O mais importante manifesto do ano, democrático e pacífico, mereceu apenas o noticiário negativo dos jornalões. O fato de fechar a ponte Rio-Niterói foi o "pecado" dos funcionários da Alumini, uma das empresas envolvidas na construção do Comperj e investigada na Lava-Jato. Ousaram os operários, com salários atrasados, impedir o tráfego e afrontar a proibição de não se poder no local andar a pé.
“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir”
(Construção, Chico Buarque)
Seguiram ordeiros, com motoqueiros, gente como eles, guardando a retaguarda. Sob o sol e o calor de 40°, marcharam por seus direitos, por sua dignidade, por suas famílias, pelo pão e para cumprir seus débitos.
Caminharam até a sede da Petrobras, no Centro, sem um tumulto, sem um vandalismo. Era o povo brasileiro na rua reclamando seus direitos. Mas não receberam da imprensa o respeito a que tinham direito. Eram apenas um fato que atrapalhou o tráfego, que mereceu injúrias dos motoristas, dos passageiros, dos que confortavelmente assistiam o transtorno no trânsito engarrafado pela televisão.
O movimento popular, digno e democrático, não mereceu o devido aplauso, porque saiu na contramão. As redes da mídia não destinaram a ele o mesmo espaço infinito com que dispensam às manifestações de black blocs, que nada mais fazem do que desestimular protestos democráticos.
Quebrar vidraças e bancos faz parte da propaganda contra você se manifestar, aderir a movimentos. Aos violentos e baderneiros, as câmeras, os flashes, os números do ibope; aos operários pacíficos, quase um silêncio, quando não um palavrão por atrapalharem o tráfego. Eis a democracia à brasileira.