quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Europa pode não ter saída, a não ser se adaptar ao calor

Temperaturas recordes de até 39ºC na Alemanha; incêndios florestais fora de controle na Suécia e outras regiões tipicamente frias do norte europeu; e a eclosão, na Polônia, de algas tóxicas no Mar Báltico, que está mais quente que o costume: a Europa está sufocando na atual onda de calor do verão.

Com a continuidade das temperaturas extremamente altas na maior parte da região, muitos andam se perguntando se a culpa é das mudanças climáticas.

Cientistas dizem que sim.

"O aquecimento global, em geral, mais que dobrou as chances de acontecer uma onda de calor como a atual", diz Geert Jan van Oldenborgh, pesquisador do Instituto Meteorológico Real holandês.

Ele integra a WWA, um grupo de cientistas de seis instituições criado para fornecer análises em tempo real de relações possíveis entre as mudanças climáticas e eventos meteorológicos tidos como extremos e isolados.

Paisagem em floresta alemã sem chuva desde abril

Uma equipe da rede analisou a atual onda de calor no norte da Europa e apresentou resultados preliminares na última sexta-feira.

Identificar a culpa por eventos meteorológicos complexos não é tarefa simples devido às numerosas variáveis envolvidas, que vão desde a temperatura da água à pressão atmosférica.

Mas, graças a modelos climáticos de ponta, especialistas agora podem calcular a probabilidade de eventos isolados extremos terem ocorrido por causa das mudanças climáticas.

Assim como epidemiologistas ligam o fumo ao câncer, os cientistas do clima trabalham com probabilidade estatística.

"Fumar nunca é a única razão, mas aumenta a possibilidade de se desenvolver câncer", diz Friederike Otto, pesquisadora do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.

Para determinar a probabilidade de um evento isolado de tempo extremo ter sido causado pelo aquecimento global, os pesquisadores estimam qual seria a probabilidade de ocorrer um evento extremo específico no contexto climático atual, versus um evento que ocorreria num mundo livre de emissões de gases poluentes causadas pelo ser humano.

Segundo as estatísticas, em média, o ser humano já aqueceu o globo em cerca de um grau Celsius em comparação com a época pré-industrial. Colocando em paralelo os resultados desses dois cenários, cientistas podem atribuir as diferenças de probabilidade do evento extremo às mudanças climáticas causadas pelo homem.

Com esse método, a rede WWA já mostrou que o aquecimento global fez com que o furacão Harvey de 2017 tivesse probabilidade três vezes maior de acontecer, que a onda de calor Lucifer, que assolou o sul da Europa também em 2017, tivesse probabilidade quatro vezes maior de acontecer, e que não alterou a probabilidade da estiagem de 2014 em São Paulo se repetir.

Os pesquisadores da WWA compararam as altas temperaturas atuais com recordes históricos em sete estações meteorológicas na região norte da Europa: duas na Finlândia e uma na Dinamarca, na Irlanda, na Holanda, na Noruega e na Suécia.

As estações foram selecionadas por motivos práticos. Os dados atuais de temperaturas podiam ser acessados em tempo real, e todos os pontos de medição tinham arquivos com dados digitalizados desde o início da década de 1990.

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