terça-feira, 17 de novembro de 2020

Olhando para o umbigo do passado

Os conservadores olham para trás, por isto é importante conhecer os erros dos progressistas que devem acenar para a construção do futuro.

O primeiro erro é não perceberem que nos, tempos atuais, Confiança é um fator determinante para o avanço de qualquer economia. Ela não funciona satisfatoriamente sem estabilidade monetária, ética na política, instituições sólidas com regras permanentes, participação no mundo global, capacidade de poupança, distribuição de renda, paz nas ruas, todos os ingredientes para dar confiança ao mercado, consumidores e investidores.

O segundo erro foi não perceberem que no longo prazo o vetor do progresso está na educação de base com qualidade para todos, tanto para aumentar a produtividade, criar tecnologia e inovação, além de ser o caminho para distribuir renda.


Os progressistas, especialmente aqueles mais à esquerda, não perceberam que “estatal” não é sinônimo de “público”. Este foi o terceiro erro. Uma empresa pode ser do governo, seus trabalhadores empregados públicos, mas seu serviço não servir à população, pela má qualidade, pela ineficiência e custo elevado. Este erro levou-os a preferir apoiar as reivindicações dos sindicatos de servidores do Estado, do que atender às necessidades da população. No lugar de sociais, os progressistas ficaram corporativos.

A base destes erros é que os progressistas não perceberam que os esquemas do passado para explicar e orientar o processo político-social não se aplicam aos novos tempos da globalização, da inteligência artificial, da robotização, das comunicações de massa personalizadas e instantâneas. Por isto, os esquemas de organização partidária baseada na divisão binária, “a favor” ou “contra”, capital versus trabalho, estatal contra privado já não servem para orientar o progresso do país em busca de coesão social e rumo histórico. Isto já aconteceu no passado, quando muitos progressistas republicanos se opuseram à Abolição da Escravidão, porque ela chegava pelas mãos de governo conservador e pelas mãos do Imperador. Eles ficaram prisioneiros dos esquemas políticos tradicionais, monarquia versus república, sem entender que o progresso não estava no regime político, mas no trabalho livre e na abertura do país ao comércio internacional.

Os progressistas de hoje não respondem ao povo e para o futuro, mas aos eleitores do momento emperrando a marcha ao futuro. Não é por acaso que depois de 26 anos no poder, nós progressistas deixamos o quadro social trágico que as estatíscas divulgadas ontem mostram. Os progressistas também não se livraram da tradição sociológica de explicar pobreza como falta de renda e não como falta de acesso aos bens e serviços essenciais, nem todos comprados no mercado.

O maior erro é ficar preso às ideias do passado e ficarem tão reacionários quanto os conservadores. Estes olhando para o passado e nós, progressistas, presos ao presente, olhando para o umbigo.
Cristovam Buarque

Onda bolsonarista virou marolinha

A onda que varreu as urnas em 2018 virou marolinha nas eleições municipais. Há dois anos, Jair Bolsonaro impulsionou a vitória de azarões e aventureiros em todo o país. Agora colhe fiascos na maioria das disputas em que se meteu.

O presidente pediu votos em seis capitais. Em quatro delas, seus candidatos naufragaram ainda no primeiro turno. Em Manaus, Coronel Menezes amargou um quinto lugar. No Recife, Delegada Patrícia terminou em quarto. Em Belo Horizonte, Bruno Engler ficou em segundo, mas não conseguiu nem 10% dos votos válidos.

Em São Paulo, Bolsonaro teve uma tripla derrota. Seu aliado Celso Russomanno, que liderava as pesquisas, derreteu e acabou na quarta posição. Os dois finalistas não querem conversa com o capitão. Bruno Covas já dispensou qualquer hipótese de apoio, e Guilherme Boulos faz oposição radical ao Planalto.


Os candidatos bolsonaristas só passaram ao segundo turno no Rio e em Fortaleza. O prefeito Marcelo Crivella, com rejeição na casa dos 60%, dificilmente terá fôlego para virar a disputa com Eduardo Paes. Na capital cearense a disputa entre José Sarto e Capitão Wagner foi mais equilibrada. Mas os votos da terceira colocada, a petista Luizianne Lins, agora tendem a migrar para o pedetista.

O presidente teve mais um revés em seu berço político. Seu filho Carlos Bolsonaro perdeu o título de vereador mais votado do Rio. Foi ultrapassado por Tarcísio Motta, do PSOL. A outra representante do clã, Rogéria Bolsonaro, teve míseros dois mil votos.

A família ainda colheu uma derrota anedótica no estado. Apontada como assessora fantasma do capitão, Wal do Açaí tentou se eleger vereadora de Angra dos Reis com o nome de Wal Bolsonaro. Apesar do empenho e do sobrenome do patrão, só atraiu 266 eleitores.

Numa tentativa de encobrir o vexame, Bolsonaro apagou o post em que pedia votos para seus candidatos. Não adiantou. No fim da noite, sua tropa adotou outra tática diversionista. Passou a usar o atraso na divulgação de resultados para disseminar teorias conspiratórias sobre fraude nas urnas.