quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Gente fora do mapa


Já gastamos tudo o que é renovável e agora estamos no crédito

O dia 1 de agosto é "a data em que terão sido utilizadas todas as árvores, água, solos férteis e peixes que a Terra consegue fornecer em um ano para alimentar e abrigar os seres humanos e terá sido emitido mais carbono do que os oceanos e florestas conseguem absorver", afirmou a porta-voz da WWF, Valérie Gramond, organização que pertence à rede Global Footprint Network.

"Hoje, precisaríamos de 1,7 Terras para satisfazer as nossas necessidades", ilustrou, num comunicado divulgado esta semana.



O total dos recursos renováveis consumidos nunca tinha sido atingido tão cedo desde que a data começou a ser assinalada, nos anos 1970, quando o total só era consumido a 29 de dezembro. No ano passado, a data foi 03 de agosto.

Um terço dos alimentos acumulados pelos seres humanos acaba no lixo, indicou, afirmando que a antecipação progressiva da data se deve ao excesso de consumo.

A distribuição do consumo é desigual no mundo, com países pequenos e com poucos habitantes como o Qatar e o Luxemburgo com uma pegada ecológica muito forte.

Se todos os países consumissem assim, a data seria atingida logo no mês de fevereiro, alerta a organização.

É difícil

O Brasil é a melhor província e o melhor povo do mundo para se fazer um país. Mas é muito difícil
Darcy Ribeiro

Os algoritmos militantes

Nos últimos meses, escrevi vários artigos tratando da importância das redes sociais para a democratização do direito de opinião. Com o advento da internet, dos blogs e sites, e, por último, das redes sociais, esse direito se expandiu influenciando fortemente a política. Para quem educou a mente a descartar o lixo, assim como em casa se separa o lixo doméstico, houve um descomunal ganho de pluralidade, qualidade e inteligência. O efeito desse fenômeno sobre o esquerdismo dominante nas redações dos principais veículos da mídia tradicional foi arrasador. Sua posição hegemônica entrou em colapso.

Num período de tempo extremamente curto, diferentes modos de ver a realidade e de interpretar os fatos passaram a influenciar milhões de pessoas. Princípios, valores e autores consagrados em outros países, aqui mantidos ocultos, ganharam notoriedade. As árvores do pomar acadêmico foram sacudidas e muitas frutas podres vieram ao chão, em plena sala de aula, derrubadas por alunos que simplesmente foram ler “fora da caixa do professor”. O monopólio da “narrativa” e da “interpretação” exercido pelos que atuavam como fazedores de cabeças simplesmente ruiu. Absurdos, como, por exemplo, a suposta inocência de Lula, perderam espaço; o naturalmente ridículo, como, por exemplo, os cursos de extensão universitária sobre o “golpe de 2016” em universidades federais, se tornou escandalosamente ridículo.


Enquanto, no mundo real, a inteligência se abastecia, no impenetrável bas-fond das plataformas, os companheiros algoritmos operavam para virar o jogo. O Facebook, por exemplo, declarou-se vocacionado às trivialidades da vida cotidiana, social e familiar. Se você estiver interessado em puppys e kittens, culinária e arranjos de flores, eventos familiares, entre que a casa é sua! Mas se você pretende usar a rede para restituir o Brasil a seu povo, salvando-o dos corruptos, dos coniventes, dos omissos, dos incompetentes e dos vilões, então seus amigos e seguidores ficarão sem saber que você ainda existe. Será sepultado em vida. E isso representa um nada para quem já enterrou no ambiente acadêmico Burke, Kirk, Chesterton, Aron, Sowell, Mises, Friedman, Hayek, Bohm-Bawerk e tantos outros gigantes do pensamento conservador e liberal.

