domingo, 26 de fevereiro de 2017
A guinada ao autoritarismo nos deixa doentes
Nesta semana, uma importante revista médica publicou um estudo revelador: a aprovação de leis para a união igualitária entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos havia reduzido em 14% as tentativas de suicídio entre jovens LGTB em um ano. O suicídio é a segunda maior causa de morte entre as idades de 15 e 24 anos naquele país. De posse dessa informação, quanto prejuízo pode causar a recente decisão de Donald Trump de suspender a proteção aos estudantes transexuais?
Em 1974, o ministro da Saúde do Canadá, Marc Lalonde, apresentou um relatório revolucionário no qual se concluía que as condições nas quais se desenvolve o dia-a-dia das pessoas (sociais, econômicas, ambientais etc.) são muito mais determinantes para seu estado de saúde que outros fatores para os quais se dedica maiores esforços. Isso explica, por exemplo, o fato de a pobreza abreviar a vida mais do que a obesidade ou a hipertensão. Essa doutrina, reivindicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ajuda a compreender a influência da tomada de rumo autoritária, que pode se estender a mais países onde a perda de saúde democrática pode acabar tendo um efeito nefasto para seus cidadãos.
“Depende muito dos danos provocados pelos elementos que vinculam democracia e saúde”, explica o professor Carlos Álvarez-Dardet, da Universidade de Alicante, na Espanha. O especialista cita o exemplo do que ocorre quando se ignora os direitos das minorias, se deterioram as conquistas trabalhistas, aumenta a desigualdade ou diminuem os níveis de proteção social, todos os indicadores sobre a saúde da população caem. Há mais de uma década, Álvarez-Dardet participou de um estudo pioneiro publicado no British Medical Journal que correlacionava o nível de democracia dos países e a saúde de seus habitantes: “A democracia mostrou uma associação mais forte e mais significativa com os indicadores de saúde (expectativa de vida e mortalidades infantil e materna) que outros indicadores como o PIB, os gastos públicos e a desigualdade de renda. Quando tomadas em conta todas essas variáveis, as econômicas perderam seu peso, aumentando assim a importância do efeito da democracia”, concluíram os autores.
Os resultados daquele estudo continuaram sendo confirmados em novas pesquisas mais recentes que se centravam em outros aspectos. Por exemplo, um estudo canadense do ano passado mostra que viver em uma democracia prolonga a vida em 11 anos, em comparação com viver em outro tipo de regime. O meio democrático também reduz em 62% a mortalidade infantil. Os dois fatores são explicados essencialmente pelo tempo em que os líderes permanecem no poder: quanto mais anos seguidos a mesma pessoa governa, pior é a saúde da população.
Em 2015, foi publicado outro estudo mostrando que as pessoas se sentem com melhor saúde nos países com maior qualidade democrática, um fator que não se explicava nem pelo nível econômico nem pelos investimentos em saúde e educação. Pesquisadores suecos, analisando a evolução em quatro décadas de 70 países em desenvolvimento, mostravam os efeitos da democratização nesses países e calculavam como uma década de democracia real na Costa do Marfim significou menos 1.200 crianças mortas ao nascer, por ano.
Todos esses estudos indicam que há uma série de ativos intangíveis associados com a qualidade democrática de um país (e não só a prosperidade econômica) que explicam o que há por trás da boa saúde da população. “As condições de vida, a redistribuição da riqueza, o meio ambiente, as liberdades civis, o poder exercer direitos, são fatores que influenciam muito mais na saúde do que os serviços de saúde”, alerta Beatriz González, presidente da Sociedade Espanhola de Saúde Pública (SESPAS).
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Em 1974, o ministro da Saúde do Canadá, Marc Lalonde, apresentou um relatório revolucionário no qual se concluía que as condições nas quais se desenvolve o dia-a-dia das pessoas (sociais, econômicas, ambientais etc.) são muito mais determinantes para seu estado de saúde que outros fatores para os quais se dedica maiores esforços. Isso explica, por exemplo, o fato de a pobreza abreviar a vida mais do que a obesidade ou a hipertensão. Essa doutrina, reivindicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ajuda a compreender a influência da tomada de rumo autoritária, que pode se estender a mais países onde a perda de saúde democrática pode acabar tendo um efeito nefasto para seus cidadãos.
Já há muitos especialistas levando as mãos à cabeça por causa das decisões que Trump pode tomar se, por exemplo, der marcha a ré na reforma da saúde promovida por Obama: seria 800 bilhões de dólares mais caro para os cofres públicos, segundo um cálculo de dez anos. Mas para além do tipo de sistema de saúde e sua eficiência, há algo claro: a forma de governar influi diretamente na saúde da população. Todo o novo e robusto conhecimento sobre os determinantes sociais e políticos destaca que a qualidade democrática é essencial para uma população saudável.
As condições de vida, a redistribuição da riqueza, o meio ambiente e as liberdades são fatores que influenciam muito mais na saúde do que os serviços de saúde
Beatriz González, presidente da Sociedade Espanhola de Saúde Pública
“Depende muito dos danos provocados pelos elementos que vinculam democracia e saúde”, explica o professor Carlos Álvarez-Dardet, da Universidade de Alicante, na Espanha. O especialista cita o exemplo do que ocorre quando se ignora os direitos das minorias, se deterioram as conquistas trabalhistas, aumenta a desigualdade ou diminuem os níveis de proteção social, todos os indicadores sobre a saúde da população caem. Há mais de uma década, Álvarez-Dardet participou de um estudo pioneiro publicado no British Medical Journal que correlacionava o nível de democracia dos países e a saúde de seus habitantes: “A democracia mostrou uma associação mais forte e mais significativa com os indicadores de saúde (expectativa de vida e mortalidades infantil e materna) que outros indicadores como o PIB, os gastos públicos e a desigualdade de renda. Quando tomadas em conta todas essas variáveis, as econômicas perderam seu peso, aumentando assim a importância do efeito da democracia”, concluíram os autores.
