sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PT x Educação: recuse imitações baratas

Tá duro de abrir o ano! Procuro não parecer catastrofista mas minha consciência não permite…

Mas esse é o assunto de outro artigo. Hoje vamos pelo pratinho do dia.

Enviei a um amigo esta manhã o artigo de Marco Antonio Villa para O Globo de segunda-feira, “A Revolução Cultural do PT” (aqui), denunciando a tentativa do mesmo Ministério da Educação daquela boa gente que nos governa e se arroga o direito de decidir até em que banheiro a sua filha criança vai fazer as necessidades dela, de matar a pau o que resta da educação nestes tristes trópicos tornando oficial e obrigatória a falsificação geral da História do Brasil e do Mundo que, em grande medida, já vem sendo martelada nos ouvidos das duas ou tres gerações de brasileiros “formados” para ver suprema sabedoria no que dizem e fazem gente como Lula da Silva, Dilma Rousseff, Rui Falcão e cia. ltda., e acreditar que isso é só o que existe e sempre existiu no mundo.

Recebi de volta a desculpa esfarrapada com que as TVs estão lambuzando essa denuncia, que foi a que o PT lhes forneceu para ser repassada à patuléia desavisada: a de que o assunto está “aberto ao debate nacional” e a decisão será fruto desse debate, “sem nenhum viés ideológico”, etc., etc. e tal…

Como eu vivo dizendo aqui que a solução para desatolar o Brasil da lama corrosiva de mentiras, falsificações e crimes em que o enfiaram é uma dose saudável de democracia direta, aproveito para marcar mais uma vez a diferença.

Foi assim que respondi ao meu amigo:

“Prezado P…,

É esse o velho truque da falsa democracia direta da esquerda: eles dizem, dos seus projetos-golpes, que estão “abertos às contribuições do público” sendo, portanto, democráticos e não impositivos. Mas não dizem como as sugestões eventualmente aportadas serão processadas.

Quem escolhe as que serão adotadas e as que vão para o lixo? Por qual critério? De maioria? E quem afere essa maioria? Quanto valem essas maiorias se as convocações para as “contribuições” forem feitas em voz baixa ou se elas só puderem ser dadas em sessões de “debates” ou “audiências” às quais só funcionários públicos indemissíveis ou ongueiros profissionais têm tempo para comparecer?

É aí que a coisa pega…

Os repórteres do antigo 4º Poder – aquele poder de pautar o debate político da nação que hoje os acionistas das empresas jornalísticas delegam sem nem querer saber pra quem desde que lhes entreguem os lucros combinados – nunca chegam a esses detalhes. Não haveria nem tempo pra essa discussão nas entrevistas das mídias de massa, tipo TVs, ainda que houvesse a disposição (que não há) de trava-la. Engolem com casca e tudo o cala-boca que é essa desculpa de que se trata de uma (falsa) obra coletiva e aberta como se isso fosse explicação bastante e fica o dito pelo não dito. O povo baixa a guarda e a vida segue…

Por conta de expedientes de “legitimação” desse grau de “sofisiticação” e “qualidade” mata-se, no Brasil de hoje, sem que ninguém tenha saco de olhar um pouco mais fundo para mais uma falcatrua, coisas “desimportantes” como sistemas educacionais inteiros. Quando o país finalmente abre o olho, já está morto e enterrado no arbítrio como as venezuelas da vida…

Abraço,

Fernão.

PS.: O truque é tão velho e recorrente que entre as dezenas de figuras jurídicas do que os americanos chamam de “ballot measures” (as leis de iniciativa popular e outras formas de intervenção direta de que todo cidadão dispõe para enfiar nas cédulas – os “ballots” – de toda eleição as questões que acha importantes pedindo um “sim” ou um “não” de seus pares por cima e à margem das tramoias dos legisladores), ha uma que se chama “Advisory Question” criada especificamente para a finalidade de tirar da boca dos maus jornalistas essa mentira surrada de alegar do nada que a “opinião pública”pensa assim ou assado sobre tal ou qual assunto.

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Qualquer cidadão pode propor uma tomada de posição realmente legitimada pelo voto sobre uma questão qualquer – se a comunidade acha ou não acha bom que haja um currículo nacional unificado, por exemplo – e enfiá-la na cédula da próxima eleição se conseguir a adesão de um numero suficiente de eleitores do seu distrito eleitoral, apenas para que fique claramente sabido qual de fato é a posição daquela comunidade sobre aquele assunto, para qualquer eventualidade futura.

