quarta-feira, 29 de julho de 2015

O proibidão do Porto


O gigante está sambando. Num ataque crônico de sonambulismo, ele vem requebrando freneticamente -em formidáveis acrobacias para manter Dilma Rousseff no Planalto. A cada novo petardo da Lava Jato expondo a indústria de corrupção montada pelo PT no topo da República, o gigante mostra seu poder de esquiva, No melhor estilo Ronaldinho Gaúcho, ele olha sempre para o lado em que a bola do petrolão não está. E acaba de contrair um doloroso torcicolo, em sua guinada para não ver a literatura explosiva dos bilhetes de Marcelo Odebrecht na cadeia.

O Brasil já mostrara toda a sua ginga ao virar a cara, numa pirueta radical, para o encontro secreto de Dilma com Lewandowski em Portugal. A presidente da República e o presidente do Supremo Tribunal Federal, irmãos de credo, reúem-se às escondidas fora da capital portuguesa, no momento em que o maior escândalo de corrupção da história do país (envolvendo o governo dela) tem seu destino nas mãos da instância judiciária máxima (presidida por ele). Normal. No que o encontro vazou, a dupla explicou tudo: a reunião foi para discutir o reajuste dos servidores da Justiça.

Perfeitamente compreensível. Não há outra forma de discutir salário de funcionários públicos a não ser cruzando o Oceano Atlântico para um cafezinho clandestino. No Brasil, é mais fácil uma aberração dessas virar rap — o Proibidão do Porto — do que acordar a platéia para os riscos que rondam a Operação Lava Jato. Como os brasileiros se cansaram de ver no mensalão - ou pelo visto não se cansaram —, esse gato se esconde com o rabo de fora.

A inabalável posição de Lewandowski pró-mensaleiros, em harmonia com a inabalável lealdade de Dilma aos companheiros apanhados em situação de roubo, é a sinfonia que se repete no petrolão. Entre as cenas que se seguiram ao Proibidão do Porto está o cerco ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha - personagem venenoso que fustiga o governo. Surgiram oportunamente indícios, embalados por declarações providenciais do procurador Janot - um homem providencial - empurrando Cunha para o STF de Lewandowski. O presidente da Câmara respondeu que não vé problema em ser investigado no Supremo, desde que Dilma seja também.

É esse tipo de comentário que faz o gigante rebolar. Como assim, investigar Dilma? Por que investigar a presidenta mulher, mãe, avó e que até tem um cachorro? Que foi perseguida pela ditadura? (Embora hoje não se saiba ao certo quem persegue quem.) De sua cela, Marcelo Odebrecht mandou a resposta: porque ela recebeu dinheiro sujo do petrolão diretamente de uma conta na Suíça para sua campanha presidencial. Que tal? Essa informação foi captada pela Polícia Federal de um celular do empreiteiro preso, em forma cifrada, mas bastante clara. Como já vinha se desenhando com clareza nas delações premiadas, praticamente todas apontando para financiamento de Dilma e do PT com propinas do petrolão, através do ex-tesoureiro Vaccari.

Por uma enorme coincidência, a empreiteira é a mesma em favor da qual Lula é suspeito de fazer tráfico internacional de influência, conforme investigação em curso no Ministério Público. O instituto Lula diz que vários ex-presidentes viajam para defender interesses das empresas de seus países. Resta saber se algum deles recebe cachês estratosféricos das empresas que defendem ou se viaja com uma bolsa BNDES a tiracolo para fazer brotar instantaneamente qualquer obra em qualquer lugar.

O gigante se contorce inteiro para não ver que o petrolão, como o mensalão, é parte de um processo de pilhagem - aí incluídas outras táticas parasitárias como as pedaladas fiscais, tudo a serviço da transfusão de dinheiro público para um grupo político bonzinho se eternizar no poder. O Brasil está comendo o pão que o diabo amassou, mergulhando numa recessão que não segue o panorama mundial, nem continental - e ouve numa boa o companheiro Ricardo Lewandowski declarar, após o Proibidão do Porto, que a derrocada econômica nacional é decorrente da crise de 2008 nos Estados Unidos...

