quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Quem nunca comeu melado
Quando come se lambuza!
Eis uma pérola da sabedoria tradicional, ressuscitada pelo inconsciente do ministro-chefe da Casa Civil, o lulopetista Jaques Wagner, numa entrevista concedida à “Folha de S.Paulo” no dia 3 deste tenebroso janeiro de 2016. Ao lado da entrevista da presidente, no dia 7, elas dão uma medida clara da nossa lambuzagem.
A suprema mandatária do nação — num misto de meditação e descoberta psicológica — admite que “errar é humano!”. Diante do tamanho do axioma, toda incompetência e má-fé, além dos pixulecos cometidos nestes 14 anos de governo do PT, podem ser esquecidos. “Não há coelhos na cartola”, reitera Dilma, repetindo Jaques Wagner, o hoje lambuzado compositor chefe da Casa Civil.
Estamos vivendo um clima de magia. O Brasil deixa de ser o “jambon” de Lima Barreto, para virar o mel de engenho sorvido à indigestão, pelos gerentes-gatunos do lulopetismo em todo o lugar. Esses passes de mágica, contudo, não aliviam. Pelo contrário, dão a toda pessoa responsável uma enorme e nada poética vontade de se matar. Coelhos e lambuzados são hoje, vejam o tamanho da desonra!, os emblemas de um Brasil que se suicida.
Como um estruturalista canhestro, embora pioneiro, não posso deixar de observar que o ditado invocado por Jaques Wagner desvenda os tabus de um governo manifestamente desenhado para o povo mas que, em latência, lambuzou-se como jamais se viu na história do capitalismo no melado do poder, tal como o poder é vivido no Brasil.
Quando um escolado político menciona numa entrevista que “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”, usando o ditado como uma metáfora para ocultar o comportamento injurioso do governo, ele sem querer entrega o inconsciente do lulopetismo.
Cabe a indagação: como um comentário tão politicamente (in)correto saiu de um petista tão consciente da sua (in)correção? Eis uma entrevista digna de um Pedro Malasartes — esse padrinho de todos os Macunaímas e malandros nacionais — hoje promovidos a canalhas.
Além de ser uma verdade, a invocação do ministro revela — no momento em que escrevo, leio que J. Wagner está envolvido em mais uma familiar troca de pixulecos — um preconceito aristocrático. Ela diz que quem está fora de sincronia com sua posição social lambuza-se. Acaba, como afirma o ministro, reproduzindo “metodologias” fora de lugar.
Comer melado, labuzando-se, tem no nosso vasto almanaque de preconceitos reveladores de um viés hierárquico o claríssimo: “X ou Y — você leitor, define o sujeito — quando não caga na entrada, caga na saída!”
Os ditados bradam por um limite social para quem pode estar no poder. Como os que tudo sabem e, tendo o direito de comer mais do que podem, dão um passo maior que as pernas e lambuzam-se. Na sua folclórica defesa, o ministro admite que o PT assim procedeu e hoje paga o preço por esse descuido depois de 14 anos de poder!
Uma fome insaciável de mel, confirma a falta de modos à mesa. Em política, essa fome insaciável denuncia os que têm “um olho maior do que barriga” típico dos corrompidos. Num caso, querem todo o melado; no outro, quase (espero!) compraram a República.
Lambuzar-se no mel do poder (ou do poder comido como mel) é (e eu tenho afirmado isso faz tempo) uma manifestação do governar à brasileira. O besuntar-se mostra como o poder é usado, abusado e possuído por um grupo que — como “governo” — dele se utiliza como bem entende, familisticamente. Raymundo Faoro acertou na mosca ao falar em “donos do poder”. Entre nós, o poder, como o mel descrito e analisado por Lévi-Strauss nas suas “Mitológicas”, é um poderoso adoçante associado ao mundo sobrenatural.
Os méis ricos em levulose de certas abelhas, possuem — observa Lévi-Strauss no seu livro “Do mel às cinzas” — sabores tão marcantes que se tornam quase intoleráveis. Um gozo mais delicioso de que qualquer um daqueles proporcionados habitualmente pelo paladar e pelo odor perturba os liminares da sensibilidade e confunde seus registros. Já não sabemos mais — como redescobre o nosso Wagner, o “compositor” — se degustamos ou se ardemos de amor. Mas, como contraponto, há também méis alcalinos que são laxantes e perigosos! Produzidos por abelhas “feiticeiras” ou “vamo-nos embora”. Eis uma minúscula amostra da sabedoria de um especialista em olhar distanciado a elucidar o olhar próximo, possessivo e ávido do ministro, que admite como o seu partido queria extrair toda a doçura do poder mas, infelizmente, lambuzou-se.
A metáfora revela-se muito mais correta do que imagina a nossa vã ignorância. O mel de pau, a ser procurado na floresta e o melado de cana produzido por braço escravo nos engenhos baianos são tão gostosos que sobrepujam o comedimento, o pudor e a honestidade. Doces e sedutores eles, porém, melam e grudam, denunciando a sofreguidão dos seus comedores.
Não é, pois, por acaso que o mel natural dos ameríndios tem laços com o jaguar e com o fogo civizatório da cozinha que lhe pertencia. Já em outros mitos, seu paladar extraordinário delata uma insaciedade a ser punida porque ultrapassa os limites da decência.
O mel, como o poder, pune o lambuzado, conforme confirma o ministro lulopetista que hoje entra, como mais um papa-mel, na mira das procuradorias republicanas.
Roberto DaMatta
Eis uma pérola da sabedoria tradicional, ressuscitada pelo inconsciente do ministro-chefe da Casa Civil, o lulopetista Jaques Wagner, numa entrevista concedida à “Folha de S.Paulo” no dia 3 deste tenebroso janeiro de 2016. Ao lado da entrevista da presidente, no dia 7, elas dão uma medida clara da nossa lambuzagem.
Estamos vivendo um clima de magia. O Brasil deixa de ser o “jambon” de Lima Barreto, para virar o mel de engenho sorvido à indigestão, pelos gerentes-gatunos do lulopetismo em todo o lugar. Esses passes de mágica, contudo, não aliviam. Pelo contrário, dão a toda pessoa responsável uma enorme e nada poética vontade de se matar. Coelhos e lambuzados são hoje, vejam o tamanho da desonra!, os emblemas de um Brasil que se suicida.
Como um estruturalista canhestro, embora pioneiro, não posso deixar de observar que o ditado invocado por Jaques Wagner desvenda os tabus de um governo manifestamente desenhado para o povo mas que, em latência, lambuzou-se como jamais se viu na história do capitalismo no melado do poder, tal como o poder é vivido no Brasil.
Quando um escolado político menciona numa entrevista que “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”, usando o ditado como uma metáfora para ocultar o comportamento injurioso do governo, ele sem querer entrega o inconsciente do lulopetismo.
Cabe a indagação: como um comentário tão politicamente (in)correto saiu de um petista tão consciente da sua (in)correção? Eis uma entrevista digna de um Pedro Malasartes — esse padrinho de todos os Macunaímas e malandros nacionais — hoje promovidos a canalhas.
Além de ser uma verdade, a invocação do ministro revela — no momento em que escrevo, leio que J. Wagner está envolvido em mais uma familiar troca de pixulecos — um preconceito aristocrático. Ela diz que quem está fora de sincronia com sua posição social lambuza-se. Acaba, como afirma o ministro, reproduzindo “metodologias” fora de lugar.
Comer melado, labuzando-se, tem no nosso vasto almanaque de preconceitos reveladores de um viés hierárquico o claríssimo: “X ou Y — você leitor, define o sujeito — quando não caga na entrada, caga na saída!”