Os resultados daquele estudo continuaram sendo confirmados em novas pesquisas mais recentes que se centravam em outros aspectos. Por exemplo, um estudo canadense do ano passado mostra que viver em uma democracia prolonga a vida em 11 anos, em comparação com viver em outro tipo de regime. O meio democrático também reduz em 62% a mortalidade infantil. Os dois fatores são explicados essencialmente pelo tempo em que os líderes permanecem no poder: quanto mais anos seguidos a mesma pessoa governa, pior é a saúde da população.
Em 2015, foi publicado outro estudo mostrando que as pessoas se sentem com melhor saúde nos países com maior qualidade democrática, um fator que não se explicava nem pelo nível econômico nem pelos investimentos em saúde e educação. Pesquisadores suecos, analisando a evolução em quatro décadas de 70 países em desenvolvimento, mostravam os efeitos da democratização nesses países e calculavam como uma década de democracia real na Costa do Marfim significou menos 1.200 crianças mortas ao nascer, por ano.
Todos esses estudos indicam que há uma série de ativos intangíveis associados com a qualidade democrática de um país (e não só a prosperidade econômica) que explicam o que há por trás da boa saúde da população. “As condições de vida, a redistribuição da riqueza, o meio ambiente, as liberdades civis, o poder exercer direitos, são fatores que influenciam muito mais na saúde do que os serviços de saúde”, alerta Beatriz González, presidente da Sociedade Espanhola de Saúde Pública (SESPAS).
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A democracia morre na escuridão
The Washington Post, um dos mais influentes jornais dos Estados Unidos e do mundo, com 140 anos de história, introduziu em seu site, na quarta-feira passada, a mensagem “Democracy Dies in Darkness”, que também estará estampada na versão impressa, abaixo de sua marca. Antecipou-se na compreensão do breu anunciado.
O novo slogan do Post – jornal responsável por revelar o Watergate que culminou com a renúncia, em 1974, do presidente Richard Nixon -- foi apresentado dois dias antes de a Casa Branca sob o comando do também republicano Donald Trump lançar os EUA em trevas ainda mais profundas, fechando as portas na cara da liberdade de expressão.
Jornalistas do The New York Times e do Los Angeles Times, das redes de TV CNN e BBC, e dos sites Político, The Hill e BuzzFeed foram barrados, impedidos de participar do tradicional briefing de sexta-feira do porta-voz da Casa Branca. Uma atitude criticada até pela Fox News, cuja fidelidade canina a Trump ninguém discute.
Nada antes visto na América – país que se orgulha de ser o farol da democracia. Um comportamento que só encontra similitude com regimes autoritários, autocráticos, ditatoriais.
O episódio explode o alerta vermelho aceso com a eleição de Trump.
Desde que estava em campanha, e com mais vigor depois de ser empossado presidente, Trump bombardeia a imprensa. Vocifera contra veículos de comunicação e jornalistas, aumentando a agressividade dos ataques sempre que é desmascarado em suas mentiras, cada vez que sofre qualquer crítica.
Tem horror do que chama de “fonte anônima”, usual nas investigações jornalísticas para preservar quem fornece informações, sem as quais escândalos como o Watergate, revelado pelo anônimo “Garganta Profunda”, e tantos outros, incluindo os do Brasil, como o do Mensalão e da Lava-Jato, não teriam vindo à tona.
Trump trata a imprensa livre como “inimiga do povo”, algo batido para vários países da América Latina, incluindo o Brasil, mas desencaixado na lógica de uma nação que respira liberdade e dela faz símbolo.
Ao ouvir os disparates trumpistas, suas acusações a jornalistas e suas construções de “verdades”, é difícil não fazer paralelo com o comportamento e as falas do ex Lula – um líder sindical e presidente da República incensado pela mídia, que transformou a imprensa em inimigo número 1 desde que ouviu as primeiras críticas. Que montou um círculo de jornalistas amigos para produzir versões alternativas e traduzir os fatos a seu bel prazer. Mas, sobre Lula, há de se dizer: embora tenha dirigido palavras ofensivas, injuriado um ou outro jornalista, e até ter tentado expulsar um correspondente estrangeiro, nunca impôs censura à imprensa.
Trump, que se regozija com a sua própria figura, vai além de todos os limites.
Expõe a maior nação democrática do mundo aos caprichos de um presidente que desrespeita não só a imprensa ou jornalistas, mas a Constituição de seu país, cuja primeira emenda impede qualquer limite ao livre exercício da religião, da liberdade de expressão e de imprensa.
Assim como o atentado às Torres Gêmeas traçou a linha de risco com o fundamentalismo islâmico em todo o planeta, as ações de enfrentamento de Trump extrapolam os Estados Unidos. Suas consequências para o mundo livre não aguardam o futuro. Já são nefastas.
No mais, deixemos que o Carnaval nos anime. Ainda que por apenas mais três fugazes dias.
O novo slogan do Post – jornal responsável por revelar o Watergate que culminou com a renúncia, em 1974, do presidente Richard Nixon -- foi apresentado dois dias antes de a Casa Branca sob o comando do também republicano Donald Trump lançar os EUA em trevas ainda mais profundas, fechando as portas na cara da liberdade de expressão.
