segunda-feira, 14 de julho de 2014

Acabou mesmo?

A "santa" protetora  dos pobres que dá ricos estádios para as elites

A Copa acabou no campo. Mas será quer acabou mesmo? Ao menos para os brasileiros, os anfitriões que tanto empenharam o otimismo e imensamente os próprios bolsos, a Copa vai render muita coisa para pagar e ainda mais para se discutir fora dos gramados, que dentro deles quem deve cuidar são os que vivem do esporte.

O governo precisa agora prestar as contas, na ponta do lápis, sobre os gastos exorbitantes, a propaganda enganosa de vender o que seria um espetáculo e um lucro para o futebol brasileiro. O desperdício foi muito maior, imensamente maior do que despejaram na mídia como conquistas.

Se não presta aquelas, o governo aproveita para despistar novamente para evitar que as derrotas em campo não façam a bola cair no colo da presidente, que vem dando cabeçada para evitar gols, até contras, em outubro. Há uma investida em se livrar da bola quente que revelaria que o time em frangalhos dos campos também se repete na administração pública.

Como uma perna de pau de time de várzea, derrotado até pelo famoso Íbis, o pior time do mundo, Dilma tem dado sinais de que tropeça a cada investida ao ataque. Escorregou, quando anunciou a necessidade de ingerência governamental no esporte como se não bastassem as bicas sempre abertas para verbas quando do interesse político. Pior ainda foi catar cavaco quando, com sua autoridade técnica, defendeu maiores oportunidades para assegurar a permanência dos craques no país. Lembrou, como sempre, falas dos tempos ditatoriais, reformas do esporte que nunca levaram a nada ou nem sequer passaram de blábláblá. E a presidenta ainda cometeu falta grave ao defender o Estado como gestor do futebol privado.

A craque dos tropeções foi mais longe ao denunciar que as vaias da abertura da Copa partiram de 90% da “elite branca” que lá estavam. A furada de bola colocou em pauta o dualismo na sociedade, algo bem ao gosto dos petistas, que defendem com unhas e dentes um trabalho contra o racismo, mas se esquecem, às vezes, e estimulam o choque racista.

Nas entrelinhas, quer dizer que o governo que defende os pobres, os negros, os miseráveis, gastou fortunas para construir estádios onde a “elite branca” poderia confortavelmente, no padrão Fifa de qualidade, assistir aos jogos? E por que não usou os bilhões para promover maior assistência aos pobres, negros, miseráveis que tanto defende? Está aí uma questão em que Dilma trocou as pernas e deu sua maior furada. Confessou a presença em massa de uma elite branca para quem fez a festança, e de quem esperava aplausos, mas recebeu o troco devido por deixar os brasileiros desfavorecidos, e negros, fora do espetáculo. 

Custo da bagunça


A democracia brasileira é uma bagunça, tanto no funcionamento do aparelho do Estado (relações entre os Três Poderes e pequenas repúblicas cartoriais envolvidas no exercício da atividade administrativa no dia a dia), quanto no processo eleitoral propriamente dito. A última semana desnudou a vergonhosa realidade desta bagunça: alianças feitas sem respeito às identidades ideológicas ou éticas entre os candidatos de uma mesma coligação. Como em toda bagunça, o eleitor fica desconsolado e o aparelho do Estado caótico.

Esta bagunça de casamentos imorais em grupos sem identidade, que foi chamada de “orgia” e “suruba”, respectivamente, pelo prefeito Eduardo Paes e pelo deputado Alfredo Sirkis, tem outro demonstrativo vergonhoso no custo das campanhas. Somente Dilma e Aécio preveem gastar R$ 588 milhões. Somando os demais presidenciáveis, o custo será de R$ 870 milhões.

Em 2010, as eleições a todos os cargos custaram R$ 3,23 bilhões, cerca de 11vezes mais do que os gastos dos presidenciáveis de então. Mantida a mesma proporção, em 2014 os gastos serão de R$ 9,7 bilhões, equivalentes ao pagamento de piso salarial para 100 mil professores ao longo de quatro anos. Nenhum regime pode ser considerado democrático se cada voto custa tão caro, os professores tão pouco, e os candidatos precisam ser ricos ou comprometidos com ricos financiadores de suas campanhas ou as duas coisas.

O maior custo, porém, não é financeiro, é o caos político e administrativo que está esgotando o atual modelo de democracia brasileira, desmoralizando e emperrando o funcionamento do setor público. Apesar disso, ainda não vimos qualquer dos candidatos à presidência propondo reforma eleitoral que reduza este custo.

Você sabia?


Dilma terá não apenas quase o dobro de tempo que a soma dos dois principais candidatos de oposição,  como, nas inserções de 30 segundos somadas, terá nada menos que 123 minutos espalhados pela programação de cada emissora de canal aberto do Brasil nos 45 dias da campanha eleitoral. O volume de publicidade é equivalente, segundo especialistas, ao lançamento de um modelo novo de carro para consumo popular.