terça-feira, 20 de maio de 2025

Pensamento do Dia

 


Velho, pobre, mal educado

O País jovem, tendo a porta aberta para um destino de prosperidade e bem-estar ao lado das grandes nações, parece ter-se perdido na história. O Brasil como que se conformou em ficar nas posições intermediárias na corrida mundial pelo progresso. E os brasileiros, em média, concordaram com isso. Muita coisa melhorou – e melhorou muito nas últimas décadas. Mas também em muitas coisas o Brasil patinou, quando não andou para trás. Não se trata de buscar responsáveis. Trata-se de entender como o Estado e a sociedade lidaram e lidam com as grandes questões que afetam a qualidade de vida de cada brasileiro.


O Brasil envelheceu, não ficou mais rico e continua lendo e escrevendo mal. É este o retrato que pesquisas recentes nos mostram. Há informações estimulantes e animadoras, o que nos permite alimentar sonhos. Mas há também a constatação de como nos acostumamos com a mediocridade, o que deveria levarnos a refletir sobre o que temos feito de nós mesmos.

Nascem cada vez menos brasileiros. As Estatísticas do Registro Civil divulgadas na sexta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2023, o País manteve a tendência de redução do número de nascimentos, observada por cinco anos consecutivos. Em 2023, foram registradas nos cartórios 2,523 milhões de crianças nascidas naquele ano. É o menor número desde o início da pesquisa, em 2015.

Demógrafos preveem que a queda do número de nascimentos se manterá até o fim do século. A taxa de fecundidade já está abaixo do nível de reposição da população (dois filhos por mulher). Por isso, talvez em menos de duas décadas a população total do Brasil começará a diminuir. E será uma população com idade média mais alta. O chamado bônus demográfico, período em que a proporção da população em idade ativa é maior do que a de idosos e crianças, começou há várias décadas, mas está se esvaindo e se esgotará em algum momento não muito distante.

É uma mudança do padrão demográfico que, nisso sim, iguala o Brasil aos países desenvolvidos. Mas o País chegou a essa condição sem ter alcançado indicadores fundamentais que as nações mais prósperas do planeta já tinham alcançado, como renda média alta, menos desigualdade de renda, escolaridade mais elevada, alto nível de produtividade da economia, bem-estar social como característica predominante de seu padrão de vida, horizonte para a vida dos jovens.

Dados de curto prazo podem instilar algum otimismo. A informalidade no mercado de trabalho baixou para seu menor nível desde a pandemia de covid-19, em 2020. Excetuado esse período, em que os indicadores sociais e econômicos tiveram fortes oscilações (para mais ou para menos, mas superadas nos anos seguintes), a taxa de informalidade aferida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua atingiu seu nível mais baixo desde o início da série da pesquisa. Também o chamado desperdício de mão de obra, medido pelo critério de taxa de subutilização da força de trabalho, ficou no segundo nível mais baixo de toda a série da Pnad Contínua.

Juntando outras informações recentes, como o aumento da população economicamente ativa (e ainda assim houve queda do índice de desemprego ou sua manutenção em níveis historicamente muito baixos), do número de trabalhadores empregados e da renda real média, vê-se um mercado de trabalho dinâmico.

A mesma Pnad Contínua examinou o padrão de rendimentos da população e constatou que, em 2024, pelo terceiro ano consecutivo cresceu o rendimento domiciliar. É mais dinheiro para as famílias. O aumento veio acompanhado de outro dado animador. O Índice de Gini voltou a cair no ano passado (tinha ficado estável no ano anterior), para 0,506. É o menor nível desde o início da pesquisa, em 2012. O Índice (ou coeficiente) de Gini é o indicador universalmente utilizado para aferir a distribuição de renda de um território, um grupo ou um país. Varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade na distribuição. Ou seja, o Brasil ficou menos desigual, ainda que de maneira muito discreta.

Mas esse mesmo país deixou o futuro escapar-lhe das mãos, pois não soube cuidar de outro aspecto essencial para o progresso e o bem-estar de sua sociedade. Tratou e continua a tratar mal o ensino da população. O dado mais impressionante que prova essa desídia social é o que mostra a persistência do analfabetismo. O Brasil tem 29% de analfabetos funcionais. É o mesmo índice de 2018. Não conseguiu melhorar nada. São mais de 60 milhões de pessoas que não conseguem ler palavras ou números ou, quando conseguem, têm dificuldades para entender o texto ou fazer contas com números maiores. O dado faz parte de uma pesquisa de uma instituição privada, com o apoio de empresas privadas. É um triste retrato de um país parado no tempo em matéria de educação, vital para o progresso.

Que o fracasso nos seja suave

"Suave fracasso" foi a expressão que ouvi muitos anos atrás da boca do embaixador Rubens Ricupero para qualificar o Brasil. Quanto mais o tempo passa, mais me convenço da precisão do diagnóstico.

