sábado, 10 de outubro de 2015

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O declínio do gigante brasileiro

O que está acontecendo no Brasil, com um governo que mal consegue chegar aos 7% de aprovação e uma moeda que desvalorizou 35% neste ano e 55% nos últimos 12 meses? Onde e quando vai terminar essa investigação judicial [Operação Lava Jato] que já levou à prisão o ministro estrela de Lula, José Dirceu, o tesoureiro do partido no governo, os dirigentes das maiores empresas de construção (verdadeiras multinacionais), enquanto aparecem acusações contra os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado?


Esta revelação da corrupção é o epicentro do terremoto. Afetou a Petrobras, a principal empresa do país, em números surreais, que ainda não terminaram de serem avaliados. Basta pensar que –obrigada pela justiça– a Camargo Correa, uma das empresas, já devolveu 200 milhões de dólares; que o ex-gerente geral da petroleira estatal restituiu 97 milhões e o de abastecimentos devolveu 25 milhões (dois funcionários, simplesmente). Todas essas quantias respondem à intenção dos acusados de aliviar sua sentença, enquanto são feitos acordos de “delação premiada” em que alguns dos envolvidos, por sua vez, arrastam outros. É um “salve-se quem puder”, que tornou o juiz Sérgio Moro, que encabeça o expediente, a personalidade mais popular do país.

A essa crise moral soma-se uma situação econômica já por si difícil. A queda dos preços das matérias-primas, encabeçadas por minério de ferro, petróleo e soja, atingiu seriamente uma economia que na última década desfrutou de uma formidável bonança, alegremente esbanjada em consumo doméstico. Isso desnuda outra realidade histórica: o Brasil sonhou ser uma grande potência industrial e Getúlio Vargas, um caudilho gaúcho, em 1930, abriu as primeiras siderúrgicas; por sua vez, Juscelino Kubitschek deu continuidade ao sonho e, como testemunho desse otimismo, levantou — nos anos cinquenta — esse Versalhes moderno que é a Brasília de Niemeyer e Lúcio Costa. Esse sonho acabou. O Brasil hoje é muito mais potência agrícola que industrial. Com a queda desses preços, a economia começou a estagnar e há três anos apresenta baixíssimo crescimento, sendo esperada inclusive uma recessão em 2015. O último ano de expansão foi 2010, mas com uma ilusão de ótica, porque tinham sido estabelecidos incentivos ao consumo da indústria automobilística e eletrodoméstica, aumentando o endividamento popular. A consequência dessa economia estagnada e com forte déficit público levou à perda do investment grade, que incentivou, por sua vez, a desvalorização que hoje domina psicologicamente o país. Assim, quem vai investir, seja estrangeiro ou brasileiro?

À crise moral e econômica sobrepõe-se uma crise política, que retroalimenta a desconfiança. O Partido dos Trabalhadores (PT), partido no governo, sofre deterioração e até o ex-presidente Lula, que parecia imune, começa a perder imagem. As denúncias de corrupção atingem-no e põem em questão a própria presidenta,Dilma Rousseff. Paira sobre ela o fantasma de um julgamento político que teria de apoiar-se na evidência de um delito pessoal dela. Não apareceu uma prova direta que a envolva, mas a ameaça está presente, como também indica uma denúncia perante o Supremo Tribunal Eleitoral pelo uso em campanha de recursos espúrios oriundos de fraudes públicas. Como se fosse pouco, permeia uma sensação de fraude intelectual, porque Dilma fez uma campanha prometendo estimular a economia e acusou o social-democrata Aécio Neves de ser o candidato dos bancos. Assim que chegou à presidência, nomeou um banqueiro como ministro da Economia e lançou um ortodoxo programa de ajuste fiscal. Isso constituiu outro combustível para a fogueira que já fumegava.

Ninguém duvida que seria ruim para a democracia se Dilma não terminasse seu mandato. Mas, como disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se não houver um gesto de grandeza da presidenta “assistiremos à desarticulação crescente do Governo e do Congresso”. Esse é o dilema de hoje. Encurralada, a presidenta encarou uma reforma de seu desmesurado gabinete de 39 ministros, reduzindo seu número, mas tendo que contemplar uma nuvem de pequenos partidos e o poderoso PMDB, seu principal aliado, hoje com um frágil apoio. Assim, não parece que vá acontecer esse choque de confiança que se espera. Com emplastros e remendos, tudo continuará se esgarçando e a sétima potência econômica do mundo, o gigante latino-americano, continuará a se arrastar em um agônico declive.

