terça-feira, 1 de julho de 2025

Pensamento do Dia

 


Canetas ainda podem mais que as bombas

O debate sobre a eficácia militar dos ataques aéreos dos EUA contra o Irã deixa de lado um ponto mais profundo: o sucesso brilhante no campo de batalha, por si só, não garantirá um Irã livre de armas nucleares.

Os ataques dos EUA encerraram uma campanha israelense de mais de um ano que expôs totalmente o “eixo de resistência” do Irã como um tigre de papel. Os ataques foram altamente eficazes. As instalações de enriquecimento de urânio dependem de maquinário elaborado, fornecimento constante de energia e ambientes estruturalmente robustos.

É provável que tudo isso tenha sido comprometido pelas 14 bombas destruidoras de bunkers que atingiram seu alvo com precisão. Mas, mesmo supondo que os danos tenham sido graves, a maioria dos especialistas com quem conversei estima que os ataques teriam atrasado o programa nuclear do Irã em um ou dois anos. Por outro lado, o acordo nuclear com o Irã de 2015 colocou o programa nuclear do país sob controle por 10 a 15 anos.


Os ataques israelenses podem, na verdade, ter feito mais para atrasar o programa nuclear do Irã do que as bombas antibunker dos EUA. Em menos de duas semanas, Israel matou pelo menos 14 dos principais cientistas nucleares iranianos, oficiais militares de alto escalão e destruiu cerca de metade de todos os seus lançadores de mísseis, segundo o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu. As defesas aéreas do Irã estão quase neutralizadas e o país está vulnerável a um ataque a qualquer momento.

Atômica (AIEA), Rafael Grossi, o Irã tem know-how para reconstruir. O Irã parece ter transportado grandes quantidades de urânio enriquecido que, se intactas, poderiam ser facilmente transformadas em armas. Esse urânio não pode ser bombardeado sem causar vítimas em massa.

Isso significa que a única maneira de garantir que o Irã não se torne um país com armas nucleares seria por meio de negociações e inspeções – em outras palavras, assinando outro acordo. Às vezes, a caneta é realmente mais poderosa do que a espada.

Apesar de toda a sua fanfarronice, Donald Trump parece entender isso e agora está pedindo diplomacia. Ele está em uma posição crucial: tem o capital político nos EUA e em Israel para fazer um pacto. O Irã pode e deve ser solicitado a fazer mais do que foi solicitado pelo governo Obama em 2015.

A república islâmica está em uma posição muito mais fraca do que esteve em décadas. As exigências devem incluir restrições reais a um programa nuclear que fornece apenas cerca de 2% da eletricidade do Irã, mas também restrições ao apoio a milícias no Oriente Médio. Os iranianos se beneficiariam muito se seu governo se concentrasse em apoiar seu próprio povo em vez de suas credenciais revolucionárias.

URÂNIO. A questão crucial será o enriquecimento de urânio. O Irã, com base no Tratado de Não Proliferação (TNP), diz que tem direito ao enriquecimento para fins pacíficos. Israel quer que o Irã não tenha nenhuma capacidade de enriquecimento.

Inicialmente, Trump propôs um consórcio regional que poderia enriquecer urânio enquanto estivesse sendo monitorado e fornecer aos iranianos urânio de grau muito baixo para ser usado em armas.

Mas, quando Trump viu o sucesso dos ataques de Israel, decidiu endurecer sua posição. Ele deveria considerar voltar à posição anterior. A maioria dos especialistas diz que o consórcio regional seria viável e seguro. A diplomacia que terminasse em um acordo teria outra grande vantagem. Independentemente do que se especule sobre as futuras intenções do Irã, o país não tinha um programa que funcionasse como arma. A inteligência dos EUA tem sido clara quanto a isso.

Portanto, os EUA lançaram um ataque não provocado contra um Estado soberano, sem a sanção da ONU ou do Congresso. Esse tipo de ação unilateral não deve ser realizado levianamente. É fácil aplaudir quando Washington faz isso, mas como nos sentiremos quando a China fizer o mesmo? Ou com relação à Rússia na Ucrânia?

