sexta-feira, 2 de abril de 2021
Vacinados conra o golpe
Enquanto os líderes mundiais lançavam um comunicado considerando a pandemia o maior problema da humanidade desde a 2.ª Guerra, aqui, no Brasil, Bolsonaro quis dar um golpe para evitar o combate eficaz contra o coronavírus. Esta é a leitura que faço dos episódios da semana.
Bolsonaro pressionou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, não apenas para demitir o comandante do Exército, mas para ter condições de neutralizar pela força as medidas restritivas que os governadores impuseram em seus Estados para salvar vidas.
Com a demissão do ministro, os comandantes das três Armas renunciaram em protesto contra Bolsonaro. E ficou evidente ali que o Exército não se lançaria na aventura de Bolsonaro, que, em nome da economia, tinha o potencial de matar mais ainda uma população já devastada pelo coronavírus.
A divergência entre a visão do Exército e a de Bolsonaro sobre a pandemia ficou evidente na véspera da demissão do ministro Fernando Azevedo, que ao sair se limitou a dizer que manteve a instituição militar como força do Estado, e não de um governo.
Em entrevista ao Correio Brasiliense, o general Paulo Sérgio, diretor do Departamento de Pessoal do Exército, mostrou como a instituição atravessou a pandemia, obedecendo os mais estritos protocolos de segurança. Previdente, como, aliás, o são todos os governos do mundo, o Exército já se preparava para uma terceira onda. O saldo do combate, na proteção de 700 mil pessoas sob sua influência, foi muito positivo. Basta comparar o índice de mortalidade na Força, que foi de 0,13%, com o do Brasil, 2,5%.
Apesar de ter processado milhares de comprimidos de hidroxicloroquina em seus laboratórios, por influência de Bolsonaro, o Exército internamente comportou-se como grande parte da humanidade, tentando seguir protocolos de segurança. Houve também a passagem desastrosa do general Pazuello pelo Ministério da Saúde. Mas no seu pronunciamento o comandante Edson Pujol ressaltou que a ida de militares para o governo era uma escolha pessoal.
A posição de Pujol a respeito da pandemia pareceu inequívoca no seu documentado encontro com Bolsonaro em Porto Alegre. Bolsonaro estendeu a mão, Pujol ofereceu o cotovelo, que é o tipo de saudação recomendado pela OMS.
Lembro-me, naquele momento, de que escrevi sobre as ligações originárias das Forças Armadas com o positivismo, o que deve ter despertado nos militares não só um respeito, mas também uma disposição de associar seu trabalho à ciência.
Felizmente, a tentativa de envolver os militares na aventura macabra de sabotar pela força as medidas contra a pandemia fracassou. Mas Bolsonaro tinha um plano B.
Ele sabe que a instituição é mais sólida do que as PMs e logo em seguida pôs o plano em prática. Por intermédio de um deputado, tentou aprovar com urgência um projeto de mobilização nacional, que lhe daria controle de todas as PMs do Brasil. Tudo indica que ele busca desesperadamente uma força militar para impor suas ideias acerca da pandemia, uma força de intimidação dos adversários ancorados no bom senso.
Fora essa tentativa desastrada de dar um golpe para aplicar sua política de morte, Bolsonaro fez uma minirreforma ministerial, que apenas colocou o Centrão dentro do palácio, com a chave do cofre, e renovou algumas indicações familiares para cargos decisivos, como, por exemplo, o Ministério das Relações Exteriores. Poucos se lembram de que o início da crise era a pressão do Senado para derrubar o pior chanceler da nossa História, Ernesto Araújo.
Araújo apenas teorizava as ideias toscas de Bolsonaro com tintas de Steve Bannon, Olavo de Carvalho e da própria Alt Right americana. O foco do nosso isolamento internacional, diria mesmo de nossa vergonha, é o comportamento do presidente Bolsonaro, que fez do Brasil uma ameaça internacional, pela destruição ambiental e pela tragédia sanitária.