É claro que, entre essas “ballot measures” eles podem escolher também as variadas formas de “iniciative” ou de “veto referendum” para fazer ou desfazer as leis que algum legislador ou governante esperto tiver tentado lhes impingir com um decreto qualquer de véspera de Natal, ou se recusado a propor apesar da manifesta vontade do povo de que assim fosse feito, ou alguma outra variação dos luxos a que se podem dar os nossos “inimpeacháveis” representantes uma vez eleitos, dessas a que estamos acostumados por aqui e a imprensa já “acha normal“. Lá tem espaço pra essas delicadezas: a “Advisory Question” entra no jogo só a título de “recomendação” ao legislador que porventura esteja alimentando alguma idéia “esperta” em resposta a “factóides” igualmente “espertos” plantados na imprensa, por exemplo…

Isso sim, meu caro, é a democracia direta verdadeira; um conjunto de hábitos e procedimentos recorrentes de higiene política que desinfeta a mentiraiada podre e previne as mortíferas epidemias de lepra moral como essa que nos assola, com decisões legitimadas por todos os eleitores em processos acima de qualquer suspeita.

De modo que, cuidado! Recuse imitações baratas, sobretudo em se tratando de“remédios” que podem nada menos que matar de uma vez para sempre a democracia que se alega para receitá-los!

Os treze trabalhos de Hércules

Parece que o Governo Federal finalmente voltou seus olhos para a Escola e deixou de pensar só nas universidades das quais tanto se gaba o Lula. E bolou um programa para uma Base Nacional Comum que possa atender todas as escolas brasileiras. Excelente idiea, desde que deixem espaço para que os professores dos diversos Estados e Municípios do país enriqueçam a Base com temas e assuntos de interesse local.

Mas... já repararam como tem sempre um mas em tudo que vem do PT?

Agora o "mas" se refere á indigência da Grade Curricular em tudo que se refere à História e à Cultura Geral.

Vou aproveitar enquanto o Currículo Nacional Comum ainda não está a pleno vapor para falar num dos mais altos momentos da Mitologia Grega, a figura heroica, valente, corajosa e apaixonante do grande Hércules que, num acesso de loucura provocado pela deusa Hera, matou sua mulher e seus três filhos.

Hércules não era um sujeito cruel e quando se deu conta do horror que cometera, isolou-se no campo e lá foi viver como eremita. Encontrado por seu primo Teseu, foi com ele consultar o Oráculo de Delfos com o objetivo de pagar por seus crimes e recuperar sua honra. A penitência que lhe foi imposta foi terrível: doze tarefas que exigiam inteligência, valentia, força, além de obedecer fielmente a um de seus piores inimigos,o rei de Micenas, Euristeu. Cumpridas as tarefas, Hércules se tornaria imortal, o que era seu direito de nascença não tivesse sido ludibriado por Euristeu.

Que tal pedirmos ao Oráculo que passe mais uma tarefa para o herói, talvez só mais complicada que a ordem que recebeu de colher os pomos de ouro do Jardim das Hespérides, o que só poderia fazer depois de matar o dragão de cem cabeças que era o guardião do tesouro? Para tanto, Hércules precisou da ajuda do titã Atlas: esse matou o dragão enquanto Hércules sustentou em seus ombros o Céu, tarefa eterna do titã.

E qual a tarefa que falta, segundo esta audaciosa e enxerida articulista?

É óbvio: tirar o PT do Palácio do Planalto. Esse seria o décimo-terceiro trabalho de Hércules.

(Leitor, antes que não seja mais necessário ler e estudar nem a Grécia Antiga, que dirá sua Mitologia, compre "Os Doze Trabalhos de Hércules", de Monteiro Lobato, e acompanhe o grande herói em suas aventuras assessorado pela genial Emília. Se a Grade Curricular Petista entrar em vigor ninguém mais vai saber quem foi Emília, que dirá Hércules!).

A nossa tarefa, dos cidadãos, será impedir que a Base Nacional omita o estudo das figuras da Antiguidade Clássica, do Império Romano, do Cristianismo, da América Pré-Colombiana, da Revolução Francesa, da Revolução Americana... Não podemos matar nosso passado sob pena de não termos mais futuro.

