Na educação, o corte representa mais de 19% do orçamento previsto. Não me parece razoável eliminar 9 bilhões de reais e afirmar que este montante não fará diferença
Quando ainda vivíamos a sociedade industrial era habitual dizer que um indivíduo era um analfabeto funcional se, mesmo em condições de identificar letras e números, fosse incapaz de interpretar textos e de realizar operações matemáticas, até mesmo as mais simples.
Entretanto, na sociedade do conhecimento, onde grupos expressivos das populações estão conectados, este conceito vem sofrendo alterações, e entende-se que os indivíduos, para serem considerados alfabetizados funcionalmente devem compreender os textos, habituar-se a refletir criticamente sobre as informações recebidas, desenvolver um raciocínio lógico e matemático, e ainda usar os procedimentos e as ferramentas que possibilitem explicar situações e prevê-las, bem como buscar soluções para a infinidade de problemas que enfrentarão em suas vidas. Por isso, a aprendizagem por meio de jogos vem adquirindo relevância em todos os níveis de ensino, inclusive na educação infantil.
Das qualidades que mencionei, podem ser tiradas duas conclusões: boa parte da população mundial é agora constituída de analfabetos funcionais e estes não têm as habilidades indispensáveis para os postos de trabalho majoritariamente oferecidos pelas empresas, cada vez mais interessadas em agregar valor aos seus produtos. Por isso, devemos saber enfrentar estes novos paradigmas na educação e, no caso brasileiro, assegurar a sua contínua melhoria, mesmo numa época em que é preciso encontrar soluções para os graves problemas econômicos trazidos pela gestão infeliz e que estão impondo expressivas reduções orçamentárias. Bom senso e equilíbrio serão fundamentais para que a educação continue prioritária.
Um estudo realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado há poucos dias, mostra resultados muito interessantes sobre a influência da educação no crescimento do Produto Interno Bruto das nações, considerando um grupo de 76 países que realizaram o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).
Inicialmente traz alguma esperança para países como o Brasil, o México e a Turquia, que embora estejam no fim da lista (nós somos o 60º), conseguiram expressivas melhorias nos seus respectivos desempenhos. No nosso caso, a taxa de escolarizados cresceu, entre 2003 e 2012, de 66% até 78%.
Outra importante conclusão do documento é que, se conseguirmos melhorar as condições de aprendizagem de nossos estudantes e garantirmos resultados melhores no PISA, estaremos aumentando o PIB de nosso país, em valores que compensam largamente os investimentos em educação.
Qual o raciocínio utilizado pelos autores do relatório? Eles construíram um modelo que possibilita idealizar qual será a situação se conseguirmos que em 2030 todos os estudantes com até 15 anos atinjam os níveis de escolaridade adequados para as suas idades.
Com a escolarização total, o PIB em 2095 será 750 vezes maior que o PIB atual. Sem ela, será de 440 vezes. Como falamos de um PIB atual de 5 trilhões de reais, o valor agregado à ele em consequência da escolarização ultrapassa em muito o investimento anual em educação.
É plenamente justificável e necessário que o ajuste fiscal chegue aos 70 bilhões de reais. Entretanto, na educação, o corte representa mais de 19% do orçamento previsto. Não me parece razoável eliminar 9 bilhões de reais e afirmar que este montante não fará diferença. Ou a proposta orçamentária enviada ao Congresso foi mal feita, ou não existe qualquer compromisso com a educação.
Como disse Franklin Roosevelt, "nem sempre conseguimos construir o futuro para a nossa juventude, mas podemos construir a juventude para o futuro".