Julio María Sanguinetti, ex-presidente do Uruguai

Meu bandido favorito


Em relação à crise político-criminal em curso, os lados em litígio unem-se em torno de um mesmo refrão, que soa como um solene apodítico: as instituições estão sólidas e garantem a lisura do processo democrático. Estão?

No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há pelo menos três ministros – Dias Toffoli, Luciana Lóssio e Maria Theresa Moura – que, antes de lá chegarem, foram advogados do PT, atuando, inclusive, em campanhas eleitorais.


São agora chamados a julgar contas e atos de campanhas eleitorais de seus ex-clientes, sem que nenhum se ache nem remotamente suspeito para fazê-lo. Ninguém argui também essa óbvia suspeição. A ministra Luciana Lóssio chegou a pedir vistas do processo que, com maioria já estabelecida, instaurava investigação das contas da campanha de Dilma, acusada pela Lava Jato de receber doações de dinheiro roubado da Petrobras.

Diante das pressões da sociedade, e tão somente por isso, acabou devolvendo o processo e as investigações foram abertas.

No Supremo Tribunal Federal (STF), fala-se em “bancada do PT” – e a imprensa acostumou-se, com a maior naturalidade, a avaliar previamente o resultado das votações, com base nesse pressuposto. Tem acertado.

No Superior Tribunal de Justiça (STJ), o quadro não é diferente. Fala-se em “ministros do PMDB, do PT”, e repete-se, com eficácia, o exercício adivinhatório que precede as votações.

A recente nomeação do desembargador Marcelo Navarro, que não encabeçava a lista tríplice – e a praxe é nomear quem a encabeça -, gerou polêmicas de fundo político-partidário.

No Ministério Público, dá-se o mesmo, e o protagonismo presente do órgão evidencia o problema. O procurador-geral, Rodrigo Janot, até aqui, não denunciou nenhum político do PT – nenhum! - em decorrência das delações premiadas da Lava Jato, que tem o partido como carro-chefe da roubalheira na Petrobras.

Entre outros, foram denunciados pelos delatores ao juiz Sérgio Moro dois ministros de Estado, Edinho Silva e Aloizio Mercadante. A própria Dilma foi denunciada por nada menos que seis delatores em busca de premiação.

O procurador, no entanto, não se manifestou. Mas não hesitou em denunciar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cuja atuação tem sido contrária aos interesses do governo, e o senador José Agripino Maia, presidente do DEM, que, por óbvio, não participou do Petrolão. Seu caso é, comparativamente, de propina miúda.

Não que essas denúncias sejam infundadas, ou que não devessem ser feitas, mas não se comparam, em gravidade, extensão e profundidade com as que envolvem a turma do PT.

O que se questiona não são as denúncias feitas – de Cunha e Agripino -, mas as não feitas. Tem-se, digamos assim, a impressão de uma investigação seletiva, que busca obstar o processo de impeachment. Seletiva é também a indignação do pessoal do PSol e adjacências, que investe contra Cunha e simultaneamente finge ignorar a situação dos dois ministros de Dilma – e ela própria - envolvidos em denúncias bem mais cabeludas.

Cunha, em face da denúncia, está, segundo eles, moralmente incompatibilizado com o exercício do cargo; Edinho Silva e Mercadante (para não falar da própria Dilma), não. ???!!

Nenhum dos críticos de Cunha, até aqui, se escandalizou com a informação de que Lula, no exercício da presidência da república, vendeu uma medida provisória à indústria automobilística, a 471, prorrogando a vigência da isenção do IPI.

A transação rendeu aos lobistas intermediários – em que se inclui um filho de Lula, Luís Cláudio – nada menos que 36 milhões de reais, quase quatro vezes o valor dos depósitos de Cunha em bancos suíços (US$ 2,4 milhões, segundo a denúncia).

