domingo, 13 de março de 2016

Manutenção de servidor!?


Que coincidência, hein? Em pleno domingo, dia 13 de março, Dia de Fora Dilma, servidor em reduto petralha, do "comandante" Quaquá, presidente do PT fluminense, entrou em manutenção.

Alguém acreditaria que é apenas mera coincidência?
Usuários ficam com acessos restritíssimos na internet.

Mas não tem nada. Quem ri por último ri melhor
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As cores e o coro das ruas


Serão milhares ou milhões. E não é isso que importa. As manifestações deste domingo têm tudo para ir muito além dos pixulecos, do fora Dilma, fora PT, fora corrupção. Nelas estão as apostas de redenção do país, mergulhado em profunda recessão econômica, afogado política e moralmente.

Não por outro motivo, todos os acontecimentos da atribulada semana que passou se vincularam ao domingo 13. E também os futuros, como a conclusão, pelo Supremo, do rito do impeachment, marcado para a próxima quarta-feira.

Lula, que já havia incorporado o mártir na sexta-feira, 4, quando foi levado coercitivamente para depor no âmbito da Lava-Jato, se dedicou a aprofundar a vitimização. Levou sua dramatização às rodas de poder da República, em reuniões com a presidente Dilma Rousseff e com a cúpula do Senado – também enrolada nas investigações sobre a roubalheira na Petrobras. E continuou a incentivar a presença de suas tropas nas ruas.

O presidente do PT, Rui Falcão, chegou a ir ao Planalto explicar, oficialmente, que manifestações pró-Lula e contra o impeachment iriam ocupar os mesmos locais já reservados há mais de dois meses pelos anti-Dilma. Diante do temor de que a briga de torcidas virasse batalha de fato, recuou no mesmo dia.

Com ritmo esquizofrênico, os mesmos apoiadores convocados para guerra pela manhã tiveram de dar baixa oficial à tarde.

Ciente da direção do vento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que até então evitara qualquer vinculação com atos contrários ao governo federal, tirou a sua casquinha. Não só informou que proibiria a aproximação dos pró-Dilma e Lula, como anunciou presença na Avenida Paulista.

Na quinta-feira, o pedido de prisão preventiva de Lula acabou ofuscando a bem fundamentada denúncia do Ministério Público de São Paulo sobre o tríplex do Guarujá. Reabriu a discussão em torno dos riscos de embate neste domingo e fez com que oposição e governo se unissem no ataque à peça.

Até aí - ainda que por vezes leviano -, tudo se encaixou dentro do jogo de dar e esticar a corda, de saber ou não aproveitar o desgaste de um lado e do outro depois que o PT dividiu o país em “nós” e “eles”.

Mas Dilma, sempre ela, abusou do direito de confundir as bolas, algo que faz com frequência.

Primeiro, garantiu que não deixará o governo, com a hilária frase “é impossível que eu me renuncie”. Depois, ao criticar a cautelar contra Lula, destituiu-se de seu cargo: “é um ato que ultrapassa o bom senso. Um ato de injustiça. É um absurdo que um país como nosso assista calmamente um ato desses contra uma liderança política responsável por grandes transformações no país. Respeitado internacionalmente. O governo repudia em gênero, número e grau esse ato praticado contra o presidente Lula.”

Desrespeitou as instituições, ao atribuir mérito a algo que está nas mãos da Justiça, e o conceito republicano de igualdade diante às leis, colocando Lula acima dos comuns. Algo que até se admite em um militante errático, jamais em um presidente da República.

E mais: ao considerar absurdo que o país assista “calmamente” ao ato contra o ex, colocou lenha na fogueira. O que queria ela? Incendiar as ruas? A frase é pólvora pura. Só não é um perigo porque Dilma não lidera nada nem ninguém.

Não tem compromisso algum com o que disse um minuto antes. Talvez isso explique sua confusão mental, o desentendimento permanente que ela tem com as palavras.

Seus ditos têm-se como desditos.