A reação iniciou no começo deste ano, multiplicando na mídia tradicional a afirmação de que as redes sociais se haviam tornado uma usina de fake news. E elas existem, sim! Altas autoridades da República as disseminam quando anunciam investimentos que não se verificam, ou proclamam realizações mágicas como a extinção da miséria e o fim da fome, Acontecem fake news quando se apresenta Lula ao mundo como um São Thomas More de Garanhuns, condenado apenas porque virtuoso.Foi para enquadrar ideologicamente esses ataques que escrevi vários artigos apontando, em contrapartida, o problema das fake analysis na mídia tradicional, pois são essas mistificações as que mais desencaminham a opinião pública. A elas, com grande vantagem, se opunham tantos bons e sérios autores nas redes sociais.

Enfim, os algoritmos companheiros, ao que tudo indica, estão no comando. Enquanto o mercado não reagir criando novas plataformas, o Ministério Público não intervier, o Congresso não tomar providências (?), os instrumentos da inteligência artificial agirão ocultos, a serviço da conhecida má-fé natural daqueles que os manipulam.
Percival Puggina

Imagem do Dia


O caminho do gol

É o que se viu na Copa do Mundo. Gol, hoje, só de bola parada em jogadas ensaiadas à exaustão. Ou então, em função de velocidade. De contra-ataque, de lançamentos longos e precisos, de rapidez de saída de bola. De frente, furando retrancas de gigantes, é praticamente impossível. A raça humana evoluiu. O biotipo é outro. O campo ficou pequeno, atravancado de tão ocupado. Tapeação, então, nem pensar. Acabou o espaço tanto pro amadorismo quanto pra malandrice.

Na competição econômica é a mesma coisa e há muito mais tempo que no futebol. A velocidade de resposta à mudança é a condição para a sobrevivência no jogo global.

Os Estados Unidos viraram o que são porque durante um século inteiro só eles tinham essa agilidade num mundo inteiramente engessado pela burocracia e pelo imobilismo que sempre sustentaram todo esquema de privilégio. É verdade, eles começaram do zero. Não tinham uma realeza pra revogar. Nenhum rei inglês com sua corte foi ser imperador por lá. A chave pro esquema deles funcionar foi garantir a fidedignidade da representação. Levou mais de 2 mil anos pra inventar. Primeiro trocar o rei pelo voto da maioria, à grega. Depois, quando a democracia deixou de caber numa praça, eleger representantes para governar, à romana. Então, fazer o governo controlar o governo com tres poderes independentes. E, finalmente, armar a mão dos representados para submeter de fato a ação dos representantes à vontade deles e picar o todo em pedacinhos para poder ir consertando cada parte no seu tempo e na sua velocidade sem ter de parar tudo a cada passo.

Mudaram o poder de dono e lá se foram, com recall, referendo e iniciativa, livres para corrigir todo erro que se apresentasse como erro, fazer eleições especiais para trocar uma peça aqui, eliminar uma lei defeituosa ali, instalar um novo mecanismo sempre que sentissem que era necessário, enquanto o resto do mundo, que de democracia tinha só o som, seguia atravancado de eleição marcada em eleição marcada, perseverando em erros petrificados na constitucionalização de privilégios, tropeçando a cada passo em juízes ladrões e políticos surdos todo poderosos.

Velocidade de mudança! Capacidade de se adaptar, como sociedade, a uma realidade cada vez mais mutante, respeitando as diferenças entre as suas partes. Livres o bastante para estimular a criatividade a ponto de produzir ciência, mas armados da condição de se adaptar às consequências da produção de ciência. Mandando e não sendo mandados.


Hoje a China está levando uma vantagem momentânea porque os ditadores – agora à frente de esquemas de capitalismo de estado – têm mais velocidade de mudança que a democracia. Mas é uma vantagem relativa. Rápido demais pra ser seguro. Eles mesmos, no fim da linha, convertem o que ganham em títulos do Tesouro ianque porque sabem que o presidente americano é o unico do mundo que não pode fazer o que quiser na hora que quiser. Porque sabem melhor que ninguém que segurança jurídica, o unico antidoto contra a súbita liquefação de toda e qualquer riqueza conquistada, é as “majestades”, os “guias geniais de povos”, os “the guy”, as “excelências” e os “meritíssimos” da hora estarem estritamente “under god and under the law”. Ou vale o fato e não a “narrativa” e a lei é igual pra todo mundo, ou não dá pra ter controle de nada.