Se as instituições tivessem a solidez que se propaga, o PT, que comandou o Petrolão – e a rapina até aqui, segundo disse ontem o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, deve superar os 20 bilhões de reais, a maior da história da humanidade, segundo o The New York Times - teria a precedência nas denúncias.

Mas não é o caso, o que indica, ao contrário do que se diz, o aparelhamento das instituições. E acaba gerando um quadro bizarro: de um lado, os governistas, investindo contra os malfeitores que os incomodam – e apenas contra estes; de outro, a oposição investindo na defesa desses mesmos malfeitores, na expectativa de que apressem o impeachment. Um enredo perfeito para um filme cujo título seria “Meu bandido favorito”.

Não há dúvida: as instituições estão funcionando – só que pelo avesso.

Dilma só sai após concluir a destruição do país


Todos já sabiam que a presidente Dilma Rousseff nada entende de Economia Política,embora alardeasse na internet ter mestrado e doutorado, que depois se constatou serem apenas uma das invencionices dela. E como realmente ficou comprovado que nunca fez mestrado nem doutorado, também pode-se até duvidar que tenha cursado alguma faculdade de Economia, tal o seu despreparo.

Agora, constata-se que os brasileiros elegeram (e reelegeram) para a Presidência da República uma autoproclamada mulher sapiens que nada entende também de administração pública ou de política. É uma estranha no ninho do Planalto/Alvorada.

Ao contrário do lendário Rei Midas, que transformava em ouro as coisas nas quais tocava, a presidente Dilma consegue destruir o que aparece à sua frente. Podem reparar: tudo o que é feito pelo primeiro escalão do governo sempre dá errado. Há quase um ano tenta fazer um ajuste fiscal que não existe nem tem Plano B, enquanto a economia vai derretendo.

Vejam bem: em junho de 2014 a presidente foi advertida pelo então presidente do TCU, Augusto Nardes, sobre as irregularidades em sua prestação de contas. E o que fez ela? Ao invés de se adaptar e obedecer às normais legais, fez exatamente o contrário e extrapolou as pedaladas e a maquiagem das contas, baixando dez decretos inconstitucionais, para fazer despesas não-autorizadas pelo Congresso. Um festival de crimes de responsabilidade em série, puníveis com impeachment.

Depois veio a público alegar que não sabia de nada e a culpa era no secretário do Tesouro, Arno Augustin.

O TCU então deu à presidente todas as oportunidades de se defender, até adiou duas vezes o julgamento das contas. E como dona Dilma respondeu a essas gentilezas? Simplesmente mandou alegar a suspeição do relator Augusto Nardes, e simultaneamente foi logo recorrendo duas vezes seguidas ao Supremo, numa confusão total.

Como tudo o que o governo faz dá errado, o resultado foi a decisão do TCU por unanimidade, propondo a rejeição das contas e abrindo fundamentação jurídica para o impeachment.

Sinceramente, o comportamento da presidente Dilma Rousseff não parece normal. Será que as anfetaminas que toma para manter a dieta não estão lhe fazendo mal? Não seria caso de terapia? O que ela enfim pretende? Vai se agarrar ao governo como uma preguiça pendurada na árvore, incansavelmente imóvel? Até onde vai levar esta farsa? Não governou durante quatro anos e dez meses, quer continuar assim até o final de 2018? Ou seja, só pretende sair do governo depois de concluir a destruição do país?

Como dizia o humorista Agildo Ribeiro, perguntar não ofende. Especialmente quando todos sabem a resposta.

Uma carnificina arduamente conquistada


O Brasil teve 58.559 homens, mulheres e crianças assassinados em 2014. Não tem maquiagem nem desvio. Só foram contados os homicídios dolosos oficialmente definidos como tal no país em que só 8% dos casos que a PM, que patrulha as ruas, leva à Policia Civil, que tem o monopólio da porta de entrada do sistema penal e processual mais intrincado e cheio de vazamentos do mundo.