Os ditados bradam por um limite social para quem pode estar no poder. Como os que tudo sabem e, tendo o direito de comer mais do que podem, dão um passo maior que as pernas e lambuzam-se. Na sua folclórica defesa, o ministro admite que o PT assim procedeu e hoje paga o preço por esse descuido depois de 14 anos de poder!
Uma fome insaciável de mel, confirma a falta de modos à mesa. Em política, essa fome insaciável denuncia os que têm “um olho maior do que barriga” típico dos corrompidos. Num caso, querem todo o melado; no outro, quase (espero!) compraram a República.
Lambuzar-se no mel do poder (ou do poder comido como mel) é (e eu tenho afirmado isso faz tempo) uma manifestação do governar à brasileira. O besuntar-se mostra como o poder é usado, abusado e possuído por um grupo que — como “governo” — dele se utiliza como bem entende, familisticamente. Raymundo Faoro acertou na mosca ao falar em “donos do poder”. Entre nós, o poder, como o mel descrito e analisado por Lévi-Strauss nas suas “Mitológicas”, é um poderoso adoçante associado ao mundo sobrenatural.
Os méis ricos em levulose de certas abelhas, possuem — observa Lévi-Strauss no seu livro “Do mel às cinzas” — sabores tão marcantes que se tornam quase intoleráveis. Um gozo mais delicioso de que qualquer um daqueles proporcionados habitualmente pelo paladar e pelo odor perturba os liminares da sensibilidade e confunde seus registros. Já não sabemos mais — como redescobre o nosso Wagner, o “compositor” — se degustamos ou se ardemos de amor. Mas, como contraponto, há também méis alcalinos que são laxantes e perigosos! Produzidos por abelhas “feiticeiras” ou “vamo-nos embora”. Eis uma minúscula amostra da sabedoria de um especialista em olhar distanciado a elucidar o olhar próximo, possessivo e ávido do ministro, que admite como o seu partido queria extrair toda a doçura do poder mas, infelizmente, lambuzou-se.
A metáfora revela-se muito mais correta do que imagina a nossa vã ignorância. O mel de pau, a ser procurado na floresta e o melado de cana produzido por braço escravo nos engenhos baianos são tão gostosos que sobrepujam o comedimento, o pudor e a honestidade. Doces e sedutores eles, porém, melam e grudam, denunciando a sofreguidão dos seus comedores.
Não é, pois, por acaso que o mel natural dos ameríndios tem laços com o jaguar e com o fogo civizatório da cozinha que lhe pertencia. Já em outros mitos, seu paladar extraordinário delata uma insaciedade a ser punida porque ultrapassa os limites da decência.
O mel, como o poder, pune o lambuzado, conforme confirma o ministro lulopetista que hoje entra, como mais um papa-mel, na mira das procuradorias republicanas.
Roberto DaMatta
A velha nova classe média
Não há de ser por acaso que estudiosos da ascensão social iniciada na década passada venham dominando as escolhas para o comando do Ipea, o instituto federal de pesquisa econômica.
A prática, que tornou o instituto uma espécie de analista –e propagandista– oficioso dos feitos sociais brasileiros, começou com Marcio Pochmann, no segundo governo Lula. O economista produziu sucessivos estudos centrados na redução da miséria, da pobreza e da desigualdade até deixar o cargo para se candidatar pelo PT, sem sucesso, à Prefeitura de Campinas em 2012.
A prática, que tornou o instituto uma espécie de analista –e propagandista– oficioso dos feitos sociais brasileiros, começou com Marcio Pochmann, no segundo governo Lula. O economista produziu sucessivos estudos centrados na redução da miséria, da pobreza e da desigualdade até deixar o cargo para se candidatar pelo PT, sem sucesso, à Prefeitura de Campinas em 2012.
A nova ênfase ajudava Dilma Rousseff a conseguir sócios ao centro para o triunfalismo governista. Neri, de perfil liberal, respondia à Secretaria de Assuntos Estratégicos, então ocupada pelo PMDB; estudos sobre o tema tinham patrocínio da Confederação Nacional da Indústria. Calculava-se que novos e velhos integrantes da classe média chegassem a mais da metade da população brasileira – enquanto a popularidade da presidente passava dos 60%.
Jessé Souza, atual chefe do Ipea, foi um dos primeiros a contestar, ainda nos anos de euforia, a tal nova classe média. O sociólogo chama de "batalhadores" (ou "nova classe trabalhadora", expressão também usada por Pochmann) os que melhoraram de renda sem acesso ao capital cultural da classe média tradicional.
Em entrevista a Marcelo Coelho, Souza diz que a classe média dos protestos por moralidade e melhores serviços públicos é iludida por preconceitos contra o Estado difundidos pela classe dominante. Difícil será o governo explicar por que a maioria era sábia quando o aprovava, mas não agora, que o rejeita.
A crise do petróleo é nossa
O Brasil pareceu mais podre do que se imaginava quando ficou mais visível o tamanho da roubança na Petrobras, quando a maior empresa do Brasil se passou ao vexame ruinoso de nem publicar balanço, em novembro de 2014. Há o risco de nova rodada de descrédito grave da petroleira e do Brasil, por tabela.
A venda da participação da Petrobras na petroquímica Braskem talvez seja inevitável, mas é um sinal de desespero. Sem outras providências, trata-se apenas de remendo. Nessa liquidação, a petroleira pode fazer dinheiro equivalente a 1% de sua dívida. Vai vender um negócio neste momento de grande xepa da Bolsa brasileira, aliás participação em uma empresa tecnicamente boa.
Assim, a Petrobras se vira para fechar suas contas até 2017, por aí, como que esperando que passe a tempestade, que as coisas se ajeitem, que a empresa ganhe na Mega Sena, talvez.
O que seria a Mega Sena da petroleira? Dólar em baixa, preços de petróleo em alta, uma ainda mais sobrenatural melhoria do crédito do Brasil, com o que a Petrobras poderia refinanciar sua dívida em melhores condições ou, em caso de milagre dos bons, atrair capital privado.
Caso não ganhe na loteria, o que sobra? Não vai sobrar muito mais o que vender daqui a uns dois anos. Restaria uma capitalização por meio do governo (o governo compra mais ações ou faz alguma gambiarra financeira para colocar dinheiro na empresa). O governo, porém, não tem dinheiro.
O que mais? Demissões, cortes violentos nos custos operacionais. No mais, seria necessário tirar todas as travas de intervenção do governo que fazem a empresa ainda gastar mais do que pode.
A empresa não vai fazer muito mais dinheiro. A produção não vai aumentar tão cedo. Aliás, não se sabe bem como não vai cair, pois haverá corte no investimento justamente na produção.
Os problemas não param por aí. Nunca se sabe se a Lava Jato vai revelar mais imundícies da gangue de chupins. Pior ainda, muito pior, a Petrobras está sendo processada nos EUA. Pode ser condenada a penas pesadíssimas em dinheiro, pode até sofrer limitações operacionais que jogariam seu crédito no lago de chorume do lixão onde já está.
A desgraça da empresa teria ainda consequências para a economia brasileira, diretas e indiretas: no custo do crédito, nas perspectivas de recuperação do investimento, em mais desconfiança de que o governo pode vir a fazer novas lambanças a fim de tentar arrumar a Petrobras.
É preciso ressaltar que a derrocada da petroleira foi um dos motivos do tombo abrupto do país.