Incita ódio logo depois de pedir paz e de revelar temor quanto às manifestações de hoje. Justifica a ausência na festa dos 36 anos do PT dizendo que não governa “só para o PT”, mas para “204 milhões de brasileiros” e usa fundos públicos para prestar solidariedade ao padrinho. Coloca o Estado à mercê de Lula, que dele pode fazer o que bem quiser. Se precisar virar ministro, vira. Se preferir uma embaixada, terá. Se quiser se safar...

É aqui, exatamente aqui, que entra o coro das ruas.

Serão milhares ou milhões. Não importa. Camisetas e bandeiras verde-amarelas, apitos, pixulecos. Contra Dilma, Lula, o PT. Contra a corrupção, a canalhice, a mentira. A favor do Brasil.

É com essa que eu vou

Esse era o título de uma coluna em que falava da manifestação de hoje. Os fatos correm tão rapidamente neste capítulo final que sou obrigado a escrever novas versões a cada dia. Dois acontecimentos, entre tantos, representam uma espécie de salto na linha de notícias: a denúncia de Lula, seguida de um pedido de prisão, e os documentos que a Andrade Gutierrez entregou à Justiça sobre doações ilegais à Dilma, em 2014.



A denúncia de Lula se dá no contexto daquela cooperativa Bancoop que lesou três mil famílias e terminou com a cúpula em apartamentos no edifício Solaris, em Guarujá. Ainda não ouvi ninguém defendendo a trajetória da Bancoop, exceto um lacônico depoimento de João Vaccari. Para um partido igualitarista é um movimento mais condenável ainda, salvar a pele enterrando os outros. Ao ler o texto que pede a prisão de Lula, constato que o famoso vídeo feito pela deputada Jandira Feghali foi anexado a ele. No vídeo, Lula aparece ao celular dizendo que quer que enfiem o processo no cu. O vídeo rodou pela internet e parece revelar o oposto do que dizem os defensores de Lula sobre sua boa vontade para atender à Justiça. Curiosamente, os celulares de Jandira e de Lula só foram possíveis com a quebra do monopólio nas teles, que eles tanto combateram. A antena da Oi em Atibaia mostra como passaram de adversários a intérpretes radicais da privatização das teles. Ela serve apenas ao sítio de Lula, os vizinhos não têm sinal. Se o vídeo foi mesmo usado pelos promotores, voltaremos ao poeta Jorge de Lima: “o mundo começa nos seios de Jandira”. E diremos que o mundo acaba no celular de Jandira. Mas ainda não acabará assim: o pedido de prisão será avaliado por uma juíza e pode ser rejeitado.

Ao longo desses anos, consumi muita energia combatendo os erros do PT e satélites. Uma de minhas expectativas, após o domingo, é de olhar para frente, imaginar que Lula, Dilma e o PT em breve podem sair da agenda. Os adversários definem muito o que somos. Combater gente mentirosa, cheia de truques, mastigando vulgarmente alguns conceitos marxistas, talvez tivesse sentido no fim do século passado. Hoje, isto me dá uma sensação de perda de tempo, como se tivesse de fazer um giro pelas aldeias chinesas que acham que a ida do homem à lua não aconteceu, foi apenas propaganda mentirosa dos americanos. Olhar para frente é apenas uma necessidade. Não vislumbro nada de grandioso. Pelo contrário, uma dura fase de transição, em que será preciso ajustar a economia para deter a queda livre do nosso PIB. Se as pessoas que saírem às ruas hoje compreenderem isto, vão querer se manter unidas mesmo depois da queda de Dilma. Não será tão fácil assim: caiu, soltamos fogos e voltamos ao nosso cotidiano. Estamos diante de desafios que dependem de todos. Impossível reestruturar a economia sem uma base responsável na opinião pública. Impossível combater o mosquito e seus estragos sem uma ponte entre governo e sociedade. Mosquitos e, certamente, ratos multiplicam-se com nossa passividade. Dilma está fora do baralho. Ela vive um único objetivo: o de não cair. E todos, inclusive o PT, sabem que ela não tem experiência política, capacidade de articulação nem habilidade para conduzir a crise.