São 5, indo para 6 vezes o que o Estado Islâmico matou em um ano na ultima vez em que a ONU fez essa estatística. Somos o 16º país mais violento do mundo em quase 200 medidos. Temos 2,8% da população mundial e 11% dos assassinatos do planeta. 28,9 de cada 100 mil brasileiros foram intencionalmente trucidados na rua no ano de 2014. São Paulo, o estado que mais prende e que vive sendo alvo de críticas ferozes de acadêmicos e jornalistas para demonstrar que “repressão é o pior remédio contra o crime, só serve para aumentar a violência dos criminosos”, tem o melhor índice do país com menos da metade da média nacional: 12,7 assassinados por 100 mil habitantes. A média mundial é de 6,2 por 100 mil. A dos Estados Unidos, com toda a sua apedrejada “cultura armamentista” e os massacres recorrentes perpetrados por malucos suicidas é de 4,7 pessoas por 100 mil. A da Suiça onde não ha um exército formal e cada cidadão é obrigado por lei a ter uma arma de guerra em casa, a taxa é de 0,6 assassinados por 100 mil habitantes.

Não obstante todos esses “elementos probatórios”, no entanto, uma boa parte da imprensa e das autoridades constituídas brasileiras, com a Rede Globo de Televisão à frente, continua impávida fazendo uma campanha cerrada para nos provar que quem assassina esses 58.559 brasileiros todo ano “são as armas” e não quem as aponta para alguém e puxa o gatilho, e que a solução para isso é “proibir a circulação de armas” mas manter circulando nas ruas os que as fazem disparar contra seus semelhantes porque prende-los – alem de ser “politicamente incorreto”, vitimas da sociedade que são – seria arriscar “torná-los irrecuperáveis” (como às vidas que eles destroem por motivos cada vez mais fúteis).

Graças à promoção que a televisão dá a todos quantos abraçam essa tese neste país onde toda a gigantesca corrupção que assombra o mundo gira em torno do comércio de tempo de exposição de candidatos na TV, todos os cidadãos honestos e sem ficha na polícia, dos nossos atiradores olímpicos para baixo, foram obrigados a engolir uma das mais draconianas legislações para impedir o seu acesso a armas em todo o mundo. Quem tem uma é tratado pela mídia como um assassino em potencial e pelas pragmáticas autoridades constituídas que tomam carona nela como alguém a ser ordenhado no bolso e na paciência com taxas abusivas e uma burocracia inexplicável por qualquer critério racional deliberadamente ofensiva à sua inteligência e à sua dignidade de cidadão. Tudo isso se transformou numa verdadeira guerra santa depois do povo ter ousado derrotar o desarmamento nas urnas. A Rede Globo, em especial, liderou a campanha para atiçar políticos dispostos a se vender por exposição na telinha para punir o eleitorado rebelde com uma regulamentação que literalmente jogou a expressão da vontade popular no lixo, um comportamento em tudo semelhante ao que ela hoje critica no PT.

É a mesma rede, aliás, que das seis da tarde às 11 da noite, diariamente, exibe novelas com pretensões assumidamente didáticas nas quais, invariavelmente, a traição de todos por todos – pais e mães a filhos e filhas, avós a netos e vice-versa, amantes de todos os sexos e meios-sexos uns aos outros – é apresentada como um padrão desejável de “normalidade” enquanto qualquer tipo de adesão a qualquer tipo de valor moral é apedrejado como manifestação aberrante e odiosa de autoritarismo ou até de desvio psíquico (“fobia”). Outras redes de TV fazem da exploração “gráfica” da violência que hoje rola ao vivo um ritual diário.

Isso não quer dizer que a imprensa e a televisão são as responsáveis diretas pelo massacre em curso. Mas aqueles entre eles que disseminam com uma paixão quase religiosa a idéia de que neste nosso país, na arte como na vida, nenhum efeito tem causa, nenhum ato é fruto de arbítrio, todos somos vítimas “da sociedade” ou “dos estrangeiros” e ninguém, individualmente, tem culpa de nada — tudo que resta fazer são seções de exorcismo contra ferramentas inanimadas — certamente não ajudam esse quadro a melhorar.



A reafirmação reiterada desse tipo de “verdade” é o que incentiva e libera consciências entre o que ha de pior nas nossas “autoridades competentes” para, diante desses numeros aterradores e com o país inteiro assistindo diariamente à chocante banalidade e frieza dos assassinatos ao vivo, determinar que qualquer bandido preso, mesmo em flagrante, que não for apresentado a um juiz dentro de 24 horas, será obrigatoriamente solto porque – danem-se os quase 59 mil mortos! – o que não podemos admitir é o mais leve risco de que os “supostos” autores desse massacre sejam lesados no seu direito à “ampla defesa”.