O crédito da empresa rolou para o lixo no final de 2014, na ribanceira em que já estava desde o início daquele ano eleitoreiro. A empresa já estava visivelmente no bico do corvo desde fevereiro, quando publicou seu balanço do ano anterior. A ruína financeira estava clara —a exposição dos danos apenas ficou maior, com as revelações da Lava Jato.
O crédito das empresas brasileiras, na prática o custo de tomar dinheiro emprestado, degradou-se quase no mesmo ritmo em que baixava o da Petrobras. Mesmo diante do desastre evidente, Dilma Rousseff não tomou atitude alguma até fevereiro de 2015. A presidente jamais entendeu o que é descrédito e o custo disso. Não há notícia de que tenha aprendido.
A venda da participação da Petrobras na petroquímica Braskem talvez seja inevitável, mas é um sinal de desespero. Sem outras providências, trata-se apenas de remendo. Nessa liquidação, a petroleira pode fazer dinheiro equivalente a 1% de sua dívida. Vai vender um negócio neste momento de grande xepa da Bolsa brasileira, aliás participação em uma empresa tecnicamente boa.
Assim, a Petrobras se vira para fechar suas contas até 2017, por aí, como que esperando que passe a tempestade, que as coisas se ajeitem, que a empresa ganhe na Mega Sena, talvez.
O que seria a Mega Sena da petroleira? Dólar em baixa, preços de petróleo em alta, uma ainda mais sobrenatural melhoria do crédito do Brasil, com o que a Petrobras poderia refinanciar sua dívida em melhores condições ou, em caso de milagre dos bons, atrair capital privado.
Caso não ganhe na loteria, o que sobra? Não vai sobrar muito mais o que vender daqui a uns dois anos. Restaria uma capitalização por meio do governo (o governo compra mais ações ou faz alguma gambiarra financeira para colocar dinheiro na empresa). O governo, porém, não tem dinheiro.
O que mais? Demissões, cortes violentos nos custos operacionais. No mais, seria necessário tirar todas as travas de intervenção do governo que fazem a empresa ainda gastar mais do que pode.
A empresa não vai fazer muito mais dinheiro. A produção não vai aumentar tão cedo. Aliás, não se sabe bem como não vai cair, pois haverá corte no investimento justamente na produção.
Os problemas não param por aí. Nunca se sabe se a Lava Jato vai revelar mais imundícies da gangue de chupins. Pior ainda, muito pior, a Petrobras está sendo processada nos EUA. Pode ser condenada a penas pesadíssimas em dinheiro, pode até sofrer limitações operacionais que jogariam seu crédito no lago de chorume do lixão onde já está.
A desgraça da empresa teria ainda consequências para a economia brasileira, diretas e indiretas: no custo do crédito, nas perspectivas de recuperação do investimento, em mais desconfiança de que o governo pode vir a fazer novas lambanças a fim de tentar arrumar a Petrobras.
É preciso ressaltar que a derrocada da petroleira foi um dos motivos do tombo abrupto do país.
O crédito da empresa rolou para o lixo no final de 2014, na ribanceira em que já estava desde o início daquele ano eleitoreiro. A empresa já estava visivelmente no bico do corvo desde fevereiro, quando publicou seu balanço do ano anterior. A ruína financeira estava clara —a exposição dos danos apenas ficou maior, com as revelações da Lava Jato.
O crédito das empresas brasileiras, na prática o custo de tomar dinheiro emprestado, degradou-se quase no mesmo ritmo em que baixava o da Petrobras. Mesmo diante do desastre evidente, Dilma Rousseff não tomou atitude alguma até fevereiro de 2015. A presidente jamais entendeu o que é descrédito e o custo disso. Não há notícia de que tenha aprendido.
Baixa do petróleo põe em xeque 'plano pré-sal'
Em 2007, quando o governo brasileiro anunciou a descoberta das reservas do pré-sal, os preços do petróleo viviam um processo de ascensão surpreendente que teria seu ápice no patamar de US$ 140 o barril, no ano seguinte.
Entusiasmado, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o Brasil havia ganhado um "bilhete premiado". "É nosso passaporte para o futuro", disse.
A ideia do governo, na época, era usar essas reservas para impulsionar um projeto de desenvolvimento: parte dos recursos provenientes da exploração do petróleo seria direcionada a um fundo para a educação; além disso, regras de conteúdo local garantiriam o avanço, no país, de diversos setores - da indústria naval ao fornecimento de peças e serviços para a construção de plataformas.
Nove anos depois, a indústria petrolífera brasileira vive uma ressaca desse entusiasmo.
E não apenas em função da operação Lava Jato, que paralisou parte das operações da Petrobras. Ou da alta do dólar, que apertou as finanças da estatal, bastante endividada na moeda americana.
Para completar o que parece ser uma "tempestade perfeita", no início da semana o barril tipo Brent, negociado em Londres, atingiu US$ 30,43 dólares, valor mais baixo desde 2004.
Em Nova York, o barril de West Texas Intermediate (WTI) caiu para baixo da casa dos US$ 30 pela primeira vez desde dezembro de 2003.
E analistas de instituições financeiras como o banco Goldman Sachs não descartam que o produto chegue ao patamar de US$ 20 ainda neste ano, embora muitos também esperem uma gradual recuperação dos preços no médio prazo.
"É um patamar de preços que lança dúvidas sobre as margens de lucro que podem ser obtidas com a exploração do pré-sal e reservas não convencionais mundo afora", opina David Zylbersztajn, ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo.
"O que fica claro é que o pré-sal nunca foi um passaporte para o futuro nem um bilhete premiado. Foi um erro apostar tantas fichas em um setor que, apesar de extremamente importante e relevante, também é volátil."
Signos do ano novo
O ano novo começa sob alguns signos. O primeiro deles é o signo do impasse, resultante do adiamento para o final de março do debate em torno da abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Até lá a discussão será jurídica, na expectativa de que o Supremo Tribunal Federal (STF) defina as muitas dúvidas que pairam sobre o processo.
Ainda na esfera jurídica, veremos os movimentos destinados a afastar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara, tema de interesse estratégico para o governo por envolver o impeachment. Cunha terá que se defender no início de fevereiro, logo após o Carnaval.
Nesse momento, também serão escolhidos os novos líderes dos partidos, o que terá repercussão direta na escolha dos membros da comissão que debaterá o impeachment. Já em março, o PMDB definirá se rompe ou não com o governo, e esta é mais uma decisão que interfere no andamento do processo de impeachment.
Os impasses do primeiro trimestre revelam a força do fenômeno da “judicialização” da política brasileira, outro signo destes tempos, caracterizado pelo papel central do STF nas decisões que afetarão os demais Poderes. Nos próximos meses, o Supremo vai ampliar o número de processados na Operação Lava-Jato; decidir se afasta ou não Eduardo Cunha; e definir os procedimentos essenciais para a tramitação do impeachment. Nesse contexto, ganhará importância o debate no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a eleição de 2014.
O outro signo do início do ano é a ampliação das fronteiras da Operação Lava-Jato. Novos nomes foram incluídos no imenso rol de investigados. Outros nomes, já mencionados, retornaram em novas tramas. O PSDB voltou a ser chamuscado com a informação, agora vinda de mais de uma fonte, de que o ex-presidente do partido, o falecido deputado Sérgio Guerra, recebeu R$ 10 milhões para fazer corpo mole na CPI da Petrobras do Senado, ocorrida em 2009.
Na esfera do governo, preocupa a menção ao ministro Jacques Wagner em conexão com antigas doações de empresas relacionadas ao escândalo do petrolão. Preocupa também a já negociada delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, envolvido em supostas doações para políticos governistas.
