domingo, 21 de fevereiro de 2016

Tempos sinistros

Como trailer de filme de terror, a primeira semana do ano que começou após o carnaval foi de arrepiar. O país aprofundou-se nas trevas do crescimento negativo, com o registro da queda de 4% do PIB em 2015 e previsões tenebrosas para 2016, se viu rebaixado pela segunda vez consecutiva pela mesma agência internacional de avaliação de risco, assistiu ao desemprego crescer 41,5% e à inflação não ceder um único milímetro. E nenhum dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – escapou de produzir assombros.

Ao desastre na Câmara de aprovar a inclusão de artigos contra o aborto e as políticas LGBT na Medida Provisória 696, que trata da reforma administrativa, somaram-se as rasteiras que o Senado deu em seu presidente, Renan Calheiros, e na Petrobras, para impedir a votação do projeto do senador José Serra (PSDB-SP), que retira da petroleira a exigência de ser operadora exclusiva do pré-sal.

Renan negociara com a presidente Dilma Rousseff a tramitação do projeto e foi surpreendido pelo vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), que, enquanto Renan despachava com Dilma, leu uma MP, travando a pauta por pelo menos 45 dias. Ato contínuo, a senadora Simone Tebet (PMDB-MS) protocolou uma PEC para manter o exclusivismo da Petrobras. Pasme-se: com apoio de 48 pares, incluindo alguns tucanos.

Na Câmara, Dilma comemorou a reeleição do deputado Leonardo Picciani a líder do PMDB. Uma vitória de pirro.

A presidente, que no sábado participara do circo oficial contra o mosquito – ou mosquita – transmissor da dengue, chicungunha e zica, jogou pesado. Despachou o ministro da Saúde de volta para o Parlamento, provando que ele não faz falta alguma, e entregou mais um ministério à sigla. Mas o placar de 37 a 30 sobre Hugo Motta (PMDB-PB) pouco aliviou a sua barra. Na verdade, mostrou o inverso: o presidente da Casa, Eduardo Cunha, desgastadíssimo em todas as frentes, ainda fala grosso diante de quase metade da bancada ativa.

Para a sexta-feira, dia sacramentado pelas bruxas, Dilma guardou o anúncio de cortes. Um pacote que prevê contingenciamento de R$ 23,4 bilhões e um pedido, de novo, para que o Congresso aprove um rombo, desta vez de mais de R$ 60 bilhões. Em suma, corte algum, e sim déficit.

No anúncio de ajuste falou-se em tesouradas nos investimentos, na Educação, na Saúde, no PAC, e até em congelamento do salário mínimo. Mas, outra vez, o governo não sinalizou com cortes de verdade, nem mesmo os simbólicos. Nada de extinguir cargos, reformar autarquias ineficientes, parar de gastar com coisas tipo TV Brasil ou com estatais ressuscitadas para nada fazer, como a Telebras, responsável pelo extinto programa de banda larga e que, ainda assim, realizou, em 2015, concurso público para contratar mais gente.

No Supremo, além de decisões positivas, mas polêmicas, como a de dar início à pena após condenação em segunda instância e de permitir a Receita Federal o livre acesso às contas dos contribuintes -- votação que continuará na quarta-feira, mas que já tem seis votos favoráveis -, o ministro Teori Zavaski mandou soltar o petista Delcídio Amaral, provocando dúvidas e furor.

Embora seus advogados neguem, fontes do Ministério Público garantem que ele se beneficiou da delação premiada. A hipótese deixa o governo, petistas e aliados de todos os escalões de cabelos em pé.

A semana teve ainda o estranho pedido de liminar que acabou por suspender o testemunho do ex Lula e sua mulher, Marisa Letícia, sobre o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia. Foco de ação entre amigos – todos investigados pela Lava-Jato – para garantir o conforto e o lazer do ex-primeiro casal no campo e na praia, a questão perdeu as manchetes depois da entrevista da ex-namorada do ex Fernando Henrique Cardoso, festejada pelos petistas como prêmio de loteria.