A ordem internacional baseada em regras é um palavrão, uma abstração estranha sobre a qual a maioria das pessoas nunca pensa. Mas estamos vivendo o mais longo período de paz e estabilidade da história moderna entre os principais países do mundo. Essa paz é o que permitiu a construção de uma economia global, de comércio e viagens, e de um mundo no qual as rivalidades nacionalistas não terminam em uma guerra nuclear.

A ação militar contra o Irã poderia ser justificada se levasse a um fortalecimento da não proliferação nuclear – um aviso para aqueles que poderiam cruzar a linha. Mas isso requer uma solução política para a questão, de forma estável e aceitável para ambos os lados, caso contrário, teremos apenas um cessar-fogo.

O plano dos EUA para se livrar dos indesejáveis

Dia sim, outro também, tanto no Oriente Médio como na Europa prossegue a selvagem “exibição fálica de armas”, expressão cunhada pelo sociólogo Muniz Sodré. Nada de novo no front além dos 408 kg de urânio enriquecido iraniano que escapuliram do tonitruante bombardeio americano de dias atrás, da obliteração de mais famintos em Gaza e da devastação contínua na Ucrânia. É o horror a céu aberto.

Bem mais opaco é o negócio que o governo Donald Trump decidiu oferecer a dezenas de países para fazer sumir levas de imigrantes não documentados e “liberar” os Estados Unidos desse sangue indesejável. Segundo investigação do jornalista americano Nick Turse publicada no Intercept, o plano resultaria na criação de uma espécie de gulag global onde despejar essa gente.


Tudo com o beneplácito da Suprema Corte americana, que decidiu, na semana passada, permitir deportações sem aviso prévio ou oportunidade para a defesa do migrante. Foi ligeirinha e sem maiores explicações a decisão da maioria conservadora (6 votos a 3), quase ao estilo de um Hugo Motta — ela simplesmente reverteu uma ordem federal anterior que suspendia a prática. As opiniões discordantes se concentraram em três das quatro magistradas mulheres — Sonia Sotomayor, Elena Kagan, Ketanji Brown Jackson. Para elas, a decisão majoritária constituiu uma clara violação dos direitos constitucionais e humanos em solo americano, além de representar um “grosseiro abuso de poder” da Suprema Corte. Tricia McLaughlin, porta-voz do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (o temido ICE), cujos agentes têm se notabilizado por truculência perversa, qualificou a decisão como “vitória para a segurança do povo americano”.

A investigação empreendida por Turse parte de um memorando interno de Marco Rubio, chefe do Departamento de Estado, datado de 14 de junho passado e obtido originalmente pelo Washington Post. Estava endereçado a diplomatas postados em 36 países do terceiro e quarto mundos, cujos cidadãos foram recentemente ameaçados de ser barrados ao entrar nos Estados Unidos. A ação punitiva, dizia o documento, se baseava em justificativas variadas: desde o país em questão “não dispor de autoridade central competente nem cooperativa no fornecimento de documentos confiáveis” até ser patrocinador de terrorismo. Contudo o Departamento de Estado oferecia ao país infrator uma forma de mitigar a adoção da penalidade — aceitar deportados de outras nacionalidades.

Foi assim que 53 nações, muitas das quais ostentam os piores índices sociais, econômicos e democráticos do mundo, já foram, de acordo com a reportagem, submetidas em sigilo a convencimento para virar depósitos de deportados. Ou, como escreve Turse, um “arquipélago de injustiças”, composto justamente por países acusados pelos próprios Estados Unidos de violar direitos humanos ou por nações à beira de guerras civis. De Angola a Zimbábue, passando por Djibouti, República do Congo e Sudão do Sul, a lista preenche um alfabeto inteiro formando um gulag global para migrantes desenraizados à força — até mesmo do continente em que nasceram ou viviam.