O Governo petista hoje conta com o par perfeito na Presidência e na Chefia da Casa Civil. Ela pinta, ele borda; ela corta, ele costura; ela morde, ele assopra. Ele, com a sinceridade que o caracteriza, declarou que o PT se lambuzou no Governo. Ela, com a determinação que as mulheres têm quando encasquetam uma ideia na cabeça, resolveu adoçar os pontos da Lei que reprovavam toda e qualquer leniência com malfeitos.

O PT não soube administrar o país. Pior, não soube zelar pelo que é nosso. Agora, se lamentam choramingando ao dizer que quem é favorável ao impeachment é golpista.

Não é. Golpista é o PT, que roubou e deixou roubar.

Mas roubar nosso direito ao Saber, aí também é demais!

Por motivo de força maior

Há um ano, Marcelo Odebrecht pediu a um executivo da Petrobras dados para um "aide-mémoire" que estava escrevendo para Lula usar numa visita que faria à Argentina. O homem se empolgou e escreveu demais. Odebrecht o cortou: "Um terço de página apenas, ou o cara não lê".

Bom saber que Odebrecht escrevia "aide-mémoires" para Lula usar em seus pronunciamentos no exterior. Significa que, naquela época, Lula não precisava falar por conta própria, como no dia em que, em visita oficial à África, em 2003, chegou à Namíbia, olhou em volta e declarou: "Tão limpa que nem parece a África!" – ofendendo todos os países africanos pelos quais passara.

O incrível é constatar como Lula é tido em baixa conta justamente pelo homem que, então, vivia contratando-o para dar palestras nos vários continentes. Não eram palestras comuns, para plateias indiferentes, mas "lectures" dirigidas à nata política, social e econômica de cada país – gente sem tempo a perder e ansiosa para ouvir os ensinamentos de um governante bem sucedido. Eram palestras tão importantes que Odebrecht pagou a Lula, em um ano, R$ 4 milhões por elas – R$ 400 mil cada.

Uma palestra desse porte dura duas horas. Como falar duas horas sobre qualquer assunto sem dominá-lo? E como fazer isso sem ter lido balanços, relatórios, pareceres e análises, ou mesmo resumos preparados por assessores? E será possível guardar de cor todos os dados? Não, o palestrante terá sempre de se valer de papéis à sua frente. Mas, segundo Marcelo Odebrecht, textos de mais de um terço de página, "o cara não lê".

Um dia, alguém terá acesso a um vídeo, áudio ou transcrição de uma palestra de Lula paga por Odebrecht – ninguém viu nada até hoje. Só então se descobrirá o insuperável palestrante que ele era e, hoje, por motivo de força maior, deixou de ser.

Lambuzados e otários

Não é estranho que alguns dias depois de ter dito que “o PT se lambuzou” o ministro Jacques Wagner apareça lambuzado em novas investigações da Operação Lava Jato?

Na verdade, nada parece estranho no modo petista de habitar ambientes subterrâneos de poder, e de construir ligações perigosas com todos os tipos imagináveis de heterodoxia no trato com a coisa pública.

Charge Super 05/01

A fala de Wagner, que segundo a versão luvas de pelica com que a imprensa trata as relações de poder, causou “mal estar” entre governo e PT, pretendia, no fundo, ser uma autocrítica higienizada do partido, mas como o que fica no imaginário popular são as palavras mais fortes, o ministro chefe da Casa Civil acabou puxando uma descarga mais barulhenta do que ele imaginava.

E explicação que Jacques Wagner desenvolveu para explicar o “lambuzado" é de uma inocência angelical. Na verdade, ele atravessou o samba e saiu do ritmo:

“O PT errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo de Lula. Aí não mudou os métodos do exercício da política. Ficou usando as ferramentas que já eram usadas, do financiamento privado (para campanhas eleitorais). O resultado é que o PT, que não foi treinado para isso, (encarnou o ditado) “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.



Subestimar a inteligência alheia e tratar as pessoas como se elas tivessem dificuldades de discernimento é um dos maiores pecados da histórica soberba do PT. Somos otários, Jacques Wagner? Não, não somos.

O PT montou esquemas de assalto aos cofres da Petrobras (com a parceria dedicada do PMDB e do PP) por falta de reforma política? O mensalão e o petrolão existiram porque “o PT não foi treinado para isso”? (Imaginem a catástrofe que seria se o partido fosse treinado para isso…). A quem Jacques Wagner acha que está enganando?