Claro que ninguém perguntou nada ao presidente do STF sobre a conjuntura econômica. Mas não precisa, porque eles estão ensaiadinhos e são desinibidos. A ópera-bufa não tem hora para acabar, enquanto a plateia estiver dormindo.

Guilherme Fiuza

De J.Figeiredo@com para Dilma@gov


Resultado de imagem para joao.figueiredo@Prezada presidente,
Já lhe escrevi várias vezes, sem qualquer resultado. Pedi-lhe que parasse de distribuir mau humor porque sei que riem de nós. Quando as coisas iam mal, eu me deixava fotografar montando um dos meus cavalos, a senhora monta sua bicicleta. Presidentes fazendo coisas desse tipo rendem imagens, mas sabemos que isso é apenas teatro. Quem lhe disser que a senhora se parece comigo está frito. Lastimo dizer-lhe: somos parecidos. Eu não tinha como mudar. A senhora tem. Como? Não sei, nem poderia lhe dizer.

Eu governei o Brasil de 1979 a 1985. Depois veio o Sarney (a quem não passei a faixa). Juntos, levamos o país para o que hoje se chama de "Década Perdida". Ela teria acabado em 1993, quando aquele caipira do Itamar Franco botou o Fernando Henrique Cardoso no ministério da Fazenda. O SNI achava que ele era comunista. Hoje me dou bem com o Itamar e gosto de conversar com o Tancredo Neves. Ele promete me reaproximar do general Ernesto Geisel, mas não está fácil. Se a tal "Década Perdida" tivesse acabado em 1994, teria começado em 1984. Não creio. Ela começou antes, no meu governo.

A ruína de nosso país começou em 1982, quando fomos colocados diante de uma situação econômica adversa e resolvemos pedalar. Eu fazia uma coisa, desfazia, tentava outra, sempre anunciando que a crise era transitória e sairíamos das dificuldades. Vieram o Sarney e o Itamar e tocaram o mesmo realejo.
 
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Escrevo-lhe para pedir-lhe que pense na coisa mais elementar: o buraco está muito mais embaixo. A crise econômica do país é mais grave do que a senhora diz, mas está no início. Talvez esse moço que a senhora pôs na Fazenda tenha acreditado que resolveria com saltos triplos. Aprendeu que não dá e o pior que pode acontecer à senhora é ter um ministro vendendo otimismo e produzindo descrédito. Para desgraça geral, eu, o Sarney e o Itamar jogamos esse jogo.

Toda vez que eu fazia uma besteira a senhora ficava feliz. Hoje, daqui, não me alegro com suas bobagens. Essa história de crise transitória levando ao crescimento depois da próxima esquina é ridícula. Aliás, essa imagem veio do presidente americano Herbert Hoover em 1930, um sujeito pernóstico que conversa muito com o Roberto Campos. O Franklin Roosevelt, que governou depois dele, não o cumprimenta.

Crise é crise e a senhora está no meio de uma. Reconheça-a. Assuma-a. Se o PT fizer cara feia, encare-o. O que arruinou a nossa economia foi a minha incapacidade, a do Sarney e a do Itamar até 1993 de reconhecer o tamanho do buraco e de enfrentar questões difíceis que pareciam insuperáveis. Sarney e o Itamar foram mais hábeis que eu, costurando uma base política. A minha, contudo, costurei-a abrindo espaço para Tancredo, livrando o país de um governo presidido por Paulo Maluf.

Outro dia a senhora disse que a Lava Jato influenciou na redução da atividade econômica em 1%. Eu sei quanto nos custam observações coloquiais. Tem gente que acredita que eu preferia o cheiro de cavalo ao do povo. Nossas derrapadas saem da alma, mas a senhora sabe que a Lava Jato não influenciou a atividade econômica. Foram as roubalheiras que provocaram a Lava Jato. Na dúvida, fique calada. Eu não conseguia.

Despeço-me porque os meu cavalos estão pedindo comida.