Para esquentar ainda mais o ambiente, outros antigos implicados tiveram sua exposição aumentada. Eduardo Cunha, por exemplo, viu seus sigilos fiscal e bancário e os de sua esposa e filha quebrados pelo STF. O senador Edson Lobão (PMDB) também viveu idêntico constrangimento. Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo, foi mencionado em ligações com a empreiteira OAS.
Lula voltou a depor na investigação da Operação Zelotes e o ministro Edinho Silva, que já tinha sido mencionado em temas relacionados à Lava-Jato, ganhou um “upgrade” em seu envolvimento ao ser novamente apontado como negociador de doações da OAS.
O quarto signo do ano é a questão da economia, que anda mal e nada no cenário indica alguma melhora. O governo reage em câmera lenta a demandas e problemas que acontecem em alta velocidade. Falta consistência na reação, confiança nas ações e, sobretudo, capacidade política para implementá-las. Mercado e empresários estão em compasso de espera e a incerteza está refletida na volatilidade do câmbio e na paralisia de investimentos.
Os quatro signos apontados sugerem um quadro de muita volatilidade, no qual as tendências podem mudar rapidamente. Os contornos da política em 2016 não estão delimitados. Na prática, o segundo mandato de Dilma Rousseff não começou e as dúvidas sobre se vai começar ainda são consistentes.
Ainda na esfera jurídica, veremos os movimentos destinados a afastar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara, tema de interesse estratégico para o governo por envolver o impeachment. Cunha terá que se defender no início de fevereiro, logo após o Carnaval.
Nesse momento, também serão escolhidos os novos líderes dos partidos, o que terá repercussão direta na escolha dos membros da comissão que debaterá o impeachment. Já em março, o PMDB definirá se rompe ou não com o governo, e esta é mais uma decisão que interfere no andamento do processo de impeachment.
Os impasses do primeiro trimestre revelam a força do fenômeno da “judicialização” da política brasileira, outro signo destes tempos, caracterizado pelo papel central do STF nas decisões que afetarão os demais Poderes. Nos próximos meses, o Supremo vai ampliar o número de processados na Operação Lava-Jato; decidir se afasta ou não Eduardo Cunha; e definir os procedimentos essenciais para a tramitação do impeachment. Nesse contexto, ganhará importância o debate no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a eleição de 2014.
O outro signo do início do ano é a ampliação das fronteiras da Operação Lava-Jato. Novos nomes foram incluídos no imenso rol de investigados. Outros nomes, já mencionados, retornaram em novas tramas. O PSDB voltou a ser chamuscado com a informação, agora vinda de mais de uma fonte, de que o ex-presidente do partido, o falecido deputado Sérgio Guerra, recebeu R$ 10 milhões para fazer corpo mole na CPI da Petrobras do Senado, ocorrida em 2009.
Na esfera do governo, preocupa a menção ao ministro Jacques Wagner em conexão com antigas doações de empresas relacionadas ao escândalo do petrolão. Preocupa também a já negociada delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, envolvido em supostas doações para políticos governistas.
Para esquentar ainda mais o ambiente, outros antigos implicados tiveram sua exposição aumentada. Eduardo Cunha, por exemplo, viu seus sigilos fiscal e bancário e os de sua esposa e filha quebrados pelo STF. O senador Edson Lobão (PMDB) também viveu idêntico constrangimento. Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo, foi mencionado em ligações com a empreiteira OAS.
Lula voltou a depor na investigação da Operação Zelotes e o ministro Edinho Silva, que já tinha sido mencionado em temas relacionados à Lava-Jato, ganhou um “upgrade” em seu envolvimento ao ser novamente apontado como negociador de doações da OAS.
O quarto signo do ano é a questão da economia, que anda mal e nada no cenário indica alguma melhora. O governo reage em câmera lenta a demandas e problemas que acontecem em alta velocidade. Falta consistência na reação, confiança nas ações e, sobretudo, capacidade política para implementá-las. Mercado e empresários estão em compasso de espera e a incerteza está refletida na volatilidade do câmbio e na paralisia de investimentos.
Os quatro signos apontados sugerem um quadro de muita volatilidade, no qual as tendências podem mudar rapidamente. Os contornos da política em 2016 não estão delimitados. Na prática, o segundo mandato de Dilma Rousseff não começou e as dúvidas sobre se vai começar ainda são consistentes.
A briga de foice entre os que querem dominar o mundo já passou
“Petralhas e coxinhas” seriam as novas denominações (por sinal, sem graça e alimentadas pelo ódio) de esquerda e direita. Na realidade, isso também não passa de um pano de fundo que – veja a história, leitor – tem servido aos dois lados, que buscam o poder para, em proveito próprio, nele se eternizar. E o povo, a sua eterna vítima, que se dane.
Por falar nisso, a maior novidade agora é o sucesso da reedição do livro (ou panfleto?) de Adolf Hitler “Mein Kampf”. Na Alemanha, ficou forçadamente fora de circuito desde 1945, há 70 anos.
Christian Hartmann, do respeitável Instituto de História Contemporânea de Munique, disse que não há nenhum interesse em transformar o livro em “produto de exportação”. A verdade, porém, é que ele já é considerado um “best-seller”, que, com toda a certeza, vai correr o mundo, a julgar pelos 4.000 volumes vendidos em poucas horas, recentemente. Dentro de alguns dias, outras tiragens serão oferecidas.
Pelo que já senti, em conversa com amigos, o livro, no Brasil, também fará o maior sucesso. As vendas, aqui, ajudarão a encher as burras dos que bolaram essa ideia macabra. Por isso, não pretendo ressuscitar nenhum defunto, ao reler um livro que andei folheando há muitos anos. Conheço suficientemente a história desse psicopata. Talvez me sinta mais seletivo, tanto em conversas como em leituras, mas, se pudesse, adquiriria os direitos sobre o livro (e as edições) e os enterraria sob os seus restos mortais, se é que um dia esse maluco existiu…
Depois de pensar sobre tudo isso, e ainda bastante preocupado com o destino do nosso país, há anos à deriva, sentei-me diante da televisão, em minha casa, para assistir a alguns dos filmes do faroeste norte-americano (coisa que, nestes tempos bicudos, mais faço hoje), que fizeram história no cinema e nos deixaram boas lembranças.
De carreirinha, vi seis deles, verdadeiras obras-primas do gênero, até que um dos meus netos me lembrou de que, no circuito comercial, já se exibia o último filme do diretor, produtor e roteirista Quentin Tarantino, “Os Oito Odiados”. Nunca gostei dos filmes de Tarantino, com exceção de dois ou três. Um dos últimos, “Django”, exagerado, está dentro dessas exceções. Mas o último, que acabei por assistir numa das nossas salas, haja paciência! Longo, chato e estúpido. Afinal, nem só de técnica e matança (de bom humor?), além da boa música ou do trabalho excepcional de Samuel Jackson, se faz um filme.
Saí do cinema ainda a tempo de ver alguns dos jornais televisivos, que têm sido a maior causa do meu reencontro com os filmes de faroeste. Um horror! Sinto na pele, pelas suas fisionomias um tanto esgotadas, que os nossos profissionais já não suportam mais a exaustão que vai tomando conta de todos. Tudo a que assistimos, diariamente, nos rádios e nas televisões, e, depois, lemos nos principais jornais do país (as redes sociais, por enquanto, não são nem um pouco confiáveis), poderia inspirar – talvez mais violento ainda – um novo filme de Tarantino.