Muita coisa aconteceu desde que saí em férias duas semanas atrás, mas nada mudou. Os três Poderes da República continuaram a dar sucessivas demonstrações de incúria. O Legislativo, cobrado pelo Judiciário a dar materialidade à norma que determina que as bancadas dos estados na Câmara obedeçam ao critério da proporcionalidade populacional — pilar da democracia representativa—, propõe uma regra que obviamente a viola.


Aumentar o número de deputados dos estados que ganharam habitantes sem reduzir o dos que perderam, além de ser medida perdulária, atropela a linguagem e a matemática. É o Legislativo atuando para burlar regra que ele próprio criou com o intuito de preservar conveniências antirrepublicanas.


Enquanto isso, o Judiciário, que, registre-se uma vez mais, foi importante para evitar o golpe de Estado tentado contra o país, não desperdiça oportunidades de vilipendiar a própria credibilidade.

Ministros do STF seguem no circuito Elizabeth Arden de convescotes no exterior, dão rédeas soltas aos apetites antiteto salarial de várias carreiras jurídicas e ignoram por completo os apelos para exercer a autocontenção e abandonar heterodoxias.

Já no Executivo, Lula, que foi eleito vendendo-se como contraponto democrático ao golpismo do antecessor, atravessa um oceano e um continente para sentar-se na primeira fila dos que foram aplaudir o belicismo de um dos mais nefastos autocratas da atualidade.

Também dá repetidos sinais de que não hesitará em sacrificar os interesses de longo prazo do país em favor da reeleição no ano que vem. No macro, a educação continua qualitativamente péssima e o bônus demográfico vai se fechando. O Brasil envelheceu sem ter enriquecido, e dificilmente conseguirá fazê-lo agora.

É claro, poderia ser pior. Daí a aplicação do adjetivo "suave".
 Hélio Schwartsman

Grande momento


Estamos num momento da História em que tanto podemos conseguir feitos notáveis como ir na direção de um grande desastre

Amin Maalouf

'Influenciadores do Tigrinho' e a cultura do escárnio

Nas redes sociais, Virginia Fonseca, a maior influenciadora do Brasil, com quase 53 milhões de seguidores, mostra sua vida em família e uma rotina de luxo, com direito a viagens de jatinho e exibição de bolsas e roupas de grife que chegam a custar R$ 1 milhão. É dela a frase: "me mimei", usada para mostrar que tinha comprado um presentinho para si mesma, uma bolsa da Hermés de R$ 500 mil.

Virginia é a representante do momento de uma categoria que abarca várias celebridades das redes sociais com milhares de seguidores: a dos " influenciadores do Tigrinho", aqueles que usam a fama para ganhar milhões anunciando de forma irresponsável jogos online com o Tigrinho ou as chamadas bets.

O vício nesse tipo de aposta é um problema de saúde pública seríssimo no Brasil. De acordo com pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cerca de 11 milhões de brasileiros fazem uso "arriscado" dos aplicativos de apostas. Outra pesquisa mostra que 22 milhões de brasileiros haviam apostado em bets em apenas um mês.


O problema é muito sério. Há quem gasta todo dinheiro que guardou na vida, quem rouba dos pais idosos, quem perde tudo e depois comete suicídio. E também quem deixa de comprar comida. Um estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), em parceria com a AGP Pesquisas, mostrou que 63% dos apostadores no país tiveram parte da renda comprometida com as bets. Outros 19% pararam de fazer compras no mercado e 11% não gastaram com saúde e medicamentos.

Mas os "influenciadores do Tigrinho" parecem não estar nem aí para nada disso. Na verdade, eles fingem nem saber que o Brasil vive uma epidemia de vício em apostas online e que eles, influenciadores anunciantes das apostas, têm, sim, participação nisso. Não adianta usar a desculpa de "só estou fazendo o meu trabalho" quando você está levando gente vulnerável a se endividar com a oferta tentadora de que há maneira fácil e rápida de ganhar dinheiro, o que é uma ilusão.

Semana passada, Virginia chocou parte do país ao comparecer à "CPI das Bets" no Senado em Brasília e se comportar como se não tivesse ideia do que estava fazendo. A CPI investiga os impactos das plataformas de apostas e jogos online no orçamento das famílias brasileiras, além de crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas envolvendo apostas.

"A senhora não tem conhecimento de pessoas que tiraram suas vidas, de separações, de famílias indo à bancarrota de agiotas?", perguntou a senadora Soraya Thronicke. "Não", respondeu a influenciadora, como se vivesse em outro planeta. Ela também disse que não se arrepende de "absolutamente nada que já fez na sua vida".

