terça-feira, 7 de abril de 2015

Desmanchando o milagre que os portugueses fizeram

Não dá mais para segurar. Nem para compor, amaciar, tergiversar. Ou se adotam mudanças radicais e profundas nas instituições e nas pessoas ou o país se desagrega. Porque nunca se roubou tanto como nessa tríplice aliança entre governo, empreiteiras e políticos.

Governo, por nomear bandidos para a direção de suas empresas, ávidos de permitir o assalto ao patrimônio público, do qual retiram fortunas em benefício próprio. Empreiteiras, porque, mancomunadas com altos dirigentes das estruturas governamentais, superfaturam obras e serviços, obtendo contratos e aditivos falsos para enriquecer às custas dos cofres da nação. Políticos, porque responsáveis pelas nomeações, junto ao governo que dominam, exigindo das empreiteiras altos percentuais dos negócios escusos.

Os últimos meses estão mostrando que não apenas na Petrobras corria lama em vez de petróleo. Na construção de hidrelétricas e termoelétricas, na implantação de ferrovias e rodovias, portos e demais obras, é a mesma coisa. No fornecimento de produtos e na oferta de serviços, também. Até no organismo encarregado de zelar pela cobrança de impostos. Dificilmente se encontra um importante setor da administração pública que não esteja infestado por dirigentes corruptos, empresas privadas e políticos.

Urgente se torna derrubar o tripé. Primeiro através de um governo capaz de identificar, substituir e punir quantos bandidos estiverem incrustados em suas estruturas. Depois, por fiscalização tão rígida capaz de levar as empresas a perceber como mais lucrativa a honestidade do que a roubalheira. Por último, depois de ampla reforma política, depurar os partidos e afastar a corrupção das práticas eleitorais.

Como se chegará a tanto? Trocar o governo poderá constituir-se em solução extrema, caso ele não se recicle em tempo recorde por meio da defenestração de ministros ineptos, representantes de partidos, e sua substituição por técnicos e similares de comprovada capacidade, em condições de recuperar as empresas públicas danificadas. Importante também será, por meio do Congresso, delegar ao Ministério Público, o Judiciário e a Polícia Federal mecanismos de ação cirúrgica para a investigação, identificação e condenação de quantos estiverem implicados nesse festival de corrupção.

Fora daí será a desagregação nacional. Nossa transformação num conjunto cada vez mais dissociado de um futuro comum e da vontade de buscá-lo. Estará desfeito o milagre produzido pelos portugueses, que nos legaram um país uno e indivisível em meio ao fracionamento da América Espanhola.

Carlos Chagas

A 'aula' do professor


Rui falcao plateia discurso nao receber doacao privada caixa 2
Uma coisa é dizer que pessoas no PT se envolveram em malfeitos. Outra é tentar qualificar o PT como uma organização criminosa. Não estou de acordo. Não me considero criminoso. Não tenho nada a ver com isso. Essa é uma das razões pelas quais temos que tomar medidas concretas, como a recusa do financiamento empresarial. Temos que chamar todos os partidos a fazer a mesma coisa. Aí vamos ver quem é quem. Não é possível que o PT, com 1,5 milhão de filiados, não seja capaz de se financiar. Pago R$ 1 mil por mês ao partido.
Marco Aurélio Garcia, alcunhado de "O Professor"

O PT e a avestruz

O PT está se comportando como avestruz. Pensa que escondendo a cabeça ninguém mais verá o resto do corpo. Os escândalos se sucedem, o mensalão passa para o petrolão e o partido insiste em frisar sua virgindade ética, como se tudo fosse uma grande artimanha das oposições. Ainda assim, deveria ser bem explicado a que oposição seus líderes se referem, pois, se ela existe, tem sido incapaz de conduzir qualquer coisa. Segue a reboque das ruas, que nas últimas semanas se tornaram as grandes protagonistas do País.

Vamos convir que a posição de vítima assumida pelo partido não tem nenhuma chance de vingar. O PT está no quarto mandato presidencial e é, portanto, responsável por tudo o que nele aconteceu e acontece. De nada adianta continuar culpando o ex-presidente FHC de todo mal que nos aflige, pois se esse argumento for levado a sério ele terminará sendo responsável por qualquer unha encravada. O que, sim, tem faltado ao governo e seu partido principal é o humilde reconhecimento de seus erros, algo que parece situar-se além da soberba reinante.