Ao escolher um modesto diplomata, que jamais ocupou uma embaixada, Bolsonaro quer mantê-lo agradecido pelo cargo e aberto à sua influência – mais precisamente, à influência do filho Eduardo, um dos grandes artífices da nossa destruidora política externa.
Bolsonaro enfrenta essa crise profunda num momento em que as próprias condições de governabilidade se diluem. Uma clara demonstração disso foi o Orçamento aprovado no Congresso. Sempre se diz que o Orçamento no Brasil é uma peça de ficção. Mas este, que foi aprovado com uma hipertrofia dos gastos militares, talvez esteja mais para um filme de horror.
Não se trata apenas de governabilidade num momento qualquer, mas durante uma pandemia de que o Brasil é o epicentro mundial, campeão indiscutível em número de mortos.
Um presidente incapaz, entregue no campo político à voracidade dos seus aliados do Centrão, buscando de todas as maneiras sabotar a luta contra a pandemia – tudo isso compõe um cenário desolador, sobretudo porque a sociedade está reduzida, no momento, a protestos virtuais.
Cedo ou tarde, julgaremos Bolsonaro.
Bolsonaro pressionou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, não apenas para demitir o comandante do Exército, mas para ter condições de neutralizar pela força as medidas restritivas que os governadores impuseram em seus Estados para salvar vidas.
Com a demissão do ministro, os comandantes das três Armas renunciaram em protesto contra Bolsonaro. E ficou evidente ali que o Exército não se lançaria na aventura de Bolsonaro, que, em nome da economia, tinha o potencial de matar mais ainda uma população já devastada pelo coronavírus.
A divergência entre a visão do Exército e a de Bolsonaro sobre a pandemia ficou evidente na véspera da demissão do ministro Fernando Azevedo, que ao sair se limitou a dizer que manteve a instituição militar como força do Estado, e não de um governo.
Em entrevista ao Correio Brasiliense, o general Paulo Sérgio, diretor do Departamento de Pessoal do Exército, mostrou como a instituição atravessou a pandemia, obedecendo os mais estritos protocolos de segurança. Previdente, como, aliás, o são todos os governos do mundo, o Exército já se preparava para uma terceira onda. O saldo do combate, na proteção de 700 mil pessoas sob sua influência, foi muito positivo. Basta comparar o índice de mortalidade na Força, que foi de 0,13%, com o do Brasil, 2,5%.
Apesar de ter processado milhares de comprimidos de hidroxicloroquina em seus laboratórios, por influência de Bolsonaro, o Exército internamente comportou-se como grande parte da humanidade, tentando seguir protocolos de segurança. Houve também a passagem desastrosa do general Pazuello pelo Ministério da Saúde. Mas no seu pronunciamento o comandante Edson Pujol ressaltou que a ida de militares para o governo era uma escolha pessoal.
A posição de Pujol a respeito da pandemia pareceu inequívoca no seu documentado encontro com Bolsonaro em Porto Alegre. Bolsonaro estendeu a mão, Pujol ofereceu o cotovelo, que é o tipo de saudação recomendado pela OMS.
Lembro-me, naquele momento, de que escrevi sobre as ligações originárias das Forças Armadas com o positivismo, o que deve ter despertado nos militares não só um respeito, mas também uma disposição de associar seu trabalho à ciência.
Felizmente, a tentativa de envolver os militares na aventura macabra de sabotar pela força as medidas contra a pandemia fracassou. Mas Bolsonaro tinha um plano B.
Ele sabe que a instituição é mais sólida do que as PMs e logo em seguida pôs o plano em prática. Por intermédio de um deputado, tentou aprovar com urgência um projeto de mobilização nacional, que lhe daria controle de todas as PMs do Brasil. Tudo indica que ele busca desesperadamente uma força militar para impor suas ideias acerca da pandemia, uma força de intimidação dos adversários ancorados no bom senso.
