sábado, 14 de fevereiro de 2015

Pátria educadora é com a Xuxa

Selfie publicado no perfil oficial do ministro da Educação, Cid Gomes, rendeu críticas ao dirigente da pasta. A foto teve mais de 14.300 curtidas e mais de 3.600 compartilhamentos. Na rede social, o ministro escreveu: "Estive com a Xuxa hoje. Ela tem produzido excelentes materiais para o Ensino Infantil e se dispôs a colaborar com dois importantes projetos do Governo Federal: o Mais Creches e o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa".

O ministério, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que o encontro foi no MEC, em Brasília. A apresentadora teve uma audiência, na quarta-feira, com o ministro "para apresentar a sua Fundação, que tem 25 anos, e também seu último trabalho: o DVD "Xuxa só para Baixinhos 13".
 
OBS: Ministro tirar foto com Xuxa e afirmar que a apresentadora "tem produzido excelentes materiais para o ensino infantil" é simplesmente ridicularizar o programa Pátria Educadora de Dilma e ainda gozar com a inteligência do brasileiro.

O perigo da crítica e o reconhecimento do erro


Escrever é meritório para ajudar as pessoas. Sempre que escrevo, e quando escrevo, mesmo com críticas, procuro colocar no meu GPS mental essas coordenadas. Reconheço que esqueço e cometo erros, escrevo muito, e os planetas rodam em volta lançando suas tendências, sempre variadas. No fundo, porém, existe uma convicta vontade de procurar o melhor.

Os erros geram atrasos. Eliminá-los é a coisa melhor. São complicadores nessas circunstâncias o orgulho e a vaidade de quem erra. Isso é um grave fator que anula a oportunidade de serenamente enxergar a via da superação.

Assimilar a crítica é bem melhor que defender o erro. É preciso bastante coragem para expor à luz do sol o que está submerso. Tarefa ingrata quando poderosos, acostumados apenas a escutar elogios e neles se acomodar, são atingidos. O ouvido de um poderoso repousa a escutar um bajulador e pode se irritar em escutar a crítica.

A figura do bajulador, normalmente, se importa apenas em tirar vantagem para si de qualquer situação e já sabe que, quando a sorte do poderoso definhar, voltará suas atenções para outro. Ele aumenta a incompreensão, defende e atiça o revanchismo e lança pétalas de rosas sobre o bajulado.

O desatento perde, assim, a oportunidade de tirar proveito e de seguir adiante com a lição assimilada.

O erro, afinal, é como um tumor que, extirpado no início, será curado. A boa crítica é o diagnóstico do erro. A melhor crítica vem acompanhada de um receituário de cura.

O ser humano desapegado, tendencialmente sensato, aproveita-se da crítica, reconhece os enganos dos bajuladores, livra-se deles e vê o lado positivo do aconselhamento, como o do bisturi, que dói, corta, mas cura. O apegado, ao contrário, se considera diminuído e recorre à vingança. Nero mandou Sêneca, seu professor que o criticou, cortar suas veias para escapar da espada. A vingança fica esculpida e dolorosamente volta para cobrar a conta.

Pior que o erro é defender o erro, como defender um tumor que já se sabe ser fatal. Desperdiça-se uma vida que poderia chegar a alturas maiores.

País errado


Muita sede

Neste verão, “caminhar sedento” deixou de ser uma metáfora para quem corre atrás de suas paixões e virou a hipérbole perfeita para uma realidade a que teremos de nos acostumar cedo ou tarde durante o ano de 2015. A crise hídrica bateu na porta, nossa sede este ano será mesmo sede, será aquela vontade física mesmo, necessidade pura, simples e natural de água, não será sede de conhecimento, de amor, sede de carinho, nada disso. Importante será a água, deixemos para depois o abraço, a reflexão, a piada, o beijo, tratemos de cuidar da sobrevivência.

Somos nós o ex-país da fartura. Ruiu o deslumbramento com a terra brasileira, sentimento muito nosso, ligado ao privilegiado regime de chuvas que sempre caíram do querido céu azul, alimentando os campos verdes, as bacias das hidrelétricas, inundando nossa alma. Parece que a fonte secou e o sudeste deste país pode enfim congraçar sem preconceitos com os cidadãos do nordeste, galera que sabe tudo de como sobreviver na estiagem. Durante anos vivemos em festa sem notar como éramos afortunados, sabemos hoje, os anos de água na alma se foram e podem demorar para retornar.