Se o País vive, do ponto de vista governamental e partidário, uma espécie de desmoronamento ético, isso se deve ao aparelhamento da máquina estatal, tornada mero instrumento de consecução de fins partidários. O discurso oficial é contra a corrupção, quando a prática partidária consiste em acobertá-la. O PT nem consegue punir seus envolvidos tanto no mensalão quanto no petrolão. Uns são considerados "guerreiros do povo brasileiro", outros ainda não o são por não terem sido condenados.

O atual tesoureiro continua protegido e a Petrobrás segue blindada na verdadeira apuração de suas responsabilidades. Tudo é um grande jogo de cena. Acontece que essa cena não está mais "colando", não gera nenhuma adesão dos cidadãos. O PT caiu na lama e não consegue sequer se levantar.

Em contrapartida, o País vive um despertar ético, demonstrando real preocupação com suas instituições. As manifestações de 15 de março foram uma efetiva tomada de consciência, com as ruas plenas de indignação, independentemente de faixa etária, classe social e gênero. O governo e seu partido não conseguem mais tapar o sol com a peneira. Não há marketing que resolva essa situação. Os mágicos ficaram sem mágica!

Não tem o menor cabimento o PT reclamar de uma grande orquestração da mídia, como se fosse ela a responsável pelas grandes manifestações de rua, pelos escândalos da Petrobrás, pela inflação e pelo PIB zero. Jornais, revistas e meios de comunicação em geral, em sua diversidade e pluralidade, retratam o que está acontecendo.

O que pretendem os dirigentes partidários? Que as ruas repletas de gente não sejam filmadas, retratadas e descritas? Que o PIB zero não seja comentado? Que a inflação que acomete os cidadãos seja desconsiderada, quando ela é sentida diariamente nos supermercados? Que a corrupção na Petrobrás não seja noticiada? Que o trabalho da Justiça e do Ministério Público seja denegrido?

A política petista de feroz crítica aos meios de comunicação consiste na tentativa de matar o mensageiro para que a mensagem não seja transmitida. Em vez de o partido enfrentar seus reais problemas, termina apelando para seu arsenal ideológico de ideias antiquadas e ultrapassadas, desta feita a de "controle social da mídia" ou "democratização dos meios de comunicação".

Para falar claro: trata-se da tentativa de restabelecer a censura no País, agora nos moldes do que já é feito na Venezuela, na Bolívia, na Argentina e no Equador, nessa via comunista, soviética, agora denominada "socialismo do século 21", como se assim a proposta autoritária se tornasse mais palatável! A moralidade é estropiada em nome de uma "superioridade moral do socialismo".

O PT não consegue nem se entender no que diz respeito ao seu apoio ao governo Dilma. A austeridade fiscal que está sendo introduzida não é a responsável pela inflação, pelo PIB zero, pela desvalorização do real e pelos altos juros. Estes nada mais são que consequências das políticas econômicas conduzidas pelo governo Dilma e pelo segundo mandato do governo Lula. São, reitero, meras consequências. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nada mais está fazendo que tentar corrigir o descalabro reinante, que é produto do que foi feito até aqui.

Agora, que o partido se insurja contra o ministro e, indiretamente, contra a presidente, em nome das políticas desastradas que nos levaram até esta situação, é um manifesto contrassenso. Caberia, isso sim, apoiar a mudança de rumo, em nome da governabilidade e, sobretudo, do País, que é maior do que qualquer partido e que a soma de todos. Como pode a presidente exigir o apoio incondicional do PMDB quando o seu próprio partido é o maior opositor de sua política atual?

A proposta de alguns setores partidários de radicalização do processo político, por meio de uma nova aliança com os movimentos ditos sociais, é de uma grande irresponsabilidade. Movimentos como o MST são expressões de um projeto político de tipo marxista, para instalar no País um regime totalitário de tipo socialista.

Trata-se, no caso, de uma organização de tipo leninista, que tem vários braços, como os Sem-Teto, as Mulheres Campesinas, os Atingidos pelas Barragens, os Pequenos Agricultores e a Via Campesina. Todos obedecem a uma mesma estratégia e ao mesmo comando, tendo na Venezuela e em Cuba seus maiores exemplos. A faceta social é mera roupagem.