Na mesma semana do voto a favor da deportação em massa de Trump, o noticiário digital jorrou detalhes sobre um grupo de migrantes mais rarefeito. Expatriaram-se temporária e voluntariamente como convidados à stravaganza de três dias numa Veneza alugada por US$ 20 milhões, onde se comemorou o “casamento do século”, de Jeff Bezos com Lauren Sánchez. Alguns chegaram de iate, outros em avião particular. Falcões foram alugados pelo noivo para que pombos não perturbassem o cenário idílico. Na Ilha de San Giorgio Maggiore, local da cerimônia propriamente dita, perto de 30 ex-fuzileiros navais haviam sido contratados para garantir a segurança dos 200 convivas — Bezos tem seu próprio plantel de dez guarda-costas em tempo integral, tão prontos a agir quanto agentes do ICE. Lady Gaga e Elton John formaram um dueto, ao preço de US$ 1 milhão para cada um. Difícil não evocar a obra-prima de F. Scott Fitzgerald, até porque Leonardo DiCaprio, que interpretou “O Grande Gatsby” no cinema, foi uma das estrelas da festança.

No romance ambientado na decadência dos anos 1920, o sonho corrompido pela fortuna de Jay Gatsby foi inatingível. O dos magnatas no poder em 2025 será diferente?

É a economia, estúpido!

Os intelectuais fazem a teoria, as massas a economia. Finalmente, os intelectuais utilizam as massas e através deles a teoria utiliza a economia. Por isso é-lhes necessário manter o estado de sítio e a servidão económica - para que as massas continuem a ser massas manobráveis. É bem certo que a economia constitui a matéria da história. As ideias contentam-se com conduzi-la.

Albert Camus, "Cadernos"

A descivilização

Outro dia conversando com um amigo fiz referência a outro amigo comum e ouvi, em tom de elogio, a seguinte expressão “Fulano é um cara civilizado”. A expressão cuja raiz etimológica vem do latim “civilis”, palavra derivada de “civis” que significa “cidadão”, aquele que vive na cidade e se relaciona com a ideia de civilização.

Do ponto de vista pessoal, ser civilizado significa não apenas pertencer a uma civilização, mas adotar padrões de comportamentos respeitosos; demonstrar obediência às regras de convivência pacífica; e revelar, assim, que faz parte de um grupo humano em estágio avançado de desenvolvimento social, político, econômico e cultural sob o império das leis e instituições que deem suporte a um processo de longa duração.


No entanto, essa definição estaria incompleta caso não atentasse para o que diz Norbert Elias (1897-1990), autor de vasta bibliografia, inclusive, o clássico, O Processo Civilizador Vol. 2, 1939. Edição brasileira. ZAHAR, Rj, 1993: “A civilização a que me refiro nunca está completa, e está sempre ameaçada. Corre perigo porque a salvaguarda dos padrões mais civilizados de comportamento e sentimento em sociedade depende de condições específicas. Uma dessas é a autodisciplina, relativamente estável por cada pessoa isto, por sua vez, está vinculado a estruturas sociais específicas” (Esta citação está na página 99 do livro excepcional “10 lições sobre Norbert Elias” de autoria das cientistas sociais Andréa Borges Leão – Professora do Departamento de Ciências Sociais e do programa de Pós-Graduação em sociologia e Tatiana Savoia Landim, professora-associada do Departamento de Ciências Sociais, EFLCH-UNIFESP).

De outra parte, Elias, sempre com o olhar interdisciplinar, identifica a correlação da tensão permanente entre a civilização, sua capacidade de pacificar, aprimorar sentimentos e a violência no seu mais alto grau de destruição, a guerra que não é, segundo ele, um acidente histórico, nem um incidente isolado, mas uma condição humana.

A partir dessa perspectiva, o autor passa a discutir a descivilização ou o colapso da civilização com ênfase no que diz respeito ao Holocausto na Alemanha nazistas. Este terrível episódio da humanidade carregava a bandeira de um projeto de descivilização que o mundo enxergou tardiamente. Que lições podem ser extraídas do momento histórico em que vivemos?

Basicamente, duas lições: a primeira é que os processos civilizatórios e descivilizatórios são construídos a partir de movimentos e contramovimentos, forças centrífugas e centrípetas que alimentam uma dúvida existencial: quais as forças ganham a frente no curto ou longo prazo? Por consequência, a segunda lição é ficar atento para os sinais do grau de controle estatal sobre o monopólio da violência; o nível de coesão dos laços sociais; a firmeza ou enfraquecimento das cadeias de interdependência; e a permanente atenção para as tendências que afetam a convivência entre pessoas e nações a exemplo da ameaça da violência, a insegurança e um sentimento difuso do medo.