A participação de Virginia na CPI gerou revolta e fez com que ela perdesse seguidores (o drama máximo para uma influenciadora). Mas, pelo jeito, ela não ligou. Neste sábado, ela foi filmada pulando e cantando com alegria um trecho de uma música composta por seu marido, Zé Felipe, em parceria com o trapper Oruam, que diz: "Tá doida com o dinheiro do Tigrim".

O vídeo foi filmado durante participação em reality produzido por outro mega "influenciador do Tigrinho", Carlinhos Maia. Ou seja, em outras palavras, Virginia e seus amigos influenciadores lucram e riem do sofrimento enquanto incentivam seus seguidores a ficarem doidos com o dinheiro do tigrinho.

Ela não é a única a divulgar esse tipo de coisa e ostentar riqueza nas redes. São muitos os influenciadores que fazem isso. Entre eles, há nomes bilionários como Neymar.

Essas pessoas vivem de influenciar as pessoas, diz o nome da profissão, mas o que fazem não é influência, mas exploração. E muitos dos seus seguidores ainda os defendem: "Cada um faz o que quer", "as pessoas têm inveja porque elas são ricas", muitos repetem, em coro. Onde foi parar a ética? Essa postura do "não estou nem aí" não devia ser "tendência".

Unidade partidária

— Sr. presidente, eu acho… — começou o orador, logo aparteado pelo líder:

— Perdão, vossa excelência não acha nada. É claro que o nobre deputado está de acordo com o pensamento do nosso partido.

— O nosso partido — tentou dizer o orador, e não prosseguiu, pois o líder e o primeiro vice-líder acudiram uníssonos:

— O nosso partido não está em discussão, aliás nunca pode estar em discussão. E vossa excelência sabe disso.


— Muito bem — confirmou o segundo vice-líder. — Não pronunciemos em vão o seu santo nome.

— É o que sempre digo aos nossos correligionários — interveio o terceiro vice-líder, chegando afobado ao recinto.

— Mas — tentou prosseguir o orador, que só tinha direito a este nome porque se inscrevera para falar, embora ainda não fizesse jus a ele.

— Não há mas nem porém nem todavia nem contudo no vocabulário de nossa pujante agremiação — sentenciou o líder. — O ilustre parlamentar que enobrece as nossas fileiras certamente não vai erigir o mas em bandeira partidária. Vai, pelo contrário, condenar esta anomalia, incompatível com a filosofia construtiva, otimista e desenvolvimentista do nosso valoroso partido, que apoia incondicionalmente a belíssima orientação do excelentíssimo doutor atual presidente da República.

O orador em perspectiva acenou com a cabeça que sim e sentou-se. Aprendera que toda palavra é escândalo, e que para evitá-lo todas as palavras são oportunas.
Carlos Drummond de Andrade, "Contos plausíveis"

Uma contrarrevolução moderna

Em uma enxurrada de decretos e declarações de emergência, o presidente Donald Trump deu um golpe no governo americano e na ordem global. Ele está destruindo o Estado administrativo, fechando agências e demitindo funcionários federais. Está deportando residentes permanentes por seus discursos protegidos pela Primeira Emenda, revogando vistos de estudantes internacionais e enviando imigrantes para Guantánamo e para uma megaprisão em El Salvador. Ele está tentando eliminar a cidadania por direito de nascimento e cortando o financiamento de pesquisa das Universidades. Todos os dias, Trump lança outra ofensiva sem precedentes — ou muda de rumo, deixando seus críticos na dúvida enquanto se protege.

Ele continua extremamente popular entre sua base, mesmo que sua popularidade geral tenha caído para níveis recordes. Seus críticos, porém, o atacam de todas as formas possíveis. Chamam-no de fascista, autoritário, tirano, ferramenta cleptocrática dos bilionários da tecnologia, aproveitador, impostor de reality show, encarnação da masculinidade tóxica, valentão. No entanto, nenhum desses rótulos captura totalmente o alcance ou a coerência do que está acontecendo nos EUA hoje. Esses diagnósticos se concentram demais no indivíduo, e este é um indivíduo que, como um ilusionista virtuoso, mantém seu público hipnotizado pelo espetáculo e distraído do que realmente está acontecendo. Os desenvolvimentos radicais em curso devem ser colocados em uma perspectiva mais profunda. Não apenas porque muitos deles foram prefigurados no projeto de 900 páginas chamado Project 2025, mas também porque forças muito maiores impulsionaram a ascensão de líderes de extrema direita em todo o mundo.

Na verdade, o governo Trump II representa – a fase de demolição de uma nova ofensiva numa contrarrevolução que já dura décadas. O ativista conservador Christopher Rufo admitiu isso em uma entrevista recente ao New York Times: “O que estamos fazendo é realmente uma contrarrevolução. É uma revolução contra a revolução”. Na verdade, as ações do presidente Trump durante os primeiros cem dias de seu segundo mandato é o episódio mais recente de uma vasta e coerente contrarrevolução com um arco histórico mais longo e um alcance global mais amplo. 