Jornalistas do The New York Times e do Los Angeles Times, das redes de TV CNN e BBC, e dos sites Político, The Hill e BuzzFeed foram barrados, impedidos de participar do tradicional briefing de sexta-feira do porta-voz da Casa Branca. Uma atitude criticada até pela Fox News, cuja fidelidade canina a Trump ninguém discute.
O episódio explode o alerta vermelho aceso com a eleição de Trump.
Desde que estava em campanha, e com mais vigor depois de ser empossado presidente, Trump bombardeia a imprensa. Vocifera contra veículos de comunicação e jornalistas, aumentando a agressividade dos ataques sempre que é desmascarado em suas mentiras, cada vez que sofre qualquer crítica.
Tem horror do que chama de “fonte anônima”, usual nas investigações jornalísticas para preservar quem fornece informações, sem as quais escândalos como o Watergate, revelado pelo anônimo “Garganta Profunda”, e tantos outros, incluindo os do Brasil, como o do Mensalão e da Lava-Jato, não teriam vindo à tona.
Trump trata a imprensa livre como “inimiga do povo”, algo batido para vários países da América Latina, incluindo o Brasil, mas desencaixado na lógica de uma nação que respira liberdade e dela faz símbolo.
Ao ouvir os disparates trumpistas, suas acusações a jornalistas e suas construções de “verdades”, é difícil não fazer paralelo com o comportamento e as falas do ex Lula – um líder sindical e presidente da República incensado pela mídia, que transformou a imprensa em inimigo número 1 desde que ouviu as primeiras críticas. Que montou um círculo de jornalistas amigos para produzir versões alternativas e traduzir os fatos a seu bel prazer. Mas, sobre Lula, há de se dizer: embora tenha dirigido palavras ofensivas, injuriado um ou outro jornalista, e até ter tentado expulsar um correspondente estrangeiro, nunca impôs censura à imprensa.
Trump, que se regozija com a sua própria figura, vai além de todos os limites.
Expõe a maior nação democrática do mundo aos caprichos de um presidente que desrespeita não só a imprensa ou jornalistas, mas a Constituição de seu país, cuja primeira emenda impede qualquer limite ao livre exercício da religião, da liberdade de expressão e de imprensa.
Assim como o atentado às Torres Gêmeas traçou a linha de risco com o fundamentalismo islâmico em todo o planeta, as ações de enfrentamento de Trump extrapolam os Estados Unidos. Suas consequências para o mundo livre não aguardam o futuro. Já são nefastas.
No mais, deixemos que o Carnaval nos anime. Ainda que por apenas mais três fugazes dias.
A transgressão e a certeza da impunidade
A greve terceirizada da Polícia Militar do Espírito Santo expôs graves problemas do país, começando com a incapacidade do Estado brasileiro para prover melhores condições de trabalho aos servidores e exigir o cumprimento das disposições constitucionais, que proíbem esse tipo de movimento pelas forças de segurança. Por outro lado, ficou expresso que ainda temos alguma garantia de ir e vir quando há policiamento nas ruas porque os bandidos não são tão ousados se percebem que pode haver confronto. Dessa forma, os capixabas permaneceram em casa, sofrendo privações e faltando aos compromissos, enquanto suplicavam pela volta ao seu cotidiano. Essa experiência mostrou que a previsibilidade de punição é indispensável para garantir a ordem, a vida humana e a integridade patrimonial de um povo, sinalizando a relevância daquela corporação para a sociedade e alertando para o absurdo das proposições de que ela pode ser extinta.
Além dos assassinos que fizeram muitas vítimas na região metropolitana de Vitória, cidadãos comuns saquearam lojas, sob a premissa de que poderiam praticar crimes, em situação caótica, porque não seriam identificados. Ficou, assim, desnuda a falha de caráter, como se a honestidade prevalecesse somente diante de um sistema impositivo de boa conduta.
Triste país que se sustenta a partir de princípios de convivência tão frágeis porque não assegura harmonia, respeito ao outro e cumprimento de normas sociais sem a expectativa da presença constante da mão forte do Estado repressor. Isso indica que não temos referências morais oriundas das autoridades que administram a geração das normas de conduta, fiscalização de seu cumprimento e repressão aos transgressores. Pelo contrário, elas estão sempre demonstrando que se aproveitam bastante do Estado para enriquecimento, aumento de poder e perpetuação do comando para seus descendentes. Descobrimos, então, que há indivíduos construindo seu território a seu bel-prazer e jamais formam equipes para elaboração de um projeto nacional em benefício de todos os brasileiros.
Enquanto isso, os escândalos pipocam pela ação deletéria desses senhores, que permanecem muito além do Estado repressor. Eles se referem, principalmente, ao mau uso dos recursos públicos, a desvios sem fim de verbas, à manipulação de regimentos internos em benefício próprio e à criação de leis para autoproteção e aumento de mordomias.
Não há exceção no aparato estatal porque membros dos Três Poderes constroem nichos de privilégios, independentemente das sucessivas crises econômicas e do desajuste fiscal. Para tanto, exploram sua condição de formulador de normas para remuneração, nomeação de assessores e tramitação de processos, que se tornam legais, embora sejam, na prática, imorais e ilegítimas. Essas autoridades tornam-se, então, saqueadores do erário, como os marginais do Espírito Santo, apesar das habitações miseráveis de deserdados da sorte bem perto de si.
Além dos assassinos que fizeram muitas vítimas na região metropolitana de Vitória, cidadãos comuns saquearam lojas, sob a premissa de que poderiam praticar crimes, em situação caótica, porque não seriam identificados. Ficou, assim, desnuda a falha de caráter, como se a honestidade prevalecesse somente diante de um sistema impositivo de boa conduta.