Acontece que aqui rejeita-se o método universalmente aceito do “ciclo completo de polícia” no qual o policial que primeiro chega à cena de um crime é quem mede as reações dos circunstantes, interroga testemunhas, colhe provas materiais e monta o quebra-cabeças, terminando frequentemente como testemunha-chave dos julgamentos. Mantem-se duas polícias que não falam uma com a outra e enfia-se entre a cena do crime, que é território da PM, e o inquérito que pode levar o seu autor à justa punição, exclusivo da Polícia Civil, um absurdo labirinto burocrático cuja persistência só pode ser explicada pela corrupção que enseja.

O policial que viu os fatos frescos neste país sem escolas fica obrigado a relatá-los por escrito a um delegado e a um escrivão de escritório que respondem a outros chefes seguindo uma fórmula que se não for cumprida à risca tem força até para apagar dos autos o fato relatado, danem-se a verdade, as vítimas e os culpados. Estes delegado e escrivão, se e quando puderem, expedirão outro papel com uma ordem para que alguem volte à cena do crime para “reinterrogar testemunhas” e “colher provas” de que eles “dêm fé”, ordem que frequentemente levará anos para ser executada…

Esse ritual ofensivo à inteligência de qualquer um e criminoso com relação a quem clama por justiça, explica porque temos a impressionante marca de 8% dos crimes relatados transformados em Inquéritos Policiais oficiais, dos quais só 0,8% acabam em condenações, o que quer dizer que é muito maior a probabilidade de um criminoso reincidente ser atingido por um raio do que pagar pelos seus crimes.

O pequeno pormenor desconsiderado pelos “humanistas” que estabeleceram essa regra insana é que a maioria das delegacias da Policial Civil fecha à noite, tendo delegados e escrivães dessa corporação “conquistado o direito”especialíssimo de fazer turnos de 12 horas de plantão por até 96 horas de descanso!!

Não vem ao caso: seja o crime cometido em zona urbana, seja o flagrado pela Policia Rodoviária – de roubo de carga com morte, por exemplo, a segunda facção mais rica e violenta do crime organizado no Brasil – a 300 km de qualquer delegacia aberta, é isso que vai ser: apresentação a um juiz em 24 horas ou nada.

Essa carnificina em meio à qual se esgueiram apavoradas as famílias brasileiras não é, portanto, consequência de um defeito no DNA do famigerado “povinho que deus pôs neste paraíso”. É uma conquista ardua e soberanamente trabalhada.

País governado por uma anedota

Dilma Rousseff vem demonstrando diariamente que tem tudo para fazer bonito como comediante involuntária. No momento, a presidente protagoniza dois vídeos, ambos gravados na recente visita à ONU, que são campeões de audiência na internet. Ela merece.

O primeiro ensina que o mundo seria muito melhor se cultivasse com mais carinho a arte de estocar vento. Isso mesmo: estocar vento. No segundo numerito humorístico, o neurônio solitário usa um acento circunflexo inexistente para abrir a Caixa de Pândora ─ e não Pandora ─ que guarda a pasta de dente que sai de um dentifrício.

Somados, os vídeos imploram pelo pronto despejo da inquilina do Planalto. Impeachment por bandalheiras criminosas é coisa demorada? Que venha imediatamente a interdição formalizada por uma junta de psiquiatras, a camisa de força e a temporada no manicômio.

Gabinete presidencial não foi feito para estocar anedotas. País nenhum merece uma piada no poder.

O aloprado e a trapalhona

Só mesmo um petista histórico como o professor Dalmo Dallari, que já pagou muitos micos jurídicos em defesa do partido, pode dizer que o julgamento das contas de Dilma no TCU foi político e não jurídico, quando todo mundo viu que foi técnico: as provas apresentadas, julgadas e aprovadas por unanimidade, são contábeis, são graves violações da Lei de Responsabilidade Fiscal, que justificam a rejeição das contas.