Imaginam com isso conseguir – e talvez até consigam – exorcizar os pecados de Lula. Como sempre, misturam todos os bugalhos aos alhos, confundindo e apostando na ignorância do distinto público. É mais do que um filme. É horror mesmo.

A lição do socialismo

Os Estados Unidos estão ignorando solenemente o pobre Brasil na próxima – e última – viagem que o presidente Barack Obama fará ao cone sul do continente americano. O presidente norte-americano visitará a Argentina de Macri… e Cuba!!!

Isto demonstra visivelmente que o “comunismo que presta” – nenhum comunismo presta, mas alguns foram mais densos e influentes, como na China, Rússia e Cuba – quer salvar as últimas aparências mandando às favas a ideologia se alinhando logo com o Tio Sam antes que morram, que ninguém é besta de querer perder o bonde da evolução humana para ficar cacarejando essa cartilha manca. A reaproximação das múmias cubanas com a civilização é mostra mais que evidente que a coisa toda não passava de um projeto de eternização no poder vagabundo e truculento, que cobra seu preço agora num país literalmente ilhado e falido.

Meu irmão mais velho – e mais perto da sepultura que eu pela lógica inexorável da vida – tem algumas observações interessantes a fazer sobre esse momento crítico da existência marreta. Para ele, numa certa idade, você só quer saber do design do caixão que irá acomodá-lo. Cientes disso, as duas múmias cubanas sabem que, se apontarem a nau comunista de volta para a pujante economia americana – nem tão pujante assim, mas serve –, poderão ainda desfrutar de alguma sobrevida histórica dos seus embustes, ao levar a massa falida de seu país pela abertura do Mar Vermelho, agora proporcionada pelos norte-americanos.

Já no Brasil, alguns presidentes parecem ter feito o caminho inverso. Numa economia pujante e incipiente, conseguiram matar qualquer chance que resta de empreender no país, com esse cacarejo indecente e essa justiça achada no lixo. Engalfinham-se agora pela divisão do butim, enquanto hordas de demitidos pelo “milagre econômico do PT” se preparam para rapinar supermercados, num claro indício de que estamos alinhados na burrice tão somente com a Venezuela. É espantoso que esquerdistas arraigados, como os que vicejam em redações e bares da orla carioca, não consigam alcançar o golpe de vista de dois velhos caquéticos como as múmias cubanas, abrindo as perninhas bambas para os Estados Unidos enquanto ainda há tempo.

O comunismo faliu. Salve-se quem puder. Roubem o que houver nas gavetas da repartição, que a turba faminta e feita de otária se aproxima. Acho que o país que presta não precisava passar por essa penúria de mais de uma ano de uma presidente pedaleira, superfaturada, fraudada e ancorada na ideologia, embora “proba”, “honesta” e que não rouba um clipe da mesa de trabalho, segundo seus coleguinhas de ideologia porca e cacarejos indecentes. Em contrapartida, o país que não presta simplesmente não presta. E ainda sofreu pouco, se considerarmos que somos já 10 milhões de desempregados para sustentar 100 mil cargos de confiança petralhas aboletados nesse governo. Inclusão social é isto. Inclua só o meu na parada. Parei.

O perfil político que o Brasil quer

Qual é o perfil político mais adequado ao momento que o país está atravessando?

Invariavelmente, a resposta a esta pergunta abarca uma bateria de princípios e valores de feição muito previsível.

Os eleitores apontariam certamente, entre outros, conceitos como ética, respeito, responsabilidade, compromisso, decência, zelo, integridade. Tanto nas regiões mais distantes e ainda sob influência de caciques políticos quanto nos centros de maior consciência política, a valoração ancorada na moralidade assume a liderança das preferências.

As demandas nessa direção são diretamente proporcionais ao intenso noticiário midiático dando conta da ladroagem que, nos últimos anos, assaltou o Estado brasileiro.