Nesse sentido, é essencial voltar ao argumento de Marx em seu O 18 Brumário, de que a ascensão de Luís Napoleão não foi simplesmente uma história de um grande homem. O objetivo de Marx era demonstrar, em suas palavras, “como a luta de classes na França criou circunstâncias e relações que tornaram possível que uma mediocridade grotesca desempenhasse o papel de herói”. Temos a tendência de enfatizar o humor nessa frase em detrimento do impulso teórico. Mas o ponto importante é que nosso diagnóstico deve se concentrar nos conflitos sociais mais amplos e nas forças econômicas que são o motor da história em nível global, e não na ascensão de qualquer indivíduo — mesmo quando ele se assemelha a uma mediocridade grotesca.

Não quero minimizar a extravagância ou a natureza radical dos espetáculos diários do presidente Trump — o que Marx chamou, ao falar de Luís Napoleão, de seus “golpes de Estado em miniatura todos os dias”. Mas, em vez de focar nos truques diários, é importante entender, em primeiro lugar, as estratégias mais amplas que os motivam.

Nos primeiros meses do seu segundo mandato, o presidente Trump implementou três estratégias principais:  Criar inimigos internos. Com um recorde de 143 decretos executivos até 6 de maio de 2025 — mais do que qualquer outro presidente dos EUA, incluindo FDR —,Trump colocou na mira um punhado de alvos e transformou-os em inimigos internos: candidatos D.E.I. [Diversity, equality and inclusion]: um proxy para afro-americanos, hispânicos, deficientes e transgêneros), “ideologia de gênero” (um proxy para pessoas LGBTQ+), defensores das mudanças climáticas globais (ou qualquer pessoa que supostamente contribua para a “ansiedade climática”), imigrantes e estudantes internacionais, Universidades de ponta, funcionários federais e qualquer pessoa que tenha investigado ou processado pelo presidente norte-americano anteriormente.

Um dos principais artifícios que ele usa para demonizar esses inimigos internos é rotulá-los como malfeitores e privá-los de proteções legais. O presidente Trump adicionou a organização de tráfico de drogas Tren de Aragua à lista de Organizações Terroristas Estrangeiras (FTOs) dos EUA e invoca isso para caracterizar qualquer imigrante venezuelano nos Estados Unidos como um terrorista. Ele também invocou a Lei dos Inimigos Estrangeiros de 1798 para afirmar que os imigrantes venezuelanos são inimigos estrangeiros. O presidente Trump afirma que o Tribunal Penal Internacional de Haia é “uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos”; como resultado, funcionários americanos agora estão potencialmente sujeitos a sanções do país. Ademais, o governo cita o fato de que o Hamas é considerado uma FTO para caracterizar as pessoas que protestam contra a guerra de Israel em Gaza como apoiadores do terrorismo, mesmo que seu discurso seja protegido pela Primeira Emenda. 

Outra forma de atacar os inimigos internos é declarar emergências menores — como a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, a Lei de Emergências Nacionais ou, mais uma vez, a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798. O presidente Trump já anunciou uma dúzia dessas emergências. Há uma na fronteira sul dos EUA. Agora, as forças armadas dos Estados Unidos a policiam. Trump declarou uma emergência devido à “ameaça extraordinária representada por estrangeiros ilegais e drogas, incluindo o fentanil mortal” como base para impor tarifas ao Canadá, China e México. Ele também declarou uma emergência em relação à “insuficiente produção de energia, transporte, refino e geração dos Estados Unidos”.