Mas o professor Dallari assegura que “Dilma não levou qualquer vantagem pessoal com as contas do governo”. Ela só fez essas trapalhadas e desatinos fiscais para enganar o eleitorado com um país enganoso e falsamente próspero, gastou muito mais do que podia sem autorização do Congresso em um ano eleitoral, e até durante a campanha, mas a candidata Dilma não teve qualquer vantagem... rsrs.


Talvez, para ele, vantagem pessoal seja “meteu algum no bolso”, como os guerreiros da causa que roubaram para o partido e para eles mesmos. Mas disso ninguém a acusa. Ela só é responsável por enganar a população, desrespeitar a LRF, encobrir ilegalidades e esconder malfeitos contábeis em benefício de sua reeleição e em prejuízo de seus concorrentes.

O professor aloprado afirma que “a presidente não pode ser responsabilizada por atos estranhos ao exercício do mandato”. Mas se executar o Orçamento não é responsabilidade da presidente, de quem seria?

Para ele, “as pedaladas são atos formais de administração da equipe econômica sem interferência da presidente”, como se Dilma não fosse a mãe da “nova matriz econômica”, se Arno Augustin, Guido Mantega e Nelson Barbosa não fossem fiéis executores de suas ordens. Ao contrário de Lula, Dilma é metida a economista, sempre teve absoluto controle da área, e por isso estamos como estamos.

Tantas falcatruas provadas, comprovadas e aprovadas não podem ser rejeitadas pelo Congresso tecnicamente, só politicamente, no pior sentido, ou ter a sua votação protelada por Renan como mais uma arma de chantagem contra Dilma Trapalhona.

Mas Dilma viu luz no fim do túnel: é o farol do trem-bala do impeachment vindo em sua direção a 400 quilômetros por hora.
Nelson Motta

Assim surgiu o crime...

O lulopetismo, que nasceu da ignorância do seu pregador, da qual parece não ter nenhuma noção crítica, não passa de rude e tosco esquema de falsa louvação, fingidamente explorada para os que se acercam do poder para desfrute pessoal e nada acrescem a uma ciência da qual somos, os brasileiros, profundos carecedores, e na qual parece acreditar o fundador desse “sistema filosófico”, tal como Quincas Borba, de Machado de Assis, nos seus ataques de loucura
Márcio Garcia Vilela, Crônicas do lulopetismo e outros escritos

Pancadaria interminável

É difícil imaginar que a presidente aguente tantos solavancos em espaços de tempo tão curtos. Nesta semana, Dilma Rousseff, pelos próprios erros, tomou tantos cruzados, diretos, jabs e ganchos que se perdeu a conta.

Imagino que as surras que vêm recebendo incessantemente estejam provocando nela enxaquecas capazes de levá-la para um leito de hospital, tornando-a impaciente até mesmo com os alegres burburinhos de seu neto, que, no primeiro mandato, eram símbolos de uma Dilma humanizada, mulher e avó, em contraponto à imagem de uma presidente enérgica e truculenta que vendia.

A incrível capacidade de gerar problemas complica cada vez mais a sua situação. Se no início da crise em que o país está mergulhado achava difícil a presidente renunciar ou perder o mandato por meio de um impeachment, diante das novas pancadas e das desastrosas reações, essa hipótese, algo que soava apenas como espasmos de uma oposição que não se conformava em ter perdido as eleições, está se materializando. Tal possibilidade já não é remota.

Com a reprovação de suas contas por parte dos ministros do TCU pelo elástico placar de 8 a 0, a moral da presidente atinge a lona. Dilma está mais para um espírito vagante no epicentro de um umbral interminável, onde as penitências que lhe são impostas são as consequências das mentiras que contou para se reeleger e de inconsequentes práticas que tentavam manter a aparência de um país que há tempos está quebrado.

A votação do TCU está longe de ser o pavio que será acesso para a explosão do barril de pólvora em que se transformou o quarto governo consecutivo do Partido dos Trabalhadores, mas a resposta ao autoritarismo estrábico do Palácio do Planalto, que tentou tirar do páreo o relator do TCU, atingiu o fígado de Dilma.

Erros atrás de erros vão retirando o pouco fôlego de quem já não consegue mais encontrar oxigênio na população, na base aliada, no Congresso, no TCU e, daqui a pouco, no STF.