Neste sentido, é importante destacar que o fenômeno da globalização alterou radicalmente paradigmas e segue alterando por conta de vertiginosos avanços no campo da ciência, da tecnologia com desafios da realidade-mundo e suas interações com o que Manuel Castells, na trilogia seminal, O Poder da Identidade, O Fim do Milênio, denomina de A Sociedade em Rede, um fenômeno que muda a vivência do espaço e do tempo.

Nessa nova moldura, emerge a civilização contemporânea junto com sua irmã siamesa, a barbárie e o cenário dantesco: de um lado, uma afluência nunca vista e, de outro, a profunda desigualdade marcada por uma concentração de poder político, econômico e bélico, também, jamais presenciada na história.

Sem tonalidades dramáticas, nos deparamos, de fato, numa encruzilhada da tragédia bélica ou da implosão climática, caso o ser humano capaz de construir uma grandeza gigantesca, não seja capaz de alcançar uma dimensão ética que preserve a vida das futuras gerações.

A natureza da crise não é econômica

O governo decidiu judicializar a questão do IOF por entender que houve, por parte do Congresso, uma invasão de suas competências. O Executivo pode mudar a alíquota do IOF. O Projeto de Decreto Legislativo só seria cabível caso o governo tivesse indo além das suas prerrogativas. A ideia de que isso pode aumentar a temperatura do conflito não faz muito sentido, pois já está elevada e há pouco que o governo possa fazer para amenizar o clima. Normalmente, esse ambiente político surge quando a economia está em crise. Não é o caso agora, considerando que há uma série de indicadores bons.

A inflação vem desacelerando, e os bancos têm reduzido suas projeções para o índice no ano. No Boletim Focus, a estimativa do IPCA caiu pela décima vez em 11 semanas. Está em 5,2%. O Bradesco projeta um número menor, de 5%. Embora acima do teto da meta, a trajetória é de queda, puxada em parte pelo dólar, que recuou 12,08% no primeiro semestre. Os alimentos também registram alívio nos preços, com reduções expressivas em itens simbólicos. No último IPCA-15, por exemplo, o ovo caiu 7%. O desemprego está em 6,2%, menor percentual da série histórica. A previsão do PIB está em torno de 2,2%.

A natureza da crise não está nos indicadores econômicos de emprego, crescimento, câmbio, inflação. Há um grave problema fiscal estrutural que leva ao aumento da dívida. Em maio, houve déficit público e a dívida subiu; no acumulado dos cinco primeiros meses do ano, houve superávit. O problema fiscal não se explica pelo número nosso de cada dia. O desequilíbrio não é de hoje, nem vai se resolver amanhã, precisa haver um plano de enfrentamento do problema.

A crise é política e tem sido exacerbada pelo Congresso. Com o valor extravagante das emendas, que escalaram a níveis insustentáveis desde a gestão Jair Bolsonaro, e com os fundos partidário e eleitoral em valores altos, os políticos não precisam mais das negociações com o governo para atingir seus objetivos. Isso cria uma anomalia no balanço entre os poderes no Brasil.

O Bradesco, no cenário divulgado ontem, diz que “desde o fim do ano passado, houve mudança positiva na percepção de riscos, especialmente por conta dos vetores externos”. A apreciação do câmbio, a redução das pressões inflacionárias e da curva de juros explicam essa melhora. O banco diz que o quadro fiscal permanece incerto, mas continua apostando no cumprimento das metas do arcabouço deste ano e do próximo. Projeta que, no fim do ano, haverá corte na taxa de juros. Para 2026, a previsão de inflação é de 3,8%, dentro do intervalo da meta, embora ainda não no centro da meta. Ou seja, nada há de desesperador, como se vê, que justifique tamanha gritaria política e esse clima de fim de mundo.