Por isso, as eleições de outubro próximo deverão ser mais seletivas que as de 2012, na crença de que o eleitorado comparecerá às urnas com um sentimento de que poucos políticos estão a merecer o seu voto. A constatação mais comum que se flagra na interlocução cotidiana é a de que “todos os políticos são farinha do mesmo saco”. Ante a expansão da descrença social, é oportuno resgatar os traços que ornam o perfil político do gosto do eleitor. Vejamos.

A primeira exigência que a população faz é que ele mantenha sintonia fina com as demandas sociais. Não precisa ser ele necessariamente um despachante ou um assistente social distribuindo benefícios. Infelizmente em algumas regiões a figura do despachante é ainda bem popular. Esta sintonia fina se ampara no contato rotineiro com as bases. Por isso, a proximidade com o povo é um conselho a ser respeitado.

A desconfiança que se espraia em relação a tudo que se liga à política leva o eleitor a querer ouvir candidatos, sentir seu pulso, examinar de perto se a palavra dada será cumprida. Afinal, político é, hoje, sinônimo de mutreta.

O cidadão quer enxergar o valor da autoridade. Regra geral, o brasileiro médio sente-se atraído pela figura do pai, que expressa autoridade, respeito, domínio do ambien­te doméstico, o homem providencial capaz de suprir as necessidades da família. Não se deve confundir autoridade com autoritarismo, conceito este que abriga outras componentes, como a arbitrariedade, o castigo imerecido, a brutalidade.

Equilíbrio é outro valor que se exige, pela necessidade de se distinguir um sujeito harmônico, sereno, capaz de traduzir sentimento de justiça. Estes valores se integram e acabam conferindo ao político confiabilidade e respeita­bilidade, valores que foram esgarçados ou mesmo eliminados pelo tufão de escândalos que assola a vida política. Resgatar a crença na política não é tarefa fácil. E só alguns conseguirão ser bem-sucedidos nessa missão.

Os desafios da administração pública e as demandas crescentes das comunidades estão a exigir conhecimento e experiência dos políticos, fer­ramentas necessárias para o encontro de soluções rápidas, factíveis e justas. Quanto à experiência, não carece ela ter sido realizada na vida pública, podendo o candidato trazer da iniciativa privada uma bagagem de empreendimentos e feitos. As pessoas, regra geral, desconfiam de aventureiros e ignorantes por consi­derá-los uma “aposta cega, um tiro no escuro”.

O preparo, o discurso bem ordenado, a fluidez de ideias compreensíveis pode ajudar a elevar a ima­gem. Será melhor ainda se as propostas e os programas dos políticos fossem endossados por grupos sociais organizados e consolida­dos. Ou seja, se ele tiver o endosso de uma entidade de fins sociais. Seria uma maneira de puxar das margens para o centro a matéria política, o ideário, na esteira da desejável democracia participativa.

A sociedade brasileira está bem organizada e representada por enti­dades, algumas muito fortes. Quem tiver condições de fazer estaarticulação, de lá para cá, do poder centrípeto para o poder centrífugo, estará intermediando com legitimidade os interesses da coletividade. Este grupo que assim se comporta abre mais espaços de futuro.

Ao contrário, ao permanecer todo tempo trancado em gabinetes e escritórios, aquele que aspira a vida política corre o risco de jamais sentir o calor das ruas ou o “cheiro das massas”. Distancia-se e se desequilibra, pois os pés de um político devem, todo tempo, caminhar nas trilhas percorridas por suas bases. E o que as pesquisas indicam como valores negati­vos?

Indecisão é um deles por estar associado à ideia de político fraco, temeroso, tíbio. (A propósito, a imagem de ficar em cima do muro é colada aos integrantes de um partido. Por uma questão ética, este escriba omite o nome).

Encrenqueiro e corrupto são outros traços negativos. O brasileiro continua desconfiado de estilos rompantes, im­petuosos, viradores de mesa. É claro que mudanças são desejáveis, contanto que sejam gradativas, sem grandes sustos. Infelizmente, nos últimos tempos, grupos partidários têm se engalfinhado nas ruas em defesa e ataque a seus maiores protagonistas.