Porém, por mais que comemorem oposição e inimigos de Dilma, a fraqueza do governo e as derrotas que lhe são impostas diuturnamente também enfraquecem o Brasil e os brasileiros, sobretudo os mais pobres. A vida está difícil, com impostos em escalada, queda no poder de compra, inflação, juros altos, baixa produção, desemprego e instabilidade social.

O sentimento de que a Justiça está funcionando no país e de que as instituições estão fortalecidas é a salvaguarda diante do cataclismo político e social destes tempos de mau agouro. Precisamos, urgentemente, sair dessa. Ainda há de se cogitar que o melhor para Dilma e para o Brasil seja uma renúncia programada, em que a presidente possa negociar as reformas importantes em troca de uma saída honrada e, sobretudo, estadista.

Vermelho de tão atrasado

O atraso também é um poderoso fator de desenvolvimento. Surpreso? Pois não fique. Alguns segmentos de mercado onde identificamos a modernidade e o avanço tecnológico notáveis, se transformaram como decorrência direta do combate frontal que empreenderam contra o atraso crônico. Os setores que antes conviviam com entraves e problemas enormes para si próprios e para a sociedade, por terem reagido ao atraso, vicejam como de ponta ou lidando com o estado da arte em termos de recursos técnicos e operacionais.

O desenvolvimento da indústria, por exemplo, avança no caminho da automação e de processos lógicos que, a cada dia que passa, dependem muito mais de sistemas e muito menos de pessoas, principalmente no chão de fábrica. Esta mudança de perfil – menos gente e mais máquinas – não foi apenas fruto do desejo capitalista de produção em massa, mas também do atraso provocado pelo surgimento dos sindicatos de trabalhadores que, mais do que se comportarem como entidade representativa dos interesses dos empregados na indústria, passaram a se posicionar como agremiações políticas ou até mesmo associadas diretamente a outros coletivos políticos, predominantemente de esquerda.

Como decorrência da ânsia pelo progresso em si, associada à necessária diminuição de entraves que fossem capazes de fechar uma planta fabril inteira por pessoas vestidas de vermelho, os empresários entenderam que quanto menos gente sindicalizada e mais máquinas obedientes, melhor para o mercado como um todo, mesmo que a mágoa rondasse os sindicatos, órgãos sempre atrasados, mas que por sua insistência no atraso, aborrecem o empreendimento e acabam promovendo o desenvolvimento.

No Brasil, dois fenômenos interessantes acontecem simultaneamente: Os sindicatos, ligados à CUT e ao PT, simplesmente pararam de incomodar. Como estão com as burras cheias de dinheiro público e devem subordinação e apoio aos governos de esquerda, se tornaram sabujos obedientes e deixaram num terceiro ou quarto plano os interesses dos trabalhadores. Paradoxalmente, no mesmo instante histórico em que os sindicatos adoçaram seus discursos e ações, mimetizando-se ao governo petista, a produção industrial desabou, os investimentos derreteram e o emprego desandou. Ou seja, o sindicato parou de incomodar e a indústria parou de se desenvolver!

Mais uma greve de bancários? E quem se importa? Internet banking, no smartphone, nos terminais de autoatendimento, pagamentos por celular, cartões de crédito, quem precisa de pessoas? Os sindicatos de bancários no Brasil são responsáveis, em função de seu atraso existencial, por um dos sistemas de automação mais modernos do mundo. Os bancos estão fechados? Qual o problema? Enquanto os sindicatos não tocarem no dinheiro, a vida segue muito melhor sem eles do que com eles. Nós, os clientes, devemos muito da comodidade que temos aos obtusos e vetustos sindicatos de bancários.

Eis aí a tese comprovada. O atraso é um potente motor do avanço e da melhoria. Os sindicatos brasileiros e as suas centrais, ao invés de promover aspectos sociológicos ou humanistas de suas representações, insistem em se manter no breu inóspito do atraso, na treva triste do subdesenvolvimento, apoiando líderes vagabundos, ignorantes e políticos corruptos e incompetentes. Isto serve? Ao avanço tecnológico, sim. À evolução social e do trabalho, não.