Voltemos depressa aos velhos filmes do faroeste norte-americano. Eles nos fazem esquecer, por exemplo, da pesquisa do Worldwide Independent Network of Market Research (representado aqui pelo Ibope Inteligência), que avaliou a aprovação de dez líderes mundiais: “O nome com maior rejeição, entre os 1.985 brasileiros entrevistados, foi o da presidente Dilma, com 76% de reprovação, contra 21% a seu favor”.
Acílio Lara Resende
Por falar nisso, a maior novidade agora é o sucesso da reedição do livro (ou panfleto?) de Adolf Hitler “Mein Kampf”. Na Alemanha, ficou forçadamente fora de circuito desde 1945, há 70 anos.
Christian Hartmann, do respeitável Instituto de História Contemporânea de Munique, disse que não há nenhum interesse em transformar o livro em “produto de exportação”. A verdade, porém, é que ele já é considerado um “best-seller”, que, com toda a certeza, vai correr o mundo, a julgar pelos 4.000 volumes vendidos em poucas horas, recentemente. Dentro de alguns dias, outras tiragens serão oferecidas.
Pelo que já senti, em conversa com amigos, o livro, no Brasil, também fará o maior sucesso. As vendas, aqui, ajudarão a encher as burras dos que bolaram essa ideia macabra. Por isso, não pretendo ressuscitar nenhum defunto, ao reler um livro que andei folheando há muitos anos. Conheço suficientemente a história desse psicopata. Talvez me sinta mais seletivo, tanto em conversas como em leituras, mas, se pudesse, adquiriria os direitos sobre o livro (e as edições) e os enterraria sob os seus restos mortais, se é que um dia esse maluco existiu…
Depois de pensar sobre tudo isso, e ainda bastante preocupado com o destino do nosso país, há anos à deriva, sentei-me diante da televisão, em minha casa, para assistir a alguns dos filmes do faroeste norte-americano (coisa que, nestes tempos bicudos, mais faço hoje), que fizeram história no cinema e nos deixaram boas lembranças.
De carreirinha, vi seis deles, verdadeiras obras-primas do gênero, até que um dos meus netos me lembrou de que, no circuito comercial, já se exibia o último filme do diretor, produtor e roteirista Quentin Tarantino, “Os Oito Odiados”. Nunca gostei dos filmes de Tarantino, com exceção de dois ou três. Um dos últimos, “Django”, exagerado, está dentro dessas exceções. Mas o último, que acabei por assistir numa das nossas salas, haja paciência! Longo, chato e estúpido. Afinal, nem só de técnica e matança (de bom humor?), além da boa música ou do trabalho excepcional de Samuel Jackson, se faz um filme.
Saí do cinema ainda a tempo de ver alguns dos jornais televisivos, que têm sido a maior causa do meu reencontro com os filmes de faroeste. Um horror! Sinto na pele, pelas suas fisionomias um tanto esgotadas, que os nossos profissionais já não suportam mais a exaustão que vai tomando conta de todos. Tudo a que assistimos, diariamente, nos rádios e nas televisões, e, depois, lemos nos principais jornais do país (as redes sociais, por enquanto, não são nem um pouco confiáveis), poderia inspirar – talvez mais violento ainda – um novo filme de Tarantino.
Voltemos depressa aos velhos filmes do faroeste norte-americano. Eles nos fazem esquecer, por exemplo, da pesquisa do Worldwide Independent Network of Market Research (representado aqui pelo Ibope Inteligência), que avaliou a aprovação de dez líderes mundiais: “O nome com maior rejeição, entre os 1.985 brasileiros entrevistados, foi o da presidente Dilma, com 76% de reprovação, contra 21% a seu favor”.
Acílio Lara Resende
Bandidos não merecem benefícios ou a simplicadade acima de tudo
Perguntaram a Milton Campos porque havia perdido para João Goulart as eleições para vice-presidente da República, em 1960. Até que o velho professor de democracia se explicasse, mil versões corriam o país, a mais verdadeira delas de que havia sido traído por seu companheiro de chapa, Jânio Quadros, que na surdina estimulara a dobradinha “Jan-Jan”. Naqueles idos, mesmo apresentados em conjunto, os candidatos a presidente e vice eram votados em separado.
A explicação do dr. Milton foi a mais simples possível, apresentada com humor: “perdi porque o Jango teve mais votos do que eu...”
Falta simplicidade hoje, nessa lambança em que se transformou a política nacional. Desde a criação da delação premiada que ex-presidentes da República, ex-ministros, ministros e agora até Madame, além de deputados e senadores aos montes, sem esquecer governadores,vem sendo citados como envolvidos em atos de corrupção. Todos os dias a Polícia Federal, o Ministério Público e até tribunais fazem vazar para a imprensa listas cada vez maiores de políticos citados pelos delatores, num verdadeiro festival de acusações, muitas até conflitantes. Não há necessidade de apresentarem provas. A vantagem fica com os bandidos já condenados pelos próprios crimes porque recebem benefícios de redução das penas e de prisão domiciliar na medida em que mais importantes personagens venham a acusar.
Dizem a observação e a natureza das coisas que a maior parte dos denunciados terá mesmo metido a mão em dinheiros públicos, tráfico de influência e prestação de serviços vergonhosos. Cabe às estruturas de informação apurar a veracidade do que é referido sem a necessidade de provas, coisa que demanda tempo. Há algo de errado nessa equação, abrindo-se a hipótese da existência de delatores mentirosos ou dispostos a vingar-se de inimigos, desafetos ou antigos sócios. Nesse aspecto é que a lei precisaria mudar.
Primeiro retirando qualquer vantagem dos delatores enquanto não comprovadas as delações. Depois, dar à Justiça prazo fatal e curto para aceitar as denúncias, quando os denunciados deveriam ser afastados das funções que porventura ocupem e impedidos de ocupar outras, eleitorais ou não. Ou receber desculpas do poder público. Por fim, duplicar as penas daqueles flagrados mentindo ou inventando delações.
O que não dá para aceitar é essa enxurrada de acusações verdadeiras ou falsas que inundam o país. Inexiste a figura do cidadão mais ou menos criminoso. Se é, pau nele! Se não é, aplicar o mesmo instrumento no mentiroso. As instituições só perdem nesse emaranhado de denúncias e suposições, por enquanto capazes de beneficiar apenas os declaradamente bandidos.
Carlos Chagas
A explicação do dr. Milton foi a mais simples possível, apresentada com humor: “perdi porque o Jango teve mais votos do que eu...”
Dizem a observação e a natureza das coisas que a maior parte dos denunciados terá mesmo metido a mão em dinheiros públicos, tráfico de influência e prestação de serviços vergonhosos. Cabe às estruturas de informação apurar a veracidade do que é referido sem a necessidade de provas, coisa que demanda tempo. Há algo de errado nessa equação, abrindo-se a hipótese da existência de delatores mentirosos ou dispostos a vingar-se de inimigos, desafetos ou antigos sócios. Nesse aspecto é que a lei precisaria mudar.
Primeiro retirando qualquer vantagem dos delatores enquanto não comprovadas as delações. Depois, dar à Justiça prazo fatal e curto para aceitar as denúncias, quando os denunciados deveriam ser afastados das funções que porventura ocupem e impedidos de ocupar outras, eleitorais ou não. Ou receber desculpas do poder público. Por fim, duplicar as penas daqueles flagrados mentindo ou inventando delações.
O que não dá para aceitar é essa enxurrada de acusações verdadeiras ou falsas que inundam o país. Inexiste a figura do cidadão mais ou menos criminoso. Se é, pau nele! Se não é, aplicar o mesmo instrumento no mentiroso. As instituições só perdem nesse emaranhado de denúncias e suposições, por enquanto capazes de beneficiar apenas os declaradamente bandidos.
