domingo, 26 de fevereiro de 2017

A democracia morre na escuridão

The Washington Post, um dos mais influentes jornais dos Estados Unidos e do mundo, com 140 anos de história, introduziu em seu site, na quarta-feira passada, a mensagem “Democracy Dies in Darkness”, que também estará estampada na versão impressa, abaixo de sua marca. Antecipou-se na compreensão do breu anunciado.

O novo slogan do Post – jornal responsável por revelar o Watergate que culminou com a renúncia, em 1974, do presidente Richard Nixon -- foi apresentado dois dias antes de a Casa Branca sob o comando do também republicano Donald Trump lançar os EUA em trevas ainda mais profundas, fechando as portas na cara da liberdade de expressão.

Jornalistas do The New York Times e do Los Angeles Times, das redes de TV CNN e BBC, e dos sites Político, The Hill e BuzzFeed foram barrados, impedidos de participar do tradicional briefing de sexta-feira do porta-voz da Casa Branca. Uma atitude criticada até pela Fox News, cuja fidelidade canina a Trump ninguém discute. 

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Nada antes visto na América – país que se orgulha de ser o farol da democracia. Um comportamento que só encontra similitude com regimes autoritários, autocráticos, ditatoriais.

O episódio explode o alerta vermelho aceso com a eleição de Trump.

Desde que estava em campanha, e com mais vigor depois de ser empossado presidente, Trump bombardeia a imprensa. Vocifera contra veículos de comunicação e jornalistas, aumentando a agressividade dos ataques sempre que é desmascarado em suas mentiras, cada vez que sofre qualquer crítica.

Tem horror do que chama de “fonte anônima”, usual nas investigações jornalísticas para preservar quem fornece informações, sem as quais escândalos como o Watergate, revelado pelo anônimo “Garganta Profunda”, e tantos outros, incluindo os do Brasil, como o do Mensalão e da Lava-Jato, não teriam vindo à tona.

Trump trata a imprensa livre como “inimiga do povo”, algo batido para vários países da América Latina, incluindo o Brasil, mas desencaixado na lógica de uma nação que respira liberdade e dela faz símbolo.

Ao ouvir os disparates trumpistas, suas acusações a jornalistas e suas construções de “verdades”, é difícil não fazer paralelo com o comportamento e as falas do ex Lula – um líder sindical e presidente da República incensado pela mídia, que transformou a imprensa em inimigo número 1 desde que ouviu as primeiras críticas. Que montou um círculo de jornalistas amigos para produzir versões alternativas e traduzir os fatos a seu bel prazer. Mas, sobre Lula, há de se dizer: embora tenha dirigido palavras ofensivas, injuriado um ou outro jornalista, e até ter tentado expulsar um correspondente estrangeiro, nunca impôs censura à imprensa.

Trump, que se regozija com a sua própria figura, vai além de todos os limites.

Expõe a maior nação democrática do mundo aos caprichos de um presidente que desrespeita não só a imprensa ou jornalistas, mas a Constituição de seu país, cuja primeira emenda impede qualquer limite ao livre exercício da religião, da liberdade de expressão e de imprensa.

Assim como o atentado às Torres Gêmeas traçou a linha de risco com o fundamentalismo islâmico em todo o planeta, as ações de enfrentamento de Trump extrapolam os Estados Unidos. Suas consequências para o mundo livre não aguardam o futuro. Já são nefastas.

No mais, deixemos que o Carnaval nos anime. Ainda que por apenas mais três fugazes dias.

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