O PT e alguns delinquentes do PMDB, que estão em busca da quadrilha ideal, usam Dilma apenas para continuar no poder, usufruir os últimos instantes de um projeto que sabem condenado. Eles não se importam com o tamanho do buraco. A experiência recente da Espanha, por exemplo, mostrou como certos processos econômicos são devastadores para a juventude. O alto nível de desemprego impediu que uma geração realizasse seu potencial. Lá, pelo menos, os jovens compreenderam isso e se revoltaram. Por causa disso também vou à manifestação. Não a limito apenas ao desejo de punir a corrupção, atropelar o cinismo e botar os saqueadores na cadeia. Eu a vejo como um feixe de compromissos. O primeiro deles é com a credibilidade que nos dê a chance de crescer. O segundo, e também importante: como foi possível que o Brasil tenha chegado a esse ponto, onde estávamos todos que não impedimos o país de ser levado ao abismo?

Sinais de incompetência não faltaram. Evidências de desvios tampouco. O país foi incapaz de deter o processo e até hoje há quem pense que os bandidos vão vencer no final: PT e PMDB continuarão nos assaltando pela eternidade. Como foi possível conviver com tanta ladroagem? Como foi possível aceitar versões tão enganadoras? Como foi possível cultuar o cinismo que nos corrói? Ainda agora, surgem as velhas trapaças. O PT ameaça soltar nas ruas barbudos de camisa vermelha, e há garotas fazendo gestos obscenos com o dedo. Ao PT interessa a hipótese de conflitos. Se as pessoas tiverem medo, não sairão às ruas. E alguns cronistas vão dizer: caiu o ímpeto do impeachment, Dilma respira de novo. Dilma tem respirado à custa da nossa asfixia. O governo cairá, de qualquer maneira, porque está podre. Abundam provas contra ele por ter usado dinheiro roubado nas eleições. A delação de um diretor da Andrade Gutierrez comprova isso, assim como as transferências da Odebrecht para o marqueteiro João Santana. Lula será preso em algum momento, porque também contra ele avolumam-se os indícios de ser o chefe da quadrilha. Para que Dilma, Lula e o PT prossigam incólumes, é preciso que o Congresso desapareça na podridão, que o Supremo se revele petista, que a própria Polícia Federal e o Ministério Público engulam suas investigações. E que todos fiquem em casa com medo dos homens de barba.

Há um golpe no forno

Deve-se à Constituição de 1988 a independência do Ministério Público e, graças a ela, existe a Lava-Jato. Alguns dos larápios apanhados são grandes empresários. Outros, servidores de empresas estatais. Além deles, o procurador-geral Rodrigo Janot pediu a abertura de inquéritos envolvendo 22 deputados e 12 senadores. Pela primeira vez desde que Cabral deixou um degredado no Brasil, a oligarquia política, burocrática e empresarial foi ferida, exposta e encarcerada.

A Constituição de 1988 e o regime democrático permitiram o impedimento do presidente Fernando Collor, a posse de Itamar Franco e, anos depois, a nomeação de Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda, iniciando um período de reformas que restabeleceu o valor da moeda e modernizou alguns setores da vida nacional.

A Carta de 1988 tem defeitos e passou por mais plásticas que a atriz Kim Novak, mas funciona. Ela é clara: as eleições presidenciais realizam-se a cada quatro anos e assume quem tiver mais votos. Assim assumiram Fernando Henrique Cardoso, Lula e a doutora Dilma. Se o Congresso resolver encerrar o mandato do presidente, assume o vice. Assim foi com Itamar Franco. Hoje, assumiria Michel Temer.

A Constituição também determina que o Tribunal Superior Eleitoral pode cassar o mandato de uma chapa eleita e há um processo em curso nesse sentido. Se as acusações prevalecerem, Dilma e Temer vão para casa e, em até 90 dias, elege-se um novo presidente, com o voto de todos os brasileiros. Nada mal. (Caso a cassação ocorra no ano que vem, a eleição será indireta, votando apenas senadores e deputados.)