Atenciosamente,

João Baptista Figueiredo

Elio Gaspari  

Nas praças



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Nas praças vindouras — talvez as mesmas que as nossas — 
Que elixires serão apregoados?
Com rótulos diferentes, os mesmos do Egito dos Faraós;
Com outros processos de os fazer comprar, os que já são nossos.

E as metafísicas perdidas nos cantos dos cafés de toda a parte,
As filosofias solitárias de tanta trapeira de falhado,
As ideias casuais de tanto casual, as intuições de tanto ninguém —
Um dia talvez, em fluido abstrato, e substância implausível,
Formem um Deus, e ocupem o mundo.
Mas a mim, hoje, a mim
Não há sossego de pensar nas propriedades das coisas,
Nos destinos que não desvendo,
Na minha própria metafisica, que tenho porque penso e sinto.

Não há sossego,
E os grandes montes ao sol têm-no tão nitidamente!

Têm-no? Os montes ao sol não têm coisa nenhuma do espírito.
Não seriam montes, não estariam ao sol, se o tivessem.

O cansaço de pensar, indo até ao fundo de existir,
Faz-me velho desde antes de ontem com um frio até no corpo.

E por que é que há propósitos mortos e sonhos sem razão?
Nos dias de chuva lenta, contínua, monótona, uma,
Custa-me levantar-me da cadeira onde não dei por me ter sentado,
E o universo é absolutamente oco em torno de mim.

O tédio que chega a constituir nossos ossos encharcou-me o ser,
E a memória de qualquer coisa de que me não lembro esfria-me a alma.
Sem dúvida que as ilhas dos mares do sul têm possibilidades para o sonho,
E que os areais dos desertos todos compensam um pouco a imaginação;
Mas no meu coração sem mares nem desertos nem ilhas sinto eu,
Na minha alma vazia estou,
E narro-me prolixamente sem sentido, como se um parvo estivesse com febre.
Fúria fria do destino,
Interseção de tudo,
Confusão das coisas com as suas causas e os seus efeitos,
Consequência de ter corpo e alma,
E o som da chuva chega até eu ser, e é escuro. 

Fernando Pessoa 

Os ares de agosto

Estamos chegando a agosto, mês de cachorro doido, de ventania e de maus presságios. Nunca fui cismado, apesar de ser um baianeiro ainda com resquícios da fala cantada. Não escuto minha voz e, não fosse o espelho, não me reconheceria... Coisas do meu Vale, coisas que me fizeram. Mas nem por isso deixo de ser cauteloso e fechado para as evidências.

Sei, assim, que não é por pouca coisa ou nada que o ex-Luiz está procurando o vaidoso ex-presidente Fernando Henrique para, juntos, acharem uma saída nesse túnel em que ele, ex-Luiz, e Dilma enfiaram o Brasil.

Semana passada, Dilma disse que foi a tecnologia moderna que descobriu o fogo... Ó Pai, por que me abandonaste? Numa análise simplista, eu diria que esse beco em que nos encontramos (que parece sem saída) é fruto da ignorância de um e do despreparo de outro. Ou, talvez, de preparo demais. Afinal, Dilma não disse que era mestra e doutora pela Unicamp?


Resultado de imagem para lula e collor aos abraçosMas, se for pela coerência, o ex-Luiz não terá problema, haja vista a resposta do estadista molusco em entrevista ao jornalista Milton Neves, em 1993, por ocasião do impeachment de Collor: “Lula, você tem pena de Fernando Collor?”. “Tenho, eu... não é que eu tenha pena como ser humano, eu acho que uma pessoa que teve oportunidade, como aquele cidadão, de fazer alguma coisa para o bem do Brasil, um homem que tinha o respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ou seja, em vez de construir um governo, construiu uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor. Efetivamente, eu fico com pena porque acho que o povo brasileiro esperava que essa pessoa pudesse conduzir a uma solução ou pelo menos iniciar soluções para os graves problemas que nós temos. Mas, lamentavelmente, a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar a corrupção fizeram com que o Collor jogasse por terra todo um sonho e a esperança do povo brasileiro. Mas, de qualquer maneira, acho que ficou a lição para que o povo brasileiro em outras eleições possa pelo menos escolher um candidato que conheça seu passado político” (sic).