Fora essa tentativa desastrada de dar um golpe para aplicar sua política de morte, Bolsonaro fez uma minirreforma ministerial, que apenas colocou o Centrão dentro do palácio, com a chave do cofre, e renovou algumas indicações familiares para cargos decisivos, como, por exemplo, o Ministério das Relações Exteriores. Poucos se lembram de que o início da crise era a pressão do Senado para derrubar o pior chanceler da nossa História, Ernesto Araújo.
Araújo apenas teorizava as ideias toscas de Bolsonaro com tintas de Steve Bannon, Olavo de Carvalho e da própria Alt Right americana. O foco do nosso isolamento internacional, diria mesmo de nossa vergonha, é o comportamento do presidente Bolsonaro, que fez do Brasil uma ameaça internacional, pela destruição ambiental e pela tragédia sanitária.
Ao escolher um modesto diplomata, que jamais ocupou uma embaixada, Bolsonaro quer mantê-lo agradecido pelo cargo e aberto à sua influência – mais precisamente, à influência do filho Eduardo, um dos grandes artífices da nossa destruidora política externa.
Bolsonaro enfrenta essa crise profunda num momento em que as próprias condições de governabilidade se diluem. Uma clara demonstração disso foi o Orçamento aprovado no Congresso. Sempre se diz que o Orçamento no Brasil é uma peça de ficção. Mas este, que foi aprovado com uma hipertrofia dos gastos militares, talvez esteja mais para um filme de horror.
Não se trata apenas de governabilidade num momento qualquer, mas durante uma pandemia de que o Brasil é o epicentro mundial, campeão indiscutível em número de mortos.
Um presidente incapaz, entregue no campo político à voracidade dos seus aliados do Centrão, buscando de todas as maneiras sabotar a luta contra a pandemia – tudo isso compõe um cenário desolador, sobretudo porque a sociedade está reduzida, no momento, a protestos virtuais.
Cedo ou tarde, julgaremos Bolsonaro.
O rato ruge
“Todo homem nasce original e morre plágio”
“Nunca tantos deveram tanto a tão porcos”
Millôr Fernandes
É inegável que o presidente miliciano sempre teve como intencionalidade a ruptura institucional, uma espécie de saudosismo do golpe de 1964 e da ditadura que se seguiu. Temos afirmado com certa insistência em nossas colunas que o bufão na presidência contava com certos recursos para, pelo menos, dar uma base aos seus arroubos, principalmente no suposto apoio de segmentos das forças armadas, sua base social apoiada nas milícias e nas organizações ditas religiosas, além da base eleitoral que lhe auferiu os mais de 57 milhões de votos.
No entanto, devemos lembrar que tais recursos de nada serviriam se não houvesse uma certa condescendência do grande capital monopolista para com as visíveis trapalhadas do miliciano, uma vez que sua única função no cargo era dar sequência às reformas e medidas exigidas pelo capital e o deus mercado. Uma vez que tais medidas encontravam seu caminho, o suposto presidente ia se equilibrando no cargo apesar de tudo. Nesta direção foi realizado um pacto entre os militares, STF e parlamento para evitar a instabilidade de um possível impedimento do presidente, seja por qualquer motivo entre os inúmeros à escolha (irregularidades eleitorais na chapa Jair/Mourão, atentar contra as instituições com atos antidemocráticos que o dito presidente conclamou e participou, imiscuir-se na Polícia Federal para proteger sua família e amigos criminosos, etc.).
No momento do pacto, o principal fator de instabilidade era a clara intenção que partia de um executivo doentio em acirrar os ânimos para justificar uma ruptura. No entanto, o desenvolvimento da pandemia mudou este cenário. O negacionista no maior cargo da República, ainda que tenha recuado em nome do pacto com o Parlamento e o Supremo, abençoado e tutelado pelos militares no governo, se demonstrou uma fábrica de instabilidade para dar respostas à sua base social e eleitoral ou por qualquer outro motivo. Relativizando a gravidade da doença, defendendo ilusórios e irracionais métodos de tratamento preventivo, recusando-se a um plano ordenado de isolamento social e medidas de proteção defendidas pela ciência, desdenhando a importância da vacina e de medidas logísticas adequadas para a imunização; acabou por jogar o país no caos pandêmico e suas dramáticas consequências sociais e econômicas.