Para azar do ministro-chefe da Casa Civil, o que ficou de sua narrativa fantasiosa foi só o high-light da manchete: o PT se lambuzou. O resto da digressão se perdeu na poeira das palavras ao vento.

Por isso ele foi repreendido por um petista mais cosmopolita, mais escolado do que o baiano em questões de uso cauteloso da linguagem. Tarso Genro, que passa por reformista e eterno candidato a “refundador” do partido, já escolado na tergiversação desde o asilo concedido ao terrorista e assassino italiano César Battisti, condenado em seu país por participação em quatro homicídios, puxou-lhe as orelhas:

“A declaração de Wagner foi profundamente infeliz e desrespeitosa, porque generaliza e não contextualiza. Ele faz coro com o antipetismo raivoso que anda em moda na direita e na extrema direita no País. Com a responsabilidade que ele tem, deveria ser menos metafórico e mais politizado em suas declarações".

A terceirização da culpa é outra das características do DNA petista. Atrás de qualquer fracasso, há sempre um culpado em quem descarregar a ira. E esse culpado nunca está entre eles.

Será difícil ao tergiversador Tarso Genro encontrar qualquer traço de direitismo, extremo ou não, nas palavras do professor Eugenio Bucci, petista histórico do tempo em que acreditava estar nadando em águas limpas. Ele escreveu no final de seu artigo desta semana, no Estadão:

“Por que a corrupção, que antes seria uma intercorrência, ganhou o estatuto de método? Como a corrupção submeteu o partido aos ditames do capital selvagem? Se querem mesmo falar de política, é disso que o PT e a presidente precisam falar. Mas eles não podem. Têm medo do inferno. E ardem”.

Tarso Genro pediria menos metáfora e mais politização?

Infinitamente capaz

A capacidade do governo em fazer o bem é limitada; a capacidade de fazer o mal é infinita
Ludwig von Mises

Propaganda estatal: o gasto mais inútil do mundo

O Rio de Janeiro passa por uma crise econômica sem precedentes. Maravilhados com o preço do petróleo e os royalties do ouro negro da Bacia de Campos, os governantes do Rio de Janeiro, mais especificamente do PMDB lulista, fizeram desses recursos uma receita ordinária para fins orçamentários, quando era claramente extraordinária e dependente do valor do preço do barril. Quando esse valor atingiu baixa recorde (ontem estava custando 35 dólares, o que é 5 dólares mais barato que o preço mínimo para se viabilizar economicamente a extração do pré-sal), o Estado passou a não ter como honrar compromissos inventados e inchados por uma política expansionista e perdulária de gastos públicos.

Nesse cenário, que atinge principalmente a saúde pública do Estado do Rio, o Governador Pezão anuncia um aumento das verbas de propaganda do Estado de R$ 14 milhões para R$ 53 milhões num ano, enquanto os jornais falam que o Estado não terá como honrar a folha de janeiro no mês de fevereiro.

Estamos falando aqui então em uma perspectiva crítica utilitária. Para o bem geral da população, se não há dinheiro no momento para nada, é de bom senso que todo o dinheiro que não esteja sendo gasto em finalidades básicas do Estado (aqui sem entrar no mérito de quais são essas finalidades ou se elas existem mesmo) sejam canalizadas justamente para o cumprimento desses objetivos fundamentais.



Indo mais fundo na crítica, agora para uma perspectiva crítica mais deontológica, para que serve propaganda pro Estado?

Se pegarmos uma definição clássica de Estado, Max Weber assim o define como “um aparato administrativo e político que detém o monopólio da violência”. Se o Estado é um monopólio e ninguém compete com ele por seus serviços de violência legítima, de onde vem essa necessidade de se autopropagandear?

A primeira resposta óbvia é que a propaganda não é para o Estado, afinal, não faz lá muito sentido se falar em propaganda da Polícia, da escola pública ou do hospital. De fato, se fôssemos pensar racionalmente, a propaganda estatal ideal para preservar os interesses do próprio Estado seria para que as pessoas não usassem esses produtos públicos, já que o Estado recolhe impostos independentemente do uso dos bens, mas tem os seus custos majorados quando ocorre a utilização.