Eu sempre digo que, dependendo apenas da autoria, uma ideia pode ser muito boa ou muito ruim. Os sindicatos brasileiros, vermelhos, atrasados, encabrestados, por causa de seus autores, são uma ótima ideia para qualquer país que deseja se desenvolver. Uma ideia tão boa que as contribuições sindicais deveriam ser pagas pelos empresários.

Uma casa pelo preço de um carro popular

Os sonhos de milhões de mexicanos cabem em 63,35 metros quadrados. Esse é o espaço ocupado pela chamada Casa popular, um dos projetos emblemáticos apresentados na Bienal de Arquitetura de Chicago. Tem dois quartos, um banheiro, uma cozinha e uma sala de estar onde teve lugar uma pequena grande revolução. A casa custa apenas 7.000 dólares (cerca de 27.000 reais), pode ser construída em menos de um mês e ser montada, como um móvel da Ikea, por seus próprios moradores.


O protótipo, concebido pela arquiteta mexicana Tatiana Bilbao, surge a partir de uma necessidade antiga. Em um país com 120 milhões de habitantes, a demografia é um monstro que, durante décadas, tem esmagado os sonhos dos desfavorecidos. A população cresceu muito mais rápido do que o Produto Interno Bruto (PIB). O resultado são 53 milhões de pobres (11 milhões deles em condições de extrema precariedade) e um déficit de nove milhões de casas. O dobro da população da Irlanda. As tentativas do Estado para suprir essa carência têm sido insuficientes. O custo dos imóveis e o lucro das construtoras, altamente predatório no México, reduziram o impacto dos subsídios do Governo e transformaram a moradia digna em um bem quase inatingível nas áreas mais atrasadas do país, como Chiapas ou Oaxaca.

Foi para superar essa barreira que Bilbao desenvolveu seu protótipo. Extremamente funcional e sustentável, a obra transpira ideologia. "A arquitetura se afastou da sociedade e deve voltar a ser relevante, exercer seu poder de dar ou tirar qualidade de vida. O bem-estar social deve prevalecer sobre econômico", afirma a arquiteta.

Premiada em 2014 com o Prêmio Global de Arquitetura Sustentável, a arquiteta é neta de arquiteto basco e ministro da República, Tomás Bilbao. O espírito do avô, fundador da Ação Nacionalista Basca e que morreu no exílio, influencia sua obra. "Tenho sua ideia de compromisso social", diz Bilbao, cujos projetos incluem a Casa Ajijic e o Jardim Botânico de Culiacán, duas referências da nova arquitetura latino-americana.

São casas de aspecto sutil, confortável e com uma qualidade muito maior do que a normal para esse tipo de moradia. Um lar digno para os mais necessitados. Mas, também, do teto ao chão, um manifesto contra a pobreza
Em seu mais recente desafio, Bilbao partiu da ideia de dar qualidade de vida aos moradores, mas sem aumentar o custo nem a simplicidade. Prova disso, é que o plano de construção foi aperfeiçoado ao máximo e, na própria Bienal de Chicago, termômetro das últimas tendências mundiais, a casa foi construída diante dos olhos dos organizadores em menos de três semanas. "Incorporamos todos os elementos, exceto o vaso sanitário, porque nos disseram que os visitantes poderiam querer usar", brinca a arquiteta.

Outro elemento de ruptura na Casa popular é o espaço em si. Os 63,35 metros quadrados (versão rural) superam em 46% o mínimo autorizado no México (43 metros quadrados) e que, por uma questão de custos, costuma ser o padrão para moradias populares. A área maior torna a residência mais habitável e, com isso, a sensação de lar. "Os moradores não conseguem acreditar quando entram", comenta Bilbao.

O acabamento externo, com paredes de cores vivas, influencia esse efeito. A construção pode ser de bloco de adobe ou painel-w (poliestireno com armação de arame de aço). Esses materiais são usados juntamente com paletes industriais de madeira em espaços abertos, tais como as paredes. Tudo isso é coberto com uma estrutura modular que permite sua ampliação sem grandes dificuldades. O resultado, já testado em cerca de 20 obras nos estados de Chiapas e Coahuila, são casas de aspecto sutil, confortável e com uma qualidade muito maior do que a normal para esse tipo de moradia. Um lar digno para os mais necessitados. Mas, também, do teto ao chão, um manifesto contra a pobreza.