Falou e disse tudo, só que falou dele mesmo... Imagine, o ex-Luiz, já naquele tempo, falando de “quadrilha que toma de assalto o poder”... Lula, como é mais conhecido pelo lobismo internacional, escapou até agora de ser preso, me parece, por falta de tempo do juiz Sérgio Moro, que, se levar o ex-Luiz e sua gangue para a cadeia e também Dona Dilma, depois de cumprir seu mandato, certamente sairá de suas atuais funções para a Presidência da República. Aliás, que fique claro: sou contra o impeachment de Dona Dilma. Deixem-na no lugar de guardiã da limpeza do Palácio, enquanto o Levy organiza ou não o caos existente. E o Michel? Bem, esse continuará fazendo caras e bocas. Se eu estiver vivo, e hei de estar, pretendo votar para presidente só em Serra ou Sérgio Moro, o caça-rato. Melhor ainda: nos dois juntos numa mesma chapa
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Sylo Costa 

Para frente


Li um interessante artigo publicado no jornal “Valor” desta semana, de autoria do presidente de FCA, Cledorvino Belini, que chama atenção para a “inovação” como forma mais direta e valiosa de sobreviver ao atropelo da crise. Ainda mais neste momento de provações enfrentadas pelos setores econômicos que sustentam o sistema e alimentam diretamente o erário, o estômago das pessoas, e garantem “ordem e progresso”.

Para isso Belini chama a atenção para a “educação” como chave e panaceia da sociedade.

No jornal O TEMPO do último sábado, uma entrevista do instituidor do projeto Inhotim, Bernardo Paz, aponta “sua” saída pela quebra de paradigmas sociais, uma revisão plena do “modus vivendi” marcada pela volta ao “natural”, ao lado artístico da vida que a humanidade deixou fora da “urbis”. Um resgate da tribo deixada atraente pela tecnologia.

Os avanços, especialmente da comunicação, deixam em segundo plano a necessidade de se aglomerar entre as muralhas de concreto. Paz, provavelmente influenciado pelas teorias da Era de Aquário, pelo esoterismo insurgente, se lança no espaço inexplorado do “pós-moderno”, da superação do trivial, que, aliás, é o norte do próprio projeto “Inhotim”.

A sociedade chegará ao momento em que o desejo do consumo estará saturado, e a mola mestra de hoje terá que ser substituída por outras fórmulas. Quais? Aí na bola de cristal temos duas visões: aquela do homem de indústria, que movimenta as engrenagens da economia, e a do outro, o colecionador de arte, o mecenas, vislumbrando uma saída dos paradigmas. Da fórmula do progresso pelo crescimento econômico. Bernardo Paz, que sabe conviver com o apelido de “louco” que se aplica com facilidade ao “profeta que nunca será reconhecido em sua pátria”, enxerga o futuro distante, mas já insurgente numa minoria.

Os discursos, aparentemente distantes, se entrelaçam na preocupação do enfrentamento da situação desfavorável, social e econômica.

Meu guru escrevia na década de 60 que chegaríamos ao ponto em que os valores que movem a humanidade nos últimos milênios se exauririam por uma parte da sociedade, mas seriam ainda necessários para outra, por meio do apaziguamento das necessidades ancestrais provocado pelo acesso ao consumo em larga escala.

Dessa maneira, os instintos de sobrevivência mais grosseiros e animalescos, com sua rudez e ferocidade, deixariam superadas as lutas com unhas e dentes para encher o estômago.

Encontrando a fartura, deixará de disputar seu abastecimento como uma fera que se vale de tudo. A prole amenizaria os instintos, deixaria de caçar e passaria a ter disposição e tempo para procurar dentro de si valores que transcendem a cruel disputa. Isso se apercebe agora no despertar de pessoas que enxergam a vida não só como uma luta, mas como uma pacífica convivência.