Ontem, o presidente da Câmara, Hugo Motta, acusou o governo de instalar um ambiente de “nós contra eles” no país. Na semana passada, Motta inesperadamente colocou em votação o projeto de aumento do IOF, e o governo perdeu de lavada. Pode-se perguntar a Motta quem fez o primeiro ataque do “nós contra eles”. Todo o ambiente no Congresso é de “vamos derrotar o governo”. Conseguiram. Agora, Motta diz que o clima azedou por culpa do Executivo.

O Caged divulgou ontem que o mercado de trabalho formal no Brasil criou, em maio, 149 mil vagas com carteira assinada. Os números do IBGE até maio mostram o mercado de trabalho no melhor patamar dos últimos dez anos. No trimestre de março a maio, houve uma queda de 644 mil de pessoas desempregadas. O total das pessoas empregadas aumentou em 1,2 milhão. A população desalentada caiu 10% no trimestre. Esse é um indicador sensível. Mostra o número de pessoas que nem procuram emprego porque acham que não vão encontrar. Hoje são 2,9 milhões de pessoas, porém foram seis milhões em 2021.

O estresse fiscal exigirá do governo uma proposta ousada, com fim de indexações de despesas. Mas como apresentar projetos assim se o Legislativo não aprova nem medidas mais cosméticas? Propostas de reformas devem ser feitas em qualquer contexto. A reforma monetária que nos trouxe o real foi apresentada e executada num ano eleitoral, e num mandato curto, o de Itamar Franco. O governo precisa formular uma saída para a crise fiscal ainda que seja realizada só na próxima administração. Qualquer que seja o grupo político que se eleja no ano que vem, o país só será governável se o problema das emendas parlamentares puder ser enfrentado.
Míriam Leitão

Fascismo sionista e a fantasia de um Grande Oriente Médio

Muitas vezes, precisamos nos ater ao passado para entender o presente. A urgência do "agora" exige isso. Precisamos de sabedoria histórica para sobreviver.

A sabedoria coletiva do passado emanava de uma carta publicada em 4 de dezembro de 1948 no New York Times, protestando contra a iminente visita aos Estados Unidos do sionista polonês Menachim Begin. A carta foi assinada por vários dignitários judeus, incluindo o físico teórico Albert Einstein e a teórica política Hannah Arendt. Além de protestar contra a visita, os 27 signatários denunciaram o partido Herut (Liberdade) de Begin, alegando que era como escreveram:

"Entre os fenômenos políticos mais perturbadores de nossos tempos está o surgimento, no recém-criado Estado de Israel, do 'Partido da Liberdade' (Taunt Haherut), um partido político muito semelhante em organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidos nazista e fascista... É inconcebível que aqueles que se opõem ao fascismo em todo o mundo, se corretamente informados sobre o histórico político e as perspectivas do Sr. Begin, pudessem adicionar seus nomes e apoio ao movimento que ele representa. Hoje, eles falam de liberdade, democracia e anti-imperialismo, enquanto até recentemente pregavam abertamente a doutrina do Estado fascista."

Os signatários ficaram indignados com os relatos de crimes de guerra cometidos pelas forças sionistas durante a guerra de 1947-48. Ficaram particularmente perturbados com o relato do massacre de centenas de pessoas na aldeia palestina de Deir Yassin pelos paramilitares do Irgun e do Lehi (Gangue Stern) em abril de 1948.

Deve-se notar que, após a declaração de estado de Israel em maio de 1948, todos os grupos terroristas como o Irgun, comandado por Menachim Begin (futuro primeiro-ministro, 1973-83) e o Lehi sob outro primeiro-ministro, Yitzhak Shamir, (1983-84; 1986-1992) foram absorvidos pelas brutais Forças de "Defesa" de Israel (IDF).

O que Arendt, Einstein e outros reconheceram no Estado sionista foi, em suas palavras , a "mais recente manifestação do fascismo". A ideologia e a conduta violentas da Haganah, do Irgun e da Gangue Stern não desapareceram com o fim da guerra de 1948. Elas floresceram e, por fim, metastatizaram-se no regime fascista de direita israelense atual.

As correntes de imperialismo, etnonacionalismo e racismo que permearam a Alemanha nazista encontraram terreno firme no atual Israel.