Insistir nessa via significaria lançar o País na ingovernabilidade e numa eventual crise institucional. Quando Lula chamou o "exército do Stédile" às ruas, ele conclamou essa milícia a se preparar. Permaneceram ele e os seus apoiadores cegos e surdos aos clamores populares.

No dia 15 de março, um dos seus dizeres era: "A rua brasileira jamais será vermelha!". Como bem expressaram os manifestantes em suas roupas: "Ela é e sempre será verde-amarela!".

Brasil pressiona pela mudança

 Brasileiros lembram o sábio Diógenes, aquele que só pediu a Alexandre que se afastasse porque lhe estava roubando o sol
O Brasil não está em crise porque as pessoas saem à rua para protestar. É o contrário: decidiram fazer isso porque desejam mudar o velho Brasil. Querem que o país se supere e ressuscite da crise, e não acreditam mais nas promessas de seus atuais governantes, convencidos como estão de que eles mentiram.

Vai fazer dois anos que neste país os indignados saíram pela primeira vez de suas casas para exigir melhorias em alguns serviços públicos para que fossem dignos de um país moderno, e protestar contra a corrupção. Na época não gritavam “Fora, Dilma” nem “Fora, PT”.

Para aplacar o mau humor das pessoas, a presidenta fez cinco promessas aos brasileiros, entre as quais um plebiscito nacional para a reforma política – que se mostrou inútil por ser anticonstitucional – e o combate sem trégua contra a corrupção.

As promessas não só não foram levadas adiante como também, hoje, a situação do Brasil é muito pior do que na época. A reforma políticase enreda em si mesma porque os encarregados de fazê-la não querem perder seus privilégios, enquanto a corrupção, em vez de ter sido freada, irrompeu como uma bomba nuclear com o novo escândalo da Lava Jato, que fez o do mensalão empalidecer. E outros novos escândalos já estão na fila da investigação judicial.

Os brasileiros se cansaram de promessas e escândalos, e se radicalizaram: desta vez pedem até uma nova República, outro Brasil. Querem que os que prometeram o que não souberam ou não quiseram cumprir saiam para dar lugar a outros. Por ora, talvez não saibam com quem substituí-los, mas sabem que querem algo novo e diferente.

Esse clima que o Brasil vive e que as manifestações anunciadas para o próximo dia 12 poderiam confirmar ou desmentir me fizeram recordar o que se conta, entre história e lenda, do filósofo grego Diógenes, que há 2.500 anos andava com uma lanterna em busca de “um homem”, ou seja, um que fosse honesto, e não corrupto.

Como os EUA 'viraram o jogo' contra a corrupção

No século 19, a falta de um funcionalismo público profissional favorecia o apadrinhamento nos Estados Unidos. Grandes projetos de infraestrutura manchados por corrupção; apadrinhamento político nos governos federal, estadual e local, bem como o uso de cargos públicos para obter ganhos privados e manter-se no poder.

O cenário acima poderia descrever a situação atual de diversos países do mundo - inclusive do Brasil -, mas se refere especificamente aos Estados Unidos do fim do século 19.

No período a partir de 1870, conhecido como “Gilded Age” (Era Dourada), o surgimento de uma sociedade mais urbanizada e industrializada e de novas fontes de riqueza nunca antes vistas, em um momento de rápido crescimento econômico nos EUA, evidenciou os altos níveis de corrupção política no país.

Seriam necessárias algumas décadas e a adoção de várias medidas de regulação para que o problema fosse controlado.

Apesar de ressaltarem que a corrupção não foi totalmente erradicada nos EUA, analistas concordam que as reformas adotadas na virada do século 19 para o 20 foram essenciais para combater o problema e fazer com que o país hoje se situe entre aqueles com baixos níveis deste tipo de delito.

No mais recente Índice de Percepção da Corrupção, divulgado em dezembro passado pela Transparência Internacional, os EUA aparecem na 17ª posição entre 175 países, ao lado de Irlanda, Hong Kong e Barbados. O Brasil ficou em 69º lugar, ao lado de Bulgária, Grécia, Itália, Romênia, Senegal e Suazilândia.

Segundo analistas, nas décadas finais do século 19, práticas até então dominantes nos EUA, como clientelismo e apadrinhamento político, começaram a ser menos toleradas.

“Muitas práticas que simplesmente eram encaradas como normais em períodos anteriores da história americana passaram a ser vistas como problemas”, disse à BBC Brasil o historiador Alan Lessoff, professor da Illinois State University.