O jurista nazista, Carl Schmitt, definiu um soberano como “aquele que decide sobre a exceção”. Algumas décadas depois, o filósofo Giorgio Agamben argumentou que as sociedades ocidentais haviam entrado em “um estado de exceção permanente”. Mas o presidente norte-americano utiliza as emergências apenas como um dispositivo técnico para exercer o poder executivo e demonizar inimigos internos; elas são apenas uma ferramenta entre outras e não constituem um estado de exceção global. Em vez disso, permitem-lhe reivindicar como suas as zonas cinzentas da lei e expandir as suas fronteiras (como com a deportação de residentes permanentes ou o corte geral do financiamento das Universidades ao abrigo do Título VI). Michel Foucault referiu-se a tais métodos como illégalismes (ilegalismos): criam um espaço entre o legal e o ilegal, onde é a contestação política que determina o que é permitido e o que não é.6 Eliminar esses inimigos internos. Em seguida, o presidente Trump erradica ou neutraliza esses inimigos produzidos. Ele está cortando programas de DEI, não apenas em todo o governo federal, mas também na indústria privada. O governo está tentando acabar com os cuidados de afirmação de gênero e banindo o reembolso pelo Medicaid para jovens menores de 19 anos. Revogou mais de 1.500 vistos de estudante em mais de 100 Faculdades e Universidades. Está eliminando empregos de dezenas de milhares de funcionários federais, deportando estudantes internacionais e residentes permanentes que protestaram contra a forma como Israel está conduzindo sua guerra em Gaza. Donald Trump prometeu enviar 30.000 imigrantes para Guantánamo. Operações de imigração estão ocorrendo em todo o país; em algumas, centenas de pessoas são presas ao mesmo tempo. Conquistar os corações e as mentes do povo americano. Todos os dias surge um novo segmento chocante do que parece ser um reality show. De acordo com um artigo do New York Times, Trump disse a seus assessores, antes de assumir o cargo em 2017, que eles deveriam “pensar em cada dia presidencial como um episódio de um programa de televisão em que ele derrota seus rivais”. Eles se superaram, em parte graças à revolução tecnológica. Musk, certa vez, descreveu o Twitter (antes de comprá-lo) como um ponto de acesso ao id gigante do povo americano. O Truth Social e o X agora estão dando a ele, ao presidente e a outros, o acesso constante e direto à libido nacional. Para sua base MAGA, isso tem sido uma fonte constante de entretenimento e justificação. No final do ataque verbal dele e do vice-presidente J.D. Vance ao presidente Volodymyr Zelensky no Salão Oval, em fevereiro, ele reconheceu: “Isso vai ser ótimo para a televisão”.

Essas três estratégias permeiam o segundo mandato do presidente Trump. Para compreendê-las, proponho dar um passo atrás — conceitualmente, historicamente e contextualmente.

Para explicar o que quero dizer com a fase de demolição de uma nova ofensiva numa contrarrevolução que já dura décadas, vou analisar cada termo separadamente.

Primeiro, uma “contrarrevolução” está em curso desde a invenção da guerra contra a insurgência, na década de 1950 e 1960, por comandantes franceses, britânicos e americanos durante as guerras de independência na Argélia, Indochina, Malásia, Vietnã e em outras ex-colônias. Essas campanhas deram origem à lógica e às estratégias da guerra de contrainsurgência — também conhecida como guerra não-convencional ou antiguerrilha ou, como diriam os franceses, “la guerre moderne”, guerra moderna. Depois, essa lógica e essas estratégias foram trazidas de volta e aplicadas em solo nacional.

A lógica da guerra de contrainsurgência baseava-se numa visão única, essencialmente moldada pela crença de Mao de que a sociedade é composta por três grupos: um pequeno grupo de insurgentes ativos, a grande massa de cidadãos passivos que podem ser influenciados de um lado ou de outro e uma pequena minoria de ‘contrainsurgente’. As estratégias da guerra de contrainsurgência foram desenvolvidas para, em primeiro lugar, reunir informações completas sobre a população a fim de identificar os inimigos internos; em segundo lugar, eliminá-los; e, em terceiro lugar, ganhar a lealdade das massas passivas.

Essas estratégias de contrainsurgência foram utilizadas pela primeira vez nas colônias europeias e americanas durante as guerras de independência. Após o 11 de setembro, os EUA voltaram a utilizá-las nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Sob a presidência de George W. Bush, houve execuções simuladas, afogamento simulado e detenções por tempo indeterminado em Guantánamo; com o presidente Barack Obama, houve assassinatos com drones, vigilância total e a execução sumária de um cidadão americano no exterior. Os métodos foram refinados pelos generais americanos em uma abordagem de contrainsurgência centrada na população, que foi então inculcada nos soldados americanos.

Trazer técnicas de contrainsurgência para casa e aplicá-las nos próprios cidadãos pode ser chamado de “uma contrarrevolução”. Herbert Marcuse já utilizava o termo em seu livro de 1972, Contrarrevolução e Revolta, para caracterizar a repressão aos protestos contra a Guerra do Vietnã na Kent State University e no Jackson State College.7 Na medida em que essa contrarrevoluçãofoi, e é, uma criação da guerra moderna — em contraste com as contrarrevoluções mais antigas, que buscavam restaurar monarcas —, eu a chamaria de “contrarrevolução moderna”.

Em segundo lugar, o governo Trump II representa uma “nova ofensiva”, pois não é único, mas sim mais um episódio da contrarrevolução conduzida em solo americano. Houve ofensivas anteriores ao 11 de setembro, com a revolução conservadora do presidente Ronald Reagan e a Guerra às Drogas na década de 1980; e, mesmo antes disso, com a repressão do presidente Richard Nixon aos negros e aos manifestantes contra a Guerra do Vietnã, o programa COINTELPRO, de J. Edgar Hoover e o Red Scare (medo vermelho) durante a era McCarthy.