Carlos Chagas
Escárnio (ou escarro) ministerial
Para que serve, afinal, o ensino de História?
Para entender.
Entender por que tivemos habitantes nesse território há milhares de anos e só termos sido "descobertos" em 1500; entender por que havia milhões de habitantes nas primeiras décadas após o tal "descobrimento" e depois disso ficaram restritos a algumas dezenas de milhares; entender por que é comum falar em "descobrimento do Brasil" se não havia um "Brasil""" entender por que os negros e os índios "contribuíram" na formação da sociedade brasileira se, em boa parte da história após o "descobrimento", essas populações formavam a maior parte da população; entender por que Domingos Calabar foi o primeiro "traidor" da pátria se ele viveu em uma época na qual o território que hoje é parte do Brasil pertencia à Espanha e estava sob domínio holandês.
Entender por que D. Pedro I era português e nobre e foi a pessoa que trouxe a "independência" ao Brasil; entender por que, logo depois, ele fecha a constituinte e impõe um texto feito sob encomenda, manda matar seus desafetos, envolve o país em uma guerra inútil com a Argentina, arruína a economia nacional, é praticamente expulso e , até hoje, seu nome é lembrado em um feriado nacional; entender por que seu filho, D. Pedro II, manteve a escravidão por 48 dos 49 anos que governou e, mesmo assim, é conhecido como um sábio; entender por que a República não teve participação popular; por que uma das primeiras medidas do governo de Deodoro foi censurar a imprensa; por que, durante a República Velha, a questão social "era um caso de polícia""" por que Getúlio Vargas é lembrado e homenageado mesmo tendo sido um ditador sombrio e violento na maior parte de seu governo; entender por que, na primeira experiência democrática do país, entre 1946 e 1964, dos cinco presidentes, um se matou, outro renunciou e outro foi derrubado.
Entender por que Castelo Branco assumiu prometendo uma transição rápida e os militares ficaram 21 anos no poder; entender por que a lei de anistia passou, apagando também os crimes dos torturadores; entender por que as Diretas Já não foram nem para votação, depois de milhões de pessoas terem dito "queremos votar pra presidente""" entender por que os planos econômicos de Sarney e Collor não deram certo e ninguém foi responsabilizado por isso; entender por que os preços pagos pelas estatais vendidas no governo Fernando Henrique foram tão baixos; entender por que o PT prometeu um governo ético e caiu na vala comum das transações mesquinhas.
O entendimento é a razão de se ensinar e aprender História. Entendimento que passa a funcionar como orientador em relação ao futuro. Chave de compreensão e definição de posturas. Afinal, estamos no mundo para mante-lo e para transforma-lo. E, para isso, precisamos entender o que se passou até aqui. Como quem chega a um filme começado. Como quem chega atrasado em uma reunião. Como quem não estava prestando atenção e por isso perdeu uma oportunidade importante. A História é esse resgate e, ao mesmo tempo, esse roteiro. Entender o que se passou para compreender a bagunça do presente e balizar as ações. Por que o agir é a razão de existir no espaço público. E o agir é a Política. E para agir é preciso entender. E por isso é que é tão importante o ensino da História. Simples assim.
Daniel Medeiros
Entender por que tivemos habitantes nesse território há milhares de anos e só termos sido "descobertos" em 1500; entender por que havia milhões de habitantes nas primeiras décadas após o tal "descobrimento" e depois disso ficaram restritos a algumas dezenas de milhares; entender por que é comum falar em "descobrimento do Brasil" se não havia um "Brasil""" entender por que os negros e os índios "contribuíram" na formação da sociedade brasileira se, em boa parte da história após o "descobrimento", essas populações formavam a maior parte da população; entender por que Domingos Calabar foi o primeiro "traidor" da pátria se ele viveu em uma época na qual o território que hoje é parte do Brasil pertencia à Espanha e estava sob domínio holandês.
Entender por que D. Pedro I era português e nobre e foi a pessoa que trouxe a "independência" ao Brasil; entender por que, logo depois, ele fecha a constituinte e impõe um texto feito sob encomenda, manda matar seus desafetos, envolve o país em uma guerra inútil com a Argentina, arruína a economia nacional, é praticamente expulso e , até hoje, seu nome é lembrado em um feriado nacional; entender por que seu filho, D. Pedro II, manteve a escravidão por 48 dos 49 anos que governou e, mesmo assim, é conhecido como um sábio; entender por que a República não teve participação popular; por que uma das primeiras medidas do governo de Deodoro foi censurar a imprensa; por que, durante a República Velha, a questão social "era um caso de polícia""" por que Getúlio Vargas é lembrado e homenageado mesmo tendo sido um ditador sombrio e violento na maior parte de seu governo; entender por que, na primeira experiência democrática do país, entre 1946 e 1964, dos cinco presidentes, um se matou, outro renunciou e outro foi derrubado.
Entender por que Castelo Branco assumiu prometendo uma transição rápida e os militares ficaram 21 anos no poder; entender por que a lei de anistia passou, apagando também os crimes dos torturadores; entender por que as Diretas Já não foram nem para votação, depois de milhões de pessoas terem dito "queremos votar pra presidente""" entender por que os planos econômicos de Sarney e Collor não deram certo e ninguém foi responsabilizado por isso; entender por que os preços pagos pelas estatais vendidas no governo Fernando Henrique foram tão baixos; entender por que o PT prometeu um governo ético e caiu na vala comum das transações mesquinhas.
O entendimento é a razão de se ensinar e aprender História. Entendimento que passa a funcionar como orientador em relação ao futuro. Chave de compreensão e definição de posturas. Afinal, estamos no mundo para mante-lo e para transforma-lo. E, para isso, precisamos entender o que se passou até aqui. Como quem chega a um filme começado. Como quem chega atrasado em uma reunião. Como quem não estava prestando atenção e por isso perdeu uma oportunidade importante. A História é esse resgate e, ao mesmo tempo, esse roteiro. Entender o que se passou para compreender a bagunça do presente e balizar as ações. Por que o agir é a razão de existir no espaço público. E o agir é a Política. E para agir é preciso entender. E por isso é que é tão importante o ensino da História. Simples assim.
Daniel Medeiros
Quantos e quais são os avessos de Dilma?
A sequência de medidas provisórias e a nova regulamentação da Lei Anticorrupção, que na prática anulam o sentido do prefixo, que quer dizer contra, revelou a total desistência do mínimo de pudor pelo desgoverno Dilma no findo ano de 2015. A mudança da condição de 50 anos após a morte para 10 para que se lhe permita outorgar o título de Herói Nacional a Leonel Brizola, sem motivo aparente que não o de atormentar o vivo Luiz Inácio Lula da Silva, põe em dúvida a sanidade mental de quem a promoveu. Pois sobram problemas para a chefe do desgoverno enfrentar neste grave momento e não faltava nesta hora aziaga uma decisão sem motivo sério algum em meio à recessão brutal e a um processo de impeachment, que, na verdade, mal começou.
Mas a presidente não desiste de nos surpreender e nos tem propiciado mais do mesmo em seu estilo pouco sagaz e nada sutil, sem lógica e com ousadia imodesta. Há uma semana, seu padrinho Lula lhe ocupou a agenda com oportuno jantar (à véspera de um depoimento de cinco horas à Polícia Federal). E nele exigiu dela entusiasmo e otimismo. A sucessora não se fez de rogada e convidou os setoristas do palácio para um café da manhã, sob a égide de uma exibição de falsas flores do recesso e coroado com um selfie cretino que irradia, do lado dela, um absurdo desconhecimento da gravidade da crise e, do ângulo dos encarregados da cobertura da Corte desapegada aos fatos, um grau similar de alheamento brechtiano da realidade.