Se não é uma propaganda para o Estado, então a segunda resposta óbvia é que essa propaganda é, na verdade, do Governo que se encontra acastelado momentaneamente na máquina pública. O que, em outras palavras, quer dizer que o grupo político detentor do poder usa do dinheiro público para fins privados. Propaganda estatal é um ato oficial de patrimonialismo, que é a característica de um Governo que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado.

Com isso, vemos que não há nenhuma justificativa para qualquer tipo de gasto estatal em propaganda, o que resta ainda mais grave em um cenário de completo caos administrativo e fiscal, quiça então o seu aumento, o que é um acinte para todo e qualquer cidadão minimamente consciente da sua própria cidadania.

Mais um dos inúmeros absurdos cometidos pelo PMDB petista, todos amplamente conhecidos e sem necessidade de propaganda para divulgá-los. Plim plim!

Das vacas de Amós

Indo de carro por uma estrada estreita, de mão única, pelo sertão da Paraíba, querendo chegar, o quanto antes, a Pernambuco, tinha que estar em Recife no mais tardar no começo da noite, minhas retinas, que nem as do poeta, já tão fatigadas, mais que flagraram, arquivando depressa na minha memória, a cena do homem sozinho e sua vaca.

Naquela vastidão de coisa nenhuma, de tudo seco, o homem puxava a sua vaca deixando livre o cabresto para que ela, farejando algum verde, não deixasse anoitecer a fome.

O carinho quase de irmão ou de pai com filha com que aquele paraibano, vacuns sapiens, diria a Dilma, conduzia pacientemente a sua vaca me fez pensar muito no quanto, pela estimação, chegamos a nos tornar dependentes de certos animais.

Então concluí, o quanto faz sentido aquela teimosia cearense que muitos nordestinos inebriados de telurismo ainda cantam mundo adentro – “enquanto a minha vaquinha tiver um courinho no osso (...) só deixo o meu Cariri no ultimo pau de arara”.

Não são poucos os bravos brasileiros que, pelo menos por enquanto, não pensam em ir se embora do País. A crise migratória que assola a Europa parece não incomodar muito os pouco mais de um milhão de patrícios que se aguentam por lá.

Mais de três milhões de brasileiros vivem espraiados por aí afora. Como se em Alagoas, por exemplo, só tivessem ficado as estatuas ou os túmulos de três dos Presidentes que o Estado, em sacrifício, doou ao do Brasil – Deodoro, Floriano e Collor.

Depois dos Estados Unidos, onde estão mais de um milhão e meio da nossa brava gente, a segunda Meca dos brasileiros, advinha, é o Paraguai.

Pouco antes do natal, num restaurante em São Paulo, éramos quatro numa mesa - o Belluzzo, sim, o economista e ex-Presidente do Palmeiras; o César Klouri, o advogado e professor de Direito e o Paulo Henrique, sim, o Amorim (olá, tudo bem?), quando sem mais nem menos se apresentou um jovem a nos mostrar o celular que, segundo ele, tem vendido muito para brasileiros, advinha onde, em suas lojas no Paraguai. Desceu a lenha nos governos do PT.

Quando caía a ultima ditadura, a Gal ameaçou ir se embora do Brasil se o Maluf fosse Presidente. O ACM mandou a sua tropa votar no Tancredo. E assim, a Bahia se livrou do vexame de ficar sem a Gal em pessoa. Por onde andará o Belchior, gente?

Em sua quase totalidade, a brava gente brasileira é assim. Não anda falando em ir se embora. Por mais que despenquem as desesperanças no logo mais e a credibilidade no Governo, não se intimida. Não pensa em desistir.

Nossa brava gente quer, sim, manter acesa essa luta contra os que se sustentam nos malfeitos, nas artes e manhas com os bilhões dos nossos impostos e na venda, em Brasília, dos votos da nossa representação politica, a qual em verdade em nada nunca nos representará.

Não me sai da memória aquela vaca e o seu compenetrado dono atrás de um verde na quase pedra que já foi lama antes da seca denigrir até o último dos mais resistentes mandacarus.

Entre os israelitas, conta-nos a Bíblia, os bois eram usados em trabalhos da agricultura lavrando a terra, pisoteando o trigo, puxando carros, enquanto as vacas eram poupadas porque tinham leite a dar, e leite com mel, ó meu, era a sublimação do manjar.