Descrevi a última ofensiva em um livro intitulado The Counterrevolution: How Our Government Went to War Against Its Own Citizens (A Contrarrevolução: como o governo entrou em guerra contra os próprios cidadãos), publicado em fevereiro de 2018, durante o primeiro mandato do presidente Trump. Na época, argumentei que ele estava infundindo o paradigma da guerra de contrainsurgência com um populismo nacionalista branco que tinha como alvo muçulmanos americanos, imigrantes da América Latina e manifestantes do movimento Black Lives Matter. Tudo isso chegou ao auge durante as manifestações pelo assassinato de George Floyd no verão de 2020, quando o Trump enviou a 82ª Divisão Aérea para Washington/D.C., e mobilizou a polícia militar e um helicóptero Black Hawk do Exército dos EUA como se o local fosse, nas palavras do então secretário de Defesa Mark Esper, um campo de batalha que precisava ser “dominado”. A polícia militar lançou gás lacrimogêneo e disparou balas de borracha contra manifestantes pacíficos, abrindo caminho para o presidente Trump marchar com Esper e seu general de mais alta patente, Mark A. Milley (em uniforme de combate completo), para uma infame foto do presidente com uma Bíblia nas mãos.

Em terceiro lugar, digo que esta é a “fase de demolição” da última ofensiva porque o presidente está destruindo o governo federal como o conhecemos, ao mesmo tempo em que endurece as estratégias de contrainsurgência. Como um incorporador imobiliário que está embarcando numa reforma radical, o presidente Trump está demolindo o edifício federal, está cortando a força de trabalho federal, fechando agências federais (a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, o Departamento de Educação), demitindo inspetores gerais em 17 agências e assumindo o controle de agências independentes. Musk e o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) estão cortando o orçamento federal em US$ 150 bilhões (até o ano fiscal que termina em setembro de 2026) e demitindo milhares de outros funcionários federais. O presidente Trump está demolindo o estado administrativo em alta velocidade.

O presidente está, literalmente, sozinho — ao assinar um número recorde de decretos presidenciais — criando uma presidência imperial sem freios e contrapesos. Embora o Partido Republicano controle ambas as câmaras do Congresso e tenha jurado lealdade a ele, Trump está evitando usar o poder legislativo tanto quanto possível, ignorando efetivamente o Congresso. Tendo garantido uma supermaioria conservadora na Suprema Corte dos Estados Unidos, ele está cumprindo em grande parte as decisões dos tribunais federais de primeira instância — confiante de que a revisão judicial acabará por absolvê-lo (como já aconteceu).

Este projeto radical não visa a eliminar o governo federal ou delegar o poder de decisão aos estados. Não se trata de direitos dos estados: o presidente exercerá o poder federal no momento em que discordar de uma política estadual. Em vez disso, ele está transformando o governo federal em um instrumento mais enxuto e mais forte dos poderes policiais — reforçando as fronteiras, deportando brutalmente pessoas, proibindo a D.E.I. e a chamada ideologia de gênero, policiando banheiros, impondo tarifas e sanções econômicas, supervisionando universidades e escritórios de advocacia. Somente no contexto da imigração, o governo Trump pediu o que equivale, segundo o New York Times, a “mais do que um aumento de seis vezes nos gastos para deter imigrantes”. Sua visão do governo federal é altamente ativa e intervencionista.

Estamos testemunhando, portanto, uma contrarrevolução moderna, na medida que, em primeiro lugar, ela se baseia na lógica e nas estratégias brutais da guerra moderna; em segundo lugar, consolida o poder executivo nas mãos do equivalente funcional de um monarca absoluto moderno e tenta reverter os valores do universalismo que fizeram parte da Fundação em 1776 ou da Refundação em 1866; em terceiro lugar, representa uma reversão do Estado administrativo americano construído desde o New Deal, cujo objetivo era proteger a classe média e os desfavorecidos; e, quarto, constitui uma contrarrevolução preventiva e antecipada dentro do quadro que o historiador Arno Mayer desenvolveu para estudar a dinâmica das contrarrevoluções.

É certo que há uma discordância substancial sobre se houve algo como uma revolução completa contra a qual a contrarrevolução moderna estaria reagindo hoje. Para Rufo ou Steve Bannon, ex-assessor de Trump, fronteiras abertas e “imigração descontrolada”, a natureza mutável da família nuclear, a Teoria Crítica da Raça e os Estudos de Gênero representam uma tomada revolucionária pela “wokeness” (conscientização política). Para muitos outros, porém, tudo isso parece evolução, não revolução.