A troca de ministros da Saúde e, principalmente, os motivos de tais alterações, somado à atitude do mandatário maior da República, desmascaram a face grotesca do negacionismo, do irracionalismo e do total desprezo pela vida humana. Mas, o capital e seu amigo imaginário, o mercado, não ligam para isso. Rodrigo Maia, fiel zelador do pacto, não viu nenhum motivo para impedimento. O Supremo e suas inalcançáveis razões e fundamentos jurídicos, contentou-se com a gaveta profunda para onde enviou os processos em andamento que serviram de munição para o suposto pacto que deveria manter o ensandecido presidente no cercadinho.
O que ocorreu é que o desenvolvimento da pandemia, esperado e previsto pelos especialistas, mudou este cenário. O grande capital começa a traçar cenários menos idílicos para a retomada econômica e a montanha de mortes diárias atinge aquela marca que passa a gerar “preocupações” para os donos da riqueza e do destino da nação. Não se tratava mais de sete ou dez mil, que o desprezível dono da rede de lanchonetes estava disposto a aceitar como um custo aceitável, ou mesmo os cem mil que coexistiam com lucros aceitáveis e perspectivas de retomada que a assustada economista saudava a cada edição do telejornal para desmentir na próxima edição. É interessante o que o capital pode encarar como aceitável, o que há de diferente entre os cem mil e os trezentos mil mortos, além da contabilidade macabra de pessoas enterradas a cada dia?
O capital e seus diferentes setores, refiro-me ao capital monopolista e não a malta de supostos empreendedores descartáveis que se julgam ideologicamente mais do que de fato são para a cadeia produtiva, lucraram muito nesta época tenebrosa. Não me refiro aqui à aparência enganosa dos setores mais visíveis, como as televendas, os serviços de entrega, cursos on-line (todo mundo descobriu que podia tocar piano e era fácil, assim como praticar a marcenaria, pintura em aquarela e aplicar no mercado financeiro), mas se tais setores da distribuição e de serviços cresceram é porque mercadorias seguiam sendo produzidas, bancos continuavam financiando e cobrando dívidas. É inegável o impacto para pequenos comerciantes e outros ramos que certamente sofreram com restrições de seus pequenos e médios negócios, mas houve crescimento de lucros e aumento da riqueza e da concentração de forma significativa. Nesta fase a preocupação com o distanciamento e as medidas de prevenção são seletivas. Fique em casa, lave as mãos, use máscaras, lógico, se você não é um operário, um entregador de aplicativo, uma faxineira, um profissional da saúde ou da segurança pública, por que se for o caso, você tem que sair de sua casa, pegar uma condução lotada e fazer as coisas funcionarem.
Então, nesta faixa de mortandade, algo ali entre os cem e trezentos mil mortos, tudo ia bem. Tal sensação que o capital compartilhava com o negacionista com a faixa presidencial era que um dia a pandemia ia passar e tudo voltaria ao normal, quem morreu, morreu, quem lucrou lucrou. Como sempre, como em todos os anos ditos normais em que a sanha do capital mata milhares de trabalhadores. Em 2019 o número de acidentes de trabalho cresceu 5,45%, passando de 341.700 para 360.320 mil. Entre 2012 e 2019 a cada 49 segundos um trabalhador sofria um acidente de trabalho e a cada uma hora e três minutos um trabalhador morria em decorrência de um acidente.
Sendo assim, por que da mudança de atitude do grande capital e seus serviçais togados ou investidos de mandatos parlamentares? Creio que o fato do negacionismo presidencial passa a produzir uma instabilidade em duas frentes. A total desorganização na logística das vacinas, acentua a gravidade da pandemia e, principalmente, incide sobre a perspectiva de saída da crise sanitária. A dimensão temporal aqui tem uma importância grande. Tanto a população como os agentes econômicos podem suportar catástrofes, desde que exista uma perspectiva de retomada mais adiante. A falha grave na produção, compra e logística de vacinação, torna nebulosa a dimensão temporal e materializa as previsões de colapso. Isso prejudica a almejada retomada da normalidade econômica e gera perigosos riscos de instabilidade política e social.