Triste país que se sustenta a partir de princípios de convivência tão frágeis porque não assegura harmonia, respeito ao outro e cumprimento de normas sociais sem a expectativa da presença constante da mão forte do Estado repressor. Isso indica que não temos referências morais oriundas das autoridades que administram a geração das normas de conduta, fiscalização de seu cumprimento e repressão aos transgressores. Pelo contrário, elas estão sempre demonstrando que se aproveitam bastante do Estado para enriquecimento, aumento de poder e perpetuação do comando para seus descendentes. Descobrimos, então, que há indivíduos construindo seu território a seu bel-prazer e jamais formam equipes para elaboração de um projeto nacional em benefício de todos os brasileiros.
Enquanto isso, os escândalos pipocam pela ação deletéria desses senhores, que permanecem muito além do Estado repressor. Eles se referem, principalmente, ao mau uso dos recursos públicos, a desvios sem fim de verbas, à manipulação de regimentos internos em benefício próprio e à criação de leis para autoproteção e aumento de mordomias.
Não há exceção no aparato estatal porque membros dos Três Poderes constroem nichos de privilégios, independentemente das sucessivas crises econômicas e do desajuste fiscal. Para tanto, exploram sua condição de formulador de normas para remuneração, nomeação de assessores e tramitação de processos, que se tornam legais, embora sejam, na prática, imorais e ilegítimas. Essas autoridades tornam-se, então, saqueadores do erário, como os marginais do Espírito Santo, apesar das habitações miseráveis de deserdados da sorte bem perto de si.
Coração partido
Dia desses li que apenas um terço dos portadores de HIV do planeta tem acesso a tratamento e medicamentos - e que 90% dos tratamentos dispensados aos portadores de HIV na África são custeados por fontes externas, sem a participação dos governos locais.
Decidi estudar o tema. Constatei que a cada 30 segundos morre uma criança vítima de malária lá na África - o problema é que em um continente tão rico não se consegue comprar nem inseticidas para protegê-las. Aliás, apenas 2% delas conseguem um simples mosquiteiro.
A informação seguinte veio da Organização Mundial da Saúde: anunciou-se que 40% de todos os tratamentos de saúde no mundo são proporcionados por organizações religiosas. Diante de um número tão sério, seria o caso de se perguntar: cadê o Estado?
Minha descoberta seguinte foi assustadora: nada menos que 10% das doenças que afetam a humanidade e 6,3% de todas as mortes delas decorrentes poderiam ser evitadas se as pessoas dispusessem de saneamento básico - um simples serviço de saneamento básico!
Apurei que os hospitais norte-americanos arrancam de seus pacientes nada menos que US$ 10 bilhões a cada ano em valores indevidos. Em tempo: a expressão arrancam deve-se a que 90% das contas lá pagas são claramente fraudulentas.
Ainda sobre aquele país, assustei-me ao saber que 52 milhões de habitantes não tem qualquer assistência médica - daí 41% da população estarem pagando prestações de tratamentos médicos ou às voltas com os tribunais por não terem tido condições de pagá-los. A propósito, 25% dos norte-americanos jogam suas receitas no lixo por não terem condições de adquirir os medicamentos prescritos.
Este quadro insustentável, segundo aprendi, é sustentado por conta de existirem em Washington quatro lobistas da área da saúde para cada membro do Congresso. Aos resultados: uma criança nascida em El Salvador enfrenta taxas de mortalidade de 9,7%, enquanto que em Detroit de 15,5% - algo tão surpreendente quanto repulsivo, consideradas as diferenças entre os dois países.
Anoto, finalmente, que a cada ano 2,3 milhões de semelhantes nossos morrem vítimas de apenas oito doenças por não terem acesso a simples vacinas.
E é assim, diante destes números, que chego a uma conclusão: o problema da saúde está no coração - mais precisamente na falta dele.
Decidi estudar o tema. Constatei que a cada 30 segundos morre uma criança vítima de malária lá na África - o problema é que em um continente tão rico não se consegue comprar nem inseticidas para protegê-las. Aliás, apenas 2% delas conseguem um simples mosquiteiro.
A informação seguinte veio da Organização Mundial da Saúde: anunciou-se que 40% de todos os tratamentos de saúde no mundo são proporcionados por organizações religiosas. Diante de um número tão sério, seria o caso de se perguntar: cadê o Estado?
Apurei que os hospitais norte-americanos arrancam de seus pacientes nada menos que US$ 10 bilhões a cada ano em valores indevidos. Em tempo: a expressão arrancam deve-se a que 90% das contas lá pagas são claramente fraudulentas.
Ainda sobre aquele país, assustei-me ao saber que 52 milhões de habitantes não tem qualquer assistência médica - daí 41% da população estarem pagando prestações de tratamentos médicos ou às voltas com os tribunais por não terem tido condições de pagá-los. A propósito, 25% dos norte-americanos jogam suas receitas no lixo por não terem condições de adquirir os medicamentos prescritos.
Este quadro insustentável, segundo aprendi, é sustentado por conta de existirem em Washington quatro lobistas da área da saúde para cada membro do Congresso. Aos resultados: uma criança nascida em El Salvador enfrenta taxas de mortalidade de 9,7%, enquanto que em Detroit de 15,5% - algo tão surpreendente quanto repulsivo, consideradas as diferenças entre os dois países.
Anoto, finalmente, que a cada ano 2,3 milhões de semelhantes nossos morrem vítimas de apenas oito doenças por não terem acesso a simples vacinas.