Desde a semana passada, com o agravamento da crise política e econômica, surgiu a ideia de uma reforma do regime, chegando-se a um parlamentarismo ou a uma excentricidade chamada de “semipresidencialismo” ou “semiparlamentarismo”. Algo tão vago quanto uma “semibicicleta”. A proposta foi enunciada de forma genérica e superficial, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Outro defensor da tese é o vice-presidente, Michel Temer, que acumula a condição de pretendente ao trono (no caso do impedimento) com a de cliente da lâmina (no caso da cassação).

É golpe.

O parlamentarismo já foi rejeitado pelos brasileiros em dois plebiscitos, em 1963 e 1993, sempre por maioria acachapante. Com 77% a 17% dos votos num caso e 55% a 25% no outro.

Corre por aí que o semipresidencialismo replicaria a experiência francesa. O paralelo é falso como um depoimento de comissário petista. Na França existia um regime parlamentar puro e caduco, até que em 1958, no meio de uma guerra perdida e depois de um levante militar, o general De Gaulle tornou-se primeiro-ministro, com poderes emergenciais. Passados três meses, ele submeteu um projeto de Constituição ao povo francês e conseguiu 79,2% dos votos. A reforma de De Gaulle fortaleceu o presidente e enfraqueceu o Congresso. Ela entrou em vigor depois do referendo, não antes. O contrário do que se quer fazer no Brasil. (Quem souber o nome do atual primeiro-ministro francês ganha uma viagem à Disney.)

Em condições normais de temperatura e pressão, a manobra do semiparlamentarismo é inconstitucional. Ela precisa buscar na crise a legitimidade da emergência. O que se quer não é copiar as instituições francesas, mas reciclar uma gambiarra do andar de cima brasileiro. Pretende-se replicar 1961, quando no meio de uma crise política e militar aprovou-se em poucos dias o regime parlamentarista para mutilar os poderes de João Goulart. Foi golpe.

Quando se respeita a Constituição, as crises ajudam a fazer grandes mudanças. A posse de Itamar Franco e a eleição de Tancredo Neves são dois exemplos recentes. Havia a crise, preservou-se o regime e foi-se em frente.

Recuando-se no tempo, o vagão da crise reformadora entra num trem fantasma. Em 1968, uma crise das ruas foi usada por uma conspiração palaciana para jogar o país na ditadura escancarada do AI-5. Recuando mais um pouco, chega-se a 1964. O marechal Castello Branco achava que a crise colocara-o na Presidência para fazer grandes reformas. As fez, mas a anarquia militar que cavalgou legou ao país o desastroso governo de Costa e Silva. Viveu o suficiente para perceber a armação do colapso de sua ditadura envergonhada.

O caroço do golpe está no desejo de se dar o poder a quem não tem voto. De Gaulle mostrou que os tinha. Se a ideia é boa e se Dilma e Temer forem cassados, qualquer cidadão brasileiro pode se eleger presidente propondo sua plataforma reformista. Durante a campanha eleitoral de 1994 Fernando Henrique Cardoso elegeu-se propondo reformas, inclusive a da Previdência, e a fez, com o apoio da CUT.

O semiparlamentarismo daria mais poderes a um Congresso de 594 deputados e senadores. Deles, 99 têm processos à espera de julgamento do Supremo Tribunal Federal. São 500 os inquéritos em andamento, inclusive os que tratam dos atuais presidentes da Câmara e do Senado.
***

A colaboração de Azevedo deixa em estado desesperador a defesa da chapa Dilma-Temer no TSE.

Nesse cenário, ficam duas hipóteses: numa, Dilma sai pelo impeachment e assume Temer; noutra, Temer escapa da lâmina do TSE. Nos dois casos atende-se ao desejo da oligarquia ferida pela Lava-Jato e evita-se a escolha do novo presidente pela via eleitoral direta.

A verdade de Lula


No Brasil, é assim. Quando um pobre rouba, vai para a cadeia; quando um rico rouba, vai para um ministério
Lula (1988)

Manifestações do dia 13 de março: Eu vou!