Quem está ligado a coisas suspeitas, à teias de corrupção, mensalão e petrolão, enfim, à situações embaraçosas e não bem explicadas, será visto com desconfiança. Precisa se esforçar muito para se purgar. As Operações Lava Jato e Zelotes, que apuram desvios e eventos imorais, serão acompanhadas atentamente pelo olho mais apurado do eleitor. A população está mais atenta aos fatos da política, distinguindo os espaços do bem e do mal, do bom e do mau político. Perfis sem ideias na cachola, sem programas, sem conhecimento, terão voo curto na campanha que se aproxima. Alguns não passarão no primeiro teste.

Há, porém, um valor-conceito que expressa o esqueleto vertebral do político: trata-se da identidade, que abrange a história, o pensamento, a coerência, os sentimentos e a maneira de ser. Se a identi­dade é forte e positiva, o candidato será sempre associado às lembranças boas de seus eleitores e admiradores. Uma boa imagem, porém, não nasce e cresce da noite para o dia. Foquem a lupa para enxergar erros e acertos, pois a população já usa lentes há muito tempo.

Pardais, saúvas e mosquitos

O mutirão nacional contra o Aedes Aegypti convocado pela Presidente Dilma, lembra um episódio na antiga China de Mao Tse Tung, em que o líder comunista convocou a população do campo e das cidades chinesas para matar pardais. Isso mesmo, em um delírio autoritário, Mao acordou certa manhã e julgou ter uma brilhante solução para aumentar a produção agrícola chinesa, tornando-a capaz de alimentar suas centenas de milhões de habitantes. Ordenou então que todos os chineses saíssem à caça de pardais, que para ele representavam enorme ameaça às plantações de grãos, base da alimentação de seu povo. A população atendeu o chamamento do ditador (até porque desobedecê-lo resultaria em mais do que fome). Todos, estudantes, operários, lavradores, soldados, professores, saíram às ruas para caçar os infelizes pássaros. Reza a lenda que os pardais que não eram trucidados pela população, morriam de cansaço, porque simplesmente era impossível encontrar um local livre de seus algozes. Pois bem, os pardais foram dizimados, mas as lagartas, que eram por eles comidas, proliferaram livremente e causaram muito mais males às plantações do que os pardais.

Da mesma forma, houve uma época em que se dizia que ou o Brasil acabava com a saúva, ou a saúva acabaria com o Brasil.

Relato estes exemplos apenas para demonstrar a inigualável criatividade dos governantes para eximir-se de suas responsabilidades, sempre atribuindo a dificuldade de resolver os problemas a fatores extraordinários.

A incapacidade sistêmica do Brasil de dar fim ou ao menos reduzir a níveis aceitáveis a proliferação de um mosquito, dá bem a dimensão da irresponsabilidade e da incompetência de nossos governantes. Enquanto a enorme maioria de nossa população não tiver acesso ao saneamento básico, enquanto a periferia de nossas cidades conviver com água não tratada e com esgotos a céu aberto, por mais que a população de esforce, o problema persistirá. Pouco adianta a Presidente, como Mao, recorrer a um chamado patriótico para a união nacional em torno do combate a um inseto, se o governo não der cumprimento às suas responsabilidades e investir maciçamente em saneamento.

Este não é um problema apenas do governo federal, deste ou dos passados, mas o contínuo descaso nos levou a uma situação trágica, como a multiplicação dos casos de microcefalia. Há décadas, a população brasileira vem sendo acometida pela dengue. Absurdamente, passou a fazer parte da rotina das famílias ter alguém acometido pela doença, com consequências naquela época de pouca gravidade. Os surtos se repetiam, nada de efetivo foi feito para combater o mosquito e a dengue hemorrágica se alastrou, causando já centenas de mortes. Mesmo assim, apenas o fumacê e esparsas campanhas educativas continuaram a ser o remédio aplicado. Para se ter uma ideia, há hoje milhares de pessoas que foram acometidas por dengue há dois anos e que ainda não tiveram o diagnóstico confirmado por exames laboratoriais.