O pessedista pernambucano Thales Ramalho cunhou a expressão flores do recesso para definir o truque de políticos espertos de irem a Brasília nas férias para ocuparem tempo e espaço – às vezes com destaque – nos meios de comunicação revelando fatos irrelevantes que no cotidiano do quadro político não tinham como merecer importância. Lula mandou Dilma ser irrealista, ela obedeceu e os repórteres pareciam dizer, sem ligar a mínima para seu público, assolado por falências e desemprego: “Se fui pobre, não me lembro”.
Os semblantes deslumbrados de Dilma com o poder que se esvai e dos jornalistas com a proximidade da glória efêmera e rara contrastam com as notícias da planície, que são de fazer chorar. No congraçamento pré-carnavalesco em pleno recesso da recessão, a presidente festejou vitórias eventuais e inconsistentes no processo do impeachment. Mas, entrementes, o anúncio da inflação de 10,67% em 2015, a mais alta desde 2002, é a pior de uma série de notícias ruins, como o retorno de 3,7 milhões de pobres da classe C às classes D e E. E desolador é que, no “país do futuro” (apud Stefan Zweig), o desemprego de patrícios entre 15 e 24 anos deve ter sido de 15,5% em 2015 – maior do que a média mundial no ano, de 13,1% .
A maior novidade contada por ela agrada a pouquíssimos: deverá reunir-se no café com setoristas em 2017, porque o profeta Lula de Caetés, o vice Temer, que se refestela no poder à sombra, e Madre Marina acham que o impeachment morreu, mas não foi enterrado. As exéquias são previstas para depois do carnaval, época em que a Quarta-Feira de Cinzas terá ares de terça-feira gorda. Ao menos nos salões do palácio onde o escárnio vira orgia do acinte a desafiar cidadania e República, corroídas pelos ratos.
Ninguém achou um só deslize que ponha sob suspeita sua honra pessoal – repete Dilma. Não lhe falem no rombo das propinas da Petrobrás, na capivara de sua protegida Erenice Guerra nem nas dúvidas sobre o comportamento do fiel Walter Cardeal, diretor da Eletrobrás. Para limpar as fichas dos espíritos santos de orelha Jaques Wagner e Edinho Silva madama conta com o pretexto do “vazamento seletivo”, agora comprometido pelo destaque à citação de Fernando Henrique na delação de Cerveró. E com o beneplácito alugado do baixíssimo clero (nas profundezas de pré-sal) da Câmara, liderado por Leonardo Picciani. Só não dá mais é para soltar o líder Delcídio “do” Amaral.
Palavras impressas em papel não têm como ser fiéis a mais uma confissão de probidade feita pela presidente naquele repasto. A frase “tenho clareza de que tenho sido virada dos avessos” é um exemplo cabal da desconexão entre seu discurso e os dicionários existentes. Quantos e quais são os avessos de Dilma? Terá ela mais de um avesso (o lado oposto ao dianteiro) ou quis dizer às avessas (ao revés)?
É impossível adivinhar onde encontrou o plural de uma palavra singular para se eximir da evidência de que deixou tanta gente roubar tanto sem nunca ter percebido. Não dá para entender tal sentido oculto na leitura, ainda que atenta. Para isso há que assistir às pausas súbitas, às sílabas atropeladas e aos aflitos apelos à compreensão dos interlocutores. E isso só é possível vendo-a e ouvindo-a na televisão. O jeito de dizer a frase sem nexo importa mais do que a falta de nexo de sua fala. Pois denota o cansaço desesperado que Dilma expõe ao repetir infindas vezes algo que considera óbvio, mas não consegue comprovar e assim convencer quem tente, sempre em vão, ouvi-la e entendê-la. Da outra ponta da linha, assediado de todos os lados pela crise, o pobre brasileiro só pode ficar mais exausto e mais desesperado do que ela própria.
Dilma disse ainda que ninguém devia aposentar-se aos 55 anos. “Nós estamos morrendo menos. E os jovens estão nascendo mais”, justificou-se. Estas patacoadas estão à altura da transmissão da tríplice epidemia pelo ovo do mosquito, da glorificação da mandioca e da sagração da mulher sapiens. Não querem dizer nada e nada indicam. São somente novas pérolas da língua particular de Sua Excelência, tratada comme il faut por Celso Arnaldo Araújo no livro O Dilmês. Criará um ministério para traduzi-la?
Após ouvir que a CPMF é um problema de saúde pública, o contribuinte a ser assaltado entende perfeitamente que terá de pagar pelo 2016 feliz que Dilma se almeja. Pois sabe que só lhe restará pagar a conta de um problema de saúde pública sem jeito: o desgoverno dela.
Pau nas reservas? Que má ideia!
No final do ano passado, o governo editou uma medida provisória que permitiu ao ministro da Fazenda pagar de uma só vez as chamadas pedaladas fiscais de 2014, usando o dinheiro que o Tesouro Nacional mantém no Banco Central (BC). As pedaladas originaram-se de pagamentos feitos pelos bancos oficiais a beneficiários de programas do governo que não foram devidamente ressarcidos pelo Tesouro na época oportuna.
A maneira natural de o Tesouro obter recursos para ressarcir os bancos oficiais pelas pedaladas seria através da colocação de novos títulos de dívida diretamente no mercado, sem envolver o BC. Em vez disso, o governo editou a medida provisória cancelando leis anteriores que previam que o caixa do Tesouro no BC deveria ser usado preferencialmente para pagar dívida do Tesouro com o próprio BC.
Deste modo, o Tesouro pôde usar o dinheiro que tinha no BC para pagar os bancos oficiais que haviam financiado as pedaladas. Os bancos, é claro, não deixam esse dinheiro parado, sem render juros. Usam o dinheiro para comprar títulos do Tesouro no Banco Central, nas chamadas operações compromissadas. Através delas, o BC recolhe o dinheiro dos bancos e, em contrapartida, repassa a eles títulos do Tesouro, com um compromisso de recompra futura.
Ou seja, quem se endivida com o mercado para pagar as pedaladas é o Banco Central, e não o Tesouro diretamente. Trata-se de uma operação tortuosa, obscura e quiçá inconstitucional.
Agora circula em Brasília a proposta de tentar reativar a economia com a venda das reservas internacionais para financiar um aumento dos gastos do governo. Convém explicar por que isso também não faz qualquer sentido, antes que mais esse atentado contra as finanças públicas do país seja perpetrado.
O BC tem atualmente US$ 373 bilhões de reservas internacionais. Ao mesmo tempo, ele deve US$ 113 bilhões através dos chamados swaps cambiais. Esses são contratos financeiros entre o BC e os bancos, em que o BC troca o principal e os juros em dólar pelo principal mais os juros em reais. O BC tem ganhos se os juros em reais superam a depreciação cambial. Tem perdas se a depreciação supera os juros em reais.
Os swaps cambiais são possíveis porque os bancos entendem que eles estão assegurados pelas reservas internacionais do BC. De fato, eles são uma dedução das reservas internacionais. Diminuindo os swaps das reservas, o valor que fica são US$ 260 bilhões de reservas internacionais efetivas.