Vejamos se está claro. Queimar florestas, matar índios, assassinar opositores, entregar imensas áreas urbanas para o controle de milícias, desmantelar universidades e centros de pesquisa, impor cortes orçamentários que sufocam as políticas públicas e sociais até a morte, desmontar a cultura nacional, desemprego em massa, mortes por falta de oxigênio ou UTIs lotadas, sucatear a capacidade produtiva do país e a infraestrutura pública, jogar milhares de famílias de volta à fome e à miserabilidade absoluta, pode ser aceitável, mas colocar em risco a estabilidade que permite continuar a acumulação de capitais é preocupante.
Por esta razão era necessário um ajuste no pacto. Agora deve-se incluir nas normas pactuadas (que não sabemos quais são pois o pacto é secreto) que não basta não atentar contra as instituições visando uma ruptura institucional, mas deve-se penar também no enfrentamento adequado da pandemia e de uma política de vacinação eficiente.
O operador desta linha de ação no parlamento é o chamado centrão. O executivo emplacou o presidente do Senado e da Câmara, mas estes senhores são operadores do pacto e não do presidente. Exigiram e conseguiram a troca do ministro da saúde e agora do chancelar, impuseram uma mudança ministerial e cobraram a fatura no orçamento desfigurado pelas emendas parlamentares e o cala boca ao setor militar em detrimento dos necessários investimentos e recursos para saúde, ciência e tecnologia, educação e outras áreas incômodas para os sanguessugas que nos governam.
Quanto aos militares é cedo para afirmar. É necessário separar o jogo de cena da saída do Ministro da defesa e os chefes das forças armadas em solidariedade ao ministro. O (des)governo Bolsonaro não encontra apoio homogêneo nas forças armadas e sempre apresentou contradições, agora se soma mais esta. Mas a presença militar segue forte e expressiva no governo, isto quer dizer que não creio, como alguns imaginaram esta semana, em rompimento dos militares com o governo. Ficam e continuam validando o pacto do qual são um dos principais protagonistas. O que parece claro é que já buscam alternativas para o futuro e querem se desvencilhar da responsabilidade com um governo que parece estar destinado à lata de lixo (tóxico) da história.
O presidente, desculpem pelo eufemismo, está isolado e na defensiva e foi obrigado a ceder. Ele não está em um pacto por convencimento, mas por força da ameaça de retirá-lo do cargo e sabemos que existem os meios e os motivos para tanto (só Rodrigo Maia não os via). Cedeu na carne, desde a saída de Weintraub até agora com a saída escorraçada de Araújo nas relações exteriores. Nos parece que os pontos de resistência de Bolsonaro são os pontos que são essenciais para ele, as posições que podem proteger seus filhos dos processos que fecham o cerco e que podem levá-los à prisão e a promessa de não apeá-lo do poder via impeachment.
Nestas condições, como fica intenção miliciana de ruptura? Esta não é uma questão fácil de ser respondida. Estamos em uma disjuntiva que pode ser assim respondida. Quanto mais o presidente se vê acuado e perde a gestão efetiva de seu governo, maior é a tentação de golpe e menor as condições de efetivá-lo. Isso quer dizer que a possibilidade de golpe está longe de ser descartada, mas, caso ocorra, assumirá a forma de uma aventura sem base material de sustentação ou consolidação na ordem burguesa. Dito de outra forma, os recursos que o suposto presidente da república em exercício dispunha anteriormente se deterioraram (seja no apoio militar e corpos policiais, seja nas milícias e igrejas S/As, seja na base eleitoral), principalmente, a sua funcionalidade para os interesses da burguesia monopolista, mas o que lhe sobra é suficiente para uma reação desesperada. Isto lhe dá o cacife suficiente para tentar se garantir no cargo e protelar a ofensiva contra sua família criminosa, mas seus sonhos de ser a cópia farsesca de Luís Bonaparte, que foi a farsa de Napoleão, parecem distantes.