Dilma vai cair, só não se sabe o tempo da agonia

Não há a menor perspectiva de final feliz para a crise política, econômica, social e ética que devasta o governo federal. São escândalos e notícias negativas que se acumulam, inexoravelmente. A grande mídia nem precisa fazer manipulação, basta publicar o que está acontecendo, sem maiores comentários. E a tendência é a situação piorar, progressivamente, para desespero da troika formada pelo Planalto, PT e Instituto Lula (não necessariamente nesta ordem).


Não há dúvida de que Dilma Vana Rousseff virou uma espécie de rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa. A administração federal está absolutamente paralisada e o país caminha com as próprias pernas, vivendo uma experiência surrealista de “laissez-faire”, que pode até ser positiva, pois é melhor não ter governo algum do que suportar um governo tão incompetente.

A presidente poderia se manter assim até o fim do novo mandato, ninguém ligaria, como aconteceu recentemente na Bélgica, que passou vários anos sem ter primeiro-ministro, não entrou em crise econômica ou ética, seguiu se desenvolvendo, uma maravilha. Mas acontece que aqui no Brasil as coisas estão bem diferentes e Dilma Rousseff tem muito mais problemas do que a simpática e educada rainha Fabíola.

Neste início de mandato, as investigações da força-tarefa da Operação Lava Jato já estão encontrando cada vez mais provas sobre gravíssimos atos de corrupção em outros setores do governo, como a construção de hidrelétricas e ferrovias. E na fila, aguardando apuração, estão os fundos de pensão, o BNDES, a Eletrobrás e outras estatais, além do chamado Sistema S e de muitos ministérios.

Na verdade, é um nunca-acabar de escândalos, que não atingem apenas o Executivo, pois a opinião pública está consciente de que Legislativo e Judiciários também estão apodrecidos. Embora o país esteja mergulhado numa gravíssima crise econômica, os salários das autoridades dos Três Poderes estão cada vez mais altos, com inaceitáveis mordomias, incluindo os cartões corporativos, cujos gastos são mantidos sob sigilo absoluto, vejam a que ponto essa gente chega.

Não há governo capaz de resistir a tamanho bombardeio. É ilusão achar que Dilma Rousseff possa acabar incólume como Lula, simplesmente repetindo que não sabia de nada.

A situação se complica ainda mais, porque ninguém consegue apoiar Dilma Rousseff, nem mesmo o ex-presidente Lula, que a conduziu ao poder. Na semana passada, o grupo majoritário do PT divulgou um manifesto de críticas ao governo federal, com ponderações compartilhadas por todas as demais alas do partido.

As centrais sindicais também já desembarcaram do governo. Durante evento organizado pelos movimentos sociais na última terça-feira, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, criticou os tarifaços de luz, da água e dos combustíveis, além das propostas do ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy.

No Congresso, não existe mais base aliada desde o início de fevereiro, quando o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) instituiu o primado regimental dos blocos partidários e assumiu pessoalmente o comando do principal deles, formado por 227 deputados, deixando o PT completamente isolado.

Por fim, é sempre bom lembrar que nunca antes, na História deste país, um governo conseguiu se preservar no poder sem contar com apoio da maioria dos parlamentares. O resto é folclore.

Cretinice da empulhação










"O Brasil sempre foi isso. No Brasil, sempre a forma de destruir seu adversário era chamar de corrupto."


Renato Janine Ribeiro, novo ministro da Educação, há duas semanas baixou o cacete no governo Dilma, mas com a posse como ministro passou a adoçar os lábios presidenciais.

Entregar a educação de um país a um cretino é uma tremenda falta de educação, no mínimo. Agora recebe até o título de “ministro educador numa Pátria Educadora”.

Quando ainda o cargo serve como cala boca a mais um filósofo no melhor estilo Mangabeira Unger, demonstra que Dilma e o PT estão cooptando tudo que não presta para formar um governo de fachada. Comparar o novo ministro a Darcy Ribeiro e Paulo Freire, como fez Dilma, é um acinte de uma “incompetenta” e mostra do que o PT é capaz para dourar suas safadezas. Janine, nem em milhares de reencarnações, poderá chegar aos pés daqueles dois e de muitos outros nomes que honraram a educação brasileira.