O vidente teósofo Charles Leatbeater, no livro “O Homem, de Onde Vem e para Onde Vai”, profetizou, em 1900, a televisão e a internet, descreveu também formas de vidas para as épocas atuais e futuras que deixam para trás o modus vivendi dos últimos séculos. Haveria, assim, já uma sociedade mais sábia, moderada e feliz à procura da superação do mero materialismo. Mas, se uma parte evoluiu, outra tenderia a se extinguir na estreiteza de sua compreensão. Assim como o homem de Cro-Magnon sobreviveu ao Neandertal.

Belini enxerga na inovação a “via”, e esta se dará em sintonia com a procura de novos valores, auspicados por Paz. A inovação deve se dirigir a um norte, sinalizado pela necessidade de conversão de métodos impróprios para os sustentáveis e limpos.

A sociedade civil, tanto no mundo empresarial como no artístico-cultural, vem apresentando propostas muito valiosas. Acendendo luzes na escuridão que deveriam ser aproveitadas pelo mundo oficial. 

Vittorio Medioli 

Com todo respeito, uma bobagem

Tanto faz se de público ou em privado, a presidente Dilma costuma surpreender com opiniões esdrúxulas. Na segunda-feira, reunida com ministros, declarou dever-se à Operação Lava Jato a queda de pelo menos um ponto percentual, dos dois perdidos no Produto Interno Bruto. Como a reunião não estava sendo transmitida pela mídia, presume-se que algum ministro deu o serviço para os jornalistas. Deve ser admoestado, menos por ser boquirroto, mais por não ter tido a noção de que Madame falava uma bobagem. Resultado: fez a festa na oposição. E deixou os setores governistas de cabelo em pé.

Onde já se viu dizer que prejudica o desenvolvimento nacional uma iniciativa destinada a investigar ladroagens e roubalheiras? Só progrediremos com o Ministério Público e a Polícia Federal apurando as lambanças e encaminhando seus responsáveis à Justiça, para as devidas providências. Na verdade, quem fez cair os índices do crescimento econômico nacional foram a Petrobras e seus variados saqueadores, políticos e empreiteiros.

A presidente tem muito mais responsabilidade na queda do PIB do que procuradores e policiais. Afinal, sabia ou não sabia do jabá? Que providências tomou para evitar o assalto aos cofres da maior empresa pública do país? Apesar de dois ministros apontados como tendo participado da lambança, nenhum foi afastado. Muito menos parlamentares da base oficial.

Não é a primeira vez que Dilma se perde com as palavras, mas agora foi demais.Seu diagnóstico, além de lamentável, é falso. Estivesse o Congresso reunido e montes de pronunciamentos de protesto tomariam os trabalhos. Dizem que ela cursou Economia. Haverá um professor, sequer, capaz de endossar essa tese?

Com o passar dos séculos, o poder da riqueza superou o privilégio do nascimento? Parece que sim, mas o berço ainda constitui fator importante nas diversas atividades. Na política e na atividade privada, funciona ser filho de senador ou neto do fundador da empresa. Às vezes, porém, é prejudicial. Aí estão os empreiteiros presos na Operação Lava Jato. Vamos aguardar os políticos…

Carlos Chagas 

A máquina de lama

Resultado de imagem para jornal enrolado A internet trouxe vários efeitos benignos, que todos conhecemos. Mas também trouxe alguns vírus: a malignidade da rede aberta. Mesmo assim, qualquer ideia de regular, censurar ou monitorar a rede é uma aberração contra a qual temos que lutar até as vias de fato.

O escritor Umberto Eco chama de "máquina de lama" a miríade de sites destinados a propagar informações falsas - na qual muitos incautos caem -, inverdades e fraudes que versam o outro lado da verdade. Porém, lembro a vocês que não existem dois lados para a verdade: o outro lado da verdade é a mentira. O que tem faces diversas são as opiniões, a visão dos fatos. Mas fato é fato. Não tem meio-fato. O que não é fato, mas divulgado como tal, é factoide, ou seja, mentira. Cuidado com elas.