As normas prudenciais a respeito da manutenção de reservas internacionais sugerem que elas devam ter um valor equivalente a seis meses de importação, para evitar que o país pare, no caso de uma queda súbita das exportações ou de uma suspensão de créditos externos. Como as importações anuais do país são cerca de US$ 300 bilhões, isso significa que as reservas prudenciais de que necessitamos são iguais a US$ 150 bilhões. Portanto, o excesso das reservas efetivas sobre as reservas prudenciais é igual a 260 menos 150, ou seja, US$ 110 bilhões.
Deste modo, o valor das reservas que o governo poderia em princípio pensar em dispor seria de US$ 110 bilhões, apenas 30% das reservas de US$ 373 bilhões, mas ainda assim um valor significativo.
Considere-se, entretanto, que as reservas são um ativo que o governo adquiriu com a emissão de dívida interna. Para comprar as reservas, o governo teve que vender títulos no mercado interno. O razoável, portanto, seria que a receita obtida com a venda de US$ 110 bilhões das reservas fosse usada para abater a dívida interna. Haveria, nesse caso, uma economia considerável de pagamento de juros por parte do governo.
Supondo que a diferença entre os juros pagos sobre a dívida interna e os recebidos pelas reservas seja de 10% ao ano e que a taxa de câmbio seja igual a R$ 4 por dólar, então a economia anual de juros seria de R$ 44 bilhões de reais (pois: 110 x 0,10 x 4 = 44). Essa seria uma economia que se repetiria todo ano, dependendo da diferença entre os juros internos e externos, ajudando as contas do governo e a rolagem da dívida interna, que seria menor do que antes.
O problema é que querem gastar o dinheiro da venda das reservas não para reduzir a dívida interna, mas para aumentar a despesa do governo, o que é uma péssima ideia.
O pior dos mundos seria usar as reservas para aumentar as despesas correntes do governo, porque estaríamos trocando um ativo valioso por um gasto temporário sem retorno. Se for para despesas de capital, também seria ruim, porque, embora essas despesas aumentem a demanda interna de imediato, não são um impulso que possa se manter à frente, porque as reservas acabariam. A demanda aumentaria num ano, para reduzir-se novamente no ano seguinte. Muito provavelmente, a ponte ficaria pela metade. Perderíamos as reservas e continuaríamos no fundo do poço.
Edmar Bacha
A maneira natural de o Tesouro obter recursos para ressarcir os bancos oficiais pelas pedaladas seria através da colocação de novos títulos de dívida diretamente no mercado, sem envolver o BC. Em vez disso, o governo editou a medida provisória cancelando leis anteriores que previam que o caixa do Tesouro no BC deveria ser usado preferencialmente para pagar dívida do Tesouro com o próprio BC.
Ou seja, quem se endivida com o mercado para pagar as pedaladas é o Banco Central, e não o Tesouro diretamente. Trata-se de uma operação tortuosa, obscura e quiçá inconstitucional.
Agora circula em Brasília a proposta de tentar reativar a economia com a venda das reservas internacionais para financiar um aumento dos gastos do governo. Convém explicar por que isso também não faz qualquer sentido, antes que mais esse atentado contra as finanças públicas do país seja perpetrado.
O BC tem atualmente US$ 373 bilhões de reservas internacionais. Ao mesmo tempo, ele deve US$ 113 bilhões através dos chamados swaps cambiais. Esses são contratos financeiros entre o BC e os bancos, em que o BC troca o principal e os juros em dólar pelo principal mais os juros em reais. O BC tem ganhos se os juros em reais superam a depreciação cambial. Tem perdas se a depreciação supera os juros em reais.
Os swaps cambiais são possíveis porque os bancos entendem que eles estão assegurados pelas reservas internacionais do BC. De fato, eles são uma dedução das reservas internacionais. Diminuindo os swaps das reservas, o valor que fica são US$ 260 bilhões de reservas internacionais efetivas.
As normas prudenciais a respeito da manutenção de reservas internacionais sugerem que elas devam ter um valor equivalente a seis meses de importação, para evitar que o país pare, no caso de uma queda súbita das exportações ou de uma suspensão de créditos externos. Como as importações anuais do país são cerca de US$ 300 bilhões, isso significa que as reservas prudenciais de que necessitamos são iguais a US$ 150 bilhões. Portanto, o excesso das reservas efetivas sobre as reservas prudenciais é igual a 260 menos 150, ou seja, US$ 110 bilhões.
Deste modo, o valor das reservas que o governo poderia em princípio pensar em dispor seria de US$ 110 bilhões, apenas 30% das reservas de US$ 373 bilhões, mas ainda assim um valor significativo.
Considere-se, entretanto, que as reservas são um ativo que o governo adquiriu com a emissão de dívida interna. Para comprar as reservas, o governo teve que vender títulos no mercado interno. O razoável, portanto, seria que a receita obtida com a venda de US$ 110 bilhões das reservas fosse usada para abater a dívida interna. Haveria, nesse caso, uma economia considerável de pagamento de juros por parte do governo.
Supondo que a diferença entre os juros pagos sobre a dívida interna e os recebidos pelas reservas seja de 10% ao ano e que a taxa de câmbio seja igual a R$ 4 por dólar, então a economia anual de juros seria de R$ 44 bilhões de reais (pois: 110 x 0,10 x 4 = 44). Essa seria uma economia que se repetiria todo ano, dependendo da diferença entre os juros internos e externos, ajudando as contas do governo e a rolagem da dívida interna, que seria menor do que antes.
O problema é que querem gastar o dinheiro da venda das reservas não para reduzir a dívida interna, mas para aumentar a despesa do governo, o que é uma péssima ideia.
O pior dos mundos seria usar as reservas para aumentar as despesas correntes do governo, porque estaríamos trocando um ativo valioso por um gasto temporário sem retorno. Se for para despesas de capital, também seria ruim, porque, embora essas despesas aumentem a demanda interna de imediato, não são um impulso que possa se manter à frente, porque as reservas acabariam. A demanda aumentaria num ano, para reduzir-se novamente no ano seguinte. Muito provavelmente, a ponte ficaria pela metade. Perderíamos as reservas e continuaríamos no fundo do poço.
Edmar Bacha
Parece, mas não foi nem é
O primeiro caminho foi seguir pela direita com os mesmos métodos dos demagogos, abastecido pelo fisiologismo. Saudou vitórias sociais que foram mais gigantescas, às vezes incomensuráveis, apenas nos discursos. De tanto repetir a mesma ladainha, acabou multiplicando as conquistas de boca.
Conseguiu alimentar milhões, mas abasteceu muitíssimo bem poucos com milhões que alimentariam outros milhões de bocas.
Esteve sempre com os trabalhadoreds, é certo. Irrigou com dinheiro público as centrais sindicais e sindicatos para o bem da pelegada dirigente. O dinheiro não faltou para defenderem o partido e seus políticos através do bolsa manifestação ( transporte grátis, R$ 50 mais pão com mortadela) como esmola para desempregados. Assim ampliou o emprego no país.
Ainda agora, sempre defensor intransigente dos pobres, cortou dinheiro da educação, da saúde, do Bolsa Família e até vai cobrar mais dos que pagam menos o Minha Casa Minha Vida. Medidas contra os pobres de quem se diz seu defensor na Terra.
É que moral política nunca teve. Adepto da mentira, o partido se fez na imoralidade. Com os conchavos, distribuiu a bel-prazer cargos, aparelhou os governos (porque não está só no Planalto), comprou o que podia e não podia. Corrompeu até o diabo para assegurar seu continuísmo.
Aquele dinheiro para ajudar o pobre a enfrentar a crise gerada pela roubalheira, nem morto. Onde já se viu os emergentes petistas voltarem ao esgoto de onde saíram?
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