E é assim, diante destes números, que chego a uma conclusão: o problema da saúde está no coração - mais precisamente na falta dele.
Felicidade gourmet
A felicidade é um prato descomplicado de fazer. É verdade que leva muitos ingredientes, pode custar caro, admite variações, às vezes demora, muita gente jura que o inventou, mas cada um de nós possui talento inato para alcançar as três estrelas do Michelin. É fácil.
Adicione sempre um pouco de desejo à receita. Sem desejo, o prato perde a atração. Preocupações exageradas põem tudo a perder. Cultura e conhecimento podem ser usados à vontade, senão não se aproveita todo o paladar. A Lua deve entrar no tempero, para o cheiro subir ao espaço. A natureza também, para se apurar o gosto da vida. Nada como polvilhar sobre o molho o canto do sabiá ou do pintassilgo, como preferir. Providência simples, que acrescenta doçura. Poesia também entra no preparo. Substitui o sal, quando vem das entranhas.
A base, no entanto, continua você mesmo, suas escolhas, suas preferências. Você decide o que usar e, ao servir-se, será o supremo juiz. Chame os amigos e os parentes para ajudá-lo na cozinha. Eles realçam as delícias da sua receita.
Importante: não se esqueça do ponto. Retire do fogo na hora certa. Tem gente que esperou tanto o prato ficar pronto que morreu antes. Com fome.
A base, no entanto, continua você mesmo, suas escolhas, suas preferências. Você decide o que usar e, ao servir-se, será o supremo juiz. Chame os amigos e os parentes para ajudá-lo na cozinha. Eles realçam as delícias da sua receita.
Importante: não se esqueça do ponto. Retire do fogo na hora certa. Tem gente que esperou tanto o prato ficar pronto que morreu antes. Com fome.
Jucá está certo: O Brasil é uma grande suruba
Eu não sei, leitor, se você tem a mesma impressão, mas me parece que o Brasil entortou de vez. Os três poderes – tripé da sustentação de uma democracia – o Executivo, o Parlamento e o Judiciário se dissolveram na imoralidade e na bagunça geral. A sociedade, atônita, não espera mais nada dos seus representantes no Congresso Nacional e menos ainda do presidente da república e do judiciário, amordaçado por apadrinhamentos e interesses de grupos. A última instância, o STF, o que seria o guardião da Constituição, banalizou-se de tal forma que levou para o brejo a última esperança dos brasileiros enxergarem um país ético no futuro.
A indignação é fruto dos acontecimentos que ocorrem diariamente no país. Vejamos alguns exemplos: o Moreira Franco, citado inúmeras vezes na Lava Jato, passa a ter fórum privilegiado com o aval do STF. Portanto, está fora do alcance do juiz Sérgio Moro. O ex-presidente Sarney só pode responder por seus crimes ao Supremo Tribunal Federal, decisão dos ministros da Segunda Turma, mesmo não gozando de fórum privilegiado.
O senador Romero Jucá, envolvido na Lava Jato, antecipou-se ao que pensam os brasileiros e, sem arrodeios, foi direto na ferida: “É tudo uma suruba”. O Lula transformou a morte da mulher em espetáculo de marketing. E a Dilma, depois do chute no traseiro, decide que será candidata a senadora ou deputada.
Para desenvolver o resto desse artigo, vou me ater apenas ao ambiente de orgias do nobre senador. Vejamos: o Cabral, que chegou a liderar a lista dos presidenciáveis, vive hoje atrás das grades no presídio de Bangu. Eike Batista, até então a sétimo homem mais rico do mundo, divide uma cela minúscula com estupradores e assassinos no Rio. Eduardo Cunha, o ex-deputado e presidente da Câmara, passa os dias dentro da cadeia mandando recados desaforados para o Temer.
Mais: no STJ, o ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, nomeado pela Dilma para soltar Marcelo Odebrecht continua despachando normalmente, mesmo depois da Polícia Federal comprovar, e o Delcídio do Amaral confirmar, que ele seria o benfeitor de Marcelo e de outros comparsas dentro do tribunal. O Senado aprova o nome de Alexandre Moraes para substituir Teori Zavascki, um auxiliar de Temer, que defendia a tese de que ministros do STF não poderiam ser indicados no exercício de cargo no executivo. José Yunes, amigo do peito de Temer, detona Eliseu Padilha, a quem acusa de receber 1 milhão de suborno via seu escritório em São Paulo.
Mais: o Lula declara que só o PT pode salvar o país. Numa defesa veemente do seu partido, o ex-presidente diz que quer voltar a presidência, pois considera que tem os instrumentos para acabar com a corrupção e a fórmula para o país voltar a crescer.
Mais: Os procuradores da Lava Jato começam a desconfiar do Janot. Acham que ele está segurando os processos além da conta. Aliás, nos últimos dias, o Procurador-Geral da República só pediu arquivamento de indiciados em processos por corrupção, como é o caso do senador petista Lindbergh Farias, o mais notório da lista.
Mais: Ministros do STF como Marcos Aurélio e Gilmar Mendes vão aos microfones para denunciar que as prisões preventivas estão se alongando. Ou seja: enviam recados para os procuradores e para o juiz Sérgio Moro de que chegou a hora de acabar com a brincadeira de prender políticos e empresários por muito tempo.