No Brasil de hoje, a Presidente Dilma, como fez Mao Tse Tung, faz um apelo à nação para se envolver, num tom patriótico, num chamamento heroico para salvar o país do mosquito. O povo brasileiro vai atender a esse chamado, mas não esquecerá que tivessem ela e os demais governantes cumprido seu dever, certamente a situação seria outra.

Mao está hoje embalsamado na Praça da Paz Celestial, louvado apenas pelos mais antigos, visto quase com indiferença pelas novas gerações da China Moderna. Um símbolo de um tempo que muitos preferem esquecer. Mas os pardais foram dizimados. As saúvas continuam por ai. Quanto a Dilma e aos mosquitos, vai depender do povo brasileiro.

Paulo Marcelo Ribeiro Costa

Desconstrução da esquerda

Os constantes noticiários sobre a Lava-Jato têm levado militantes dos partidos do governo a dizerem que está em marcha uma campanha de desconstrução do PT e da imagem do ex-presidente Lula, cujo objetivo seria a desconstrução da esquerda.

É até possível que as oposições estejam usando as notícias com esta intenção; mas a desconstrução foi feita pela própria esquerda, contando com a colaboração do Lula, do PT e demais partidos de apoio ao governo.
A desconstrução da esquerda ocorreu por causa da aceitação da corrupção, sob o argumento de que todos a praticam; pela perda do vigor transformador e o consequente acomodamento; a falta de imaginação para formular nossas alternativas para avanço social; a incapacidade para perceber e entender a vertiginosa transformação tecnológica e política no mundo e o desprezo por compromissos programáticos e ideológicos.

A esquerda não foi capaz de entender o pleno significado da queda do Muro de Berlim, do fim do socialismo pela distribuição da produção e o consumo industrial depredador; a consolidação do poder sindical da aristocratização do proletariado em contraposição aos interesses das grandes massas; não entendeu a dimensão da crise que vai além da luta de classes e contesta a própria base da civilização industrial; não tem proposta para a ampliação do bem-estar, combinado com o equilíbrio ecológico; não percebe a força da globalização implantando o livre comércio, quebrando as fronteiras nacionais; nem a realidade da economia atual, onde o principal fator de produção é o conhecimento, não o capital financeiro, nem os recursos naturais.

A esquerda desconstruiu-se ao adotar a voracidade pelo poder e seus cargos e privilégios, envenenando os músculos de sua militância por estupidez e imoralidade. Faz parte também deste esforço da autodestruição, a anulação, pela cooptação, dos movimentos sociais como UNE, CUT, MST.

Somado à irresponsabilidade fiscal que provoca a maldade da inflação; o aparelhamento e a má utilização do Estado; a degradação de estatais símbolos da nação, como a Petrobras e os Correios; o desmantelamento do funcionamento do Estado e a desnacionalização do parque produtivo por causa da desvalorização cambial.
No lugar de criar novas utopias, formular novas propostas, a esquerda preferiu cair nos braços do sistema tradicional, reduzindo seus programas a meras transferências de renda já implantadas por governos anteriores; colocou o poder como meta suficiente, não como etapa necessária; aceitou qualquer aliança, desconstruindo a própria imagem.

A foto de Lula no jardim de um palacete para eleger seu candidato poderá ser um dia mostrada como marco da desconstrução da esquerda no Brasil, tanto quanto as fotos de jovens derrubando as pedras do Muro de Berlim significou a desconstrução do socialismo real na Europa.

A esquerda se auto desconstruiu sobretudo ao não perceber seus erros e jogar a culpa da desconstrução nos adversários.

O sonho transformado em pesadelo

Há pelo menos três anos o ex-presidente Lula anuncia imediatas viagens pelos Estados, iniciando ampla temporada de renovação do PT. Bem antes da blitz que se abateu sobre sua vida particular e antecedendo, mesmo, suas primeiras desavenças com a sucessora, vinha o primeiro companheiro alertando para a necessidade de balançar a roseira do partido, apagando a crescente imagem de que cada um preocupava-se mais em ocupar maiores espaços de poder, cargos, funções e até ministérios. Também começavam a empenhar-se em aumentar suas contas bancárias. Privilegiados proletários mudavam de classe, até permitindo-se essa facilidade ao mais importante deles, quem sabe por direito divino. O irônico é ter o Lula percebido a metamorfose, ainda que se julgasse no direito de estar acima e além da lei, como todo grande governante.