Décadas atrás, o ativista político judeu marroquino, Abraham Serfaty , em seus ensaios na prisão sobre a libertação palestina, observou que há uma "lógica fascista no cerne do projeto colonial de desapropriação, dominação e deslocamento dos colonos sionistas". O fascismo está inserido na ideologia e na lógica do projeto expansionista colonial de Israel.

O Israel sionista, auxiliado e instigado pelos Estados Unidos, ressuscitou a selvageria da qual o mundo queria salvar as gerações futuras após a Segunda Guerra Mundial.

O expansionismo israelense, por exemplo, assemelha-se muito à ideologia extremista do Lebensraum (espaço vital em alemão), que se tornou o principal objetivo da política externa do regime nazista. O estabelecimento de um Grande Reich Alemão era seu objetivo final.

O plano diretor nazista para o Leste especificava que a Alemanha precisava do Lebensraum para sua sobrevivência. Para suprir sua necessidade de espaço vital e recursos, a maioria das populações indígenas não arianas (eslavos e judeus) da Europa Central e Oriental teria que ser removida, escravizada ou exterminada. As terras tomadas seriam então repovoadas com colonos germânicos "superiores".

Israel, assim como a Alemanha nazista, está comprometido com a expansão territorial, apropriando-se de terras para estabelecer o que eles chamam de “Eretz Yisrael”, um “Grande Israel”.

As semelhanças entre a "Grande Alemanha" do Lebensraum e o "Grande Israel" do sionismo são inconfundíveis. Ambos abrangem etnonacionalismo, ultranacionalismo, expansionismo militar agressivo e genocídio.

Desde que se estabeleceu ilegalmente em terras palestinas habitadas em 1917, o projeto de longo prazo de Israel de anexar vastas áreas de Estados soberanos vizinhos nunca cessou. Em seus diários (mantidos de 1895 a 1904), o pai do sionismo político moderno, Theodor Herzl, registrou sua visão de Eretz Yisrael — terra que, como ele escreveu, se estenderia do "riacho do Egito ao Eufrates", no Iraque.

Portanto, Israel nunca estabeleceu fronteiras definidas. Propositalmente vago em suas declarações, mas claro em sua missão, continua a expandir agressivamente suas fronteiras. Cometeu genocídio na Faixa de Gaza ocupada, ocupou, colonizou e anexou ilegalmente a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, destruiu grande parte do sul do Líbano, bombardeou o Iêmen e invadiu e ocupou a Síria. Agora, trabalha para enfraquecer e dividir o Irã.

Os defensores do conceito do Grande Israel afirmam que toda a Palestina, Líbano e Síria pertencem ao Estado sionista. Alguns interpretam o Grande Israel como abrangendo o domínio não apenas sobre toda a Palestina, Líbano e Síria, mas também sobre partes do Egito, a maior parte do Iraque, a Jordânia, uma grande área da Arábia Saudita e partes do sul da Turquia.

Nos últimos 21 meses, Israel e seus apoiadores imperiais travaram uma campanha devastadora de guerra e genocídio em busca de seu objetivo de criar um “Novo Oriente Médio”.

Há quase dois anos, em 22 de setembro de 2023, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu se apresentou perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, exibiu um mapa rudimentar intitulado "O Novo Oriente Médio" e apregoou a crescente normalização das relações entre Israel e os países árabes. Ele apresentou uma visão sionista de transformação regional que envolvia o apagamento da Palestina e a legitimação do "Grande Israel".

Tel Aviv tem contado com as famílias árabes do petróleo do Golfo Pérsico para permanecerem passivas e submissas à vontade dos Estados Unidos e, por extensão, de Israel. Ela não vê nenhuma ameaça vinda do Egito. O carro-chefe do mundo árabe, governado por um regime autoritário brutal, é fraco, corrupto e economicamente dependente de US$ 1,3 bilhão em ajuda anual de Washington.

A Jordânia, governada por uma monarquia repressiva, tem sido cliente e pilar americano da hegemonia EUA-Israel há mais de 75 anos; dependente da ajuda externa americana estimada em US$ 1,5 bilhão anualmente. A Turquia, outro importante Estado muçulmano, vinculou seu sucesso ao Ocidente e ao seu tratado de defesa com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Quase todos os países da região foram derrotados, restando apenas o Irã e o Iêmen. Na noite de 21 de junho de 2025, os Estados Unidos lançaram um ataque sem provocação ao Irã para ajudar Israel a dar o xeque-mate.