Mais: Pezão, que ajudou a falir o Rio de Janeiro, se declara inocente no escândalo da corrupção. Não quer nem ouvir falar no nome de Cabral para não se contaminar; Michel Temer nega de pés juntos que tenha feito parte da chapa da Dilma quando tenta separar a captação de recursos da eleição dos dois; Eliseu Padilha responde a processos, mas permanece ao lado do presidente como seu principal auxiliar; o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles continua a espalhar que a inflação caiu, mas não é o que se constata nas prateleiras dos supermercados. E para desmentir os dados oficiais de crescimento, o país carrega a cruz dos quase 13 milhões de desempregados.
Este aperitivo que você leu aí em cima só mostra que o senador Romero Jucá está certo quando diz que vivemos uma grande suruba. Não a do português que se espantou ao participar de uma no Brasil: “Não estás a perceber? Acende a luz porque até agora só eu levei...”
A indignação é fruto dos acontecimentos que ocorrem diariamente no país. Vejamos alguns exemplos: o Moreira Franco, citado inúmeras vezes na Lava Jato, passa a ter fórum privilegiado com o aval do STF. Portanto, está fora do alcance do juiz Sérgio Moro. O ex-presidente Sarney só pode responder por seus crimes ao Supremo Tribunal Federal, decisão dos ministros da Segunda Turma, mesmo não gozando de fórum privilegiado.
O senador Romero Jucá, envolvido na Lava Jato, antecipou-se ao que pensam os brasileiros e, sem arrodeios, foi direto na ferida: “É tudo uma suruba”. O Lula transformou a morte da mulher em espetáculo de marketing. E a Dilma, depois do chute no traseiro, decide que será candidata a senadora ou deputada.
Para desenvolver o resto desse artigo, vou me ater apenas ao ambiente de orgias do nobre senador. Vejamos: o Cabral, que chegou a liderar a lista dos presidenciáveis, vive hoje atrás das grades no presídio de Bangu. Eike Batista, até então a sétimo homem mais rico do mundo, divide uma cela minúscula com estupradores e assassinos no Rio. Eduardo Cunha, o ex-deputado e presidente da Câmara, passa os dias dentro da cadeia mandando recados desaforados para o Temer.
Mais: no STJ, o ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, nomeado pela Dilma para soltar Marcelo Odebrecht continua despachando normalmente, mesmo depois da Polícia Federal comprovar, e o Delcídio do Amaral confirmar, que ele seria o benfeitor de Marcelo e de outros comparsas dentro do tribunal. O Senado aprova o nome de Alexandre Moraes para substituir Teori Zavascki, um auxiliar de Temer, que defendia a tese de que ministros do STF não poderiam ser indicados no exercício de cargo no executivo. José Yunes, amigo do peito de Temer, detona Eliseu Padilha, a quem acusa de receber 1 milhão de suborno via seu escritório em São Paulo.
Mais: o Lula declara que só o PT pode salvar o país. Numa defesa veemente do seu partido, o ex-presidente diz que quer voltar a presidência, pois considera que tem os instrumentos para acabar com a corrupção e a fórmula para o país voltar a crescer.
Mais: Os procuradores da Lava Jato começam a desconfiar do Janot. Acham que ele está segurando os processos além da conta. Aliás, nos últimos dias, o Procurador-Geral da República só pediu arquivamento de indiciados em processos por corrupção, como é o caso do senador petista Lindbergh Farias, o mais notório da lista.
Mais: Ministros do STF como Marcos Aurélio e Gilmar Mendes vão aos microfones para denunciar que as prisões preventivas estão se alongando. Ou seja: enviam recados para os procuradores e para o juiz Sérgio Moro de que chegou a hora de acabar com a brincadeira de prender políticos e empresários por muito tempo.
Mais: Pezão, que ajudou a falir o Rio de Janeiro, se declara inocente no escândalo da corrupção. Não quer nem ouvir falar no nome de Cabral para não se contaminar; Michel Temer nega de pés juntos que tenha feito parte da chapa da Dilma quando tenta separar a captação de recursos da eleição dos dois; Eliseu Padilha responde a processos, mas permanece ao lado do presidente como seu principal auxiliar; o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles continua a espalhar que a inflação caiu, mas não é o que se constata nas prateleiras dos supermercados. E para desmentir os dados oficiais de crescimento, o país carrega a cruz dos quase 13 milhões de desempregados.
Este aperitivo que você leu aí em cima só mostra que o senador Romero Jucá está certo quando diz que vivemos uma grande suruba. Não a do português que se espantou ao participar de uma no Brasil: “Não estás a perceber? Acende a luz porque até agora só eu levei...”
Retrato dos defeitos
Caros foliões, respeitem meu retiro
Décadas atrás lá ia eu no animado Carnaval de Vespasiano, bem na Turma do Funil. Desfile dos dois clubes, fantasias, bailes animados, brigas zero e, pasmem, lança-perfume para jogar na roupa dos outros, dando um friozinho, e numa mágica rapidamente a roupa secava. Seguia os trenzinhos, e a gente tirava uma lasquinha, um olhar atravessado e com muita sorte um beijo escondido, sonhando com o dia seguinte. Meia-noite, uma da manhã, fim de festa ou boteco para os mais boêmios.
De lá para cá uma revolução de usos e costumes, uma selvageria, emoldurada por violência, estupros, coma alcoólico, drogas sintéticas, um tsunami sonoro em forma de trio elétrico, rios de urina, festival de pancadaria, sexo explícito, gangues e arrastão. E, no show de intervalo, foliões bêbados e felizes, beijando mil bocas anônimas, Deus sabe contaminadas com o quê.