O diabo é que as viagens não saíram. As tais caravanas não deixavam os camelódromos. O máximo uma ou outra incursão ao Norte ou ao Nordeste. O resultado aí está: verdadeiro ou fictício, o alvo recebe flechas cada vez maiores de adversários, aliados e de indiferentes. O ex-presidente insurge-se, ainda que com certa educação, diante do modelo adotado por Madame diante da crise, ou seja, a volta da CPMF, a reforma da Previdência Social, a supressão de direitos sociais, o aumento de impostos e de preços, a desindexação e demais maldades.


Distancia-se, o Lula, do outrora caminho amplo e aberto do retorno ao palácio do Planalto em 2018, hoje premido por acusações verdadeiras, ou nem tanto, de proprietário de triplex, sítios de luxo, conferencista sem conferência e sucedâneos.

Faz muito já deveria ter iniciado o périplo da recuperação de sua base. Hesita. Apoiar-se na juventude ainda intocada pelos vícios do poder seria a salvação, ignorando-se se por pudor, desilusão ou descrença prefere perder tempo. Tem consciência de que a perda de popularidade não atinge apenas a sucessora. Só andando para a frente conseguirá recuperar o tempo perdido, se for possível.

Em pequenos arraiais petistas sente-se uma espécie de ânimo juvenil capaz de estimular o chefe maior não apenas a salvar-se, mas a salvar o partido, mesmo precisando atropelar parte do projeto agora adotado por Dilma. Se for preciso isolá-la ou mesmo sacrificá-la, outra alternativa não haverá, se o resultado final vier a ser a preservação do poder. Ou do sonho transformado em pesadelo.

O que positivamente não dá é ficar o Lula protestando em casa, Dilma aderindo aos adversários, no palácio, e o povão pagando mais impostos e praguejando contra o custo de vida...

Menos negociata

 Política não é bate-boca, é diálogo. Requer discernimento, capacidade de avaliar as circunstâncias, levar em conta o conjunto da situação. Sua distorção prejudica toda a sociedade. O que se revela muito grave hoje é constatar que o objetivo dessas “doações” não era só financiar campanhas, era se servir delas para manter no poder o mesmo grupo, sem brecha para quem não fosse dos quadros, sem chance de alternância, com um sistema aparelhado. Uma prática que, além de irrigar com dinheiro público uma patota privilegiada, desrespeita a discordância, reduz o dissenso, limita a liberdade de opinião, cerceia a democracia. Esse é seu aspecto politico mais execrável, por antidemocratico, além de imoral. Basta ver quantos ótimos quadros, ao longo do tempo, deixaram o partido que traiu seu sonho. Seus escrúpulos serão golpe?
Ana Maria Machado

S. Pedro troveja sobre o circo de Quaquá

Em tempos de crise no país, era para ser uma sexta-feira santificada para o magnânimo prefeito de Maricá e presidente regiuonal do PT. São Pedro preferiu despejar raios, trovões e muita água para estragar o circo petista de lançamento do outro "novo" hospital municipal.

Marca registrada da incompetência da prefeitura petista, qualquer obra recebe as bençãos governamentais apenas no lançamento. Uma jogada espertíssima do "menino pobre" que faz estardalhaço antes e durante, porque dificilmente haverá depois. As intermináveis "obras" semeiam os dois mandatos sem nenhuma conclusão, mas são fermento para crescer no prontuário do grande realizador de obra parada.


Quaquá, como se o município fosse uma ilha de outro país em tempos de bonança, alardeia que enfim no segundo semestre deste ano(!!!) a população poderá recorrer a um hospital de primeiro mundo que custará R$ 44 milhões, sem contar aparelhamento. Se o prazo de conclusão é imensamente reduzido, improvável para uma obra de tal vulto, não se pode dizer o mesmo do custo, quase cinco vezes superior ao previsto para outro "novo" hospital prometido para ser concluído em 2013.