Eco diz que os sites que espargem verdades inventadas, são a versão atualizada e repaginada, com novo layout editorial, dos veículos sensacionalistas de um passado nem tão distante. Diante desse ambiente, a função da imprensa profissional é apurar fatos, checá-los e, a partir deles, fazer suas análises. Permitindo inclusive, a publicação da opinião do divulgador do fato jornalístico, mesmo diante de uma visão que pode ser controversa. Mas a verdade ignora o lado de quem a divulga. Faz pouco caso da elegância ou da estética. A verdade não participa de concursos de beleza, tampouco de concurso de simpatias. Não tem cores, não tem bandeiras, ideologias ou partidos. Não torce por ninguém, pois que se basta em si mesma, simplesmente por ser a verdade. Isso faz da verdade algo ímpar, sem cópias, subtítulos ou linhas de apoio. A verdade é pontual, e ponto!

A verdade é a ferramenta do verdadeiro jornalismo, e serve de espada e escudo ao leitor interessado. "Os jovens leem os jornais para saber se o que veem na internet é verdadeiro ou falso", disse o escritor há algumas semanas ao jornal espanhol El País, em entrevista.

A análise aparentemente em nível de superfície, feita por Umberto Eco, na verdade tem raízes extremamente profundas e consolidadas, e vale muito para o Brasil do momento. O Brasil atual, o qual nenhum de nós queria ver e ter que conviver. Seguramente gostaríamos que fosse apenas um sonho ruim, daqueles pesadelos que temos depois de um porre de vinho de má qualidade. Muita dor de cabeça e indisposição, mas que passa até a hora do almoço, depois que acordamos. Pena que seja mais que um porre. É uma brutal infecção, gestada há décadas, que agora eclode em septicemia social e moral, com efeitos colaterais de total ausência de ética, decência e moral. Nos tornamos a nação dos desmoralizados.

Nunca antes na história desse país a Justiça, todas as polícias e o Ministérios Público, trabalharam com tanta liberdade...até que a pata suja do Estado começasse a se mostrar, tal como agora, com determinação de que investiguem o Promotor Federal que indiciou Lula; da proibição do Juiz Federal Sergio Moro de emitir decisão sobre indiciamento de Eduardo Cunha, por ordem do ordenança do reino, Ricardo Lewandowski.

Até aqui, antes do retrocesso com sintomas fétidos, empresários e políticos poderosos foram investigados e muita sujeira saiu debaixo do tapete, borbulharam os bueiros entupidos com os dejetos da corrupção. Outros tantos, por decisão abalizada da Justiça, foram encarcerados. Isto foi um sinal de saúde democrática, em meio a história repleta de imoralidade e privação de liberdade e autonomia dos poderes. Um sinal de democracia madura, mas que começa a dar seus sinais de falência, caso a inércia dos cidadãos permita a reconstrução da pizzaria.

Jornalismo não é militância, e nem pode ser. Cabe à imprensa profissional manter a sobriedade. Mais: a serenidade e a independência absoluta. Fazer jornalismo para o leitor é a regra fundamental. Nunca, penas à soldo.

O exemplo mais profundo do jornalismo verdade que se tem buscado - e encontrado em alguns veículos, e em muitos trabalhos independentes, porém muito profissionais - foi a afirmação de Emílio Odebrecht, que disse em entrevista à uma revista, diante da iminência da prisão de seu filho Marcelo: "Ao prenderem o Marcelo, terão que arrumar mais três celas. Uma para mim, uma para o Lula e outra para Dilma".

"A existência da imprensa é uma garantia de democracia, de liberdade", disse Umberto Eco naquela entrevista aos espanhóis. Que as sábias palavras de Umberto façam Eco em nossos ouvidos e que não deixemos passar o bonde superlotado da história, da qual somos partícipes, autores e atores.

Estamos cansados de ser os mal pagos coadjuvantes de um história suja, onde os que nos roubam o circo sempre ficam com a parte do leão.

Gilnei Lima