O pessoal que governa por aqui anda batendo perna atrás dos riachinhos da cidade, fazem de conta que vão resolver o problema da crise hídrica. Quem vai resolver é o povo, tenho que dizer. Lavar carro com mangueira, tomar banho demorado, esquecer de consertar a pia que pinga vão ser problema depois deste verão, capaz de os palacianos inventarem uma multa. Dinheiro para eles nunca é problema.

Fico imaginando qual seria o papel de um cronista em uma terra seca com chance fatal de sede. Minha sede na alma, o que diria? Escrever seria falar de uma população hostil e louca por cravar os dentes nos que se arriscassem nas ruas sem a proteção de guarda-costas saciados. O que um cronista diria da vida em um território assim? Cadê as ruas mais ou menos seguras para onde lançar o meu olhar apalermado? Tenho certeza de que seria capturado por uns sedentos que chupariam meus olhos e cravariam meu crânio no centro de um poço artesiano.

E a seca no mundo… alguém em sã consciência acredita que sobreviveria ao caos de um planeta em conflito constante por causa da falta de água? Nós não, outros talvez, nossos avós sem dúvida, e nossos filhos não, nossos netos pode ser, poderão herdar as cidades secas e se darem bem, terão que ganhar a vida sob o jugo de corporações dessalinizadoras e clãs proprietários de poços vagabundos. Ruim, mas ainda assim uma vida.

Por enquanto a gente se defende. Um apocalipse desta ordem está totalmente descartado, dizem as autoridades. Mas saibam que no caso de uma seca mais grave quem pode, pode, e poderá sempre comprar passagens para Miami e desfrutar por lá de uma caipirinha gelada.

Os cronistas que se danem, dirão.

Os sedentos também.

Obs.: Enquanto reviso esta crônica, chove a cântaros por aqui. Água, água, água, já posso caminhar sedento.

Mas piorou


Carybé
Em todo caso, piorar não podia. O Brasil “estava à beira do abismo”. Frase retórica, mas verdadeira.
- É deixá-lo cair! É deixá-lo cair! Deve ser muito engraçado o Brasil no fundo do abismo…
Gargalharam.

Jorge Amado, "País do Carnaval"

Exemplo de manifestação é banalizado

O mais importante manifesto do ano, democrático e pacífico, mereceu apenas o noticiário negativo dos jornalões. O fato de fechar a ponte Rio-Niterói foi o "pecado" dos funcionários da Alumini, uma das empresas envolvidas na construção do Comperj e investigada na Lava-Jato. Ousaram os operários, com salários atrasados, impedir o tráfego e afrontar a proibição de não se poder no local andar a pé.
“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir”
 (Construção, Chico Buarque)

Seguiram ordeiros, com motoqueiros, gente como eles, guardando a retaguarda. Sob o sol e o calor de 40°, marcharam por seus direitos, por sua dignidade, por suas famílias, pelo pão e para cumprir seus débitos.

Caminharam até a sede da Petrobras, no Centro, sem um tumulto, sem um vandalismo. Era o povo brasileiro na rua reclamando seus direitos. Mas não receberam da imprensa o respeito a que tinham direito. Eram apenas um fato que atrapalhou o tráfego, que mereceu injúrias dos motoristas, dos passageiros, dos que confortavelmente assistiam o transtorno no trânsito engarrafado pela televisão.

O movimento popular, digno e democrático, não mereceu o devido aplauso, porque saiu na contramão. As redes da mídia não destinaram a ele o mesmo espaço infinito com que dispensam às manifestações de black blocs, que nada mais fazem do que desestimular protestos democráticos.

Quebrar vidraças e bancos faz parte da propaganda contra você se manifestar, aderir a movimentos. Aos violentos e baderneiros, as câmeras, os flashes, os números do ibope; aos operários pacíficos, quase um silêncio, quando não um palavrão por atrapalharem o tráfego. Eis a democracia à brasileira.