O município convive com a promessa há mais de dez anos, quando a obra seria do governo peemedebista em troca da autorização para se instalar um mega-empreendimento imobiliário em Área de Proteção Ambiental. O terreno escolhido foi mantido pelos petistas que até lançaram o projeto do hospital Ernesto Che Guevara com direito à cópia da imagem do revolucionário argentino - réplica da fachada do ministério do Interior em Havana.

Com o veto das autoridades ambientais, o faro governamental descobriu no final do ano passado uma nova e maior área. E foi nesse local que Quaquá instalou a parafernália do lançamento imobiliário (ups!), quer dizer, hospitalar.

Não faltou música, participação maciça do comissariado com um imenso outdoor, mas nenhuma placa indicando a legalização da obra. Daria a largada nas obras que já começaram em novembro com a terraplenagem do terreno. Um projeto de mágica construção a preço milionário para um município que leva zero em saúde, zero em saneamento e dez, nota dez, em armação eleitoreira. Mas São Pedro definitivamente não quis compactuar e dar céu de brigadeiro à festa circense com dinheiro público. Tascou temporal na pelegada petista.

Alguma semelhança?

Populismo midiático significa apelar diretamente à população por meio da mídia. Um político que domina bem o uso da mídia pode moldar os temas políticos fora do parlamento e até eliminar a mediação do parlamento
Umberto Eco

Memento mori - tudo passa, até a atual doença do Brasil

Na minha mesa de trabalho, rodeado pelos meus computadores, smartphones, cadernos, canetas e outras traquitanas, assenta-se Aristóteles, minha caveira de estimação, ali postada como um lembrete de que tudo passa.

Tenho também uma versão mobile, uma caveirinha portátil. Como um smartphone, cabe na mão, e é eventualmente levada a participar de algumas reuniões. Esse é Aristides, cujo objetivo é relembrar aos participantes de alguns eventos que o tempo urge, que é importante ter clareza sobre as coisas prioritárias e as de real significado para nossas vidas.
A dupla de caveiras faz bem relembrar que o inexorável ciclo do nascimento, desenvolvimento, decadência e morte se aplica a tudo e a todos. Erga omnes, isto é, vale para todos.

Atualmente, devo confessar que me sinto positivamente desiludido com o estado geral de nosso país. Como assim, positivamente? A questão é que, durante um bom tempo, fui negativamente iludido.

Desde o começo deste século 21 até aí pelo final da década passada, mais precisamente até meados de 2009, quando comemorávamos a conquista da condição de anfitriões dos maiores megaeventos do planeta (Copa 2014 e Olimpíadas 2016), eu fazia parte do enorme contingente de brasileiros que julgava que a nação navegava com rumo mais ou menos correto.

Acreditava que poderíamos nos desvencilhar enfim e de vez do “complexo de vira-latas”.

Minha ingenuidade me fez acreditar que a rotatividade democrática do poder no Brasil ia acabar operando correções nos problemas que emergiam acerca do poder e sua legitimidade. Acreditava eu que iríamos restaurar o espírito e atitude positivos com que nós, brasileiros, atravessamos a virada do século 20 para o 21.

Agora não dá mais. O cheiro de putrefação elevou-se a tal ponto que a náusea tornou-se sufocante. Mais e mais cadáveres estão sendo retirados do armário por frentes sucessivas de investigações. Mas o que é ruim pode sempre piorar. Não são mais inverossímeis certas hipóteses que apontam que alguns cadáveres possam ser mais do que metafóricos.

Não dá mais para relativizar. Não se trata mais meramente de um acúmulo de casos de corrupção ligados ao poder. Está cada vez mais evidente que para se chegar ao poder tudo foi feito e que para se manter o poder, qualquer coisa foi e será feita.