O desgoverno continua ladeira abaixo na hora de mostrar capacidade. Compara o melhor com a escória e diz reunir as melhores mentes quando forma um batalhão de imbecis e aproveitadores. 

O partido dos últimos dias

Rodando quase 1500 km no estado do Piauí, nem sempre com internet, vivi, como grande parte do planeta, o assombro da queda do avião nos Alpes. Um amigo mostrou um desenho circulando na internet: Lula batendo na porta da cabine de um avião, gritando: “Abra essa maldita porta!” É apenas um dos centenas de memes que circulam na rede. Mas impreciso. Dilma não quer se suicidar, nem deseja nossa morte. Lula, se entrasse na cabine, não teria mais condições de controlar o avião. Os tempos mudaram, e, parcialmente, a crise brasileira é também produto de sua política.

Numa pausa no Hotel Nobre (R$20 a diária com ventilador e R$40 com ar condicionado) abri a janela para noite da cidade de Castelo do Piauí e acho que compreendi melhor o rumo das coisas no Brasil.

Dilma perdeu a iniciativa na política. Quem impõe sua agenda é o PMDB. Pragmático, confuso, controlando o Congresso, o PMDB dá as cartas. Não sabemos aonde quer chegar. Percebemos apenas que marca Dilma para não deixá-la andar.

Dilma perdeu a iniciativa na economia. Foi necessário chamar um técnico, como somos obrigados a fazer quando máquinas e conexões desandam em nossa casa. Joaquim Levy conduz a política econômica, dialoga com o Congresso e, de vez em quando, inadvertidamente, critica a própria Dilma. O programa de isenção para estimular as empresas foi chamado de brincadeira que custou caro.

Numa palestra em inglês, Levy disse que Dilma nem sempre toma o caminho mais fácil para realizar as coisas e, às vezes, não é eficaz. A primeira etapa da frase parece-me até elogiosa: nem sempre escolhe o caminho mais fácil. Esse traço está presente em muitas pessoas que venceram adversidades, ou recusaram caminhos eticamente condenáveis.

Nem sempre somos eficazes como queríamos. Isto é válido para todos, de uma certa forma. O problema é que Dilma é presidente, e Levy, seu ministro.

Ministros não falam assim de seus presidentes, sobretudo quando se encontram isolados, são recebidos com batidas de caçarola ou perdem, vertiginosamente, a aprovação popular, ao cabo de uma eleição cheia de falsas promessas.

Domingo que vem haverá novas manifestações. O tema será “Fora Dilma”. Possivelmente, os manifestantes pedirão que leve o PT com ela.

Na minha análise, Dilma está saindo de forma lenta e gradual. Ao perder terreno para o PMDB, deixa, discretamente a política, onde nunca entrou com os dois pés.

Ao escolher Joaquim Levy e definir um necessário ajuste econômico, perde terreno para o PSDB, que defendia uma correção de rumos.

Resta o campo social, área muito difícil de fazer avançar em tempos de crise econômica. Seu único trunfo é o PT, que combate a nova política e já está pronto a atribuí-la ao adversário, caso fracasse.

Dilma escolheu um novo secretario de comunicação. Ouço alguém dizer na rádio que uma das qualidades de Edinho Silva é acordar cedo e ler todos os jornais. A entrevista não esclarece se ele entende o que lê. Talvez tenha um pouco de resistência a políticos tratados no diminutivo. No entanto, nunca soube dos conhecimentos de Edinho na comunicação. Se as tivesse, já teria sido chamado, pois a crise já dura meses.
Creio que todos esses fatores fazem com que Dilma vá deixando lentamente a cena política, como a luz de um navio visto do cais, distanciando-se num oceano escuro. O partido dela acha, no meu entender com razão, que os mais vulneráveis devem sofrer menos, ganhar um tempo de adaptação à crise. Mas o PT não faz nenhum gesto para reduzir ministérios e demitir os milhares de companheiros que se acomodaram na máquina do governo. Nem tem a mínima ideia de por onde começar a cortar os gastos oficiais. O PT apenas defende os pobres, mas se dedica radicalmente a ampliar a própria riqueza

Leio que numa recente reunião, no mesmo tom militar, o PT afirmou que estava diante de uma campanha de cerco e aniquilamento. Simples assim: estavam marchando pela floresta e, repente, os adversários armaram um cerco de vários anéis. Jamais se perguntam como entraram nessa enrascada. Lula se diz o brasileiro mais indignado com a corrupção que ele mesmo comandou, ao montar o esquema político na Petrobras.