Mas, por favor, me respeitem. Abasteci minha geladeira de coisas leves, frutas – sempre fui ruim de beber. Mesmo muito animado, adoro um bom filme, estou escrevendo meu romance mais novo, lendo muito, estudando mais ainda – como é bom estudar sem ser obrigado, pela curiosidade e pelo desejo de ampliar horizontes, estudar de tudo, adoro cultura em geral. Sim, sou muito, muito esquisito. Adorar o Carnaval para reclusão, estudo, assistir a filmes, escrever e ouvir músicas.
Lá fora, o batidão, nos noticiários, a repetição exaustiva de cenas de Rio, Recife, Salvador e aquela alegria patrocinada pelas cervejarias. No ar, a energia da festa pagã: tudo pode, não há culpa e nem limite. Afinal, é Carnaval, tempo da carne, ausência de espírito, do sacro, do divino. Nada de culpa, de punição. Viva o povo.
Mas respeitem os que não entram no ritmo. São filhos do silêncio, amantes da solidão, amigos da reclusão. Passistas da natureza. E curtem Carnaval, Beija-flor, Águia, Gaviões...
De lá para cá uma revolução de usos e costumes, uma selvageria, emoldurada por violência, estupros, coma alcoólico, drogas sintéticas, um tsunami sonoro em forma de trio elétrico, rios de urina, festival de pancadaria, sexo explícito, gangues e arrastão. E, no show de intervalo, foliões bêbados e felizes, beijando mil bocas anônimas, Deus sabe contaminadas com o quê.
Jean Georges Vibert |
Mais respeito. Entendo o tal do “há gosto pra tudo”, tanto que cedo meu sagrado lar pro tal do “prezinho” dos meus rebentos. E tento achar divertido a máscara do Trump com a fantasia de mexicana da nora. Belo casal. E quem diria que BH ressuscitaria como um polo de bloquinhos e animação do Momo.
Mas, por favor, me respeitem. Abasteci minha geladeira de coisas leves, frutas – sempre fui ruim de beber. Mesmo muito animado, adoro um bom filme, estou escrevendo meu romance mais novo, lendo muito, estudando mais ainda – como é bom estudar sem ser obrigado, pela curiosidade e pelo desejo de ampliar horizontes, estudar de tudo, adoro cultura em geral. Sim, sou muito, muito esquisito. Adorar o Carnaval para reclusão, estudo, assistir a filmes, escrever e ouvir músicas.
Lá fora, o batidão, nos noticiários, a repetição exaustiva de cenas de Rio, Recife, Salvador e aquela alegria patrocinada pelas cervejarias. No ar, a energia da festa pagã: tudo pode, não há culpa e nem limite. Afinal, é Carnaval, tempo da carne, ausência de espírito, do sacro, do divino. Nada de culpa, de punição. Viva o povo.
Mas respeitem os que não entram no ritmo. São filhos do silêncio, amantes da solidão, amigos da reclusão. Passistas da natureza. E curtem Carnaval, Beija-flor, Águia, Gaviões...
A suruba não é só do Jucá
Olha a cabeleira do Jucá, será que ele é, será que ele é? Conhecido na delação da Odebrecht como Caju, uma referência ao tom dos cabelos, hoje grisalhos, o presidente do PMDB e líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá, poderia ter se eclipsado com uma fantasia de José Sarney, pioneiro na tendência acaju em Brasília. Era véspera de Carnaval, quando a capital fica deserta já na quarta-feira. Mas o senador pernambucano insistiu em continuar Jucá ou “o Juquinha” do Congresso. Prestou um serviço à nação, com seu sincericídio, ao falar sobre o foro privilegiado.
“Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.Jucá queria “estancar a sangria” da Lava Jato. Pela língua destravada, acabou exonerado do Ministério do Planejamento de Michel Temer 11 dias após ser nomeado. Jucá durou mais tempo como ministro da Previdência Social de Lula: quatro meses. Caiu por acusações de irregularidades com empréstimos bancários. Sangria não, suruba sim.
Traduzindo o raciocínio de Jucá: se for para acabar com o privilégio de políticos suspeitos, que só podem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal e não por nenhum “juizeco” (nas palavras de Renan Calheiros), que então se estenda o fim do foro para os presidentes, magistrados e procuradores. Nada de “prejudicar” só o Legislativo. Suruba precisa ser geral. Fim da suruba também. Para o Executivo e o Judiciário. Até aí, muita gente concorda. Só que o argumento deveria ser igualdade, e não vingança.
Meses antes de assumir a presidência do STF, Cármen Lúcia me falou sobre o foro privilegiado para parlamentares, presidentes e vice-presidentes da República. “Sou contrária a esse foro especial para qualquer pessoa. E já votei assim. Acho que qualquer um de nós tem de responder em igualdade de condições. Uma característica essencial da República é a igualdade. Temos ótimos juízes, competentes e sérios no Brasil. Não vejo nenhuma razão para que casos de algumas pessoas sejam transferidos para o Supremo.”
Durante quase uma hora, Jucá ocupou a tribuna do Senado para defender uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que estenderia aos presidentes do Senado, da Câmara e do STF as prerrogativas do presidente e vice-presidente da República, que não podem ser investigados por nada anterior ao mandato. Pegou tão mal que Jucá desistiu. Mas não amansou. Sob a desculpa de“modernizar uma lei que ficou anacrônica”, Jucá convoca todo mundo para a mesma cama.