As manifestações populares pedindo o impeachment de Dilma Rousseff são como doses de quimioterapia para enfraquecer o câncer que está matando o Brasil. O impeachment é a cirurgia necessária, ainda que talvez não seja suficiente.

Nosso país é constituído por instituições contraditórias e anacrônicas que levam, de tempos em tempos, a um rompimento institucional. No caso presente, a discussão vai além, saiu da política e invadiu a seara das páginas policiais.

O governo foi tomado de vez pela máfia sindical sob as vistas de políticos irresponsáveis que agem, na maioria das vezes, como cúmplices ou espectadores coniventes.

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Os sintomas desta tragédia podem ser percebidos com a aviltante e exacerbada interferência na vida privada das pessoas, com os entraves intransponíveis colocados ao empreendedorismo, à inovação, às trocas livres e voluntárias, com a corrupção consequente e com o desperdício dos escassos recursos, gerados por aqueles que criam valores que lhes são tomados de assalto.

Há aqueles que são contra o impeachment porque querem ver o país sangrar ainda mais, imaginando que assim ele venha a curar definitivamente seus males.

Esse era o método que usavam na medicina do passado, quando os pacientes esvaiam-se em sangue, com a expectativa de se verem livres dos males que sofriam. Fato era que, invariavelmente, acabavam morrendo pelo próprio tratamento que visava curar.

Não podemos esquecer que um país em ruinas não afeta apenas quem o desgraçou. Não são os petistas, nem seus apoiadores que estão sofrendo. Na realidade, esses continuam roubando e infernizando a vida de toda a sociedade.

Não há dúvidas de que precisamos refundar o Brasil, constituir instituições mais sólidas e coerentes com os princípios que estabelecem uma sociedade civilizada e próspera, onde o indivíduo é livre para buscar sua felicidade.

É preciso continuar com a quimioterapia, enquanto o câncer persiste devorando esse organismo social chamado Brasil.

Devemos todos ir às ruas no dia 13 de março.

Apoiar o impeachment da Dilma é imprescindível. Com os petistas no poder, não restará um Brasil a ser refundado.

O cenário falso de Dilma

O sonho de Dilma é deixar explodir na mão de qualquer outro a massa falida em que seu governo transformou o Brasil e sair por aí de bicicleta. Só se fala de Lula. A presidente deve agradecer de joelhos à Justiça atabalhoada brasileira, que tem desviado o foco das denúncias contra seu governo. Dilma tentou ser populista e popular. Não conseguiu ser uma coisa nem outra. O “dilmismo” nunca passou de um cenário provisório e improvisado.

Um cenário falso como o do apartamento do Minha Casa Minha Vida, adquirido pelo casal Eliel e Adriane Silveira, em Caxias do Sul. No início, eles se sentiram num sonho. O casal foi informado de que Dilma, em pessoa, entregaria as chaves de seu apartamento. Os dois vibraram ao ver que seu apartamento estava mobiliado e decorado. Dilma foi filmada com o casal. Depois da visita presidencial, a decoração foi removida. Geladeira, fogão, televisão e máquina de lavar.

“Só não levaram o resto dos móveis porque a gente bateu o pé e não deixou”, disse Adriane. “O tapete, disseram que poderíamos ficar com ele, porque tinha sido muito pisado.” A Arcari Empreendimentos retrucou que ninguém havia prometido doar nada, mas, diante da repercussão negativa, os eletrodomésticos voltaram. “Nos avisaram que a presidente viria e que precisaríamos ambientar um apartamento para a visita”, explicou Francielle Arcari, do departamento jurídico da construtora. “Colocamos até papel de parede, e vamos deixar, mesmo não sabendo quem prometeu.”

A história de Eliel e sua mulher Adriane parece surreal, mas é a melhor metáfora para o governo Dilma. Não o final feliz – no qual ninguém acredita, especialmente a “presidenta” e os pobres. A história ilustra a fantasia populista brasileira. Dilma, Lula e o marqueteiro João Santana “ambientaram” um cenário grandioso na última eleição para inventar um país que só existia na propaganda político-partidária, sem compromisso com o futuro da economia e da população. Blefaram. Prometeram o impossível. Rasgaram depois até o papel de parede, os eletrodomésticos se foram, os empregos também, o país ficou no escuro.