Em 1972, Marcuse disse uma frase famosa sobre a repressão policial aos protestos contra a Guerra do Vietnã: “A contrarrevolução é em grande parte preventiva e, no mundo ocidental, totalmente preventiva. Aqui, não há nenhuma revolução recente a ser desfeita, nem nenhuma à vista.” Da mesma forma, não vejo nenhuma revolução real, nem na história recente, nem em formação. Especialmente quando tantas mudanças seminais desde a década de 1960 foram tão facilmente desfeitas: Roe v. Wade revogada; programas de D.E.I. desmantelados; proteções aos transgêneros eliminadas. Mas, seja uma revolução ou mera evolução, em qualquer caso, o ataque do presidente Trump contra ela certamente faz parte da “contrarrevolução moderna”.

E essa é uma ofensiva vasta, impulsionada por forças geopolíticas, macroeconômicas, sociais, tecnológicas, demográficas e culturais mais amplas, que explicam a ascensão do presidente Trump e de líderes com ideias semelhantes em todo o mundo.

Em todo o mundo, mudanças geopolíticas e macroeconômicas — globalização, financeirização, os efeitos das mudanças climáticas e o surgimento de novas tecnologias digitais, mídias sociais e inteligência artificial — alimentaram ataques virulentos contra os imigrantes. Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, o discurso anti-imigração está no centro de uma plataforma populista nacionalista que clama pela proteção das fronteiras nacionais e pela melhoria da vida das pessoas dentro do país — America First, La France d’abord pour les Français, Zeit für Deutschland, Brexit e assim por diante.

O gráfico Lakner-Milanovic — também conhecido como elephant graph (gráfico do elefante) — representa a mudança global na concentração de renda entre 1988 e 2008. Muitos economistas, incluindo Paul Krugman, interpretam isso como evidência dos efeitos prejudiciais da globalização sobre as classes baixas e médias nos países ocidentais. Pesquisas apartidárias, por exemplo, do PEW Research Center, confirmam que “a diferença de riqueza entre as famílias mais ricas e mais pobres dos Estados Unidos mais que dobrou entre 1989 e 2016”. De acordo com a maioria dos indicadores, os americanos de classe média estão em pior situação hoje do que antes da Grande Recessão de 2008; apenas as camadas mais ricas da sociedade americana ganharam significativamente desde então.

E 12 dos últimos 16 anos foram sob governos democratas — o que significa que a desigualdade nos EUA cresceu principalmente sob a supervisão do Partido Democrata, que tem promovido o neoliberalismo desde a presidência de Bill Clinton e mantido à distância políticos mais progressistas, como Bernie Sanders. A globalização também corroeu os sistemas bipartidários de muitos países, o que tornou muitos governos tímidos em relação às políticas redistributivas e, por sua vez, alimentou o populismo nacionalista.

Projeções do U.S. Census Bureau indicam que, até 2050, as pessoas não brancas serão mais numerosas do que as pessoas brancas não hispânicas nos EUA. Esse crescimento, ou pelo menos algumas de suas percepções, estão alimentando o movimento MAGA, cujos adeptos são pelo menos 60% brancos, cristãos e homens, e em sua maioria aposentados, com mais de 65 anos. A sensação entre os apoiadores do MAGA de que suas vidas estão estagnadas e de que estão sofrendo com a inflação está alimentando um conjunto de ideias odiosas. A teoria da “grande substituição”: os brancos serão substituídos por imigrantes e trabalhadores estrangeiros. A tese da “invasão criminosa”: os imigrantes são criminosos, estão inundando o país e precisam ser expulsos. E os movimentos “radicais de exclusão trans”: as pessoas transgênero, especialmente as mulheres transgênero, representam uma ameaça existencial à família, à reprodução social e à própria civilização.

As mudanças culturais também são importantes, como Stuart Hall demonstrou com suas análises dos thatcheristas na virada da década de 1980.10 A Fox News está moldando a maneira como os americanos pensam sua realidade política, assim como as redes sociais, especialmente o Truth Social e o X, que agora estão nas mãos da extrema direita. Isso também é verdade no exterior, com magnatas da mídia como Vincent Bolloré na França, Rupert Murdoch e outros. À medida que a propaganda política se globaliza, a informação tornou-se exponencialmente mais fácil de divulgar, quase incontrolável.

O populismo nacionalista está no centro da contrarrevolução americana moderna, tal como na França ou na Alemanha. É o principal dogma da maioria das pessoas do movimento MAGA, incluindo os seus líderes ideológicos, como Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca para a política, e o Sr. Bannon, com o seu Breitbart News. Bannon relembrou em uma entrevista no início deste ano como ele jogou todo o seu peso atrás de Donald Trump; e como o futuro presidente retribuiu com seu próprio tipo único de populismo nacionalista e patriotismo.