É cada vez mais eloquente a realidade que se desvela ante nossos olhos. Vai sendo exposto que a nação foi vítima de uma monumental conspiração antirrepublicana. Provavelmente, nos próximos meses, as várias frentes de investigação vão desaguar na possível instalação de um Nuremberg à brasileira.

Infelizmente o Brasil está doente, muito doente. Felizmente, a contemplação do Aristóteles e do Aristides me relembra que tudo passa! O pesadelo que nos assombra são mortos vivos insepultos, que se negam a reconhecer que seu tempo acabou.

Senado gasta R$ 269,2 mil com frentistas e lavadores de carro

Além do gasto de milhões com a locação de veículos para transporte de senadores, o Senado Federal também reserva recursos para contratação de frentistas e lavadores de automóveis. Ao todo, R$ 269,2 mil foram empenhados para que seis funcionários façam esse serviço. O valor atende ao período de um ano.

Os recursos correspondem à demanda de dois frentistas (R$ 97,2 mil), para controle de abastecimento de veículos, e quatro lavadores de automóveis (R$ 172 mil). O serviço é prestado pela empresa “Interativa Empreendimentos e Serviços de Limpeza e Construções Ltda”. A empresa tem contrato com o Senado desde 2012.

De acordo com o edital de licitação do contrato, a justificativa do gasto está no fato de o Senado Federal não dispor das categorias profissionais objeto desta licitação em seu quadro de servidores.

“Há necessidade de dotar a Coordenação de Transportes do Senado Federal de uma equipe mínima para proceder à lavagem e abastecimento dos veículos que atendem aos Senadores e órgãos do Senado Federal”, explica o edital.

O quantitativo de mão-de-obra solicitado é suficiente para a lavagem e abastecimento de 92 veículos, sendo 81 dos Senadores, quatro da direção da Casa, três da Secretaria de Polícia, dois que atendem à Presidência do Senado Federal e duas ambulâncias.

Os frentistas devem desenvolver atividades como abastecer os veículos, fazer recebimento de combustível, fazer controle do abastecimento de veículos, registrando em formulários próprios, colher assinatura dos condutores nos formulários e abastecer apenas a cota de combustível autorizada para cada tipo de combustível.

Também estão entre as atribuições do cargo o impedimento da entrada na sala de controle de pessoas alheias à atividade de abastecimento, verificação os níveis de combustível nos tanques do posto de abastecimento da COTRAN e avisar ao encarregado-geral quando houver necessidade de reposição, verificação de níveis de óleo de motor e de líquidos no sistema de arrefecimento, avisando ao encarregado-geral quando houver necessidade de reposição e controle da qualidade do combustível recebido, utilizando-se de equipamentos disponibilizados pelo encarregado-geral.

Já os lavadores de automóveis são responsáveis por executar os trabalhos de limpeza de veículos do Senado Federal, proceder à lavagem dos veículos e máquinas e à lubrificação externa de veículos e máquinas. Os funcionários ainda operam máquinas de lavagem de veículos, fazem limpeza interna dos veículos e enceram o veículo e dar brilho nas laterais dos pneus com uso de produto específico.

A jornada de trabalho dos funcionários é de 44 horas semanais, sendo: de segunda a sexta-feira 8 horas diárias, com uma hora de intervalo, no período compreendido entre 7h e 17h. Deverá ser permitida a compensação de horas, a ser feita por meio de “BANCO DE HORAS”.

Como o Contas Abertas divulgou no início de fevereiro, a Casa empenhou R$ 1,7 milhão para a locação de veículos automotores para deslocamentos de senadores no Distrito Federal. Os recursos atendem ao período de 1º de janeiro de 2016 a 18 de setembro de 2016. O valor não inclui os motoristas e o combustível que será utilizado pelos senadores nos trajetos.

O número de veículos locados é o mesmo de senadores: 81, isto é, cada um deverá contar com carro privativo. A empresa LM Transportes Serviços e Comércio LTDA é contratada do Senado desde 2011. Os recursos a serem desembolsados em 2016 são parte do 5º aditivo de prorrogação do contrato.

Dyelle Menezes