Dilma e Lula juntos no Meu Tríplex Minha Vida, com fim de semana no Meu Sítio Minha Vida, tudo com a cumplicidade e as doações de empreiteiras. As construtoras pagavam palestras, viagens e imóveis do padrinho e, em troca, eram escolhidas para comandar os empreendimentos furados da afilhada. Eram um pouquinho maiores do que a Arcari Empreendimentos, aquela que botou, tirou e recolocou os eletrodomésticos na casa de Eliel e Adriane.

O populismo é a ideologia da ignorância. Confunde esquerda e direita, mistura promessas na mesma sopa. O populismo se sustenta em líderes carismáticos e se alimenta da manipulação da massa. A História tem exemplos com resultados dramáticos. O programa Sem fronteiras, da GloboNews, analisou ciclos de populismo no mundo e abordou alguns fenômenos atuais de ascensão e queda. Qual a diferença entre ser populista e popular? A quem serve o populismo, cuja retórica costuma ser o “nós contra eles”?

Donald Trump, o pré-candidato republicano nos Estados Unidos, é o mais exorbitante populista no momento. Quanto mais esbraveja, mais conquista a audiência e eleitores. Mesmo que seja com palavrões. Já viram algo parecido? Trump é uma celebridade, com seus livros, hotéis e cassinos, que fica “confortável diante das câmeras, fala como demagogo contra imigrantes ilegais, especialmente mexicanos”, e faz parecer simples combater o Estado Islâmico e os terroristas. A definição é de Michael Kazin, professor de História da Universidade de Georgetown, para o Sem fronteiras. Como muitos populistas, diz Kazin, “Trump gosta de reduzir a política a um conjunto simples de polarizações” porque o “populismo é um dispositivo para mobilizar o povo contra as elites”.

Na França, a populista mais popular é Marine Le Pen, com discurso social e nacionalista de direita, contra a imigração. Na América Latina de populistas de esquerda como Juan Perón e Getúlio Vargas, o movimento tem caído em desgraça – na Venezuela, no Equador, na Argentina, na Bolívia e no Brasil.

“O populismo, quando surge, permite acentuar o que a democracia tem de positivo e de negativo. Se o populismo se consolida, é um sintoma de que havia gente que não se sentia representada. Pode criar, assim, fenômenos de inclusão social importantes”, disse ao jornalista Silio Boccanera, da GloboNews, o uruguaio Francisco Panizza, professor de política da London School of Economics e autor do livro Populismo e o espelho da democracia.

“Mas também há populismos extremamente destrutivos que levam a uma completa polarização social e a um conflito social muito difícil de resolver.” É, no mínimo, um alerta para este domingo 13.

O pedalinho é nosso

O Brasil disse ao filho do Brasil: “Meu filho, um dia tudo isso será seu”. Até os pedalinhos de Atibaia já sabem que o herdeiro tomou posse de tudo.

Solidário, pegou a maior empresa de papai e despedaçou-a para enriquecer a família e os amigos. O filho do Brasil não pensa só em si. Seus filhos — os netos do Brasil — enriqueceram também. E seu compadre, seu advogado, sua amante, seu churrasqueiro, seus amigos de fé, seus correligionários, enfim, todo mundo se deu bem, porque o patrimônio de papai era colossal. Mas, e os brasileiros? Ora, esses são filhos da outra. Todo mundo sabe que o Brasil só teve um filho.


Agora uma elite branca egoísta está querendo perseguir o filho do Brasil. Inveja. Foram tantas as acusações ao legítimo herdeiro da nação, que esta semana ele se trancou sozinho no banheiro e perguntou: “Espelho, espelho meu: se o Brasil me ama, e eu sou o filho dele, então essa porra é toda minha mesmo, não é?” (o Brasil sempre se orgulhou do linguajar do filho: no que aparece alguém discordando, ele xinga e triunfa. O Brasil sabe que é na grossura que está a verdade)

O espelho nunca o deixou na mão, e deu-lhe a resposta definitiva: “Companheiro, manda eles enfiarem esses processos no custo da OAS”. O filho do Brasil obedeceu, dando só uma abreviada na sentença.