Mas enquanto Bannon frequentemente diz que quer “espremer os ricos”, que é a favor de impostos mais altos para os ricos e para as corporações e que acha que os bilionários da tecnologia são “tecno-feudalistas”, Trump formou uma aliança com os magnatas mais ricos. Entre eles estão tanto os bilionários da tecnologia presentes em sua segunda posse quanto também outro grupo de doadores e benfeitores, como Timothy Mellon, Miriam Adelson e Linda McMahon, bem como elites republicanas mais antigas que resistiram a ele no início, mas que desde então se alinharam. Essas pessoas extremamente ricas — referindo-nos à Rússia, nós as chamaríamos de “oligarcas” — entendem muito bem que é do seu interesse financeiro desmantelar o estado regulador federal.

O presidente também consegue atrair o apoio das populações rurais que se consideram a antítese das elites urbanas e dos moradores das cidades, como protetores dos valores familiares. Ele também inspira evangélicos, eleitores da maioria moral e nacionalistas brancos (comício Unite the Right em Charlottesville em 2017). E agora, também, segmentos crescentes de homens negros e latinos, que foram afastados do Partido Democrata.

O resultado é uma coalizão inesperada de aliados aparentemente improváveis. Hoje, tanto os bilionários quanto a base do MAGA querem desmantelar o estado regulador federal como o conhecemos e substituí-lo por um estado policial enxuto, focado em gastos militares e policiais, na imposição da família tradicional, nas crenças conservadoras, nas fronteiras e tarifas.

Engels observou certa vez que uma revolução requer audácia: “nas palavras de Danton, o maior mestre da política revolucionária até hoje conhecido, de l’audace, de l’audace, encore de l’audace!”. Isso se aplica também às contrarrevoluções modernas. A “audácia da esperança” do Sr. Obama empalidece em comparação com o que o presidente Trump fez nos últimos 100 dias. 

Será que Trump conseguirá reestruturar tão profundamente o governo dos EUA durante os próximos quatro anos e que este momento político constituirá um ponto de inflexão a longo prazo, como o New Deal? Se assim for, precisamos nos preparar para um país fundamentalmente diferente — e um planeta diferente. Este novo modo de governar anda de mãos dadas com a negação das alterações climáticas, e é difícil imaginar o resto do mundo a lidar com sucesso com o aquecimento global sem a participação ativa dos EUA. No seu livro  Slow Down: The Degrowth Manifesto (Devagar: manifesto sobre o decrescimento), Kohei Saito alerta para o “fascismo climático” (desigualdade extrema e poder estatal forte) ou a “barbárie climática” (desigualdade extrema e poder estatal fraco).

Mas pode haver uma reação e um movimento pendular em direção ao Estado administrativo ou mesmo mais além, em direção a alguma forma de coletivismo igualitário ou cooperação. Considerando a inevitabilidade das mudanças climáticas, Saito também descreve a possibilidade de um “maoísmo climático” (igualdade e poder estatal forte) e defende uma quarta opção, o “comunismo do decrescimento” (igualdade com acordos cooperativos e mutualistas). Mas ambos os futuros alternativos exigiriam um movimento social concertado.

Nos EUA, até agora, os democratas têm adotado principalmente uma estratégia de “rope-a-dope” de Muhammad Ali, para usar uma expressão do estrategista James Carville. Ou talvez até mesmo o que Carville chama de “rolar e fingir de morto”: “Deixar os republicanos desmoronarem sob seu próprio peso e fazer com que o povo americano sinta nossa falta”.

A única força contrária nos EUA neste momento parecem ser os tribunais federais de primeira instância, que proibiram provisoriamente mais de uma dúzia de decretos presidenciais. Eles têm sido eficazes em impedir ou atrasar a fase de demolição, pelo menos até agora. É incerto por quanto tempo o poder executivo irá cumprir ou fazer cumprir as ordens dos tribunais federais de primeira instância que o proíbem. A crise constitucional que muitos juristas temem ainda pode estar por vir. O governo Trump, por exemplo, está desafiando os tribunais federais em vários casos de deportação. E o vice-presidente Vance aconselhou o presidente Trump: “quando os tribunais o impedirem, fique diante do país, como Andrew Jackson fez, e diga: ‘O presidente do Supremo Tribunal Federal tomou sua decisão. Agora deixe-o cumpri-la’”.

Por enquanto, o crescente número de litígios está alimentando uma resistência cada vez maior. Aplausos generalizados irromperam nos campi de todo o país quando a Universidade de Harvard se recusou a cumprir a carta do governo Trump exigindo auditorias nos departamentos acadêmicos e, em vez disso, entrou com uma ação judicial. Manifestações massivas estão sendo realizadas aos sábados em todo o país.

Usar a estrutura da contrarrevolução moderna deve abrir novos caminhos sobre como resistir e se revoltar. Afinal, há uma longa história de resistência às forças contrarrevolucionárias. Há muitas maneiras de se revoltar, como Marcuse nos lembra no próprio título de seu livro  Contrarrevolução e Revolta. E a história mostra que, quando as pessoas mantêm seus valores, as contrarrevoluções raramente têm sucesso.