Uma vez exaustos, que nem o carioca no centro do Rio de Janeiro, um olho no pivete, o outro no trombadinha, os bois dos hebreus eram então levados para as liturgias dos sacrifícios e depois comidos lentamente, que nem a nossa brava gente hoje, sob os maus governos, embora não literalmente e nem necessariamente nessa ordem, pelos juros altos, pelo desemprego, pela inflação, pela falência total dos serviços públicos.

As vacas, ah as vacas, sim, podiam vaguear pelos campos. Como se escapassem de alguma comissão especial de deputados, eleita em chapa avulsa.

Há quem entre nós por estas plagas deplore o endeusamento das vacas na Índia. Há séculos que elas ali são tidas como sagradas, intocáveis, e até infalíveis. Há também quem ache que a sacralidade das vacas da Índia tenha, a partir de algum tempo, contaminado a concepção inerente a certas raças de vacas por aqui. Algumas se reencarnariam bípedes para então se acabarem atoladas no brejo.

É de lembrar o sonho do qual o Faraó despertou sobressaltado com a ideia daquelas sete vacas feias e magras devorando as sete vacas gordas e formosas, nutridas a financiamentos do BNDES ou, quem sabe, a propinas de superfaturamentos na Petrobrás.

É não desesperar. Depois das vacas magras, virão as vacas gordas. Não sem antes uma Constituinte exclusiva para as reformas politica e tributária, eis que aí é que estão os imbróglios que ninguém no poder se arrisca em desmanchar.

Pertinente esta conclamação de Amós, (4/1) - “Ouvi esta palavra, oh vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que esmagais os necessitados...”

Juros altos não derrubam inflação. Os dois juntos somam forças do mal que derrubam governos.
Edson Vidigal

Coelhos não passeiam ao luar

Jacques Wagner, chefe da Casa Civil, avisa que a população não deve esperar grandes notícias, em matéria de reformas econômicas. “Não tem coelho na cartola”, ele comenta, acrescentando que não haverá pacotes. As mudanças serão paulatinas, passo a passo na recuperação da confiança do empresariado e na criação de empregos.

O diabo é que o Lula exige mais. Quer a presidente Dilma anunciando medidas de impacto para o governo sair da crise, sugerindo a adoção de propostas como as constantes nos documentos do PMDB e do PT, voltadas para a retomada do crescimento econômico.

Fica difícil conciliar as duas paralelas, que parecem fluir em sentido oposto. Nem no infinito se encontrarão. Entre elas transita a presidente Dilma, ignorando-se para onde vai. Se depender do ex-presidente, para medidas imediatas de recuperação do otimismo e de sólida maioria parlamentar, de forma a dissolver a sombra do impeachment. Conforme o ex-governador da Bahia, lentamente, sem criar falsas expectativas nem realizar milagres.

O singular nesse confronto é que tanto o Lula quanto Wagner posicionam-se no quadro sucessório. O primeiro ocupando a pole-position na raia do PT, mesmo desgastado e às voltas com a queda de popularidade e especulações sobre o envolvimento de familiares, amigos e correligionários sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. O outro como alternativa para o caso de afastamento do chefe.

Vale repetir que nem tudo depende do trio Lula-Dilma-Wagner e penduricalhos. A sorte da política econômica repousa em mãos do empresariado e dos trabalhadores, por enquanto situados em campos opostos, cada grupo defendendo seus interesses e opondo-se aos do adversário.

Faz tempo que a divisão envolve o PT, os demais partidos, as centrais sindicais, a Fiesp e variadas corporações. A receita do Lula continua a mesma, ou seja, que Dilma deve viajar mais pelo país, dar mais entrevistas, retomar o protagonismo da agenda política, anunciar mudanças na estratégia econômica e recompor sua base de apoio no Congresso. Também precisa evitar divisões no PT. O problema é que essas sugestões vem sendo dadas há meses, mas com pouca aceitação. O tal Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, composto pela empresariado e por lideranças sindicais, criado no governo dele, não se reúne há um ano, quando deveria estar sendo cooptado como forma de sensibilizar a opinião pública.

Em suma, nada de novo debaixo do sol, apesar de a noite parecer próxima, período em que será mais difícil encontrar coelhos passeando ao luar.

Nova tática de governo: criminalizar quem combate o crime

Um comando foi dado, pelo núcleo duro do PT (setor de mídia), nesse fim de semana, para militantes de ambientes virtuais e blogueiros alinhados com Dilma e Lula: viralizar, nas pautas, a ideia de que o Brasil já poderia ter saído da crise não fosse a Operação Lava Jato.