Já não são muitos os que levam Lula ao pé da letra. Alguns petistas bem-intencionados falam que a saída é voltar às origens. No passado, quando nos estrepávamos, sempre surgia alguém dizendo: “Precisamos voltar às origens, reler Marx”.

É uma saída com tintas religiosas. Muitas novas seitas surgiram assim: é preciso reler a Bíblia e dar a ela uma verdadeira interpretação.

Não há livro que salve quando não se examina nem se assume em profundidade os erros cometidos. A história não se explica com categorias religiosas, por mais respeitáveis que sejam os impulsos místicos.

A chamada volta às origens criaria apenas o PT do reino de Deus, o PT dos últimos dias, o PT quadrangular.

Fernando Gabeira

Jogo de cena da maioridade penal

O Brasil parece que não teve nada o que pensar ou fazer melhor na última semana do que discutir a redução da maioridade penal como se fosse o maior dilema do país. O projeto está no Congresso há mais de 20 anos e, de repente, não mais do que de repente, ressurge entre as traças. Abracadabra! Tudo para atender ao chamado "clamor das ruas", que nada mais é do que dar ibope e fornecer palco para os parlamentares em baixa, principalmente da turma afiliada ao PT. 

Quando foi para tratar da maioridade eleitoral, que atendia aos interesses dos políticos, foram rápidos no gatilho. Mas agora embolam legislação, que existe nas melhores democracias do ramo, com problema social e de direitos humanos.

Rosarinho, a toda pura aloprada petista, até se chocou quando soube que a maioridade penal de 16 anos já vigora na imaculada Cuba desde o início do regime de Fidel Castro. Contrária à lei por condenar os pobres e negros, como se lei tivesse conta bancária e cor, repete o discurso surrado de quem defende nos palcos os pobres e negros para roubá-los no bolso. É a cara desinformada de um partido demagógico.A lei é para punir quem comete crime (Quer dizer, no Brasil, depende do crachá, do conta bancária e da cor). Nada mais justo que pague a pena, seja condenado por matar com sangue frio.

Partidários de um governo omisso no problema penal saírem aí alegando que os pobres e negros serão os mais punidos pela redução penal, é jogo de cena. O que querem é encobrir o descaso com que o sistema carcerário e os centros de atendimento dos menores são tratados.

Há um arranca-rabo e ainda não se chegou a consenso sobre sua utilidade. O que se tem de certo é que a redução da maioridade também é uma ação exemplar para reduzir a devastadora sensação de impunidade que assola o país. E isso os parlamentares, que aproveitam os palcos da debater a lei, parada há mais de 20 anos, sabem muito bem que é uma ducha para serenar ânimos, fazer com que todo mundo só fale da redução penal.

Cadeia não é para corrigir nem recuperar para a sociedade. Lá fora riem dessa santa ideia brasileira. Cadeia é punição para quem não sabe agir dentro da lei na sociedade.

Mas aí está o grande dilema: aqui a cadeia não tem condições de receber nem bicho raivoso, o que dirá gente, então o problema é do governo cumprir a lei. E o PT há 12 anos no governo nunca cumpriu qualquer lei sobre as instalações penitenciárias, os centros de recuperação, nem sequer se manifesta quando há rebelião em presídio. Prefere debater, ficar no blábláblá modorrento, e empurrar a efetivação de medidas, porque essas nunca interessam, mas sim o bom discurso "social", do qual os petistas são useiros e vezeiros.

É errado, mesmo mais criminoso, o Estado não fornecer condições dignas de o preso cumprir a pena. Mas isso colocam fora de questão, porque aí quem acaba indo para a prisão é o governo por uma ação promovida pelos detentos. Por isso, estão afirmando que redução da maioridade penal não leva a nada. Mas existe e é cumprida lá fora, porque não tentar aqui e ver os resultados?

Independente da legislação, há que o governo fazer sua parte. Gastar para melhorar as condições penitenciárias, criar centros penais para jovens. Dar qualidade humana ao preso. Aí será pedir demais, gastar dinheiro que serve aos comissionados, aos políticos. Assim não dá. E o PT é o mais bandido dos criminosos brasileiros com ou sem maioridade penal.