Suas esperanças migram para 2022 e a esperança que o desgaste de sua imagem e o abandono de sua serventia para o capital não seja capaz de corroer seu potencial eleitoral para novamente ser a alternativa que resta à direita sem alternativas.
Documentos revelam papel ativo do Brasil na queda de Allende
O Brasil se empenhou ativamente para derrubar o presidente chileno Salvador Allende (1970-1973) e elevar o ditador Augusto Pinochet, segundo documentos de inteligência divulgados pelo National Security Archive dos Estados Unidos nesta quarta-feira.
Por ocasião do 57º aniversário do golpe militar no Brasil, a organização, fundada por acadêmicos e jornalistas investigativos e sediada em Washington, publicou em seu site 12 arquivos antes secretos, que mostram "o esforço do regime brasileiro para subverter a democracia e apoiar a ditadura no Chile".
Entre esses textos está um telegrama enviado em março de 1971 pelo então embaixador do Chile no Brasil, Raúl Rettig, ao Ministério das Relações Exteriores do seu país, com o alarmante título: "Forças Armadas brasileiras possivelmente realizando estudos sobre guerrilheiros sendo introduzidos no Chile".
Várias fontes haviam informado a delegação diplomática que o regime militar brasileiro estaria avaliando como instigar uma insurreição para derrubar o governo de Allende. Segundo o telegrama, classificado na época como "estritamente confidencial", também foi revelada a existência de uma sala de operações no Brasil com mapas da Cordilheira dos Andes, para planejar como se infiltrar.
Em sua mensagem, Rettig prossegue: "As Forças Armadas brasileiras aparentemente enviaram ao Chile vários agentes secretos, que teriam entrado no país como turistas, com a intenção de obter mais informações sobre as possíveis regiões em que um movimento guerrilheiro poderia operar."
O embaixador ressalta que ainda não havia uma data para o início desse "movimento armado". Entretanto os diplomatas chilenos no Brasil estavam sob vigilância, e um deles escutara de um colega brasileiro que a República Andina era agora vista como "mais um país atrás da Cortina de Ferro".
O centro americano também cita o livro "O Brasil contra a democracia: A ditadura, ou golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul", do jornalista investigativo Roberto Simon, recém-publicado pela editora Companhia das Letras.
A obra reúne arquivos do Brasil, Chile e Estados Unidos, expondo o papel do regime militar brasileiro no golpe de 11 de setembro de 1973, que permitiu ao general Pinochet chegar ao poder, assim como a contribuição do país na repressão no Chile.
Simon destaca que "o Brasil deu apoio direto a um modelo para a ditadura de Pinochet", e que a imagem do regime militar de Brasília como "marionete de Washington" é "um mito, relegando o país a um mero papel subsidiário na região". Na verdade "a ditadura brasileira tinha suas próprias motivações estratégicas, ideológicas, econômicas e de outro tipo para intervir no Chile".
O jornalista brasileiro destaca que os militares do país estabeleceram canais de comunicação com os chilenos opositores de Allende, e que agentes enviados por Brasília tinham vínculos com o grupo paramilitar chileno de extrema direita Patria y Libertad.
Um memorando contido no livro retrata o encontro de dezembro de 1971 entre os presidentes Richard Nixon e general Emílio Garrastazu Médici, na Casa Branca, em que os dois comentam os esforços para derrubar Allende.
O então líder da ditadura brasileira achava que o mandatário chileno deveria ser deposto "pelos mesmos motivos que [João] Goulart [presidente de 1961 a 1964] foi deposto no Brasil", e deixa claro que seu país se empenhava nesse sentido. A derrubada do governo Goulart, nos primeiros dias de abril de 1964, selou o início da ditadura militar que vigorou no país até 1985.
Por sua vez, o mandatário americano frisou a importância de os dois países trabalharem juntos "nesse âmbito" e ofereceu "ajuda discreta" às operações brasileiras contra o governo Allende.