Todo o aparato da democracia, aliás, não é senão uma ferramenta evoluída para facilitar a mudança. A gente elege representantes, tem um Legislativo, um Judiciário e um Executivo funcionando dentro de regras de todos conhecidas para poder ir mudando as coisas na medida da necessidade sem ter, nem de entregar a direção do nosso destino para um déspota todo poderoso, nem de fazer uma guerra entre os interesses contrariados a cada vez que for preciso reajustar as coisas. Se fosse pra tudo ficar sempre igual não precisava de nada disso. Era o que acontecia no sistema feudal em que uma minoria que tinha tudo era sustentada por uma maioria que não tinha nada e, como só ela mandava, ninguem queria mudar nada.

No Brasil tudo está errado porque a representação do país real no país oficial está falsificada. Semana passada este jornal mediu. Temos 25% do Congresso Nacional constituido por funcionários publicos. Eles são 11,5 milhões de pessoas ou 5,5% da população mas a sua representação é cinco vezes maior que a sua dimensão real. E o fato dos outros 75% de congressistas não serem funcionários públicos com carteira assinada antes de se eleger não quer dizer que deixarão de apoiar os interesses deles depois. Primeiro porque são convertidos em funcionários públicos para efeito de desfrute de todos os privilégios que se auto-atribuem assim que são eleitos. Segundo por medo da retaliação implacavel dos que já estavam lá antes deles de que é alvo todo mundo que ousa faze-lo. Mas principalmente porque estão livres de qualquer consequência se trairem o seu eleitor, que tem todos os direitos sobre o seu representante cassados assim que deposita o voto na urna.

Que descrição mais perfeita poderia ser feita de uma ditadura?

Nós vivemos tempo demais e confortavelmente demais dentro dessa mentira. Nossas escolas foram destruidas. A consciência critica da nação não foi apenas “aparelhada”. Darwin deu quatro, cinco, dez voltas no relógio. Uma raça foi apurada dentro dela. Sobrou muito pouco mais que os ratos e as baratas.

Só a vivência da virtude cria virtude. Só a possibilidade de vitória da virtude engendra a virtude. No sistema que temos isso é impossível. E não ha pacote de reformas que conserte isso de uma vez. Nos somos muitos brasis. Fomos todos humilhados e ofendidos mas fomos afetados de forma diferente pela ação dessa força desviante tão persistente. Cada Brasil tem as suas carências e as suas prioridades. E só cada um deles sabe por onde começar. Nós precisamos é mudar o jeito de fazer. Parar de sermos mandados e passarmos a mandar. E, então, ir refazendo tudo, pedaço por pedaço, na velocidade que cada Brasil avaliar como possível.
Fernão Lara Mesquita

Elevar impostos, reduzir gastos ou cobrar as dívidas imensas das empresas?

A pergunta tem sua razão de ser, pois os presidenciáveis não estão focalizando pontos concretos sobre os quais seus programas de governo devem se basear. Reportagem de Antonio Nucifora, na Folha, analisa o panorama das contas públicas e conclui que em seus programas os presidenciáveis precisam definir suas estratégias para seguir o caminho de aumentar tributos ou de reduzir os gastos. A redução de despesas termina sempre recaindo no número de empregos e tal operação logo em seguida vai elevar o desemprego e consequentemente diminuir o consumo.

Coloco uma terceira opção, a mais cristã e também democrática: por que não combater a sonegação de empresas e cobrar mesmo que parcialmente suas dívidas acumuladas? A corda como diz o velho ditado, arrebenta sempre do lado mais fraco. E se o equilíbrio das contas públicas dependesse da mão de tigre do mercado não haveria solução.