Estamos longe de uma “suruba para todos”. O Supremo acaba de proibir o juiz Sergio Moro de investigar José Sarney, o imortal. Ou “o incomum”, assim entronizado por Lula, numa das piores passagens da biografia do petista, convenientemente esquecida por militantes. Lula livrou Sarney de um processo de cassação da presidência do Senado em 2009, acusado de fazer o que melhor sabia, favorecer secretamente parentes e aliados. Agora, Sarney pediu ao STF para não ser investigado por Moro por ter sido citado por Sérgio Machado junto a dois políticos com mandato: Renan Calheiros e Romero Jucá. Sempre eles. Bingo. Sarney é incomum. Foi acusado de receber R$ 18,5 milhões de propina da Transpetro por nove anos.
O senador que disputa com Moreira Franco o posto de melhor amigo de Temer pediu desculpas pela expressão “suruba”, mas parecia envaidecido com a repercussão. Disse ter se inspirado na letra de uma música irreverente. “Eu brinquei que assim não dá, senão vira a música dos Mamonas (Assassinas), a suruba portuguesa.” O refrão da música “Vira-vira” diz assim: Roda, roda e vira, solta a roda e vem/Neste raio de suruba, já me passaram a mão na bunda/E ainda não comi ninguém. Esse indivíduo é o favorito no PMDB para disputar a presidência do Senado em 2020.
Jucá não gosta de “parte da imprensa”, que segundo ele adota métodos do nazismo e da Inquisição. “Não dá chance a ninguém de se defender: escolhe aleatoriamente e parte para o estraçalhamento, sem se preocupar com a verdade, sem se preocupar com a família das pessoas, com a história de cada um.” Há uma parte da imprensa que ele gosta. Possui duas emissoras de televisão em Boa Vista, um jornal impresso e duas emissoras de rádio.
A suruba não se resume ao foro privilegiado. Engloba os maus costumes de Brasília. A folga de Carnaval dos deputados, por exemplo, vai durar 12 dias.Pensar que muitos só foram ao plenário na quarta-feira para registrar presença e não ter o dia descontado no fim do mês. E se mandaram para o aeroporto. Na Câmara, houve apenas uma sessão solene de homenagem aos 100 anos do Lions Club. Isso é piada, não é, Juquinha? Isso é suruba, não é, Jucá?
Ruth de Aquino
“Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.Jucá queria “estancar a sangria” da Lava Jato. Pela língua destravada, acabou exonerado do Ministério do Planejamento de Michel Temer 11 dias após ser nomeado. Jucá durou mais tempo como ministro da Previdência Social de Lula: quatro meses. Caiu por acusações de irregularidades com empréstimos bancários. Sangria não, suruba sim.
Meses antes de assumir a presidência do STF, Cármen Lúcia me falou sobre o foro privilegiado para parlamentares, presidentes e vice-presidentes da República. “Sou contrária a esse foro especial para qualquer pessoa. E já votei assim. Acho que qualquer um de nós tem de responder em igualdade de condições. Uma característica essencial da República é a igualdade. Temos ótimos juízes, competentes e sérios no Brasil. Não vejo nenhuma razão para que casos de algumas pessoas sejam transferidos para o Supremo.”
Durante quase uma hora, Jucá ocupou a tribuna do Senado para defender uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que estenderia aos presidentes do Senado, da Câmara e do STF as prerrogativas do presidente e vice-presidente da República, que não podem ser investigados por nada anterior ao mandato. Pegou tão mal que Jucá desistiu. Mas não amansou. Sob a desculpa de“modernizar uma lei que ficou anacrônica”, Jucá convoca todo mundo para a mesma cama.
Estamos longe de uma “suruba para todos”. O Supremo acaba de proibir o juiz Sergio Moro de investigar José Sarney, o imortal. Ou “o incomum”, assim entronizado por Lula, numa das piores passagens da biografia do petista, convenientemente esquecida por militantes. Lula livrou Sarney de um processo de cassação da presidência do Senado em 2009, acusado de fazer o que melhor sabia, favorecer secretamente parentes e aliados. Agora, Sarney pediu ao STF para não ser investigado por Moro por ter sido citado por Sérgio Machado junto a dois políticos com mandato: Renan Calheiros e Romero Jucá. Sempre eles. Bingo. Sarney é incomum. Foi acusado de receber R$ 18,5 milhões de propina da Transpetro por nove anos.
O senador que disputa com Moreira Franco o posto de melhor amigo de Temer pediu desculpas pela expressão “suruba”, mas parecia envaidecido com a repercussão. Disse ter se inspirado na letra de uma música irreverente. “Eu brinquei que assim não dá, senão vira a música dos Mamonas (Assassinas), a suruba portuguesa.” O refrão da música “Vira-vira” diz assim: Roda, roda e vira, solta a roda e vem/Neste raio de suruba, já me passaram a mão na bunda/E ainda não comi ninguém. Esse indivíduo é o favorito no PMDB para disputar a presidência do Senado em 2020.
Jucá não gosta de “parte da imprensa”, que segundo ele adota métodos do nazismo e da Inquisição. “Não dá chance a ninguém de se defender: escolhe aleatoriamente e parte para o estraçalhamento, sem se preocupar com a verdade, sem se preocupar com a família das pessoas, com a história de cada um.” Há uma parte da imprensa que ele gosta. Possui duas emissoras de televisão em Boa Vista, um jornal impresso e duas emissoras de rádio.
A suruba não se resume ao foro privilegiado. Engloba os maus costumes de Brasília. A folga de Carnaval dos deputados, por exemplo, vai durar 12 dias.Pensar que muitos só foram ao plenário na quarta-feira para registrar presença e não ter o dia descontado no fim do mês. E se mandaram para o aeroporto. Na Câmara, houve apenas uma sessão solene de homenagem aos 100 anos do Lions Club. Isso é piada, não é, Juquinha? Isso é suruba, não é, Jucá?
Ruth de Aquino
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