona e o que não funciona é vasta, que o Brasil deveria ser o laboratório do mundo em matéria de desenvolvimento sustentável. Como bem me disse outra ex-ministra, no século XXI, ecologia e economia são simbióticas.
“Não é possível pensar em crescimento econômico sem considerar o impacto ambiental. Não é possível pensar em meio ambiente sem tratar das questões de desenvolvimento sustentável”As perguntas dos parlamentares demonstraram grande interesse no tema, além de um surpreendente conhecimento. Discutiram-se mercados de carbono, pagamentos por serviços ambientais, crédito agrícola condicionado ao cumprimento de normas ambientais e redução de desmatamento, como fez a Resolução 3.545 do Conselho Monetário Nacional em 2008. A sensação ao terminar a audiência de mais de uma hora foi que passamos muita informação e que o interesse do Congresso americano sobre o tema é imenso.
A Amazônia corre perigo. Mas o mundo, e os EUA em particular, estão de olhos grudados no que se passa, apesar de Trump e Bolsonaro. Eles passarão, a floresta passarinho.
Monica de Bolle