Entre os documentos divulgados, está ainda um relatório da CIA sobre reuniões entre oficiais militares brasileiros, em que um deles diz crer que "os EUA obviamente querem que o Brasil 'faça o trabalho sujo' na América do Sul".
Por ocasião do 57º aniversário do golpe militar no Brasil, a organização, fundada por acadêmicos e jornalistas investigativos e sediada em Washington, publicou em seu site 12 arquivos antes secretos, que mostram "o esforço do regime brasileiro para subverter a democracia e apoiar a ditadura no Chile".
Presos no Estádio Nacional, em Santiago, a prisão do golpe de Pinochet |
Entre esses textos está um telegrama enviado em março de 1971 pelo então embaixador do Chile no Brasil, Raúl Rettig, ao Ministério das Relações Exteriores do seu país, com o alarmante título: "Forças Armadas brasileiras possivelmente realizando estudos sobre guerrilheiros sendo introduzidos no Chile".
Várias fontes haviam informado a delegação diplomática que o regime militar brasileiro estaria avaliando como instigar uma insurreição para derrubar o governo de Allende. Segundo o telegrama, classificado na época como "estritamente confidencial", também foi revelada a existência de uma sala de operações no Brasil com mapas da Cordilheira dos Andes, para planejar como se infiltrar.
Em sua mensagem, Rettig prossegue: "As Forças Armadas brasileiras aparentemente enviaram ao Chile vários agentes secretos, que teriam entrado no país como turistas, com a intenção de obter mais informações sobre as possíveis regiões em que um movimento guerrilheiro poderia operar."
O embaixador ressalta que ainda não havia uma data para o início desse "movimento armado". Entretanto os diplomatas chilenos no Brasil estavam sob vigilância, e um deles escutara de um colega brasileiro que a República Andina era agora vista como "mais um país atrás da Cortina de Ferro".
O centro americano também cita o livro "O Brasil contra a democracia: A ditadura, ou golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul", do jornalista investigativo Roberto Simon, recém-publicado pela editora Companhia das Letras.
A obra reúne arquivos do Brasil, Chile e Estados Unidos, expondo o papel do regime militar brasileiro no golpe de 11 de setembro de 1973, que permitiu ao general Pinochet chegar ao poder, assim como a contribuição do país na repressão no Chile.
Simon destaca que "o Brasil deu apoio direto a um modelo para a ditadura de Pinochet", e que a imagem do regime militar de Brasília como "marionete de Washington" é "um mito, relegando o país a um mero papel subsidiário na região". Na verdade "a ditadura brasileira tinha suas próprias motivações estratégicas, ideológicas, econômicas e de outro tipo para intervir no Chile".
O jornalista brasileiro destaca que os militares do país estabeleceram canais de comunicação com os chilenos opositores de Allende, e que agentes enviados por Brasília tinham vínculos com o grupo paramilitar chileno de extrema direita Patria y Libertad.
Um memorando contido no livro retrata o encontro de dezembro de 1971 entre os presidentes Richard Nixon e general Emílio Garrastazu Médici, na Casa Branca, em que os dois comentam os esforços para derrubar Allende.
O então líder da ditadura brasileira achava que o mandatário chileno deveria ser deposto "pelos mesmos motivos que [João] Goulart [presidente de 1961 a 1964] foi deposto no Brasil", e deixa claro que seu país se empenhava nesse sentido. A derrubada do governo Goulart, nos primeiros dias de abril de 1964, selou o início da ditadura militar que vigorou no país até 1985.
Por sua vez, o mandatário americano frisou a importância de os dois países trabalharem juntos "nesse âmbito" e ofereceu "ajuda discreta" às operações brasileiras contra o governo Allende.
Entre os documentos divulgados, está ainda um relatório da CIA sobre reuniões entre oficiais militares brasileiros, em que um deles diz crer que "os EUA obviamente querem que o Brasil 'faça o trabalho sujo' na América do Sul".