Cortar salários não chega para enfrentar o impasse sintetizado na dívida interna que, como vimos outro dia, está se elevando a 3,7 trilhões de reais. A perspectiva, inclusive, é que aumente ainda mais, uma vez que o governo está capitalizando juros à base da colocação de mais notas do Tesouro Nacional no mercado. Basta imaginar o montante que resulta da incidência da taxa Selic sobre o total do endividamento.

Como não tem 200 bilhões de reais disponíveis para pagar os juros, o governo substitui o valor dos juros pela alienação de mais papeis. Essa operação derruba o mito do superavit primário. Trata-se de déficit secundário.

Mas as contas, mesmo sem calcular os juros, não vão bem, e daí o déficit financeiro resultante.

Europa pode não ter saída, a não ser se adaptar ao calor

Temperaturas recordes de até 39ºC na Alemanha; incêndios florestais fora de controle na Suécia e outras regiões tipicamente frias do norte europeu; e a eclosão, na Polônia, de algas tóxicas no Mar Báltico, que está mais quente que o costume: a Europa está sufocando na atual onda de calor do verão.

Com a continuidade das temperaturas extremamente altas na maior parte da região, muitos andam se perguntando se a culpa é das mudanças climáticas.

Cientistas dizem que sim.

"O aquecimento global, em geral, mais que dobrou as chances de acontecer uma onda de calor como a atual", diz Geert Jan van Oldenborgh, pesquisador do Instituto Meteorológico Real holandês.

Ele integra a WWA, um grupo de cientistas de seis instituições criado para fornecer análises em tempo real de relações possíveis entre as mudanças climáticas e eventos meteorológicos tidos como extremos e isolados.

Paisagem em floresta alemã sem chuva desde abril

Uma equipe da rede analisou a atual onda de calor no norte da Europa e apresentou resultados preliminares na última sexta-feira.

Identificar a culpa por eventos meteorológicos complexos não é tarefa simples devido às numerosas variáveis envolvidas, que vão desde a temperatura da água à pressão atmosférica.

Mas, graças a modelos climáticos de ponta, especialistas agora podem calcular a probabilidade de eventos isolados extremos terem ocorrido por causa das mudanças climáticas.

Assim como epidemiologistas ligam o fumo ao câncer, os cientistas do clima trabalham com probabilidade estatística.

"Fumar nunca é a única razão, mas aumenta a possibilidade de se desenvolver câncer", diz Friederike Otto, pesquisadora do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.

Para determinar a probabilidade de um evento isolado de tempo extremo ter sido causado pelo aquecimento global, os pesquisadores estimam qual seria a probabilidade de ocorrer um evento extremo específico no contexto climático atual, versus um evento que ocorreria num mundo livre de emissões de gases poluentes causadas pelo ser humano.

Segundo as estatísticas, em média, o ser humano já aqueceu o globo em cerca de um grau Celsius em comparação com a época pré-industrial. Colocando em paralelo os resultados desses dois cenários, cientistas podem atribuir as diferenças de probabilidade do evento extremo às mudanças climáticas causadas pelo homem.

Com esse método, a rede WWA já mostrou que o aquecimento global fez com que o furacão Harvey de 2017 tivesse probabilidade três vezes maior de acontecer, que a onda de calor Lucifer, que assolou o sul da Europa também em 2017, tivesse probabilidade quatro vezes maior de acontecer, e que não alterou a probabilidade da estiagem de 2014 em São Paulo se repetir.

Os pesquisadores da WWA compararam as altas temperaturas atuais com recordes históricos em sete estações meteorológicas na região norte da Europa: duas na Finlândia e uma na Dinamarca, na Irlanda, na Holanda, na Noruega e na Suécia.

As estações foram selecionadas por motivos práticos. Os dados atuais de temperaturas podiam ser acessados em tempo real, e todos os pontos de medição tinham arquivos com dados digitalizados desde o início da década de 1990.