Mas a elite que não suporta ver o sucesso de um pobre — o menino Jesus passou pelo mesmíssimo problema — continuou a persegui-lo furiosamente. O filho do Brasil voltou para diante do espelho e perguntou-lhe se poderia haver algum fundamento nas acusações de que ele tinha enriquecido ilicitamente. O espelho nem entrou nesse mérito de legalidade, que é muito relativo, e foi categórico: “Companheiro, pode ficar tranquilo: você é um miserável. Um sujeito que vive toda uma vida se fazendo de vítima para conquistar mesada de empreiteira e terminar com uns pedalinhos personalizados é o quê? Um miserável. Relaxa.”


Mesmo vivendo nessa flagrante e proverbial miséria, o filho do Brasil continuou sendo acossado pela implacável brigada neoliberal. Essa gente sem coração resolveu implicar com a escolha de uma mulher sapiens para gerir o patrimônio da família — e com as sutis manobras dela para melar a Lava-Jato (operação que não reconhece o filho do Brasil como legítimo dono da Petrobras, do BNDES, do suor do contribuinte, enfim, dessa fabulosa fortuna acumulada por papai).

O pobre homem voltou a consultar o espelho, que respondeu: “Companheiro, não enche o saco. Já te disse que você é o messias. Vai consultar o pessoal da MPB.”

Sempre obediente ao espelho, o filho do Brasil foi perguntar a um seleto grupo de cantores, atores, jornalistas e intelectuais do bem se tinha problema ele ter regido o mensalão e o petrolão; se tinha algo errado no fato de ele ter tomado posse do patrimônio do Brasil, na condição de único herdeiro, e distribuído generosamente essa riqueza entre seus familiares e amigos.

Foi o melhor conselho que o pobre homem poderia ter pedido. O tal grupo de intelectuais e artistas (uma panela, muito mais barulhenta do que essas que a elite branca bate na varanda) não só lhe disse que estava tudo cristalinamente certo, como chamou para briga os brasileiros — esses filhos da outra que querem meter a mão no que não é deles. A panela já avisou: mexeu com o filho do Brasil, mexeu com o conto de fadas que nos sustenta.

Depois de desafiar as elites reacionárias e se pintar para guerra, a panela progressista se trancou sozinha no banheiro e perguntou aflita: “Espelho, espelho meu: se eu perder a moleza de bancar o herói social na garupa do filho do Brasil, que infelizmente foi descoberto pela polícia, o que será de mim?” O espelho respondeu sem rodeios: “Perdeu, playboy. Pega tudo que você investiu nessa demagogia vagabunda e enfia no custo da Odebrecht”.

O mais revoltante é que agora esse bando de filhos da outra está ameaçando sair às ruas. Quem os brasileiros pensam que são? Donos do país? No mínimo, vão querer estatizar o patrimônio do filho do Brasil, conquistado com tanto sacrifício — investimento suado em propaganda enganosa da melhor qualidade, manutenção impecável da rede de pixulecos (por dentro e por fora, em criteriosa alternância), reposição ágil do pessoal de tesouraria e marketing apanhado pela polícia, formação do maior caixa partidário do mundo.

Você não vai permitir que essa história bonita seja destruída por um bando de invejosos. Fique quieto em casa. Não fale a palavra impeachment nem ao seu cachorro. Deixe a companheira presidenta, enteada do Brasil, governar em paz o STF. Não atrapalhe essa rede democrática de destruição de provas, com o padrinho à solta oferecendo mesada a criminoso. E essa história de crise é balela — a renda nunca foi tão elevada para os trabalhadores que não trabalham: é tudo uma questão de escolher um bom partido, que indique com segurança onde tem truta.

Fique fora das ruas. A não ser que você tenha descoberto que o filho do Brasil é um filho da truta.

Guilherme Fiuza