A internet trouxe vários efeitos benignos, que todos conhecemos. Mas também trouxe alguns vírus: a malignidade da rede aberta. Mesmo assim, qualquer ideia de regular, censurar ou monitorar a rede é uma aberração contra a qual temos que lutar até as vias de fato.
O escritor Umberto Eco chama de "máquina de lama" a miríade de sites destinados a propagar informações falsas - na qual muitos incautos caem -, inverdades e fraudes que versam o outro lado da verdade. Porém, lembro a vocês que não existem dois lados para a verdade: o outro lado da verdade é a mentira. O que tem faces diversas são as opiniões, a visão dos fatos. Mas fato é fato. Não tem meio-fato. O que não é fato, mas divulgado como tal, é factoide, ou seja, mentira. Cuidado com elas.
Eco diz que os sites que espargem verdades inventadas, são a versão atualizada e repaginada, com novo layout editorial, dos veículos sensacionalistas de um passado nem tão distante. Diante desse ambiente, a função da imprensa profissional é apurar fatos, checá-los e, a partir deles, fazer suas análises. Permitindo inclusive, a publicação da opinião do divulgador do fato jornalístico, mesmo diante de uma visão que pode ser controversa. Mas a verdade ignora o lado de quem a divulga. Faz pouco caso da elegância ou da estética. A verdade não participa de concursos de beleza, tampouco de concurso de simpatias. Não tem cores, não tem bandeiras, ideologias ou partidos. Não torce por ninguém, pois que se basta em si mesma, simplesmente por ser a verdade. Isso faz da verdade algo ímpar, sem cópias, subtítulos ou linhas de apoio. A verdade é pontual, e ponto!
A verdade é a ferramenta do verdadeiro jornalismo, e serve de espada e escudo ao leitor interessado. "Os jovens leem os jornais para saber se o que veem na internet é verdadeiro ou falso", disse o escritor há algumas semanas ao jornal espanhol El País, em entrevista.
A análise aparentemente em nível de superfície, feita por Umberto Eco, na verdade tem raízes extremamente profundas e consolidadas, e vale muito para o Brasil do momento. O Brasil atual, o qual nenhum de nós queria ver e ter que conviver. Seguramente gostaríamos que fosse apenas um sonho ruim, daqueles pesadelos que temos depois de um porre de vinho de má qualidade. Muita dor de cabeça e indisposição, mas que passa até a hora do almoço, depois que acordamos. Pena que seja mais que um porre. É uma brutal infecção, gestada há décadas, que agora eclode em septicemia social e moral, com efeitos colaterais de total ausência de ética, decência e moral. Nos tornamos a nação dos desmoralizados.
Nunca antes na história desse país a Justiça, todas as polícias e o Ministérios Público, trabalharam com tanta liberdade...até que a pata suja do Estado começasse a se mostrar, tal como agora, com determinação de que investiguem o Promotor Federal que indiciou Lula; da proibição do Juiz Federal Sergio Moro de emitir decisão sobre indiciamento de Eduardo Cunha, por ordem do ordenança do reino, Ricardo Lewandowski.
Até aqui, antes do retrocesso com sintomas fétidos, empresários e políticos poderosos foram investigados e muita sujeira saiu debaixo do tapete, borbulharam os bueiros entupidos com os dejetos da corrupção. Outros tantos, por decisão abalizada da Justiça, foram encarcerados. Isto foi um sinal de saúde democrática, em meio a história repleta de imoralidade e privação de liberdade e autonomia dos poderes. Um sinal de democracia madura, mas que começa a dar seus sinais de falência, caso a inércia dos cidadãos permita a reconstrução da pizzaria.
Jornalismo não é militância, e nem pode ser. Cabe à imprensa profissional manter a sobriedade. Mais: a serenidade e a independência absoluta. Fazer jornalismo para o leitor é a regra fundamental. Nunca, penas à soldo.
O exemplo mais profundo do jornalismo verdade que se tem buscado - e encontrado em alguns veículos, e em muitos trabalhos independentes, porém muito profissionais - foi a afirmação de Emílio Odebrecht, que disse em entrevista à uma revista, diante da iminência da prisão de seu filho Marcelo: "Ao prenderem o Marcelo, terão que arrumar mais três celas. Uma para mim, uma para o Lula e outra para Dilma".
"A existência da imprensa é uma garantia de democracia, de liberdade", disse Umberto Eco naquela entrevista aos espanhóis. Que as sábias palavras de Umberto façam Eco em nossos ouvidos e que não deixemos passar o bonde superlotado da história, da qual somos partícipes, autores e atores.
Estamos cansados de ser os mal pagos coadjuvantes de um história suja, onde os que nos roubam o circo sempre ficam com a parte do leão.
Gilnei Lima
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