Segundo consultores ouvidos por esse blog, a nova pauta é muito simples: bipolarizar (mais uma vez) a situação. De um lado, petistas do bem querendo consertar o país. Do outro, opositores do mal postulando manter o Brasil “num clima de insegurança”.


Os pontos dessa nova agenda midiática se assentam sobre dois passos dados pelo governo no último mês.

O primeiro: a medida provisória assinada por Dilma, em 18 de dezembro, aquela que alterou as regras para acordos de leniência. A medida provisória regula os acordos de leniência firmados pelos órgãos do governo federal com as empresas investigadas por ilícitos contra a administração pública. O texto inclui o Ministério Público nos acordos e dá às empresas o direito de continuar participando de contratos com a administração pública, caso cumpram as penalidades impostas.

Daí o seguinte argumento: todos aqueles contrários a isso quereriam o “caos brasilis”. Entre eles, por exemplo, o o procurador da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos que alega que o Brasil está “caminhando para trás” no combate à corrupção ao adotar esses acordos de leniência.

O segundo ponto: ao Dilma ter zerado as pedaladas fiscais, com o o depósito de 57 bilhões que pacificou a questão, teria dado o maior gesto possível de que quer estar em paz com a lei.

Mas a agenda da bipolaridade quer mais: pretende puxar dados da macro-economia e, ao fim e ao cabo, despejar uma pá de cal na Lava Jato como a grande propulsora do caos.

Alguns dados de macroeconomia: o Banco Mundial prevê retração de 2,5% no país neste ano. A projeção anterior era de crescimento de 1,1%. Outro: a queda do setor automotivo brasileiro divulgada pela Anfavea: comparando com o mesmo mês de 2014, o setor teve em dezembro queda de 30% na produção, acumulando em 2015 baixa de 22,8%, a 2,43 milhões de unidades.

Aí vem a grande questão: dar proporções maiúsculas à Lava Jato. E assim praticamente criminalizar quem combate o crime.

Para tanto, estão sendo extraídos dados do estudo da consultoria GO Associados. Em resumo, esse estudo atribui à Lava Jato os seguintes números armagedônicos: perdas de R$ 142,6 bilhões (o equivalente a 2,5% do PIB), redução de 1,9 milhão de empregos diretos e indiretos, queda de R$ 22,4 bilhões em salários e diminuição de R$ 9,4 bilhões em arrecadação de impostos.

Essa é a nova batalha bipolar no ar: criminalizar quem combate o crime. Diz algo, não ?

Ano novo? Só se for na folhinha

A cada dia que se desfolha no calendário, o brasileiro assiste ao replay do ano passado. Dizer que estamos em novo ano é apenas por uma questão de registro do tempo. 2015 não acabou e deve se prolongar bem mais do que se imaginava. Um autêntico ano que não terminou vai seguir calendário após calendário.

A renovação prometida pelo espoucar de fogos precisa de vontade que falta aos governantes e políticos. Fica-se apenas com um fiapo de esperança de que baixe um santo naquelas cabeças ocas para fazer mudanças. Mas como são caras de pau, o jeito será usar do porrete da manifestação para que o país não se arraste mais na fossa sem mudar o script.

Sob o reinado da mentira, a grande obra de Dilma, superando mesmo a desfaçatez de Lula, já se vê como vão rolar os demais dias na folhinha. 


Ano Novo requer vontade e esperança para realmente mudar e ser diferente. Não há vontade no governo e enorme desesperança no país. Tais ingredientes são bons numa queda do precipício.

Dilma, incorrigível e insuperável na mentira, logo neste inicinho de ano fez circular que haveria um coelho na cartola mágica governamental para sanar todos os males. Não há coelho agora segundo Jacques Wagner, da Casa Civil.

Estão de olho que surja ao menos um cisco para alardearem que encontraram um mamute salvador. É estratégia de contar com o ovinho para depois dizer que era de dinossauro e só eles viram.

Enquanto não aparece um fiapo para se agarrar no recesso do Congresso, Dilma vai levando no bico naquele peculiar jeito de empurrar com a barriga e confessando: os erros são os outros existirem.

Não se precisa de presidente para se fazer o que Dilma faz. Mesmo o mais boçal pode até fazer melhor papel criando um país de mentira. 

Resta saber até quando a folhinha vai aguentar carregar Dilma nas costas, porque o país está quase apeando.