A arrogância impulsiona a agenda de Washington e Tel Aviv. Eles estão convencidos de que podem criar uma região submissa à sua agenda hegemônica.

O termo "fascista" é um rótulo político usado por historiadores judeus, ex-membros e atuais membros do gabinete israelense, bem como por críticos dentro de Israel. No entanto, é um termo que outros têm medo de usar. A seguir, alguns exemplos entre muitos:

O jornal diário mais antigo de Israel, o Haaretz, escreveu frequentemente que “o neofascismo israelense ameaça seriamente israelenses e palestinos”. Ele descreveu o Ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e o Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, como fascistas e racistas.O Ministro das Finanças Smotrich referiu-se a si mesmo como um “ homofóbico fascista ” .
Os ex-primeiros-ministros israelenses Ehud Barak e Ehud Olmert alertaram sobre o fascismo.


O ex-ministro da Defesa, Moshe Yaalon, chamou o assassinato de palestinos por Israel de "uma ideologia messiânica, nacionalista e fascista".

A Ministra da Cultura Miri Regev declarou com orgulho: “Estou feliz por ser fascista”.

O Partido Comunista de Israel (Maki) e o partido Hadash (novo) escreveram em 7 de outubro de 2023 que “Os crimes do governo fascista de direita para perpetuar a ocupação estão levando a uma guerra regional que deve ser interrompida”.

O historiador de extrema direita, Ze'ev Sternhell, escreveu sobre “o crescente fascismo e um racismo semelhante ao do nazismo inicial”.

O falecido jornalista/ativista pela paz, Ari Avnery, declarou que “a discriminação contra os palestinos em praticamente todas as esferas da vida pode ser comparada ao tratamento dado aos judeus na primeira fase da Alemanha nazista”.

Em 24 de abril de 2025, o renomado historiador Avi Shlaim declarou que “Israel está a caminho do fascismo”. Ele argumentou que os atributos políticos do Estado israelense se assemelham aos da extrema direita na década de 1930.

Lamentavelmente, as características do fascismo que o Dr. Shlaim usou para descrever Israel também definem os Estados Unidos sob o regime Trump: "a crença de que o mais forte faz o certo, a confiança no militarismo, o militarismo integral, a indiferença ao direito internacional, a indiferença total à opinião pública mundial".

O Primeiro-Ministro Netanyahu proclamou com orgulho em junho de 2021: "Estamos mudando a face do Oriente Médio. Estamos mudando a face do mundo". A mudança na mentalidade israelense sempre significou a remoção violenta de toda oposição à sua contínua expansão e domínio da região rica em recursos, custe o que custar.

Netanyahu, Ben-Gvir, Smotrich e seus semelhantes não são anômalos. São produtos de um sistema colonial racista e fascista que se desenvolveu desde 1917, quando Israel foi implantado no coração da Palestina.

Assim como seus colegas intelectuais que estavam preocupados com as atrocidades sionistas que começaram na Palestina em 1947-48, os professores da Universidade Birzeit, na Cisjordânia ocupada, na Palestina, sentiram-se obrigados a usar suas palavras — como eles disseram, embora fúteis — para expor mais de 80 anos de brutalidade sionista e registrar a determinação palestina de viver, resistir e não ser silenciado.

O Sindicato dos Professores e Funcionários de Birzeit , em carta aberta de 12 de outubro de 2023, escreveu:

“2023 ficará registrado historicamente como o ano em que os palestinos se ergueram corajosamente diante do fascismo colonial e gritaram em defesa de seus lares, humanidade e vidas... É nosso dever registrar este momento não como suas vítimas, mas como as pessoas que se lembrarão, registrarão, sobreviverão e resistirão a ele [a barbárie sionista]. Permanecemos apegados à nossa terra e à nossa humanidade como árabes palestinos — não precisamos provar nossa humanidade àqueles que perderam a deles...”