Bolsonaro finge recuar com militares, mas já cravou sua estaca no terreno
O fato de o presidente Bolsonaro ter respeitado a lista de antiguidade para nomear os novos chefes militares pareceu um recuo. Mas é mais um movimento estratégico. Ele sempre faz isso: ataca uma instituição da República, depois finge recuar. O país pensa que ele passará a ficar moderado, mas ele jamais se moderou.
A nomeação de um general que defende medidas de isolamento e recomendações da OMS, como o general Paulo Sérgio Nogueira, é um bom sinal. Mas insuficiente. Primeiro porque para a Força Aérea ele nomeou um comandante que ecoa a milícia digital bolsonarista em suas postagens, o tenente brigadeiro Carlos Almeida Batista Jr. E o que ele quer é isso: transformar os comandantes militares à imagem de Villas Boas, autor do tuíte de ameaça ao STF. E era isso que o general Edson Pujol não aceitava ser, um agitador de rede social.
Aqui no blog contamos as postagens do brigadeiro. Inaceitáveis para um chefe militar. Hoje já bajulou Bolsonaro chamando-o de “comandante supremo”. Era isso que Bolsonaro pedia, ao dizer que queria de Pujol “demonstração de apreço ao seu governo”.
Segundo, ficou demonstrado que ele pode demitir por motivo fútil, e sem qualquer explicação ao país, os três chefes militares, sem que nada aconteça. É claro que ele tem a prerrogativa de fazer isso. Mas não para intimidar as instituições, não para impor seu mandonismo, apenas quando houver razões para isso. Fez o ato de forma truculenta, e ficou por isso mesmo. O país se contentou com o fato de que informações de bastidores mostram que os demitidos reagiram em reunião tensa.
Por fim, muita gente elogiou o fato de Braga Netto ter falado em defesa da democracia na apresentação dos três chefes. Mas Braga Netto falou também que as Forças Armadas garantem as liberdades democráticas. Quem garante, general, é a Constituição. No mesmo dia de ontem, triste 31 de março, o mesmo Braga Netto dizia que o país tinha que “celebrar” a ditadura, que ele em raciocínio tortuoso chama de “movimento” e diz que foi feito para garantir a democracia. É dessa democracia que ele está falando. A que as Forças Armadas controlam.
A nomeação de um general que defende medidas de isolamento e recomendações da OMS, como o general Paulo Sérgio Nogueira, é um bom sinal. Mas insuficiente. Primeiro porque para a Força Aérea ele nomeou um comandante que ecoa a milícia digital bolsonarista em suas postagens, o tenente brigadeiro Carlos Almeida Batista Jr. E o que ele quer é isso: transformar os comandantes militares à imagem de Villas Boas, autor do tuíte de ameaça ao STF. E era isso que o general Edson Pujol não aceitava ser, um agitador de rede social.
Aqui no blog contamos as postagens do brigadeiro. Inaceitáveis para um chefe militar. Hoje já bajulou Bolsonaro chamando-o de “comandante supremo”. Era isso que Bolsonaro pedia, ao dizer que queria de Pujol “demonstração de apreço ao seu governo”.
Segundo, ficou demonstrado que ele pode demitir por motivo fútil, e sem qualquer explicação ao país, os três chefes militares, sem que nada aconteça. É claro que ele tem a prerrogativa de fazer isso. Mas não para intimidar as instituições, não para impor seu mandonismo, apenas quando houver razões para isso. Fez o ato de forma truculenta, e ficou por isso mesmo. O país se contentou com o fato de que informações de bastidores mostram que os demitidos reagiram em reunião tensa.
Por fim, muita gente elogiou o fato de Braga Netto ter falado em defesa da democracia na apresentação dos três chefes. Mas Braga Netto falou também que as Forças Armadas garantem as liberdades democráticas. Quem garante, general, é a Constituição. No mesmo dia de ontem, triste 31 de março, o mesmo Braga Netto dizia que o país tinha que “celebrar” a ditadura, que ele em raciocínio tortuoso chama de “movimento” e diz que foi feito para garantir a democracia. É dessa democracia que ele está falando. A que as Forças Armadas controlam.
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